Autor Tópico: O gene altruísta e a evolução da justiça  (Lida 4841 vezes)

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Offline Adriano

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O gene altruísta e a evolução da justiça
« Online: 03 de Março de 2010, 11:30:36 »
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O gene altruísta e o sentido de justiça pode levar a seleção natural à solidariedade?

Sem embargo, outra coisa distinta é que o exame das características históricas e atuais da humanidade nos indique algo de todo evidente: a evolução de grupo desempenha um papel importante na organização hierárquica de nossas sociedades, desde as tribos mais primitivas até às estruturas políticas de países modernos. A consideração do bem estar comum por encima dos interesses egoístas de cada indivíduo estão implícitas nas normas éticas aceitadas pelos seres humanos, tanto se se encontram ademais fundamentadas nas crenças religiosas como se não. As leis proclamadas pelos governos estão igualmente fundamentadas, ao menos em teoria e de fato na maior parte dos casos, nos interesses do bem comum ainda quando imponham restrições à conduta individual. As leis que protegem a propriedade privada, a função social da propriedade, o interesse público ou a conservação dos recursos naturais, assim como as que estabelecem obrigações pessoais e sociais ou cargas econômicas, como é o caso do serviço militar ou os impostos, configuram bons exemplos desse fenômeno .



A seleção natural desenhou e modelou nosso cérebro com o resultado de que nos importam mais umas coisas e menos outras. Nossa arquitetura cognitiva – funcionalmente integrada e de domínio-específico homogênea para todos os seres humanos – impõe constrições fortes para a percepção, armazenamento e transmissão discriminatória de representações sócio-culturais. Dito de outro modo, de que os limites observados na diversidade dos enunciados éticos e normativos são o reflexo da estrutura e funcionamiento de nossa arquitetura cognitiva. As características biológicas de nosso cérebro delimitam o espaço das normas de conduta que nos são possíveis de aprender e de seguir.


Esse princípio, defendido na chamada “segunda sociobiología” (Lumsden & Wilson, 1983) segue de perto outras propostas anteriores ao estilo da de Waddington dos paisagens epigenéticos. Implica que, se bem as soluções culturais são contingentes e têm caráter histórico, se movem dentro de uns limites estreitos de possibilidades marcadas pela natureza humana. Devido a esse indireto condicionamento, que não é tanto de nossas atitudes senão de nossa capacidade moral, todos tendemos a valorar certas coisas em detrimento de outras e os valores assegurados por meio de nossas normas de conduta descrevem (em grande medida) nossas atitudes morais naturais: valoramos aquilo que admite a margem de nossa limitada capacidade para aprender a valorá-lo.



Assim que não somente as influências do meio – incluindo a cultura humana – variam segundo o “substrato” genético sobre o qual atuam como, e muito particularmente, o comportamento adaptativo ao estilo de vida das sociedades de caçadores-recoletores parece haver modelado muito provavelmente a conduta social e moral primitiva, e se serviu dela para a aparição de grupos cuja sobrevivência passou a depender sobremaneira de determinadas estratégias sócio-adaptativas (baseadas na constituição, funcionamento e complexidade cognitiva do ser humano) que, com o passo do tempo, deram lugar a nossa atual e astronomicamente grande riqueza moral e jurídico-normativa, decorrentes de nossos comportamentos altruístas e de nossa também inata tendência à solidariedade.
Um excelente texto e muito bem fundamentado e que se adequa como uma continuação do meu desenvolvimento sobre a superioridade biológica do homem mas já partindo para o ambito da estruturação das sociedades.

Postei alguns trechos que me chamaram mais a atenção já que o texto é longo. E claro que para os fãs de Dawkins (também sou  :D) sua tese de gene como unidade da evolução fica abalada. Com isso o conceito de grupo ou mais ampliado ainda, população no caso da nossa espécie, ganha muita força. Ou talvez um misto dos dois, onde os genes favorecem a formação de espécies socialmente evoluídas e por isso a idéia de gene altruísta  :o
« Última modificação: 03 de Março de 2010, 11:34:42 por Adriano »
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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #1 Online: 09 de Maio de 2010, 06:28:16 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana

Ora, 150 anos após a teoria da seleção natural, é difícil estabelecer até onde esses desenvolvimentos modernos do conhecimento podem ser devidos às descobertas de Darwin. Mais difícil ainda é encontrar a linha que una a ciência à caricatura dos seus resultados e aplicações, como no caso da pedagogia que vê na “indisciplina” e “falta de atenção” sintomas de uma conformação genética que atinge 20% da população infantil em idade escolar. Acontece que a sensação de divórcio entre biologia e ciências humanas deve-se, sobretudo, ao descaso pela “antropologia de Darwin”.

