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Quando você se tornou ateu, quão ligado você era à sua família?

Eu amava muito a minha família
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Eu respeitava a minha família
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Autor Tópico: Ateísmo, morte, família.  (Lida 5812 vezes)

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Offline uiliníli

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Ateísmo, morte, família.
« Online: 30 de Julho de 2010, 00:11:21 »
A história é a seguinte: duas colegas minhas perderam as mães recentemente. Compreensivelmente ficaram mortificadas de luto e naturalmente recorreram à religião. O que me colocou para pensar é que a colega cuja perda é mais recente postou uma mensagem enigmática no 'Conte algo para seus amigos' do Orkut que dizia "Mãe, NEOQEAV." Fui pesquisar o que essa sigla estranha queria dizer e encontrei facilmente no Google um texto extremamente sentimental sobre dois velhinhos que se amavam de dar nojo que viviam dizendo NEOQEAV um pro outro e pra lá e pra cá. No final se revelava que a sigla queria dizer "nunca esqueça o quanto eu amo você."

Claro que me senti triste pela situação, mas não pude evitar o pensamento de que só fazia sentido ela dizer isso para si mesma, para nunca se esquecer de seu amor por sua mãe, já que sua mãe não existia mais naquele momento e não podia mais não se esquecer do que quer que fosse. E claro que depois de pensar isso eu me senti um jumento insensível, e ainda bem que não havia ninguém por perto para a minha boca grande e cheia de bactérias não denunciar essa verdade da vida para mais ninguém.

O fato é que uma coisa que sempre me causou algum estranhamento nos meus colegas de faculdade é a aparente devoção que eles cultivam pela família. Não apenas essas colegas que perderam as mães, mas também os colegas com pais bem vivos parecem ter uma ligação bem maior com seus pais do que eu com os meus, por exemplo, muitos deles parece que ficam doentes se passam um mísero mês sem voltar a suas casas para visitar os seus pais, enquanto que para mim (até por estudar longe de onde meus pais moram), aguentar um semestre ou até um ano inteiro sem ver meus pais não é nenhum sacrifício. E geralmente são eles que ligam para mim, pois se não estiver faltando dinheiro na conta eu esqueço de falar com eles (eu sei, eu sou horrível :( )

Ah, sim, e mais de um colega meu tem aquelas comunidade breguíssimas do Orkut "Eu amo muito os meus pais" e "Eu amo os meus irmãos."

Enfim, em cima de tudo isso eu pensei uma coisa. Eu me imaginei discutindo com essa colega cuja mãe faleceu, eu a imaginei proferindo aquele clássico argumento: "Você não crê em Deus porque nunca perdeu ninguém que ame, se isso acontecer com você eu aposto que você vai recorrer a Ele." De tanto ouvir isso e variações, eu já tenho meia-dúzia de boas respostas para dar. Mas pensando um pouco além das palavras prontas e ensaiadas, eu descobri que há um motivo que na verdade me torna imune a esse argumento: eu não amo ninguém assim. Nem meus pais, nem avós, nem irmão, nem namorada, ninguém. Não que eu não goste de ninguém, eu respeito os meus pais e até gosto do meu irmão, tenho muitos amigos, mas eu não posso dizer que amo alguém assim em negrito. A morte de quem quer que seja não vai abalar meu ateísmo, porque não existe ninguém que eu ame tanto assim a ponto de eu me ver caindo em negação, fantasiando que essa pessoa não morreu de verdade, que ela está viva em algum lugar, me olhando e esperando para me reencontrar. Eu entendo perfeitamente que alguma pessoa se sinta assim, mas eu não me vejo sendo essa pessoa.

É lugar comum aqui que a religião tem ligação com o medo da morte. Mas que morte? Se a gente pensar bem, na maior parte das vezes a gente não pensa na morte. Para continuarmos vivos, parece que na maior parte do tempo temos que esquecer que um dia vamos morrer. Só assim conseguimos focar nas coisas pequenas que nos preocupam... tipo as contas a pagar, a prova que vou fazer na faculdade, se meu time vai ganhar no Domingo ou se vou conseguir transar com aquela menina ali. Mas é claro que um dia a morte acaba alcançando a gente. E geralmente não somos nós mesmos que morremos, primeiro morre aquele avô que estava velhinho ou aquela tia que estava doente, a morte vai nos cercando aos pouquinhos e é quase certo que bem antes de ela nos levar, ela vai levar alguém que você ame (isto é, se você é o tipo de pessoa que ama alguém...)

