Autor Tópico: A defesa do Infanticídio  (Lida 7585 vezes)

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Offline Blues Brother

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A defesa do Infanticídio
« Online: 15 de Abril de 2010, 10:36:23 »
Em determinadas tribos indígenas do Brasil,

gêmeos devem ser mortos ao nascer, porque são sinônimo de maldição.

Em outras, filhos de mães solteiras devem morrer. E também os que nascem com graves deficiências.

Em geral, as crianças são enterradas vivas.

Mas o infanticídio indígena não é considerado um crime, nem pela Funai e nem pelo Estado brasileiro.Não sei qual é a exata posição da Funai, mas sei que ela é amparada pelo argumento dos antropólogos.

Meu professor de antropologia, Gabriel Pugliese, forneceu um dos principais argumentos que são utilizados atualmente na defesa do infanticídio indígena. Ele o disse na aula de terça-feira, dia 13:

Nós julgamos o ato do infanticídio de acordo com nossas referências, nosso conceito de Direitos Humanos, mas os indígenas têm outras referências e outra concepção de humanidade. Os Jurunas, por exemplo, entendem que "humanidade" é manifestação cultural. Se determinadas espécies apresentarem indícios de que são sociaveis, logo, são considerados humanos. Para eles, a noção de humanidade não é como uma classificação fixa. O que consideramos humanos pode não ser visto desta forma por eles.Crianças acéfalas, por exemplo, são representações de espíritos, produtos de maldição. Não são humanos

Em síntese, os Direitos Humanos Universais não alcançam as tribos indígenas.

O infanticídio é apenas um costume cultural relativo a uma dada sociedade e que não podemos julgar porque partimos dos nossos referenciais para fazê-lo, portanto, nosso julgamento é etnocêntrico.





« Última modificação: 15 de Abril de 2010, 10:51:01 por Blues Brother »

Offline Dr. Manhattan

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #1 Online: 15 de Abril de 2010, 10:40:33 »
A citacao ficou quebrada...


Certa vez conversei com um amigo mexicano sobre os índios. Ele disse que no México os índios sao considerados
cidadaos mexicanos e fim de conversa. Ou seja: estao sujeitos as mesmas leis que os demais cidadaos.

O que eu acho: Relativismo Cultural no c% dos outros é refresco.
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Alan Watts

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #2 Online: 15 de Abril de 2010, 10:50:37 »
Arrumei a citação, obrigado por avisar.

Pois é, penso algo similar, embora no meu curso pensar isso seja o equivalente a agir como um ocidental arrogante, com seus dogmas e sua "mania de verdade"!!!

Offline Mr. Mustard

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #3 Online: 15 de Abril de 2010, 10:54:22 »
Arrumei a citação, obrigado por avisar.

Pois é, penso algo similar, embora no meu curso pensar isso seja o equivalente a agir como um ocidental arrogante, com seus dogmas e sua "mania de verdade"!!!

Eu não diria que manter a integridade e a vida de um ser humano seja uma mania de verdade, mas uma constatação do óbvio ululante.

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #4 Online: 15 de Abril de 2010, 14:33:58 »
Pois é, Mustard, eu tenho dito isso para os meus colegas de curso há dois anos e pouco...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #5 Online: 15 de Abril de 2010, 14:46:37 »
É bizarro mesmo. E por que um cara que dissesse compartilhar as mesmas crenças dos índios não poderia ser considerado completamente inocente, se fizesse o mesmo? Ou mesmo índios dessas tribos, mas que fossem morar em apartamentos?

E por que apenas essas crenças especificamente possibilitam desvios tão radicais do que é legal, enquanto que diferentes crenças a respeito de economia -- como que taxas de importação são erradas, que impostos são errados, etc -- não permitem que a pessoa se isente de seguir essas leis com as quais não concorda, o que, ao fazer, não está matando bebês e crianças?

Offline Mr. Mustard

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #6 Online: 15 de Abril de 2010, 15:12:11 »
Pois é, Mustard, eu tenho dito isso para os meus colegas de curso há dois anos e pouco...

Mata eles! Mata eles!  :biglol:

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #7 Online: 15 de Abril de 2010, 16:31:32 »

E por que apenas essas crenças especificamente possibilitam desvios tão radicais do que é legal, enquanto que diferentes crenças a respeito de economia -- como que taxas de importação são erradas, que impostos são errados, etc

Aí é que está a questão.