Na última década, o filósofo e historiador das ciências Patrick Tort, fundador do Instituto Charles Darwin Internacional (Paris), tem acusado as ciências sociais de incapacidade atávica para ler e compreender a obra de Darwin. Para ele, a compreensão da “segunda revolução darwinista” só é possível para quem deixe de contemplar a obra do sábio inglês como sendo exclusivamente a teoria da seleção natural e leia, com atenção, "A Descendência do Homem e a Seleção Sexual" (1871), na qual fica mais do que claro que a evolução humana deve-se especialmente à emergência dos instintos sociais não-selecionistas, isto é, à base natural da simpatia e solidariedade entre os animais.

Há quem entenda que Tort vai longe demais ao querer ver uma base natural para a moral. Outros vão além, como o primatologista Frans de Waal, que, com base em experimentos relatados, no seu recente livro “Primatas e Filósofos: Como a Moralidade Evoluiu” (2006), defende que é hora de tirar a questão da mão dos filósofos para depositá-la em mãos dos biólogos.

Seja como for, para Patrick Tort, a “cegueira” pós-Darwin deveu-se ao fato de que os darwinistas leram mais Herbert Spencer e Ernst Haeckel do que propriamente Darwin e, tendo esse “biombo” diante dos olhos, enfatizaram a “luta pela vida”, a dita “sobrevivência do mais apto”, aplicaram-na escandalosamente à sociedade e ignoraram por mais de cem anos a obra específica sobre a origem e evolução do homem.

A tese de Tort é que, num certo ponto da evolução dos instintos sociais, eles mesmos passam a ser “selecionados pela própria seleção natural”, isto é, a cultura emerge quando a seleção natural passa a “selecionar” a solidariedade e as práticas antisselecionistas, dando tratos à consciência e à moralidade. Assim, em vez da evolução ser uma espécie de eugenia de longo prazo, a civilização protege os mais frágeis (crianças, mulheres, velhos) e é exatamente este o caminho da civilização, que Patrick Tort chama de “efeito reversivo da evolução”.

Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.
A parte em negrito destacada está relacionada a epistemologia autopoiética. Ele fundamenta a vida social com base no amor e tem uma lógica tremenda. O amor está relacionado a replicação da vida e o ódio a destruição desta. Há uma distinção entre relações sociais de trabalho e as relações de lazer onde a humanização se manifesta. Ainda estou lendo seu livro mas está muito interessante.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #2 Online: 04 de Junho de 2011, 18:31:42 »
A parte em negrito destacada está relacionada a epistemologia autopoiética. Ele fundamenta a vida social com base no amor e tem uma lógica tremenda. O amor está relacionado a replicação da vida e o ódio a destruição desta.
E o trovão à ira de algum deus... Realmeeeeente, tremenda lógica mesmo, essa recrudescência a antigas associações primitivas.

Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #3 Online: 04 de Junho de 2011, 19:41:11 »
A parte em negrito destacada está relacionada a epistemologia autopoiética. Ele fundamenta a vida social com base no amor e tem uma lógica tremenda. O amor está relacionado a replicação da vida e o ódio a destruição desta.
E o trovão à ira de algum deus... Realmeeeeente, tremenda lógica mesmo, essa recrudescência a antigas associações primitivas.
A questão do tópico é relacionada ao altruísmo na espécie humana, relacionando questões de cunho genético baseadas no funcionamento cognitivo dos indivíduos. O que está sendo comentado aqui é sobre o funcionamento estrutural da sociedade humana, a sua constituição ética e da justiça através das leis e do direito  :wink:
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #4 Online: 04 de Junho de 2011, 19:54:46 »
E...?

