Autor Tópico: O gene altruísta e a evolução da justiça  (Lida 4842 vezes)

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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #25 Online: 11 de Junho de 2011, 01:39:01 »
Segundo. Ao revisitar os trabalhos de Wundt, fazendo-o sob a perspectiva central da ideologia, ele reconhece que tal análise não deve ficar restrita ao campo econômico, o que foi interpretado, pela nomenklatura, como uma crítica ao marxismo. Ou seja, Vygotsky foi um outsider na própria ex-URSS stalinista e não representava o pensamento dominante da escola soviética de então.
Vygotsky representou o início da implantação do socialismo, na época de Lenin, e foi anterior ao estalinismo, sendo sua teoria censurada neste período e a de seus continuadores, onde Alexander Luria camuflou esta influência por conta da situação política. Portanto os representantes da ciência russa, nesta área, foram estes dois os mais proeminente e não o estado soviético posterior. Não faz sentido valorizar o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética, como denominou.

Putz.

E quem é que foi que "valorizou o pensamento da classe política em detrimento da científica como representantes da escola soviética"?

Eu apenas ressaltei que, com a chegada de Stalin e sua caterva ao poder, Vygotsky foi marginalizado porque a nomenklatura não tinha a sofisticação intelectual para entender que ele não fazia uma crítica ao marxismo, mas apenas reconhecia que, para o seu objeto de estudo, a ideologia baseada nos sistemas políticos e econômicos não era um elemento explicativo suficiente, embora fosse necessário.
Exatamente, a questão política e econômica marxista é importante na teoria histórico-cultural.

Terceiro. Eu não menosprezei ou releguei, em momento algum, o período histórico representado pela ascensão, desenvolvimento e queda do marxismo/comunismo na Rússia e sua finada sucessora, a URSS.
A psicologia e pedagogia russa, em questão, tem enorme repercussão atual e com forte embasamento marxista.

E como eu disse anteriormente, o mais provável é desinformação, pois a psicologia marxista é ainda muito pouco estudada e pesquisada, além de ainda se inserir nas discussões de cunho político. 

Pelo que eu li, a psicologia vygotskyana é observada com um interesse acadêmico e histórico pelos ocidentais, mas não como algo a ser implantado por estes "lados" do planeta, a não ser, é claro, para os intelectuais esquerdistas.
Ok, intelectual direitista  :P

Newton Duarte escreveu sobre isto no livro Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Geotecton

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #26 Online: 11 de Junho de 2011, 01:45:30 »
Não é questão de não ser claro e sim de estar possivelmente equivocado.
[...]

Certo, eu entendi o seu questionamento e, modifico o que eu escrevi, pois ficou confuso. O que eu quis enfatizar é que nos centros de comandos políticos, Vygostky foi olhado com reserva pois eles (políticos stalinistas) pensaram que o psicólogo supra estava diminuindo a importância dos sistemas políticos na formação da ideologia, em particular do marxismo.

No círculo acadêmico soviético não há dúvida de que os trabalhos de Vygostky formaram a base da escola denominada 'psicologia histórico-cultural', na qual deram continidade os pesquisadores Luria (citado por voce) e Leontiev, por exemplo.

Mas voce tem razão Adriano: Eu não sou um especialista no assunto, mas apenas um mero curioso e por isto eu possivelmente sou, também, um desinformado.
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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #27 Online: 11 de Junho de 2011, 02:19:16 »
Mas voce tem razão Adriano: Eu não sou um especialista no assunto, mas apenas um mero curioso e por isto eu possivelmente sou, também, um desinformado.
Nada disso, é que eu andei estudando o autor, como disse aqui. Claro que você não teria a mesma informação que eu tive com o aprofundamento que fiz. Portanto vamos ser justo e considerar que estou melhor informado em relação ao tema e não o contrário, que você está desinformado.

E ainda estou para ler uma tese de educação sobre o Luria  :D

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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #28 Online: 11 de Junho de 2011, 02:44:11 »
"Gene egoísta" não significa "gene do egoísmo". Diz-se que o gene é "egoísta" porque ele "ele não se importa" com o bem estar ou mesmo a aptidão (maximização da reprodução) individual, e pode se tornar mais comum mesmo apesar disso, ou até em função disso. Uma das situações seria justamente comportamento altruísta que tenha boas chances de favorecer os mesmos genes presentes em outros organismos.

