A cegueira pós-darwinista e a evolução humana
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Uma prova da leitura enviesada que se fez de Darwin advém da análise histórica comparativa. Enquanto a Inglaterra, França e Estados Unidos utilizavam a “luta pela vida” como um recurso metafórico para projetar na natureza a luta de todos contra todos que o liberalismo prescrevia no plano político e econômico, produzindo uma naturalização da economia capitalista, na velha e carcomida sociedade russa, prestes a sucumbir por obra de uma revolução operária, inexistia tradição liberal ou de economia política que justificasse essa leitura de Darwin.
Diga-se de passagem, nem na Rússia feudal e nem na URSS comunista houve leitura alguma de Darwin!
Vigostsky é um dos maiores e fortes nomes de contribuição a psicologia e a educação atuais, apoiados com a utilização de uma grande base marxista-leninista. Este se apropria de maneira muito especial dos mais avançados suportes teóricos de seu tempo, fazendo uma grande crítica e construindo assim a sua própria teoria, que traz toda a marca da sociedade que buscavam construir. Me parece muito injusta, ou desinformada, a sua observação sobre um período tão rico da história humana, onde muitos pesquisadores atuais, americanos e europeus, se voltam para entender melhor as suas contribuições.
Primeiro. Em meu texto eu quis dizer que Darwin era pouco lido e aceito na Rússia tzarista e na ex-URSS na área que lhe destacou: a biologia evolucionária.
Veja a influência darwinista citada no resumuso de uma dissertação sobre psicologia, na parte em negrito, destacando a evolução neste grande pesquisador russo:
Vygotsky e Popper: perspectivas sobre o crescimento do conhecimento
As relações entre as obras de Vigotski e Popper é um tema pouco explorado na literatura científica. Na maior parte das vezes em que o assunto merece a atenção de algum teórico, raramente a exploração do tema vai além da constatação de semelhanças pontuais, referentes a posturas epistemológicas gerais, como a oposição de ambos a tendências epistemológicas empiristas e positivistas, ou a simpatia de ambos por uma postura construtivista. Neste trabalho busca-se desenvolver este tema, introduzindo novos campos de diálogo entre a obra destes autores. As principais novidades introduzidas neste estudo relacionam-se à introdução da Teoria Evolucionista de inspiração darwiniana como um ponto de partida comum a ambos os autores, facilitando assim o diálogo entre suas posturas teóricas, e à discussão sobre as diferentes Teorias da História subjacentes a suas perspectivas. Vale notar, entretanto, que neste trabalho, optou-se por conceder maior ênfase aos pontos de convergência entre as posturas dos dois autores, cabendo aos distanciamentos entre eles um tratamento menos aprofundado. Esta opção assentou-se na idéia de que, para a eventual posterior discussão dos distanciamentos entre as proposições de ambos, haveria que se dimensionar convergências que fossem além daquelas semelhanças pontuais. O método de investigação utilizado para a condução da pesquisa que subsidia este estudo teórico foi a revisão bibliográfica crítica, tendo-se identificado sete campos privilegiados de diálogo ao início da pesquisa: a) as similaridades entre a teoria das linhas de desenvolvimento psicológico postulada por Vigotski, e a teoria dos mundos de Popper; b) a adoção de uma perspectiva evolucionista em Filosofia da Ciência e em Psicologia, por ambos os autores; c) a maneira como os dois autores entendem a especificidade do empreendimento científico: visceralmente incompleto e progressivamente aproximando-se da verdade... (AU)
Ainda mais que Vygotsky já ressaltava, naquela época, a importância da imitação no processo de aprendizagem, algo muito relacionado visão biológica de cultura, como na memética.
Segundo. Ao revisitar os trabalhos de Wundt, fazendo-o sob a perspectiva central da ideologia, ele reconhece que tal análise não deve ficar restrita ao campo econômico, o que foi interpretado, pela nomenklatura, como uma crítica ao marxismo. Ou seja, Vygotsky foi um outsider na própria ex-URSS stalinista e não representava o pensamento dominante da escola soviética de então.
Vygotsky representou o início da implantação do socialismo, na época de Lenin, e foi anterior ao estalinismo, sendo sua teoria censurada neste período e a de seus continuadores, onde Alexander Luria camuflou esta influência por conta da situação política. Portanto os representantes da ciência russa, nesta área, foram estes dois os mais proeminente e não o estado soviético posterior. Não faz sentido valorizar o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética, como denominou.
Terceiro. Eu não menosprezei ou releguei, em momento algum, o período histórico representado pela ascensão, desenvolvimento e queda do marxismo/comunismo na Rússia e sua finada sucessora, a URSS.
A psicologia e pedagogia russa, em questão, tem enorme repercussão atual e com forte embasamento marxista.
E como eu disse anteriormente, o mais provável é desinformação, pois a psicologia marxista é ainda muito pouco estudada e pesquisada, além de ainda se inserir nas discussões de cunho político.