Na segunda-feira de manhã, a oposição - débil, sem força - tenta passar um voto de não-confiança ao governo. Fracassa.
Em Reykjavík só se fala do encontro que haverá à noite, no cinema da Universidade da Islândia. Um grupo de cidadãos convocara o governo a dar explicações. No palco, doze cadeiras, uma para cada ministro, e diante de cada uma, em letras garrafais, o nome do titular da pasta. Quem não comparecer se fará presente por sua ausência, pela força de uma cadeira vazia, de um nome. As pessoas discursarão diante dessas ausências.
Ninguém acredita que o governo compareça. Às 20 horas, não há um só lugar vazio no auditório para 1 800 pessoas. Há gente sentada nas escadas, rente às paredes, ao pé do palco. Do lado de fora, no foyer, diante de telões, outras mil se espremem para testemunhar esse lance teatral.
Espantosamente, um a um, os ministros surgem pela lateral do palco. Atordoados, sob vaias, caminham em direção às cadeiras e buscam seus nomes. Apenas quatro permanecem vazias. A que mais se destaca, a de Oddsson, exibe um DAVÍD imenso, em letras gordas e pretas. Até mesmo o primeiro-ministro Geir Haarde aparece. Seu lugar é ao lado de Oddsson, e durante as horas de agonia ele se apoiará várias vezes no espaldar da cadeira do político do qual não passa de uma sombra.
Era a primeira vez, desde o início da crise, que o governo se dispunha a dar alguma satisfação à sociedade. Fechara-se em si mesmo desde outubro, desconsiderara os protestos. Não dera entrevistas - e agora comparecia a uma audiência pública que seria transmitida ao vivo pela televisão. A estratégia das cadeiras vazias parecia ter surtido efeito.
Um jornalista comenta que o incidente na delegacia os obrigou a vir; só ali teriam percebido a gravidade da situação. Outros dizem ainda que já se decidira, caso eles não aparecessem, que os manifestantes se dividiriam em grupos para ir à casa de cada um deles. Não havia escapatória.
Ao contrário do esperado, a palavra não é dada imediatamente aos ministros. Um mestre-de-cerimônias toma o microfone, vira-se para os oito e diz: "Hoje vocês terão de ser honestos. E terão de responder com suas próprias palavras, não com discursos preparados por homens de marketing." Irônico, faz gracejos e a platéia se põe a rir. Logo fica evidente que não se trata de uma sessão de esclarecimentos, mas de humilhação pública. Orador após orador sobe ao palco para ler discursos preparados de antemão. Um professor de economia exige a demissão sumária dos membros de conselho dos bancos (apenas os presidentes-executivos haviam perdido o emprego), proposta recebida com palmas e bravos.
Haarde assiste a tudo com a cabeça enterrada nos ombros, olhos pregados na platéia, desafiador. É traído em seu nervosismo pelo pé que não cessa de tamborilar. Um empresário declara que "o sistema político deve ser purgado, o que só acontecerá com novas eleições". Pede, explicitamente, a renúncia do governo. É ovacionado de pé. Polidamente, até o primeiro-ministro bate palmas. Uma cientista política declara que a Islândia será doravante conhecida por três palavras: saga, gêiser e kreppa. E acrescenta, referindo-se diretamente aos oitos homens sentados a um metro de distância: "Se vocês não admitirem que os protestos são legítimos e não dialogarem com os manifestantes, poderá haver distúrbios e violência na Islândia." Não são jovens que confrontam o governo, mas acadêmicos, profissionais liberais, empresários, homens de terno e gravata, mulheres de
tailleur. Uma jovem desempregada toma o microfone e, com fúria indisfarçável, vira-se para o primeiro-ministro e ordena: "Geir, renuncie!"
