Autor Tópico: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético  (Lida 4678 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #25 Online: 23 de Maio de 2010, 20:20:42 »
O fato dos cientistas terem conseguido, a partir de substâncias químicas simples, "montar" uma cadeia de ácido nucleico com instruções funcionais para multiplicação só mostra que é possível que substâncias químicas se juntem e formem esse tipo de estrutura. Se você quiser, dá pra extrapolar e dizer que isso mostra que o RNA (ou DNA)  não precisa ter aparecido "pronto" da primeira vez para ser, a partir de então, copiado dentro de células.

Nem isso. Bem, na verdade não quanto a esse experimento, no qual, tanto quanto sei, fizeram esse DNA "sintético" usando o maquinário bioquímico de leveduras (em leveduras, vivas), não qualquer tipo de reação espontânea. E nem algo significativamente "muito" sintético, embora, se não me engano, hajam técnicas "mais" sintéticas, de se fazer algo parecido "em tubo de ensaio".

Outro experimento mais recente, de qualquer forma, teve resultados que demonstram mais algo na linha do que você disse. Até há um bom tempo, não tinham conseguido fazer ribonucleotídeos se originarem espontâneamente, largavam lá as "peças", mas nada deles se juntarem em nucleotídeos. O impressionante foi que conseguiram alcançar isso largando subcomponentes menores dessas "peças" (Wired).



Não é uma prova de que a vida surgiu assim. Só mostra que é possível que isso aconteça. Também não é uma prova de que é preciso alguém "fazendo" as coisas, porque quando a gente faz uma reação química, a gente simplesmente coloca as substâncias necessárias no ambiente propício. O fato de isso ter sido feito em laboratório não mostra que é preciso um ser ciente para que isso aconteça, nem que é impossível acontecer fora de condições controladas.

Ou seja: se olharmos para a hipótese "A vida surgiu a partir de reações químicas que geraram os primeiros seres vivos", podemos considerar que o experimento de "vida artificial" é uma forma de falsear essa hipótese. O sucesso da experiência mostra que essa hipótese não foi falseada.

Olha, a não ser que eu esteja perdendo muita coisa, acho que esse experimento todo da célula "sintética" não tem praticamente qualquer relevância teórica para conhecimentos sobre a origem da vida, justamente por ter sido sim, tudo muito "manual", e se aproveitando de organismos vivos. Sem querer desmerecer o trabalho, acho que o avanço é muito mais técnico do que de conhecimento teórico. É meio como um aperfeiçoamento no "transplante" bacteriano. Mas de certa forma não tem muito mais a ver com origem da vida ou conhecimento teórico sobre qualquer coisa do que tiveram os primeiros transplantes cardíacos bem sucedidos.



Reproduzindo um post do RV para não ter que escrever tudo de novo:

Citação de: zumbi filosófico
Citação de: DDV
Citação de: zumbi filosófico
Citação de: Mucuna
Bem, a equipe montou um genoma inteiro e funcional do zero. Mostra, além do domínio da técnica, o nível de conhecimento, básico que seja, para manter uma célula funcionando e se dividindo.

E nem foi um genoma "inventado", mas simplesmente a reconstituição do genoma da própria espécie da qual usaram a célula. Só acresceram os "créditos", os nomes do pessoal da equipe no genoma.

O que teve de especial nessa experiência, que a diferencia de um simples transplante de genoma, foi o fato desse DNA ter sido montado quimicamente ao invés de ter sido produzido "naturalmente" por uma célula durante uma replicação.

A espécie da célula era outra. O genoma montado artificialmente foi de outra bactéria, que após ter sido implantado, assumiu o comando da célula.

Em resumo: no lugar de uma replicação natural (na qual um DNA serve como molde para a síntese de outro, usando enzimas celulares), ocorreu uma montagem de DNA utilizando sintetizadores químicos e guiado por informações de um computador ao invés de um DNA pré-existente.

Na verdade, a replicação de DNA sintética não é "mais" química que a natural, não foi por exemplo, feita "num tubo de ensaio", mas em leveduras (essa sim, uma espécie mais distante). Existe, de qualquer forma, maneira de se ter DNA se reproduzindo fora de qualquer célula, inclusive há um tempo fizeram um evoluir em um DNA auto-replicante, meio como haviam feito com RNA em meados dos anos 80, se não me engano. Mas não foi assim que fizeram. Então transplantaram o genoma todo para uma diferente espécie (ou talvez subespécie), do mesmo gênero.




Sem querer desmerecer Venter e todo o pessoal, mas é difícil entender o estardalhaço pelo que é praticamente a reprodução do que já haviam feito, e que, mesmo antes, não era algo assim estrondoso em termos de novos conhecimentos, mas apenas de técnica. Talvez se tenham aperfeiçoado muito a técnica, aí sim, mas não vi notícias disso.