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #5 Online: 04 de Junho de 2011, 20:20:29 »
A epistemologia autopoiética foi elaborada por Humberto Maturana e tem grande alcance nas ciências humanas.
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Offline Sergiomgbr

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #6 Online: 04 de Junho de 2011, 20:40:48 »
Podemos resumir todo esse discurso em uma úníca afirmação de que trata-se de dizer que gene altruísta é uma redundância?
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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #7 Online: 04 de Junho de 2011, 20:46:08 »
É um contraponto ao gene egoísta.
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Offline Geotecton

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #8 Online: 04 de Junho de 2011, 23:30:21 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.

Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #9 Online: 04 de Junho de 2011, 23:50:41 »
Fiz aqui uma construção mental de um individuo pseudopodo cuja manutenção vital passaria pela emissao pseudopodica de genes altruístas x genes egoístas sobre uma superfície nescessária em que a aplicação correta desses pseudopodos seria a virtude de sua continuidade existencial. Nesse caso justiça seria irrelevante não fosse correlacionada a justeza de sua correção!
Não te parece igual a qualquer sociedade atemporalmente?
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #10 Online: 08 de Junho de 2011, 14:27:38 »
"Gene egoísta" não significa "gene do egoísmo". Diz-se que o gene é "egoísta" porque ele "ele não se importa" com o bem estar ou mesmo a aptidão (maximização da reprodução) individual, e pode se tornar mais comum mesmo apesar disso, ou até em função disso. Uma das situações seria justamente comportamento altruísta que tenha boas chances de favorecer os mesmos genes presentes em outros organismos.

Um "gene altruísta", se fosse ser algo realmente na mesma linha e não "gene do altruísmo", seria um gene que beneficia de alguma forma ao organismo portador em detrimento de sua própria reprodução. Isso pode até ocorrer mas parece bastante evidente que não pode, por definição, ser algo que vá se tornar muito comum.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #11 Online: 08 de Junho de 2011, 14:29:09 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.

Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!


O mais próximo disso:

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Mutual Aid: A Factor of Evolution is a book by Peter Kropotkin on the subject of mutual aid, written while he was living in exile in England. It was first published by William Heinemann in London in October 1902. The individual chapters had originally been published in 1890-96 as a series of essays in the British monthly literary magazine, Nineteenth Century.
Written partly in response to Social Darwinism and in particular to Thomas H. Huxley's Nineteenth Century essay, "The Struggle for Existence", Kropotkin's book drew on his experiences in scientific expeditions in Siberia to illustrate the phenomenon of cooperation. After examining the evidence of cooperation in nonhuman animals, pre-feudal societies, in medieval cities, and in modern times, he concludes that cooperation and mutual aid are the most important factors in the evolution of the species and the ability to survive.

http://en.wikipedia.org/wiki/Mutual_Aid:_A_Factor_of_Evolution


Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #12 Online: 08 de Junho de 2011, 20:34:39 »
"Gene egoísta" não significa "gene do egoísmo". Diz-se que o gene é "egoísta" porque ele "ele não se importa" com o bem estar ou mesmo a aptidão (maximização da reprodução) individual, e pode se tornar mais comum mesmo apesar disso, ou até em função disso. Uma das situações seria justamente comportamento altruísta que tenha boas chances de favorecer os mesmos genes presentes em outros organismos.

Um "gene altruísta", se fosse ser algo realmente na mesma linha e não "gene do altruísmo", seria um gene que beneficia de alguma forma ao organismo portador em detrimento de sua própria reprodução. Isso pode até ocorrer mas parece bastante evidente que não pode, por definição, ser algo que vá se tornar muito comum.
A contradição em gene egoísta e gene altruísta está mais na explicação do altruísmo na sociedade humana. Enquanto pela sociobiologia o máximo que se atinge são as explicações de ajuda parentais, com a teoria do gene altruísta toda a estrutura social e legal humana são melhores explicadas a luz da biologia. É a justiça exposta de uma forma natural. É o que o primeiro texto do tópico, e o mais sólido em relação ao tema, aponta e descreve com mais detalhes.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #13 Online: 08 de Junho de 2011, 20:47:23 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.

Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!

Vigostsky é um dos maiores e fortes nomes de contribuição a psicologia e a educação atuais, apoiados com a utilização de uma grande base marxista-leninista. Este se apropria de maneira muito especial dos mais avançados suportes teóricos de seu tempo, fazendo uma grande crítica e construindo assim a sua própria teoria, que traz toda a marca da sociedade que buscavam construir. Me parece muito injusta, ou desinformada, a sua observação sobre um período tão rico da história humana, onde muitos pesquisadores atuais, americanos e europeus, se voltam para entender melhor as suas contribuições.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #14 Online: 08 de Junho de 2011, 21:49:31 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.
Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!
Vigostsky é um dos maiores e fortes nomes de contribuição a psicologia e a educação atuais, apoiados com a utilização de uma grande base marxista-leninista. Este se apropria de maneira muito especial dos mais avançados suportes teóricos de seu tempo, fazendo uma grande crítica e construindo assim a sua própria teoria, que traz toda a marca da sociedade que buscavam construir. Me parece muito injusta, ou desinformada, a sua observação sobre um período tão rico da história humana, onde muitos pesquisadores atuais, americanos e europeus, se voltam para entender melhor as suas contribuições.

Primeiro. Em meu texto eu quis dizer que Darwin era pouco lido e aceito na Rússia tzarista e na ex-URSS na área que lhe destacou: a biologia evolucionária.

Segundo. Ao revisitar os trabalhos de Wundt, fazendo-o sob a perspectiva central da ideologia, ele reconhece que tal análise não deve ficar restrita ao campo econômico, o que foi interpretado, pela nomenklatura, como uma crítica ao marxismo. Ou seja, Vygotsky foi um outsider na própria ex-URSS stalinista e não representava o pensamento dominante da escola soviética de então.

Terceiro. Eu não menosprezei ou releguei, em momento algum, o período histórico representado pela ascensão, desenvolvimento e queda do marxismo/comunismo na Rússia e sua finada sucessora, a URSS.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #15 Online: 08 de Junho de 2011, 22:12:51 »
Baseado no mesmo texto de uma critatura pseudopode..etc. Eu continuo me referindo a mesma questão que envolveria a citação do Adriano. A de que uma sociedade mais altruista poderia ser...? de caráter genético! Quis dizer que os valores das sociedades atemporalmente continuariam a mercê das mesmas imperiosidades "ignotas" com relação a uma possibilidade de genes altruistas/egoistas.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #16 Online: 08 de Junho de 2011, 23:22:16 »
"Gene egoísta" não significa "gene do egoísmo". Diz-se que o gene é "egoísta" porque ele "ele não se importa" com o bem estar ou mesmo a aptidão (maximização da reprodução) individual, e pode se tornar mais comum mesmo apesar disso, ou até em função disso. Uma das situações seria justamente comportamento altruísta que tenha boas chances de favorecer os mesmos genes presentes em outros organismos.

Um "gene altruísta", se fosse ser algo realmente na mesma linha e não "gene do altruísmo", seria um gene que beneficia de alguma forma ao organismo portador em detrimento de sua própria reprodução. Isso pode até ocorrer mas parece bastante evidente que não pode, por definição, ser algo que vá se tornar muito comum.
A contradição em gene egoísta e gene altruísta está mais na explicação do altruísmo na sociedade humana. Enquanto pela sociobiologia o máximo que se atinge são as explicações de ajuda parentais, com a teoria do gene altruísta toda a estrutura social e legal humana são melhores explicadas a luz da biologia. É a justiça exposta de uma forma natural. É o que o primeiro texto do tópico, e o mais sólido em relação ao tema, aponta e descreve com mais detalhes.

Não existe uma "teoria do gene altruísta". O título do texto é esse, mas o autor nem sugere uma teoria nova qualquer, nem qualquer eventual teoria nova sequer deveria se chamar assim a fim de evitar a confusão com o antagonismo inexistente com "gene egoísta".