Noventa minutos depois de iniciada a sessão, os oito ministros ainda permanecem mudos, alguns de olhos no chão. Finalmente alguém entregará o microfone a Haarde para que ele responda: "Por que vocês não renunciam?" O primeiro-ministro explica que o momento é grave demais. Há uma operação de salvamento em curso, negociações complexas com o Reino Unido e o FMI, e uma eleição significaria uma ruptura desse processo. A ministra das Relações Exteriores se manifesta: "Talvez vocês que estão aqui não representem a maioria do povo islandês." É a maior vaia da noite. No dia seguinte, o líder da oposição dirá que apenas a ministra da Educação teve a decência de se desculpar pela tragédia.
A esquizofrenia política era evidente. O primeiro-ministro batia palmas para a demissão de si próprio. A ministra que desafiou o público havia declarado, dias antes, que se não estivesse no governo também iria para a rua protestar. O ministro do Comércio pediu a demissão de Oddsson. E o FMI, chamado às pressas, se apresentou para salvar um país que até então seguira a mais ortodoxa política de liberalização econômica.
Às dez em ponto a sessão foi encerrada.
O gabinete de Steingrímur Sigfússon, líder da Esquerda Verde, o maior partido de oposição, está instalado no 2º andar de uma pequena casa atrás do Parlamento. Sigfússon lembra um velho militante de 68 - cavanhaque, sandália e meias. Entre uma frase e outra, deita uma pitada de rapé na concha da mão e aspira. Tem pedido a saída do primeiro-ministro, mas, entre o governo a que se opõe e o mundo que deu as costas ao seu país, fica com o governo.
"A crise chegou de forma tão violenta que se transformou em force majeure, um conceito do direito internacional que se aplica a países que sofrem guerras ou crises sistêmicas. É exatamente o que aconteceu aqui", enfatiza. Nesses casos, suspendem-se as leis vigentes. "Qual era o nosso dever? Quanto devíamos pagar? Precisávamos dos tribunais para arbitrar, mas eles não deixaram. No momento em que a nossa moeda desapareceu e deixamos de ter dinheiro até para importar comida, a Inglaterra e a Holanda bloquearam o acordo com o FMI e não o aceitariam enquanto não déssemos garantias de que o dinheiro dos depositantes deles seria devolvido. Ficamos reféns desses países. Sou crítico do FMI. Perdemos nossa independência, eles vão ditar nossas políticas públicas; o governo já anunciou um corte de 10% no serviço de saúde. Mas admito que, depois da catástrofe de outubro, tornou-se inevitável ir ao Fundo. Era isso ou voltar à década de 30."
Sigfússon acredita que parte da calamidade decorre de a quebra dos bancos ter ocorrido no momento mais crítico da crise mundial. "Em outubro, quando Brown declarou que éramos terroristas, o sistema já estava completamente bambo. O sinal foi muito claro: 'Se algum país ou banco estiver pensando em dar calote, é melhor reconsiderar. Vejam o que aconteceu com a Islândia.' Éramos ideais para servir de exemplo: um país que podia ser destruído sem causar grande transtorno. Fomos as Falklands de Gordon Brown."
As manifestações populares o assustam. "Eu realmente preferiria que superássemos essa crise de modo pacífico." Ao encerrarmos a conversa, ele conclui com espanto na voz: "Essas manifestações são de fato históricas. Nós não somos franceses."
Do lado de fora, sob a chuva, um grupo de mulheres se dá as mãos e cerca a sede do governo, onde Geir Haarde dá expediente. À beira da calçada, sem grades, o chalé lembra mais um restaurante rústico do que um epicentro do poder. Os funcionários que deixam a casa pela única porta da frente se espremem entre os poucos degraus e o círculo de mulheres. Não há polícia. A dois passos, uma ótica substituiu os óculos da vitrine por um imenso cartaz: "Obrigado, Gordon, por destruir nossa economia."
"Como você veio parar aqui?", pergunto a Luciano Dutra, 35 anos, funcionário do INSS islandês. Ele sorri: "Como quase tudo no Brasil, a culpa foi de um argentino." Jorge Luis Borges. Ao abandonar o curso de letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, resolveu traduzir os sonetos de Borges e se deparou com a paixão do escritor pelas sagas islandesas. Constatando não haver traduções delas para o português, candidatou-se a um bacharelado na Universidade da Islândia. Chegou em 2002. Aprendeu o idioma, concluiu o curso e começou a tradução das sagas, "um trabalho de mais ou menos dez anos".