Buckaroo, já tinha pensando na conseqüência máxima disso, veja só:

Em determinada sociedade um crime específico vai se tornando uma espécie de "hobbie" nacional. No começo, todos são punidos com o duro rigor da lei. Porém, com o tempo, e o aumento dos casos, vai surgindo a explicação de que aquilo é apenas um costume cultural nacional, algo que é o nosso "jeitinho" de ser.

Daqui há 500 anos, aquele crime pode ser visto como uma tradição. Assim como o infanticídio nas tribos. 


Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #8 Online: 15 de Abril de 2010, 16:32:13 »
Mustard, vontade não falta....

Offline Hold the Door

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #9 Online: 15 de Abril de 2010, 19:17:13 »
Em determinadas tribos indígenas do Brasil,

gêmeos devem ser mortos ao nascer, porque são sinônimo de maldição.

Em outras, filhos de mães solteiras devem morrer. E também os que nascem com graves deficiências.

Em geral, as crianças são enterradas vivas.

Mas o infanticídio indígena não é considerado um crime, nem pela Funai e nem pelo Estado brasileiro.Não sei qual é a exata posição da Funai, mas sei que ela é amparada pelo argumento dos antropólogos.

Meu professor de antropologia, Gabriel Pugliese, forneceu um dos principais argumentos que são utilizados atualmente na defesa do infanticídio indígena. Ele o disse na aula de terça-feira, dia 13:

Nós julgamos o ato do infanticídio de acordo com nossas referências, nosso conceito de Direitos Humanos, mas os indígenas têm outras referências e outra concepção de humanidade. Os Jurunas, por exemplo, entendem que "humanidade" é manifestação cultural. Se determinadas espécies apresentarem indícios de que são sociaveis, logo, são considerados humanos. Para eles, a noção de humanidade não é como uma classificação fixa. O que consideramos humanos pode não ser visto desta forma por eles.Crianças acéfalas, por exemplo, são representações de espíritos, produtos de maldição. Não são humanos

Em síntese, os Direitos Humanos Universais não alcançam as tribos indígenas.

O infanticídio é apenas um costume cultural relativo a uma dada sociedade e que não podemos julgar porque partimos dos nossos referenciais para fazê-lo, portanto, nosso julgamento é etnocêntrico.
Pode até ser um costume cultural deles, mas até onde eu sei, o Estado é o "tutor" (não sei o termo legal) dos povos indígenas e tem obrigação de zelar pelo bem estar desses povos. Isso inclui os adultos e as crianças indígenas. Se o indígena está apenas "expressando sua cultura" ao matar crianças, o Estado está sendo omisso ao permitir que isso ocorra. Não pode haver privilégio dos direitos de um sobre o outro pela desculpa da "cultura". Cultura não dá o direito de decisão de vida ou morte sobre outra pessoa.
Hold the door! Hold the door! Ho the door! Ho d-door! Ho door! Hodoor! Hodor! Hodor! Hodor... Hodor...

Offline Derfel

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #10 Online: 15 de Abril de 2010, 19:32:59 »
De que indígenas se trata o tópico. Aqueles aculturados com um contato frequente com a nossa civilização. Ou tribos isoladas com contato eventual através de missões da Funai ou sem contato nenhum?

Offline O Grande Capanga

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #11 Online: 15 de Abril de 2010, 19:41:08 »
Apesar de eu ser contra o relativismo cultural, até hoje nunca vi um bom argumento contra.

Tudo que criticamos nas culturas alheias é porque nós achamos errado.

Por exemplo, para um determinado povo, é monstruoso que pais se separem de seus filhos quando eles são pequenos, nesse caso, para ilustrar a situação, seria o caso de pais enviarem seus filhos à escola.

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #12 Online: 16 de Abril de 2010, 10:13:27 »
De que indígenas se trata o tópico. Aqueles aculturados com um contato frequente com a nossa civilização. Ou tribos isoladas com contato eventual através de missões da Funai ou sem contato nenhum?

Tribos Suruarrás, Yanomamis e algumas outras do Xingu.

É uma minoria, mas alguns dados (nem sempre confiáveis dada a desorganização da Funai) dizem que entre 2004 e 2006 cerca de duzentas crianças foram mortas apenas entre Yanomamis.

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #13 Online: 16 de Abril de 2010, 10:20:26 »
Apesar de eu ser contra o relativismo cultural, até hoje nunca vi um bom argumento contra.

Tudo que criticamos nas culturas alheias é porque nós achamos errado.


Se você está falando mesmo de relativismo cultural, o argumento é bem simples: a vida de um indivíduo é mais importante do que sua cultura.