O que ele falou não foi de uma teoria com um "gene altruísta" como exato oposto de "gene egoísta",  mas apenas seleção por parentesco e seleção de grupo. Seleção de grupo é mais complicada e mais improvável de funcionar num nível apenas biológico, e o altruísmo decorrente de seleção por parentesco não precisa se restingir ao parentesco próximo, não é assim nem mesmo em outros animais, e é totalmente razoável se supor que a partir de mudanças no estilo de vida e aumento populacional os humanos começassem a criar sistemas de "justiça" sem que para isso tivessem sofrido qualquer espécie de seleção em nível biológico.

Offline Sergiomgbr

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #17 Online: 09 de Junho de 2011, 01:59:42 »

[/quote]
O que ele falou não foi de uma teoria com um "gene altruísta" como exato oposto de "gene egoísta",  mas apenas seleção por parentesco e seleção de grupo. Seleção de grupo é mais complicada e mais improvável de funcionar num nível apenas biológico, e o altruísmo decorrente de seleção por parentesco não precisa se restingir ao parentesco próximo, não é assim nem mesmo em outros animais, e é totalmente razoável se supor que a partir de mudanças no estilo de vida e aumento populacional os humanos começassem a criar sistemas de "justiça" sem que para isso tivessem sofrido qualquer espécie de seleção em nível biológico.
[/quote]
Os nazistas com sua eugenia, queriam produzir uma raça pura eliminando outras raças mas oque acontece é exatamente o contrário. O indivíduo humano tem identificação para reprodução quanto maior com outro indivíduo que seja geneticamente mais distante dele. Horrivelvente falando, se a justiça pode ser determinada geneticamente, logo, a cultura e o conhecimento tambem não o seriam?
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Offline Irracionalista

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #18 Online: 09 de Junho de 2011, 03:25:09 »
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Os nazistas com sua eugenia, queriam produzir uma raça pura eliminando outras raças mas oque acontece é exatamente o contrário. O indivíduo humano tem identificação para reprodução quanto maior com outro indivíduo que seja geneticamente mais distante dele.

Na verdade, não. Na maioria das vezes a preferência humana é por alguém relativamente similar à própria pessoa (em aparência, condição social e alguns tipos de gostos) e especialmente por alguém que possa se interessar. Com isso, mesmo que haja uma preferência intra-grupo (seja lá qual grupo for), geralmente nós somos flexíveis o bastante para nos interessar por alguém extra-grupo.

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Horrivelvente falando, se a justiça pode ser determinada geneticamente, logo, a cultura e o conhecimento tambem não o seriam?

A "justiça" não é determinada geneticamente.

Entretanto, há algum grau de influência genética (quão grande essa influência é pode ser discutido) que leva a predisposição a repudiar certos tipos de comportamento (como violência intra-grupo e roubo) e a favorecer outros tipos de comportamento (como não roubar a sua família), e essas predisposições universais são os alicerces de nossos códigos de justiça.

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Postei alguns trechos que me chamaram mais a atenção já que o texto é longo. E claro que para os fãs de Dawkins (também sou  ) sua tese de gene como unidade da evolução fica abalada. Com isso o conceito de grupo ou mais ampliado ainda, população no caso da nossa espécie, ganha muita força. Ou talvez um misto dos dois, onde os genes favorecem a formação de espécies socialmente evoluídas e por isso a idéia de gene altruísta

Já chegou a ler Not by genes alone, do Robert Boyd e do Richerson? Ele é um exemplo razoável de como não há necessariamente problema algum entre ver genes como unidade de seleção e assumir que a cultura existe e tem impacto na evolução humana. Essa idéia pode ser melhor explicada aqui:

One of the things I harp on on this weblog is that I see more potential for group selection dynamics at the level of the evolution of culture than the domain of evolutionary genetics. The reasoning is that the power of selection is proportional to heritable variation at the level you’re evaluating. So, of you have two adjacent demes “competing” you’d have to have group-level heritable variation. Basically, the between group component of genetic variation which can’t be reducible to within group variance. Recall that Fst values, the between group component of genetic variance, at the maximal scale of genetic distance is on the order of ~0.15, 15% of the total (the rest being within group). But in real human societies over most of evolutionary history the conflict has been between groups which are genetically much closer, in fact, groups which probably “trade” in women as a byproduct of conflicts or even when at peace, and so diminish extant variation to nearly nothing.