Um "gene altruísta", se fosse ser algo realmente na mesma linha e não "gene do altruísmo", seria um gene que beneficia de alguma forma ao organismo portador em detrimento de sua própria reprodução. Isso pode até ocorrer mas parece bastante evidente que não pode, por definição, ser algo que vá se tornar muito comum.
A contradição em gene egoísta e gene altruísta está mais na explicação do altruísmo na sociedade humana. Enquanto pela sociobiologia o máximo que se atinge são as explicações de ajuda parentais, com a teoria do gene altruísta toda a estrutura social e legal humana são melhores explicadas a luz da biologia. É a justiça exposta de uma forma natural. É o que o primeiro texto do tópico, e o mais sólido em relação ao tema, aponta e descreve com mais detalhes.

Não existe uma "teoria do gene altruísta". O título do texto é esse, mas o autor nem sugere uma teoria nova qualquer, nem qualquer eventual teoria nova sequer deveria se chamar assim a fim de evitar a confusão com o antagonismo inexistente com "gene egoísta".

O que ele falou não foi de uma teoria com um "gene altruísta" como exato oposto de "gene egoísta",  mas apenas seleção por parentesco e seleção de grupo. Seleção de grupo é mais complicada e mais improvável de funcionar num nível apenas biológico, e o altruísmo decorrente de seleção por parentesco não precisa se restingir ao parentesco próximo, não é assim nem mesmo em outros animais, e é totalmente razoável se supor que a partir de mudanças no estilo de vida e aumento populacional os humanos começassem a criar sistemas de "justiça" sem que para isso tivessem sofrido qualquer espécie de seleção em nível biológico.
Entendo que o adjetivo egoísta dado ao gene é o mesmo que se refere ao indivíduo, semelhante ao egoísmo postulado por Adam Smith e que dá origem a economia liberal, fundamentando o funcionamento econômico através de comportamento egoísta, para o benefício próprio dos indivíduos. Dado esse quadro, o egoísmo é entendido como todo e qualquer comportamento voltado para o bem estar do indivíduo, praticamente eliminando qualquer tipo de classificação da conduta na condição de altruísta.

Mas veja um outro trecho do primeiro texto referenciado no tópico, defendendo claramente o aspécto biológico, na página 2:

Citar
Conseqüências do altruísmo para a concepção evolutiva da moral e do direito

As considerações acima articuladas parecem ajudar a compreender o fenômeno presente da moralidade e juridicidade humana sem desligá-lo de suas origens e, sobretudo, sem hipostasiá-lo como o elemento essencial de nossa descontinuidade com o mundo animal. Em realidade, parece razoável admitir que nossas valorações são, em boa medida, o resultado de dois domínios em permanente estado de interação: um conjunto de determinações genéticas que nos estimulam a manter atitudes morais (altruístas), a avaliar e preferir, e que pertence ao genoma comum de nossa espécie; e um conjunto de valores morais do grupo que é uma construção cultural, e esta construção (e sua respectiva transmissão) é historicamente fixada em cada sociedade e em cada época.

Além de apontar inúmeros estudos e referências sobre a altruísmo biológico por todo o texto.
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Offline Sergiomgbr

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #29 Online: 11 de Junho de 2011, 03:01:24 »
Eu ponderaria "pegar" um indivíduo que tenha vivido no "alvorecer da humanidade, pondo-o no convívio de qualquer sociedade moderna. Daí "veria" se ele validaria a teoria...
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #30 Online: 11 de Junho de 2011, 03:09:27 »
Entretanto, há algum grau de influência genética (quão grande essa influência é pode ser discutido) que leva a predisposição a repudiar certos tipos de comportamento (como violência intra-grupo e roubo) e a favorecer outros tipos de comportamento (como não roubar a sua família), e essas predisposições universais são os alicerces de nossos códigos de justiça.
Essa é a grande questão, qual o grau de influência genética. Não concordo que seja somente no nível de grupo como a sociobiologia aponta.