Os relativistas culturais são conservadores puritanos que defendem a preservação das tradições à qualquer custo, mesmo que isso implique na eliminação dos próprios indivíduos que construíram tais tradições.

Eles entendem a cultura como um fim em sí mesmo, uma vaca sagrada intocável. Eu penso que a cultura é um meio para um fim: permitir a sociabilidade e a troca de produtos culturais. Não é só isso, mas é principalmente isso e estou pra ver um relativista que consiga explicar por que devemos trocar vidas por tradições. 

Se você quis dizer relativismo moral, a discussão é diferente, embora seja QUASE a mesma coisa.

Offline HeadLikeAHole

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #14 Online: 16 de Abril de 2010, 11:20:47 »
E se for considerado que a interferência na cultura de outros povos é uma característica cultural?

Offline Derfel

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #15 Online: 16 de Abril de 2010, 11:40:07 »
[modo nerd on] E a primeira diretriz? [/modo nerd off]

Offline Blues Brother

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #16 Online: 16 de Abril de 2010, 11:45:45 »
E se for considerado que a interferência na cultura de outros povos é uma característica cultural?

Pois é, neste caso teríamos de respeitar tal costume cultural dos ocidentais malvados...

Offline _tiago

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #17 Online: 18 de Abril de 2010, 16:01:04 »
Não vejo sentido em submeter a um processo penal um índio que sequer sabe da nossa existência.
Se prender fosse exemplo...
E aliás, qual o sentido da pena num caso desses?

Offline Lua

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #18 Online: 18 de Abril de 2010, 19:25:10 »

O Mabumbo tocou num ponto interessante: aplicar nossa lei penal a um grupo que tem um sistema cultural diferente é válido? Como apenar um indivíduo que não reconhece seu ato como crime? - e nem vê esse ato reconhecido como tal no contexto em que vive.

Ora, a pena visa punir e ressocializar o indivíduo, reabilitando-o para que viva em sociedade. Se a conduta é aceita em sociedade, como vai se punir essa conduta e tentar ressocializar o indivíduo tentando extirpar dele o desejo de praticar novamente aquele ato? Estou falando nestes termos porque, aos olhos da legislação brasileira, os índios são responsabilidade do Estado, sendo considerados relativamente incapazes. Se é o Estado que os trata como especiais e permite a sobrevivência de suas culturas - e com elas todos os 'absurdos' -, como puni-los por uma conduta que é reconhecida como legítima?

Quanto ao tema em questão, semana passada estava vendo a série "Tabu" e a mesma questão foi abordada, só que tratando de uma tribo africana. Lá, crianças que nasciam com deficiências, gêmeas ou filhas de mães solteiras eram sacrificadas para evitar maldições. Num caso como esses e na minha forma de pensar atual, acho um absurdo. Mas como minha forma de pensar guarda relação direta com o momento histórico em que me encontro e com os valores que minha sociedade acredita, não vejo como não relativizar a questão do direito à cultura.

Por mais que se negue, o direito e o respeito à vida são frutos de uma evolução cultural de nossa sociedade. A prova de que esse valor não é universal e atemporal está na própria história, vez que há séculos atrás a vida do indivíduo estava nas mãos do rei ou da igreja, dentre outras figuras. Por mais que nossa sociedade tenha evoluído - e penso que ainda há muito a evoluir -, não dá para querer de outros grupos o mesmo grau de conhecimento e aperfeiçoamento das relações sociais.

Sinceramente, em casos como esses, não sei como se pode interferir sem impor nossos valores. Sou totalmente contra o infanticídio, mas para algumas culturas ele representa um socorro para males que podem sobrevir à tribo. Porque um socorro? Porque a crença religiosa se apega ao aspecto mais irracional do ser humano: trabalha com crenças sem fundamento, com medos ilógicos, com situações irreais. Diante da crença arraigada, como explicar onde está o erro? Situação bem complicada...
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #19 Online: 18 de Abril de 2010, 20:08:49 »
Essa coisa de "contexto cultural diferente" abrir as portas para se aceitar o que quer que façam é ridículo.

Sem falar que há sempre pesos e medidas diferentes. Para uma família onde tradicionalmente houve muita violência com os filhos, isso deveria justificar então a continuidade da violência contra os filhos, porque eles aprenderam que assim é que é o certo. Mas geralmente não vão defender que isso seria igualmente permissível, de forma totalmente arbitrária.