The same issues are not as operative when it comes to culture. Two tribes can speak different dialects or languages. If a woman moves from one tribe to another her children don’t necessarily speak a mixture of languages, rather, they may speak the language of their fathers. The nature of cultural inheritance is more flexible, and so allows for the persistence of more heritable variation at different levels of organization. Differences of religion, language, dress, and values, can be very strong between two groups who have long lived near each other and may be genetically similar.

Over the course of human history our norms may have been shaped by these sorts of cultural dynamics. But over time the norms themselves may have had an impact on the gene frequencies within the populations, as some variants may have been fitter in some cultures than in others. And, within those societies there is still a fair amount of variation and ability to construct “niches,” the “environment” which David speaks of. It’s complex, and I’m glad David is starting the conversation.
« Última modificação: 09 de Junho de 2011, 03:27:25 por Irracionalista »
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #19 Online: 09 de Junho de 2011, 16:04:00 »
Na verdade, não. Na maioria das vezes a preferência humana é por alguém relativamente similar à própria pessoa (em aparência, condição social e alguns tipos de gostos) e especialmente por alguém que possa se interessar. Com isso, mesmo que haja uma preferência intra-grupo (seja lá qual grupo for), geralmente nós somos flexíveis o bastante para nos interessar por alguém extra-grupo.

Na verdade sim. Veja esse trecho,

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Nós sabemos a partir da teoria microevolutiva que a seleção natural deve otimizar a variação genética existente em uma população maximizando o seu sucesso reprodutivo. Isso dá um modelo para interpretar uma variedade de caracteres biológicos e sua importância relativa. Por exemplo, um sinal que objetiva atrair um parceiro poderia ser interceptado por predadores. A seleção natural causa uma equilíbrio entre a atração de parceiros e ser caçado. Se você assume que algo diferente do sucesso reprodutivo está sendo otimizado, a maioria das coisas na biologia fariam pouco sentido. Sem a teoria da evolução, estratégias da história da vida seriam pobremente compreendidas.


A teoria macroevolutiva também ajuda a explicar muitas coisas sobre como as coisas vivas funcionam. Organismos são modificados ao longo do tempo por seleção natural cumulativa. Os numerosos exemplos de design improvisado na natureza são resultado disso. A distribuição de traços geneticamente determinados ao longo de grupos é explicada pela divisão de linhagens e a contínua produção de novos caracteres por mutação. Os caracteres são restritos às linhagens em que eles surgem.

texto completo em http://biociencia.org/option=com_content&task=view&id=102&Itemid=99999999
Assistí um video da BBC inclusive que trata do tema mais amiúde no que diz respeito a minha afirmação.(um estudo científico feito com pessoas de diversas etnias cheirando camisetas de outras pessoas, sem idenificá-las, entre outras coisas. Muito interessante!)
« Última modificação: 09 de Junho de 2011, 16:09:27 por sergiomgbr »
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #20 Online: 10 de Junho de 2011, 22:48:24 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.
Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!
Vigostsky é um dos maiores e fortes nomes de contribuição a psicologia e a educação atuais, apoiados com a utilização de uma grande base marxista-leninista. Este se apropria de maneira muito especial dos mais avançados suportes teóricos de seu tempo, fazendo uma grande crítica e construindo assim a sua própria teoria, que traz toda a marca da sociedade que buscavam construir. Me parece muito injusta, ou desinformada, a sua observação sobre um período tão rico da história humana, onde muitos pesquisadores atuais, americanos e europeus, se voltam para entender melhor as suas contribuições.

Primeiro. Em meu texto eu quis dizer que Darwin era pouco lido e aceito na Rússia tzarista e na ex-URSS na área que lhe destacou: a biologia evolucionária.
Veja a influência darwinista citada no resumuso de uma dissertação sobre psicologia, na parte em negrito, destacando a evolução neste grande pesquisador russo:
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Vygotsky e Popper: perspectivas sobre o crescimento do conhecimento

