Temos que continuar lá, evidentemente. Mas fico um pouco preocupado com a postura que o país adotou. Haiti, queríamos intervir em Honduras.. estamos pensando em fazer disso uma prática?
Reforço que não deveríamos ter nada consistente nessa direção. Somos sim um país importante. Temos muitos problemas e apesar de concordar que há componente político neles, o fato é que não temos recursos nem perto de ser suficientes para nossos próprios problemas.
Existe lógica no seu modo de pensar, mas é preciso considerar que os problemas do mundo e principalmente os de nossos vizinhos continentais são nossos problemas também. Assim como os nossos também podem ser deles, um exemplo claro é a Amazônia.
No caso do Haiti como já foi explicado, o Brasil foi chamado para liderar, principalmente porque os EUA não queriam, e porque depois dos EUA, nas Américas, o Brasil é o país mais forte politicamente para lidar com a pressão e também a aceitação da liderança. E também tem o componente de isonomia, pois o Brasil não tem tradição de intervenção militar direta em qualquer país, e assim pode contar com mais simpatia por parte dos haitianos e das tropas lideradas.
E só pra lembrar que o Brasil lidera essa intervenção em nome da ONU e não como uma causa própria exclusiva, como fizeram os EUA ao longo da história do Haiti.
Mas agora as coisas mudaram e os EUA reocuparam, e não poderiam fazer diferente, o Haiti. Agora é esperar pra ver o que vai acontecer.
Não criaria políticas intervencionistas antes de resolvermos nossos próprios problemas
Nesse caso nunca iria ter. Nem mesmo os EUA erradicaram a pobreza e a violência interna.
É uma perspectiva errada analisar a ação do Brasil no Haiti como apenas uma ajuda humanitária , onde estão sendo gastos recursos que seria melhor empregados dentro do própio país.
Em primeiro lugar porque os problemas em relação à saúde , educação e segurança não são por falta de dinheiro mas por opção política. Como exemplo: se fez um sistema de saúde universal e após mais de vinte anos a regulamentação do que é gasto em saúde não sai do papel ( a emenda constitucional 29) permitindo governantes propagarem o gasto em restaurantes populares , merenda escolar,etc...como gasto em saúde ; o que vale é o que garante votos e não a resolução dos problemas (daí que em campanha sempre se anuncia a criação de hospitais ,mas programas de prevenção ? isso não aparece nem dá os 10% da empresa que ganhar a licitação...).
Em segundo lugar a ação brasileira na MINUSTAH tem apoio amplo dentro das Forças Armadas ( em especial no Exército) pelo que representa em ganho de conhecimento e aprimoramento na condução de crises da ordem interna. A função do Brasil é de liderar a ação da ONU para garantir a paz e a ordem interna do Haiti , dando condições a que este de retomar sua normalidade institucional. O que os militares brasileiros enfrentaram foi uma situação similar à das comunidades dominadas pelo tráfico no Rio porém com o agravante da absoluta fragilidade da instituições públicas haitianas. Os resultados obtidos pelas tropas brasileiras em pacificar o país através do uso combinado da força de dissuação e da intervenção social é que permitiu um resultado que a direção prévia pelos EUA não obtivera. Isto é um importante acúmulo de conhecimento para uso posterior dentro do própio país; os militares que participaram da ação retornam com o conhecimento teórico e prático da intervenção em situações de crise social e violência urbana. Arrisco dizer que a estratégia de enfrentamento do tráfico pelo atual governo do RJ , com a ocupação já de seis comunidades e expulsão do tráfico pelas UPP ( Unidades de Polícia Pacificadora) é fruto das lições aprendidas em Cité Soleil.
O Brasil , queiram ou não , tem uma posição central na geopolítica latino-americana e ou age como ator principal ou outra nação irá fazê-lo, em detrimento dos nossos interesses. Temos problemas internos sérios? Sim. Mas a Índia não os têm menos e nem por isso abdica de garantir sua posição na Ásia ( disputando com a China).
Não se tem Forças Armadas de um país de dimensões continentais preparadas e adestradas se não se põe a mão na massa . A situação atual do Haiti é um desafio para a liderança militar e civil do Brasil na MINUSTAH mas também é a possibilidade de obter um saldo de conhecimento no enfrentamento de crises inestimável. Os oficiais e graduados que participam destas missões têm , além do crescimento do conhecimento profissional , um efeito propagador altamente positivo dentro da instituição ( não a toa as vagas de voluntário para ir ao Haiti são altamente disputadas).
Bem colocado.
O que as pessoas precisam se atentar é que interesses de estado não são propriamente interesses de governo, embora possam ser complementados ( e muitas vezes confundidos ), um com o outro.