Muçulmanos poderiam apedrejar mulheres, cristãos poderiam queimá-las se achassem que fossem bruchas, ou, para manter no infanticídio, decapitar bebês após o batismo para salvar suas almas.

Não importa que umas pessoas sejam ignorantes, e tenham conceitos diferentes do que é certo e do que é errado, isso não tira os direitos das suas vítimas, não isenta o estado do dever de protegê-las, por mais que se possa especular/argumentar sobre esse contexto cultural ser um fator atenuante sobre qualquer pena que fosse receber.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #20 Online: 18 de Abril de 2010, 20:13:43 »
E nada importa se isso seria uma "imposição cultural". Que se imponha a cultura então, oras. Se isso vai salvar inocentes de serem vítimas de uma cultura assassina, que seja. Por que a preservação de uma cultura de atrocidades valeria mais do que as vidas que ela tira?

Offline _tiago

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #21 Online: 18 de Abril de 2010, 20:24:43 »
E fazemos o que, primeiro processamos e depois prendemos toda a tribo?
Também sou destes que não concordam com esse tipo de coisa, muito menos em justificar atrocidades em nome do relativismo cultural. Se vivem entre nós, perfeito, quem quer seja, deverá viver conforme nossos valores. Mas e nesse caso? Educá-los? E se eles resistirem e não quiserem, voltamos pra primeira situação!?
Não faz o menor sentido isso...

Offline Lua

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #22 Online: 18 de Abril de 2010, 20:36:03 »
Bem, Buckaroo, só para seu conhecimento, acho absurda a proteção que o Estado brasileiro dá aos índios, principalmente quando se trata de índios já inseridos na nossa cultura - é normal ver índio acessando computador, usando mp3, vendo tv, etc. Mas se o Estado continua protegendo e reconhecendo como incapazes, o maior problema está nele: cabe a ele reconhecer e mudar essa postura, impondo a todos os que vivem no território brasileiro os mesmos deveres. No entanto, ao protegê-los de forma especial e admitir essa conduta, o próprio Estado legitima o infanticídio.

Não discordo da intervenção nesses casos, mas se essa for a medida adotada, que o Estado altere a noção de índios como especiais e proíba que eles cometam esse tipo de abuso.

Para ser clara: sim, acredito em evolução dos valores, mas não concordo com a intolerância, o abuso e o assassinato por parte de quem quer que seja. Mas para que nossos valores imperem e a noção atual de que o direito à vida deve ser respeitado por ser inalienável, imprescritível e irrenunciável, é necessário que nossa CF seja alterada.

Sem falar que há sempre pesos e medidas diferentes. Para uma família onde tradicionalmente houve muita violência com os filhos, isso deveria justificar então a continuidade da violência contra os filhos, porque eles aprenderam que assim é que é o certo. Mas geralmente não vão defender que isso seria igualmente permissível, de forma totalmente arbitrária.

Mas nesse caso estaríamos diante de um núcleo menor da sociedade, que representa todo o grupo social. Se num grupo social aquela prática é considerada abominável, deve ser evitada e punida, caso praticada. Nesse caso, sobressai a idéia de que, se vivo em sociedade, minha liberdade será restringida para que eu possa ter direitos e para que o outro não seja lesado por minha conduta.

Quando se trata de toda uma cultura, a situação é diferente, já que a conduta é tida como legítima entre eles. No entanto, o contato, a convivência e até mesmo o recebimento de benefícios por parte de nossa sociedade - caso dos índios - faz com que valores precisem ser adequados à realidade e aos ideais de direitos humanos reconhecidos universalmente.

Sinceramente, acho injustificada e descabida a proteção dos índios por nossa CF. Motivo: se já estão inseridos, precisam se adequar ao ordenamento brasileiro. E para quem afirma que eles mantém sua cultura preservada, acho interessante, mas desde que tal não afete o direito à vida daqueles que se encontram em território brasileiro - até porque o direito à vida não se restringe aos cidadãos, mas se estende a todas as pessoas que se encontrem em território brasileiro.


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Offline Lua

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #23 Online: 18 de Abril de 2010, 20:39:20 »
E fazemos o que, primeiro processamos e depois prendemos toda a tribo?
Também sou destes que não concordam com esse tipo de coisa, muito menos em justificar atrocidades em nome do relativismo cultural. Se vivem entre nós, perfeito, quem quer seja, deverá viver conforme nossos valores. Mas e nesse caso? Educá-los? E se eles resistirem e não quiserem, voltamos pra primeira situação!?
Não faz o menor sentido isso...