As relações entre as obras de Vigotski e Popper é um tema pouco explorado na literatura científica. Na maior parte das vezes em que o assunto merece a atenção de algum teórico, raramente a exploração do tema vai além da constatação de semelhanças pontuais, referentes a posturas epistemológicas gerais, como a oposição de ambos a tendências epistemológicas empiristas e positivistas, ou a simpatia de ambos por uma postura construtivista. Neste trabalho busca-se desenvolver este tema, introduzindo novos campos de diálogo entre a obra destes autores. As principais novidades introduzidas neste estudo relacionam-se à introdução da Teoria Evolucionista de inspiração darwiniana como um ponto de partida comum a ambos os autores, facilitando assim o diálogo entre suas posturas teóricas, e à discussão sobre as diferentes Teorias da História subjacentes a suas perspectivas. Vale notar, entretanto, que neste trabalho, optou-se por conceder maior ênfase aos pontos de convergência entre as posturas dos dois autores, cabendo aos distanciamentos entre eles um tratamento menos aprofundado. Esta opção assentou-se na idéia de que, para a eventual posterior discussão dos distanciamentos entre as proposições de ambos, haveria que se dimensionar convergências que fossem além daquelas semelhanças pontuais. O método de investigação utilizado para a condução da pesquisa que subsidia este estudo teórico foi a revisão bibliográfica crítica, tendo-se identificado sete campos privilegiados de diálogo ao início da pesquisa: a) as similaridades entre a teoria das linhas de desenvolvimento psicológico postulada por Vigotski, e a teoria dos mundos de Popper; b) a adoção de uma perspectiva evolucionista em Filosofia da Ciência e em Psicologia, por ambos os autores; c) a maneira como os dois autores entendem a especificidade do empreendimento científico: visceralmente incompleto e progressivamente aproximando-se da verdade... (AU)

Ainda mais que Vygotsky já ressaltava, naquela época, a importância da imitação no processo de aprendizagem, algo muito relacionado visão biológica de cultura, como na memética.

Segundo. Ao revisitar os trabalhos de Wundt, fazendo-o sob a perspectiva central da ideologia, ele reconhece que tal análise não deve ficar restrita ao campo econômico, o que foi interpretado, pela nomenklatura, como uma crítica ao marxismo. Ou seja, Vygotsky foi um outsider na própria ex-URSS stalinista e não representava o pensamento dominante da escola soviética de então.
Vygotsky representou o início da implantação do socialismo, na época de Lenin, e foi anterior ao estalinismo, sendo sua teoria censurada neste período e a de seus continuadores, onde Alexander Luria camuflou esta influência por conta da situação política. Portanto os representantes da ciência russa, nesta área, foram estes dois os mais proeminente e não o estado soviético posterior. Não faz sentido valorizar o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética, como denominou.

Terceiro. Eu não menosprezei ou releguei, em momento algum, o período histórico representado pela ascensão, desenvolvimento e queda do marxismo/comunismo na Rússia e sua finada sucessora, a URSS.
A psicologia e pedagogia russa, em questão, tem enorme repercussão atual e com forte embasamento marxista.

E como eu disse anteriormente, o mais provável é desinformação, pois a psicologia marxista é ainda muito pouco estudada e pesquisada, além de ainda se inserir nas discussões de cunho político. 
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #21 Online: 11 de Junho de 2011, 00:41:29 »
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A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
[...]
Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.
Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!
Vigostsky é um dos maiores e fortes nomes de contribuição a psicologia e a educação atuais, apoiados com a utilização de uma grande base marxista-leninista. Este se apropria de maneira muito especial dos mais avançados suportes teóricos de seu tempo, fazendo uma grande crítica e construindo assim a sua própria teoria, que traz toda a marca da sociedade que buscavam construir. Me parece muito injusta, ou desinformada, a sua observação sobre um período tão rico da história humana, onde muitos pesquisadores atuais, americanos e europeus, se voltam para entender melhor as suas contribuições.
Primeiro. Em meu texto eu quis dizer que Darwin era pouco lido e aceito na Rússia tzarista e na ex-URSS na área que lhe destacou: a biologia evolucionária.
Veja a influência darwinista citada no resumuso de uma dissertação sobre psicologia, na parte em negrito, destacando a evolução neste grande pesquisador russo:
[...]
Ainda mais que Vygotsky já ressaltava, naquela época, a importância da imitação no processo de aprendizagem, algo muito relacionado visão biológica de cultura, como na memética.