Então me perguntei, se a religião surge do medo da morte, será que antes de ser do medo da nossa própria morte, ela não vem do medo de perdermos quem amamos? Da nossa vontade de nunca perdê-los, da vontade de ter segurança que nada vai nos separar deles? Será as pessoas não creem em vida após a morte um pouco mais pelo desejo de conservar esses laços de amor? E será que esse meu desapego não tem alguma relação com meu ateísmo? Será que para mim, por não ter essa enorme barreira, seria mais fácil chegar ao ateísmo? Eu fico imaginando as minhas amigas que perderam suas mães, renunciar à fé para elas equivale a renunciar ao amor que elas têm pela pessoa mais querida de suas vidas. Para mim, renunciar à fé equivale a não precisar mais acordar cedo no Domingo e a me masturbar com mais privacidade.

Eu pergunto então aos meus colegas aqui... será que entre outros ateus eu faço parte da regra ou da exceção? Por isso a pergunta sobre a relação com a família. Na verdade eu falei família de forma meio genérica, pode ser seus amigos mais próximos, namorada, esposa... o que eu quero saber mesmo é: qual era o tamanho dessa sua barreira de amor, dessa sua vontade de nunca, jamais perder a pessoa que você mais amava na vida quando você se descoverteu?

Que tópico emo...  |(
« Última modificação: 30 de Julho de 2010, 00:22:15 por uiliníli »

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #1 Online: 30 de Julho de 2010, 00:19:45 »
Eu nem lí. Quanta linha...
Isso que dá ficar todo esse tempo fora  :biglol:
"Se a moralidade representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, a economia representa o modo como ele realmente funciona" Freakonomics.

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #2 Online: 30 de Julho de 2010, 00:23:48 »
Eu nem lí. Quanta linha...
Isso que dá ficar todo esse tempo fora  :biglol:

Lê, vai!? Eu prometo que você vai gostar, é um épico com ação, emoção, revelações bombásticas e eu prometo que se você procurar bem vai ver uma mulher pelada em algum lugar. Satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta.

Offline Adriano

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #3 Online: 30 de Julho de 2010, 00:28:43 »
Eu amo todo mundo, até o vocês do fCC.

Quando eu vejo um teísta eu não procuro mais a ilusão que criou e sim o seu sentimento moral e ético, que é um tipo de apego ao mundo e a vida. Estou até lendo sobre psicanálise e Freud, onde inclusive tem uma parte sobre a neurose coletiva que é a religião. Quero selecionar essa parte para postar no Filosofia ateísta, complementando o outro texto sobre Freud.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #4 Online: 30 de Julho de 2010, 00:29:23 »
Como é um tópico EMO vou te mandar um smiley andrógeno e só:

 :borboleta:


Quando estiver ouvindo restart eu leio.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #5 Online: 30 de Julho de 2010, 00:31:03 »
Não sou assim, "noooooossa, mas como o cara é ligado com a família, meu deus do céu, parecem até a família dó-ré-mi, poderiam estrelar um comercial de margarina all-day", mas já vi casos piores.

Acho que sim, que a noção de sobrevivência não tem um apelo apenas individual, mas também como forma de empatia. Lembro de uma vez que faleceu um parente meu, e outro parente comentava/imaginava como o falecido estaria revendo os outros que também já haviam morrido antes no "além".

Interessante essa perspectiva, nunca tinha pensado nisso. Talvez se fosse fazer uma pesquisa, uma boa parte das pessoas que é atéia talvez não tenha tido ninguém próximo que tenha morrido antes de se deixar de acreditar no sobrenatural, pois, uma vez ocorrendo isso, a "perda" que vem com perspectiva da inexistência daquilo em que crê deve ser sempre maior do que a de apenas a da inexistência de um deus (mesmo que não seja visto como um voyeur sacana, mas um de caráter mais aceitável), e da própria imortalidade (quando a descrença em ambas as coisas vier junta, o que não é sempre o caso).

Se bem que por outro lado acho que não são muito raros aqueles que acabam questionando mais a religião por um sentimento de injustiça, talvez até por terem perdido alguém, e eventualmente acabam abandonando a crença.


Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #7 Online: 30 de Julho de 2010, 00:49:21 »
Se bem que por outro lado acho que não são muito raros aqueles que acabam questionando mais a religião por um sentimento de injustiça, talvez até por terem perdido alguém, e eventualmente acabam abandonando a crença.