"Este talvez seja um dos países mais extrativistas do mundo", observa. "Pensa bem: pesca e energia. Ninguém cuida de cardumes nem planta energia. Aí, dez anos atrás, eles decidiram mudar tudo. Em menos de uma geração, migraram de uma economia baseada em recursos naturais para uma economia de serviços. Não deu certo."
Uma das funções de Dutra é processar certificados de seguridade social européia para pessoas que estejam pensando em emigrar. "Apareciam umas vinte pessoas por semana pedindo esses certificados. No último mês, foram mais de 200. Há um movimento de êxodo em massa. Ouvi falar de dois islandeses que foram para a Polônia trabalhar em olarias para mandar euros para as famílias aqui."
É o reverso de tudo, como se a Islândia tivesse passado para o outro lado do espelho. No dia 21 de novembro os jornais publicaram a notícia de que haveria uma feira de empregos na prefeitura. No primeiro dia, mais de 2 mil pessoas se apertavam num espaço pequeno demais para abrigá-las. Jovens e velhos, homens e mulheres, trabalhadores braçais e universitários disputavam folhetos distribuídos pelos expositores: "Viver e trabalhar na Lituânia", "Informações gerais sobre o trabalho na Holanda", "Engenheiros para o Mar do Norte".
Um grupo de portugueses pensa em se transferir para a Noruega, depois de terem sido todos despedidos de uma empresa de calefação. "Cheguei aqui há dois anos, era o paraíso", conta o marceneiro José de Souza. Trouxe a mulher, o filho, o sogro, o cunhado, o amigo do cunhado. "Tinha trabalho para todo lado. Agora acabou. Meu último salário vai ser o de dezembro." Seu colega, o brasileiro Adilson Mendanha, mineiro de Ipatinga, está na Islândia há sete anos. "Esse país foi sensacional. Cheguei a mandar de 15 a 17 mil reais por mês para o Brasil. Comprei uma casa enorme e tenho um jipe Cherokee, mas agora devo deixar a Islândia em abril."
Diante da barraca da Lituânia, um islandês pergunta: "Quais são as áreas?" A representante responde: "Balconista, cozinheiro, garçom, motorista de empilhadeira." O olho do rapaz acende: "Motorista de ônibus?" "Também, mas você precisa falar a língua." Ele parte desanimado. Uma empresa escandinava de petróleo oferece 300 vagas para engenheiros. Em menos de duas horas já recebeu trinta e poucos currículos, muitos escritos ali mesmo, com apoio da coxa ou da parede.
"Foi húbris, excesso", admite Árni Mathiesen, o ministro das Finanças, na sede do ministério - uma casa extremamente acanhada, como tudo na Islândia. Seu gabinete é tão estreito que as cadeiras da mesa de reunião batem constantemente contra a parede. Ao ouvir um "Como vai?", respondeu: "Aguentando firme." Concede que nem ele sabe quanto deve o país. "Só daqui a três ou quatro anos, quando terminarmos o processo de liquidação dos bancos, saberemos o tamanho da nossa dívida. E se não conseguirmos passá-la adiante, reprivatizando os bancos, estaremos na rua da amargura."
Mathiesen parece aliviado com o fim dos anos de delírio. "Olha, antes de tudo isso, nós levávamos uma vida boa aqui", lembra, referindo-se à época em que a Islândia vivia dos seus cardumes e ele era o ministro da Pesca. Foi mais um a migrar do setor pesqueiro para as finanças.