Nesses últimos anos, houveram descobertas bem mais interessantes nessa área, que não ganharam um décimo do destaque que essa está ganhando antes mesmo de ser publicada (acho). Por exemplo, se tratando de DNA artificial, bolaram "letras" diferentes para o DNA, que funcionam do mesmo jeito, e são mais fáceis de fazer. No que concerne a questões de origem da vida, e bem mais relevante do que todos esses trabalhos do Venter e sua equipe, uma equipe desativou algum gene ou alguns genes relacionados a formação da parede celular numa bactéria, fazendo com que ela se desenvolvesse sem ela, mas apenas com uma membrana lipídica, como uma simples micela, que pode se originar espontâneamente. Coincidentemente, ao mesmo tempo, havia um pessoal trabalhando em modelos de como micelas proto-biontes se "reproduziriam" por fragmentação, e eis que os resultados de ambas são bem parecidos, só que no primeiro caso, os "fragmentos"/"desprendimentos" têm genomas.



A coisa mais significativa em termos de origem da vida que o Venter vem fazendo é uma espécie de desmantelamento do genoma de alguma(s) espécie(s) de Mycoplasma, que já tem um genoma bem reduzido para começar (e nem sei o quanto ele conseguiu reduzir). É o que chamam de abordagem "top-down", de-cima-para-baixo. Com sorte, eventualmente acabam conseguindo descer a ponto de esbarrar no que o pessoal que trabalha "de-baixo-para-cima" vai descobrindo, mas ainda está bem longe, e talvez seja até meio impossível o pessoal do "top-down" avançar (ou seria regredir?) muito mais, devido a toda aquela coisa da analogia dos estágios intermediários na construção de uma porta em arco, que desaparecem uma vez que o arco está pronto (analogia para explicar a aparência de "complexidade irredutível"). Mas ainda está bem longe de se ter chegado em algo que se pudesse supor ser próximo ao "primeiro genoma", se é que faz sentido se falar nisso, ainda é bem grandinho, e necessariamente houve um bocado de evolução até ficar desse tamanho. É talvez até mais relevante para os primórdios da evolução do que para origem da vida em si.


Offline Buckaroo Banzai

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #26 Online: 23 de Maio de 2010, 20:23:20 »
E correção sobre o meu post no RV: não fizeram RNA auto-replicante nos anos 80, o que descobriram era atividade enzimática do RNA, que teoricamente possibilitaria RNA auto-replicante. Isso só foi obtido bem mais recentemente. De janeiro do ano passado:

[sciencedaily] How Did Life Begin? RNA That Replicates Itself Indefinitely Developed For First Time

Offline Bolsonaro neles

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #27 Online: 23 de Maio de 2010, 21:09:43 »
O bom e velho Buckaroo.

Offline SnowRaptor

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #28 Online: 23 de Maio de 2010, 21:26:08 »
Isso que dá eu escrever sobre uma notícia que não li inteira...
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #29 Online: 24 de Maio de 2010, 00:09:51 »
Citação de: [url=http://][/url]
Sizing up the 'synthetic cell'
Nature asked eight experts about the implications of the J. Craig Venter Institute's latest creation.

A synthesized genome has been assembled, modified and implanted into a DNA-free bacterial shell to make a self-replicating Mycoplasma mycoides bacterium1. Here, Nature presents short extracts from eight comment pieces on what this achievement means for biotechnology, evolutionary biology, regulation and philosophy. The full-length comments are available to read here.


Mark Bedau, professor of philosophy and humanities, Reed College, OregonS. K. Timmermann

"The ability to make prosthetic genomes marks a significant advance over traditional genetic engineering of individual genes. It raises important scientific and societal issues: we now have an unprecedented opportunity to learn about life. We must develop and perfect new methods for engineering emergence, as this calls for fundamental innovations in precautionary thinking and risk analysis. It will revitalize perennial questions about the significance of life — what it is, why it is important, and what role humans should have in its future."



George Church, geneticist, Harvard Medical SchoolS. Ogden

"With regard to regulations to prevent the release of hazardous life forms made in ways akin to the new Mycoplasma or by other means, there are two scenarios: bioerror and bioterror. For the former, licensing and surveillance, handled by computers, minimally inconvenience researchers, while sensitively detecting deviations from normal practice and smoothly integrating new risk scenarios. For bioterror avoidance, realistic lab ecosystems should be standardized to test the ability of new synthetic genomes to persist or exchange genes in the wild."