Como parece ser o caso do Chico Anysio, no tópico falando sobre a morte do filho da Cissa Guimarães. Mas às vezes um mesmo fenômeno leva pessoas diferentes a tirarem conclusões opostas. Como o Pinker escreveu, se não me engano, em Tábula Rasa: ele estava vistando uma espécie de museu e quando viu a perfeição funcional e geométrica de uma teia de aranha ele falou em voz alta "Que maravilhoso, só milhões de anos de seleção natural poderiam conduzir a isso", enquanto uma velhinha a seu lado respondeu "Que maravilhoso, só um criador inteligente poderia conduzir a isso!"

Cada cabeça é uma história...

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #8 Online: 30 de Julho de 2010, 00:51:13 »
Então me perguntei, se a religião surge do medo da morte, será que antes de ser do medo da nossa própria morte, ela não vem do medo de perdermos quem amamos? Da nossa vontade de nunca perdê-los, da vontade de ter segurança que nada vai nos separar deles? Será as pessoas não creem em vida após a morte um pouco mais pelo desejo de conservar esses laços de amor?

Não acho que a religão surja necessariamente do medo da morte. Sou religioso antes mesmo de minha idade começar a pesar e eu começar a pensar nesse tipo de coisa.

E nem que a religião seja impulsionada pelo desejo de não perder os pais ou "que eles estão olhando". Se for olhar para a religião cristã (a maior do país), ela em sua maioria não acredita que eles "olhem" por nós, e uma parcela enorme acredita que não nos reconheceremos no céu.

Então, se eles não olham, e nem vamos nos reconhecer no céu, acho que não faz muito sentido aplicar à religião (pelo menos a cristã), esse peso.


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E será que esse meu desapego não tem alguma relação com meu ateísmo?

Não, você é só sem noção mesmo.
Tenho um monte de amigo crente que não tá nem aí também, igual a você  :biglol:
E sim, você é horrível mesmo. Deveria ligar quando estivesse com dinheiro também, ao menos para disfarçar  :P



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Eu pergunto então aos meus colegas aqui... será que entre outros ateus eu faço parte da regra ou da exceção?

Sou cristão então essa eu passo.


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Que tópico emo...  |(

O mais emo já criado!
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Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #9 Online: 30 de Julho de 2010, 01:04:46 »
E nem que a religião seja impulsionada pelo desejo de não perder os pais ou "que eles estão olhando". Se for olhar para a religião cristã (a maior do país), ela em sua maioria não acredita que eles "olhem" por nós, e uma parcela enorme acredita que não nos reconheceremos no céu.

Então, se eles não olham, e nem vamos nos reconhecer no céu, acho que não faz muito sentido aplicar à religião (pelo menos a cristã), esse peso.

Será mesmo que uma parcela tão grande pensa que não vamos nos reconhecer no céu? A quase totalidade da população brasileira é cristão, verdade, mas eu me arrisco a dizer que a bem da verdade, a maioria dos brasileiros acredita no que querem. Temos católicos que frequentam centro espírita e/ou terreiro de candomblé aos montes, temos não-religiosos que Jesus foi o cara mais legal que já existiu e católicos não-praticantes ou evangélicos menos radicais que têm toda uma teologia em suas cabeças sobre como acham que será a vida após a morte sem nenhum respaldo das religiões oficiais. Enfim, no Brasil vigora aquilo que os antropólogos chamam de "supermercado da fé", cada pessoa cata da prateleira de cada religião aquilo que ela acha mais interessante e customiza suas crenças a seu gosto. eu mesmo já fiz compras aí e acho extremamente saudável...

Pra falar a verdade, o que você disse sobre não nos reconhecermos no céu me surpreendeu muito! eu cresci como espírita, e os espíritas definitivamente creem que se identificam no pós-vida, tanto que até promovem "contato" entre os mortos e os vivos em sessões mediúnicas. Eu não sabia que oficialmente os cristãos acreditam que não nos reconhecemos depois da morte, na verdade a impressão que tive de todas as conversas de que me lembro sobre isso dava conta de que as pessoas com quem eu falava esperavam realmente reconhecer suas pessoas queridas no paraíso. Talvez seja o supermercado da fé aí também. As pessoas não necessariamente acreditam naquilo que os padres e pastores querem que elas acreditem e só.

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #10 Online: 30 de Julho de 2010, 01:09:39 »
Concordo plenamente com o supermercado da fé.

Sou do meio evangélico/tradicional -> presbiteriano.