Acho que para isso precisamos alterar nossa legislação, sobretudo nossa Constituição. Se formos analisar pelo caráter da pena e do processo, não tem sentido processá-los - à menos que tomemos como base a idéia de que os índios são brasileiros e submetidos às mesmas leis que os demais indivíduos que residem no país.

O ideal é educá-los segundo nossa cultura... não vejo outra solução.

Uma coisa que achei interessante: povos tão distantes que adotam interpretações similares a respeito de algumas situações... Pelo visto, o potencial humano em interpretar 'a vontade da divindade' não varia muito.
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Offline ThiagoSC

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Re: A defesa do Infanticídio
« Resposta #24 Online: 18 de Abril de 2010, 22:19:17 »
Eu considero a questão um pouco complexa e acho que podemos emboçar melhor a realidade existente.

Certa vez conversei com um amigo mexicano sobre os índios. Ele disse que no México os índios sao considerados
cidadaos mexicanos e fim de conversa. Ou seja: estao sujeitos as mesmas leis que os demais cidadaos.

O que eu acho: Relativismo Cultural no c% dos outros é refresco.
O Brasil não é como o México! Temos muito mais comunidades indígenas, além destas serem muito mais isoladas do que as da América Central. Índios da região do Pantanal e Amazônia não são tão inseridos na cultura urbana como os índios de países como o México, EUA, Canadá e outros. Portanto, a questão não é tão simples. E nem sei se a realidade no México é como seu amigo falou... A lei pode prever que todos sejam iguais, mas e na prática?

E sobre a "matança" nas comunidades indígenas...
Convenhamos, a verdadeira guerra que temos na sociedade urbana, aonde menores são desde muito cedo orientados para a criminalidade ou mesmo, no caso das classes um pouco mais ricas, nas drogas, dá de 10x0 nessas "picuinhas" das sociedades indígenas.

Concordo que é uma ignorância sem tamanho considerar obra do demônio pessoas gêmeas, por exemplo e outras crendisses absurdas. Mas crianças aleijadas, autistas, com problemas genéticos sérios... QUEM VAI CUIDAR? O ESTADO? Já mal cuidam dos deficientes "brancos" vão cuidar dos deficientes peles vermelhas no meio do mato? Eles só dão um "empurrãozinho" na seleção de quem vive e quem morre, ao invés de deixar o tempo (a natureza) decidir isso. E também, é muito fácil falar quando você não tem um filho deficiente, tipo um autista ou retardado... É um verdadeiro impacto na vida dos familiares ficar cuidando de alguém com poucas expectativas de vida, que não produz e só dá trabalho aos outros.

Países de primeiro mundo até possuem uma sociedade mais moderna, com melhor infraestrutura para as famílias de portadores de deficiências. Lá até seria justo considerar o infanticídio uma monstruosidade. Mas aqui no Brasil e em paizecos aonde as condições são precárias até pra quem é saudável, imagina para os familiares de deficientes. E o que dizer de índios??? A FUNAI vai lá dar assistência aos índios aleijados, autistas e mongolóides? Claro que não! Pra cultura deles é MUITO MELHOR dar fim aos indíviduos com problemas o quanto antes, antes que ocorra o apego, o que torna tudo mais difícil.

Tenho certeza que muitas famílias de aleijados ou portadores de deficiÊncia séria, que não possuem boas condições de vida, e que possuem suas vidas impactadas pelo deficiente, gostariam muito de fazer parte de uma cultura que incentiva cortar o mal pela raíz. Alguém aqui sabe o que é passar 10, 20, 30 anos de sua vida preso a dar assistência pra quem não tem expectativas de vida otimistas? E o pior, você dá assistência a quem você já se apegou e a frustração é diária!!! Você batalha, batalha, batalha e nada muda, tudo continua na mesma, dia após dia!

É muito bonito ver na TV toda a "solidariedade moral" que é dada às famílias... Mas ninguém tem noção de como é a rotina de muitos. O deficiente não tem culpa, é claro, mas e a família como fica? 2, 3 ou até 4 pessoas terem suas vidas marcadas por conta de 1 é um tanto difícil de entender, não é simples.

É só comparar... Pega uma família indígena que teve que matar seu filho recém-nascido por autismo e pega uma família urbana comum, que passa apertos diários para manter o autista vivo e com uma vida "digna"... Qual família é mais feliz? Nos 2-3 primeiros anos talvez a segunda seja mais feliz, mas nos próximos 5, 10, 20 anos, ninguém gostaria de fazer parte da segunda.

 

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