Em Popper não se tem o aprofundamento técnico para a utilização dos termos biológicos adequados mas o mote é o mesmo e esta adequação linguística e conceitual é melhor exposta na teoria da autopoiese. Esta mescla é muito boa, sem no entando descartar as ótimas pesquisas de afetividade e cognição que mostram esta interface instintiva humana de forma mais delineada.
Sempre considerei Maturana e Varela epistemólogos de baixo nível (calma, estou usando o jargão dos computadores), enquanto Popper, Lakatos, Feyerabend, Kuhn, e cia., epistemólogos de alto nível. Parace-me uma divisão adequada, em alguns sentidos: Maturana discorre sobre a máquina e sua interação com o meio, enquanto os últimos citados discorrem sobre a apreensão/produção de conhecimento em um nivel muito mais semântico, linguístico, de faculdades superiores de nossa racionalidade. Uma vez, em um trabalho acadêmico, sugeri que todo e qualquer breve curso de epistemologia deveria incluir Maturana e Varela. É que, por vezes, parece que esquecemos que somos bichos, animais em contínua adaptação ao meio, para pensar apenas em nossas faculdades "racionais"... como se o software em nossas cacholas fosse todo o nosso mundo.
A propósito, é interessante que foi só depois de "A Árvore do Conhecimento" e alguns artigos sobre Deriva Natural que vim a entender substancialmente a teoria da evolução. A idéia de deriva é muito poderosa e, não sei exatamente o porquê, não parece ser suficientemente propalada. Resumindo: a epistemologia biológica e a científica são (ou deveriam ser) indissociáveis para uma compreensão otimizada do que significa "conhecimento".