Citar
Postei alguns trechos que me chamaram mais a atenção já que o texto é longo. E claro que para os fãs de Dawkins (também sou  ) sua tese de gene como unidade da evolução fica abalada. Com isso o conceito de grupo ou mais ampliado ainda, população no caso da nossa espécie, ganha muita força. Ou talvez um misto dos dois, onde os genes favorecem a formação de espécies socialmente evoluídas e por isso a idéia de gene altruísta

Já chegou a ler Not by genes alone, do Robert Boyd e do Richerson? Ele é um exemplo razoável de como não há necessariamente problema algum entre ver genes como unidade de seleção e assumir que a cultura existe e tem impacto na evolução humana. Essa idéia pode ser melhor explicada aqui:
Existem vários modelos de correlação entre genes e memes. A coevolução me parece a melhor. Os autores citados são referências inclusive nesta tese sobre memética, um excelente estudo sobre filosofia da biologia e a cultura.
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #31 Online: 11 de Junho de 2011, 03:16:31 »
Eu ponderaria "pegar" um indivíduo que tenha vivido no "alvorecer da humanidade, pondo-o no convívio de qualquer sociedade moderna. Daí "veria" se ele validaria a teoria...
Existem vários indivíduos, na atualidade, com problemas de adaptação tanto física quando mental. O estudo destes tiveram grande influência nos estudos da psicologia histórico-cultural. Hoje temos Oliver Sacks que amplia estes estudos cognitivos sobre as situações limites dos seres humanos.

E poderia me esclarecer o que sentido de pseudopodos?   :P
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Offline Sergiomgbr

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #32 Online: 11 de Junho de 2011, 03:57:31 »
Eu ponderaria "pegar" um indivíduo que tenha vivido no "alvorecer da humanidade, pondo-o no convívio de qualquer sociedade moderna. Daí "veria" se ele validaria a teoria...
Existem vários indivíduos, na atualidade, com problemas de adaptação tanto física quando mental. O estudo destes tiveram grande influência nos estudos da psicologia histórico-cultural. Hoje temos Oliver Sacks que amplia estes estudos cognitivos sobre as situações limites dos seres humanos.

Palitos de fósforo que não acendem existem desde sempre! Como o estudo de tais indivíduos é relevante? 
E poderia me esclarecer o que sentido de pseudopodos?   :P

*Pseudopodo tal como uma ameba.
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Offline Adriano

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #33 Online: 11 de Junho de 2011, 11:05:31 »
Eu ponderaria "pegar" um indivíduo que tenha vivido no "alvorecer da humanidade, pondo-o no convívio de qualquer sociedade moderna. Daí "veria" se ele validaria a teoria...
Existem vários indivíduos, na atualidade, com problemas de adaptação tanto física quando mental. O estudo destes tiveram grande influência nos estudos da psicologia histórico-cultural. Hoje temos Oliver Sacks que amplia estes estudos cognitivos sobre as situações limites dos seres humanos.

Palitos de fósforo que não acendem existem desde sempre! Como o estudo de tais indivíduos é relevante? 
É relevante para o entendimento e a melhora elaboração do conceito na espécie humana. Somos formados tantos pelos indivíduos  que não acendem quando pelos que iluminam toda a espécie dando novos horizontes a humanização em seus vários aspectos.

Podemos dizer que o conhecimento que temos da biologia é o que determina em grande parte a maneira como entendemos a humanidade e o Darwinismo foi muito exemplar nisto, sendo Dawkins o seu principal proponente atual, com sua teoria do gene egoísta, fenótipo estendido, memética, vida digital, e sua filosofia da biologia entre inúmeras outras abordagens, sendo ponto chave para o entendimento atual de ciência.
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Offline Feliperj

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #34 Online: 13 de Junho de 2011, 22:36:59 »
Um problem: propor um experimento que falseie estas hipóteses.

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #35 Online: 13 de Junho de 2011, 22:43:03 »
Um problem: propor um experimento que falseie estas hipóteses.

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Quais hipóteses, precisamente?
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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #36 Online: 13 de Junho de 2011, 22:52:18 »
Um problem: propor um experimento que falseie estas hipóteses.

Abs
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Quais hipóteses, precisamente?

Talvez essa aqui: "O amor está relacionado a replicação da vida e o ódio a destruição desta"  :lol:
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Geotecton

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Re: O gene altruísta e a evolução da justiça
« Resposta #37 Online: 13 de Junho de 2011, 22:57:28 »
Um problem: propor um experimento que falseie estas hipóteses.

Abs
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Quais hipóteses, precisamente?

Talvez essa aqui: "O amor está relacionado a replicação da vida e o ódio a destruição desta"  :lol:

Hehehehehe.
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