Ísi Thórhallson, o produtor musical, traz à tona a pergunta que angustia o país: o que significará ser islandês depois da hecatombe? "Agora que deixamos de ser cool, nos demos conta de que não passamos de uma ilha no Mar do Norte. Nos últimos dez anos surgiram muitas oportunidades, mas na hora em que o barco afundou, nós dissemos: 'Fodam-se os estrangeiros!' O governo só garantiu os depósitos em coroas islandesas. Então, sim, roubamos. Eles depositaram nos nossos bancos e no fim das contas não pudemos pagar. Não éramos tão bons quanto pensávamos. Os milionários agora viraram vilões, mas antes eram heróis. Ser banqueiro era cool. Ninguém parou para pensar: 'Por que diabos?' Não era melhor eles serem chatos? A gente deveria achar mais sensato confiar dinheiro a um cara prudente, não a um porra-louca. Mas não, eles eram cool. Ninguém desconfiou, e muito menos criticou. Nem os artistas. Eles também estavam no bolso dos banqueiros. Recebiam patrocínio, eram contratados para tocar. Foi uma festa. Quebramos a cara, todos nós."
O professor Gudmundur Jónsson é cauteloso na hora de atribuir responsabilidades. "Reluto em dizer que temos todos a mesma parcela de culpa. É absurdo achar que o islandês comum é responsável pela crise. Faltou prudência, mas não é esta a causa do que nos aconteceu." De fato, a dívida dos islandeses não se compara à dos bancos. Ainda assim, nas ruas nem sempre fica claro se as pessoas estão protestando contra a farra ou contra o fim dela.
O país vive o dilema de querer ou não ser novamente a Islândia de modestas expectativas. "Há o risco de nos sentirmos irrelevantes e provincianos", disse Jón Steinsson, de Columbia. Até Hördur Torfason, que todos os sábados comanda a resistência ao governo, vive o conflito: "Há 33 anos, quando eu disse publicamente que era gay, o mundo veio abaixo. Isso aqui era a Idade Média. Por isso passei anos na Dinamarca." Hördur fugiu da velha Islândia e protesta contra a nova.
Björn Hrafnsson, um jornalista especializado em economia, não tem dúvida. Num café na Praça do Parlamento ele explica: "Ninguém mais quer ser um país de pescadores. Estamos assustados, com raiva, mas não queremos voltar ao passado. Em dois ou três anos, teremos de reprivatizar os bancos e fazer tudo de novo." Será difícil. Kristján Davídsson, um executivo do Glitnir, despedido em outubro e recontratado semanas depois para liquidar o banco, me disse no mesmo dia em que decretou oficialmente a moratória da instituição: "Os bancos serão reprivatizados, mas, por conta da falta de confiança, não teremos acesso a grandes linhas de crédito. Seremos bancos pequenos, que emprestarão apenas o que os islandeses forem capazes de poupar. Com isso não se vai muito longe. Não construiremos mais nada." Um diplomata estrangeiro resumiu: "Eles vão ter de pescar muito."
Para muita gente, a primeira salva de útrás foi dada em dezembro de 1998, quando o Parlamento cedeu à pressão do governo de Oddsson e aprovou uma lei espantosa. Não se tratava da privatização de um serviço público, mas do patrimônio genético islandês.
Sendo tão isolada, a população da Islândia descende dos mesmos vikings que desembarcaram ali no século IX. Todo islandês é capaz de montar sua árvore genealógica até aqueles primeiros homens e mulheres. Essa herança comum é um dos grandes tesouros da medicina moderna. Doenças podem ser rastreadas ao longo de gerações, e suas causas genéticas, se existirem, identificadas. Todo câncer de mama na Islândia tem origem numa única mutação genética ocorrida no século XVI, no DNA de um monge chamado Einar.
Em 1996, um neurologista e professor de medicina de Harvard fundou uma empresa habilitada a usar esse imenso banco de dados genéticos para identificar patologias e desenvolver tratamentos. Fez apenas uma exigência ao governo: que a propriedade intelectual das descobertas fosse sua. Dois anos depois o governo aprovou o projeto, e cedeu então à DECODE, a empresa fundada por Kári Stefánsson, o direito não só de explorar os prontuários médicos do serviço nacional de saúde - meticulosamente preservados desde 1915 -, mas sobretudo de se apropriar, para fins científicos e comerciais, das informações genéticas da população. Foi a primeira vez na história que se concedeu esse direito a uma empresa.