David Deamer, professor of biomolecular engineering, University of California, Santa Cruz

"Now that the JCVI has demonstrated how to reassemble a microbial genome, it may be possible to answer one of the great remaining questions of biology: how did life begin? Using the tools of synthetic biology, perhaps DNA and proteins can be discarded — RNA itself can act both as a genetic molecule and as a catalyst. If a synthetic RNA can be designed to catalyse its own reproduction within an artificial membrane, we really will have created life in the laboratory, perhaps resembling the first forms of life on Earth nearly four billion years ago."


Arthur Caplan, professor of bioethics, University of PennsylvaniaD. Burke

"Venter and his colleagues have shown that the material world can be manipulated to produce what we recognize as life. In doing so they bring to an end a debate about the nature of life that has lasted thousands of years. Their achievement undermines a fundamental belief about the nature of life that is likely to prove as momentous to our view of ourselves and our place in the Universe as the discoveries of Galileo, Copernicus, Darwin and Einstein."


Steen Rasmussen, Center for Fundamental Living Technology, University of Southern DenmarkJ. Rudiger

"Implementing a synthetic genome in a modern cell is a significant milestone in understanding life today. However, the radical 'top-down' genetic engineering that Venter's team has done, does not quite constitute a "synthetic cell" by my definition. 'Bottom-up' researchers, like myself, aim to assemble life — including the hardware and the program — as simply as possible, even if the result is different from what we think of as life. Constructing life using different materials and blueprints will teach us more about the nature of life than will reproducing life as we know it."



Jim Collins, professor of Biomedical Engineering, Boston UniversityR. E. Klein/AP/HHMI

"This is an important advance in our ability to re-engineer organisms, not make new life from scratch. Frankly, scientists don't know enough about biology to create life. Although the Human Genome Project has expanded the parts list for cells, there is no instruction manual for putting them together to produce a living cell. It is like trying to assemble an operational jumbo jet from its parts list — impossible. Although some of us in synthetic biology have delusions of grandeur, our goals are much more modest."


Steven Benner, Foundation for Applied Molecular Evolution, FloridaP. Benner

"The JCVI work may help to link chemistry to natural history. The sequences of the genomes of extinct ancestral Mycoplasma species might be inferred from the sequences of various modern mycoplasmae, including M. capricolum, M. genitalium and M. mycoides — the three bacteria that Venter and his colleagues' synthesis started with. The new synthetic technology allows resurrection of such ancient bacteria, whose behaviour should inform us about planetary and ecological environments 100 million years ago."


Martin Fussenegger, professor of Biotechnology and Bioengineering, ETH Zurich in Basel

"It is a technical advance, not a conceptual one. Chimeric organisms have long been created through breeding and, more recently, through the transfer of native genomes into denucleated target cells. Chimeric organisms with synthetic genomes contain engineered but natural genetic components. They are subject to evolution, a natural law that cannot be tricked. Whether these organisms will face natural limits, such as impaired reproduction or a shortened lifespan, remains to be seen."

Click here to read the full-length comment pieces. A news article on the research is available here.


http://www.nature.com/news/2010/100520/full/news.2010.255.html#


(Sintomas de vício em computador: quando copiei e colei o texto, vi que os nomes dos cientistas estavam acima das citações, além de estar em duplicata. A primeira coisa que me ocorreu foi começar a pensar em alguma expressão do comando "sed" para tentar arrumar tudo "automaticamente" :/ )

Offline Mr. Mustard

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #30 Online: 24 de Maio de 2010, 10:56:42 »

Não adianta não Famado. A criação desta célula com genoma sintético foi um chute no saco dos religiosos. Aceite isto. :hehe:

Vc não acha que a criação de vida em laboratório, digo, uma vida sintética completa, são seria muito mais "pró criacionismo" do que "pró acaso"? Digamos que um cientista entenda perfeitamente como a coisa funciona e reproduza uma célula completa em laboratório. Ela está lá inerte e de repente... voila... o bichinho começa a viver. Isso não seria algo a favor da tese de que é necessário que haja um criador para a vida? O que acha?

Que seja Famado. Desde que detalhadamente explicado, qualquer tese que evidêncie a necessidade de um criador natural (mesma que seja uma simples partícula) é válida.

Offline Gaúcho

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #31 Online: 27 de Maio de 2010, 23:57:26 »
Que se apressem para descobrirem a origem da vida de uma vez e terminar com a última lacuna :)
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Offline Tupac

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Re: Cientistas americanos criam célula com genoma sintético
« Resposta #32 Online: 13 de Junho de 2010, 21:47:08 »
Está passando agora no Discovery o processo de desenvolvimento de criação dessa celula sintética...

Bem legal, esse Venter é phod...
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

 

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