Eu acho que não fui claro.

Eu afirmo que o fato de Vygotsky ter adotado a linha darwinista não significa que a escola soviética de psicologia tenha feito o mesmo, assim como o pensamento de Popper não foi predominante na epistemologia da ciência, no Ocidente, durante um bom tempo. Voce tem alguma referência que mostre o contrário?
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #22 Online: 11 de Junho de 2011, 00:47:24 »
Segundo. Ao revisitar os trabalhos de Wundt, fazendo-o sob a perspectiva central da ideologia, ele reconhece que tal análise não deve ficar restrita ao campo econômico, o que foi interpretado, pela nomenklatura, como uma crítica ao marxismo. Ou seja, Vygotsky foi um outsider na própria ex-URSS stalinista e não representava o pensamento dominante da escola soviética de então.
Vygotsky representou o início da implantação do socialismo, na época de Lenin, e foi anterior ao estalinismo, sendo sua teoria censurada neste período e a de seus continuadores, onde Alexander Luria camuflou esta influência por conta da situação política. Portanto os representantes da ciência russa, nesta área, foram estes dois os mais proeminente e não o estado soviético posterior. Não faz sentido valorizar o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética, como denominou.

Putz.

E quem é que foi que "valorizou o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética"?

Eu apenas ressaltei que, com a chegada de Stalin e sua caterva ao poder, Vygotsky foi marginalizado porque a nomenklatura não tinha a sofisticação intelectual para entender que ele não fazia uma crítica ao marxismo, mas apenas reconhecia que, para o seu objeto de estudo, a ideologia baseada nos sistemas políticos e econômicos não era um elemento explicativo suficiente, embora fosse necessário.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #23 Online: 11 de Junho de 2011, 00:51:29 »
Terceiro. Eu não menosprezei ou releguei, em momento algum, o período histórico representado pela ascensão, desenvolvimento e queda do marxismo/comunismo na Rússia e sua finada sucessora, a URSS.
A psicologia e pedagogia russa, em questão, tem enorme repercussão atual e com forte embasamento marxista.

E como eu disse anteriormente, o mais provável é desinformação, pois a psicologia marxista é ainda muito pouco estudada e pesquisada, além de ainda se inserir nas discussões de cunho político. 

Pelo que eu li, a psicologia vygotskyana é observada com um interesse acadêmico e histórico pelos ocidentais, mas não como algo a ser implantado por estes "lados" do planeta, a não ser, é claro, para os intelectuais esquerdistas.
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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #24 Online: 11 de Junho de 2011, 01:24:51 »
Primeiro. Em meu texto eu quis dizer que Darwin era pouco lido e aceito na Rússia tzarista e na ex-URSS na área que lhe destacou: a biologia evolucionária.
Veja a influência darwinista citada no resumuso de uma dissertação sobre psicologia, na parte em negrito, destacando a evolução neste grande pesquisador russo:
[...]
Ainda mais que Vygotsky já ressaltava, naquela época, a importância da imitação no processo de aprendizagem, algo muito relacionado visão biológica de cultura, como na memética.
Eu acho que não fui claro.

Eu afirmo que o fato de Vygotsky ter adotado a linha darwinista não significa que a escola soviética de psicologia tenha feito o mesmo, assim como o pensamento de Popper não foi predominante na epistemologia da ciência, no Ocidente, durante um bom tempo. Voce tem alguma referência que mostre o contrário?

Não é questão de não ser claro e sim de estar possivelmente equivocado. Principalmente agora citando uma escola soviética de psicologia em oposição a Vygotsky. Este é o precursor da psicologia soviética de base marxista e que tem continuidade com Alexander Luria que ainda utilizou o jargão pavloviano para diblar a censura estalinista. Ou seja, a escola soviética de psicologia é composta por Vygotsky e seus inúmeros colaboradores que compõe a escola de psicologia histórico-cultural. Referencias e trabalhos acadêmicos, descrevendo detalhadamente o que estou aqui resumindo sobre Vygostsky, é o que não faltam. Mas eu é que lhe pergunto de qual escola soviética de psicologia está falando  :?
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