A comunidade científica se opôs violentamente. Já a população islandesa, ou 95% dela, cumprindo um dever que julgava cívico, respondeu à convocação da DECODE e doou voluntariamente o seu sangue. A empresa possui hoje um banco de dados com a história familiar de praticamente todas as 800 mil almas que já viveram na Islândia. Nos últimos anos, 70% das descobertas que relacionam uma mutação genética a determinada patologia - de esquizofrenia a câncer de pulmão, de dependência da nicotina a diabetes - foram feitas nos laboratórios da empresa, em Reykjavík.
Kári Stefánsson trabalha numa sala imensa. Da sua mesa, através das janelas amplas, vê as montanhas geladas que cercam a baía de Reykjavík. Com mais de 1,90m, vestido de preto, em contraste absoluto com o branco alvíssimo de sua barba e do cabelo viking, tem perto de 60 anos e a vitalidade de um touro. Parece ter atravessado a vida com a certeza de que foi sempre o animal mais belo e inteligente da sala. Dizem que é o homem mais brilhante da Islândia, opinião que não se preocupa em refutar. É simultaneamente agressivo ("Você é de fato tão mau jornalista quanto parece?") e sedutor ("Ninguém compreendeu melhor o que está se passando aqui"), uma combinação não tão rara em homens que gostam de ser temidos e temem não ser gostados. Vaidoso de sua inteligência e de sua erudição, é capaz de interromper uma resposta para recitar, na íntegra, poemas de Auden ou de Octavio Paz.
"Não posso responder", diz com condescendência mal disfarçada, ao ser indagado se a empresa que fundou deu início ao processo desenfreado de desregulamentação. "Não posso responder pelo simples fato de que a pergunta não faz sentido e é uma absoluta tolice. Como me comparar a essa gente que destruiu o meu país? Eu investi na Islândia. Eles investiram fora, tomando dinheiro emprestado e dando o povo islandês como garantia. Eu trouxe cientistas para cá, transformei este lugar no laboratório genético mais importante do mundo. E eles? O que deixaram?"
Boa parte dos islandeses perdeu dinheiro com Stefánsson. Quando a DECODE lançou ações na Nasdaq - foi a primeira companhia islandesa a abrir o capital numa bolsa estrangeira -, o governo incentivou toda a população a investir nela. Era uma atitude patriótica. Lançadas a 30 dólares, as ações em pouco tempo caíram para vinte e hoje valem menos de um dólar. A empresa está à beira da ruína. Em outubro, não cumpriu todas as suas obrigações junto aos credores. O tempo de maturação de uma empresa de biotecnologia é longuíssimo, e a crise mundial secou o fluxo de investimentos.
Em sua imensa mesa, olhando pelas enormes janelas, Stefánsson não dá sinais da derrocada. Talvez imagine que venceu como cientista e perdeu apenas como empreendedor. Tem ojeriza a ser comparado aos outros - aos igualmente derrotados. "Quando Auden veio aqui, quase não havia o que comer. Ele fala disso. Eu vivia com fome até mais ou menos o período de Natal, quando as coisas melhoravam um pouco. Meus heróis eram os antigos poetas. Éramos isto: uma nação que lia os poetas. Nessa última década, viramos uma nação de especuladores. Eles eram desinteressantes, repulsivos e extremamente vulgares. Agora a vulgaridade acabou. Ninguém passará fome. Vamos nos ajudar, como sempre fizemos, e sairemos desta situação como um povo muito melhor. Espero estar aqui para ver."
Sabendo que seu interlocutor precisa ir embora, Kári Stefánsson se levanta e estende a mão: "Boa viagem." No caminho até o aeroporto passo diante de no mínimo setenta guindastes, todos imóveis, pairando sobre bairros fantasmas. Não era feriado.
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