A maioria dos evangélicos com quem converso pensam assim. O resto sinceramente não sei.
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Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #11 Online: 30 de Julho de 2010, 01:13:55 »
Pensam assim o quê? Que você não reconhece os outros no céu? Eu sei que eu sou ateu e não acredito nessas coisas mesmo, mas isso que você falou me deu uma visão tão triste... um monte de bonecos sem rosto, manequins, vagando na sua frente completamente indiferentes. Parece a rua 25 de março em São Paulo.

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #12 Online: 30 de Julho de 2010, 01:16:47 »
Pensam assim o quê? Que você não reconhece os outros no céu?

Exato.

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Eu sei que eu sou ateu e não acredito nessas coisas mesmo, mas isso que você falou me deu uma visão tão triste... um monte de bonecos sem rosto, manequins, vagando na sua frente completamente indiferentes. Parece a rua 25 de março em São Paulo.

Não, a idéia não é essa.
Mas já que você não acredita mesmo, me poupe dos papos de escatologia por favor.
Nem pros meus alunos tenho muita paciência de explicar  :D
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Offline Geotecton

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #13 Online: 30 de Julho de 2010, 01:20:22 »
[...]
Enfim, em cima de tudo isso eu pensei uma coisa. Eu me imaginei discutindo com essa colega cuja mãe faleceu, eu a imaginei proferindo aquele clássico argumento: "Você não crê em Deus porque nunca perdeu ninguém que ame, se isso acontecer com você eu aposto que você vai recorrer a Ele." De tanto ouvir isso e variações, eu já tenho meia-dúzia de boas respostas para dar. Mas pensando um pouco além das palavras prontas e ensaiadas, eu descobri que há um motivo que na verdade me torna imune a esse argumento: eu não amo ninguém assim. Nem meus pais, nem avós, nem irmão, nem namorada, ninguém. Não que eu não goste de ninguém, eu respeito os meus pais e até gosto do meu irmão, tenho muitos amigos, mas eu não posso dizer que amo alguém assim. A morte de quem quer que seja não vai abalar meu ateísmo, porque não existe ninguém que eu ame tanto assim a ponto de eu me ver caindo em negação, fantasiando que essa pessoa não morreu de verdade, que ela está viva em algum lugar, me olhando e esperando para me reencontrar. Eu entendo perfeitamente que alguma pessoa se sinta assim, mas eu não me vejo sendo essa pessoa.
[...]
Eu pergunto então aos meus colegas aqui... será que entre outros ateus eu faço parte da regra ou da exceção? Por isso a pergunta sobre a relação com a família. Na verdade eu falei família de forma meio genérica, pode ser seus amigos mais próximos, namorada, esposa... o que eu quero saber mesmo é: qual era o tamanho dessa sua barreira de amor, dessa sua vontade de nunca, jamais perder a pessoa que você mais amava na vida quando você se descoverteu?
[...]

Meus pais são católicos (sou filho único) e eu sou ateu em um tempo maior do que voce tem de idade. Adoro meus pais assim como a minha esposa e meu filho e tenho uma conexão muito íntima com todos eles.

Quando eles "forem desta para melhor" (se eu não for antes, é claro) eu sentirei tremendamente a falta deles. Mas não acho que isto irá me afetar além do que se espera de um ser humano normal, mesmo porque a cessação da existência é algo aceito por mim há muitos e muitos anos.

Portanto eu compreendo os seus sentimentos e o seu comportamento. A única coisa que me deixou em dúvida foi a expressão utilizada por voce quando se referiu ao seu irmão:

...até gosto do meu irmão...

Do jeito que foi construída a frase, dá a entender que há algum tipo de ressentimento com o seu irmão. E eu tenho quase certeza de que não é o caso.
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Offline Anne

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #14 Online: 30 de Julho de 2010, 01:27:55 »
uiliníli, eu sou muito ligada a minha família. O meu ateísmo não influi nisso. A pouco mais de 2 anos perdi meu padrasto (que nem merece esse título, pois era ele que estava sempre ao meu lado), e às vezs me supreendo pensando nele, tipo essa sua amiga, sei que ele está morto, acho que é a presença dele em mim mesma que me faz procurá-lo dentro de minhas mémórias e aí, neste lugar, ele será eterno, nessas memórias (até que eu também bata as botas). Volta e meia ao pensar nele, meus olhos lacrimejam, a dor de perder uma pessoa amada é muito grande, sufoca. Já tentei me abster desse tipo de emoção, mas provavelmente, sou muito emo pra conseguir uma proeza dessas.


Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #15 Online: 30 de Julho de 2010, 01:29:11 »
Quando eles "forem desta para melhor" (se eu não for antes, é claro) eu sentirei tremendamente a falta deles. Mas não acho que isto irá me afetar além do que se espera de um ser humano normal, mesmo porque a cessação da existência é algo aceito por mim há muitos e muitos anos.

Acho que a dúvida que eu tenho um pouco é: o que se espera de um ser humano normal numa situação dessas? Eu não sei, até por não ter passado por isso.

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Portanto eu compreendo os seus sentimentos e o seu comportamento. A única coisa que me deixou em dúvida foi a expressão utilizada por voce quando se referiu ao seu irmão:

...até gosto do meu irmão...

Do jeito que foi construída a frase, dá a entender que há algum tipo de ressentimento com o seu irmão. E eu tenho quase certeza de que não é o caso.

Na verdade você entendeu exatamente o contrário do que eu quis dizer... eu respeito os meus pais, mas não tenho nenhuma afeição especial por eles. Do meu irmão, por outro lado, eu até chego a gostar, ou seja, eu tenho uma afeição maior por ele do que tenho pelos meus pais.

Mas agora que você falou, eu percebo que ficou ambíguo mesmo.
« Última modificação: 30 de Julho de 2010, 01:31:23 por uiliníli »

Offline calvino

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #16 Online: 30 de Julho de 2010, 01:34:46 »
Acho que a dúvida que eu tenho um pouco é: o que se espera de um ser humano normal numa situação dessas? Eu não sei, até por não ter passado por isso.

Achei que você ia dizer: Eu não sei pq não sou normal  :hihi:

E como você mudou a assinatura em prol disso, bem-vindo novamente Gabriel.
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Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #17 Online: 30 de Julho de 2010, 01:34:58 »
uiliníli, eu sou muito ligada a minha família. O meu ateísmo não influi nisso. A pouco mais de 2 anos perdi meu padrasto (que nem merece esse título, pois era ele que estava sempre ao meu lado), e às vezs me supreendo pensando nele, tipo essa sua amiga, sei que ele está morto, acho que é a presença dele em mim mesma que me faz procurá-lo dentro de minhas mémórias e aí, neste lugar, ele será eterno, nessas memórias (até que eu também bata as botas). Volta e meia ao pensar nele, meus olhos lacrimejam, a dor de perder uma pessoa amada é muito grande, sufoca. Já tentei me abster desse tipo de emoção, mas provavelmente, sou muito emo pra conseguir uma proeza dessas.



O que eu acho mais estranho é que eu consigo empatizar com você, eu consigo imaginar e entender o que você sente, mas eu não me vejo sentindo isso por alguém no presente e num futuro próximo... Será que eu sou meio psicopata? :o

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #18 Online: 30 de Julho de 2010, 01:35:52 »
Achei que você ia dizer: Eu não sei pq não sou normal  :hihi:

Acho que seria bem apropriado  :biglol:

Offline Geotecton

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #19 Online: 30 de Julho de 2010, 01:40:13 »
Quando eles "forem desta para melhor" (se eu não for antes, é claro) eu sentirei tremendamente a falta deles. Mas não acho que isto irá me afetar além do que se espera de um ser humano normal, mesmo porque a cessação da existência é algo aceito por mim há muitos e muitos anos.

Acho que a dúvida que eu tenho um pouco é: o que se espera de um ser humano normal numa situação dessas? Eu não sei, até por não ter passado por isso.

Qualquer reação dentro de um espectro aceitável, na suposição que seus pais não são (ou foram) carrascos com voce: dor extrema seguida de desespero; choque profundo; consternação; resignação com um silêncio obsequioso; etc. Ou seja, qualquer atitude que externe algum sentimento mais profundo do que voce teria com outras pessoas.
 

Portanto eu compreendo os seus sentimentos e o seu comportamento. A única coisa que me deixou em dúvida foi a expressão utilizada por voce quando se referiu ao seu irmão:

...até gosto do meu irmão...

Do jeito que foi construída a frase, dá a entender que há algum tipo de ressentimento com o seu irmão. E eu tenho quase certeza de que não é o caso.

Na verdade você entendeu exatamente o contrário do que eu quis dizer... eu respeito os meus pais, mas não tenho nenhuma afeição especial por eles. Do meu irmão, por outro lado, eu até chego a gostar, ou seja, eu tenho uma afeição maior por ele do que tenho pelos meus pais.

Mas agora que você falou, eu percebo que ficou ambíguo mesmo.

Então é uma situação quase inversa, pois o seu irmão deve ter uma idade muito próxima de voce e também deve compartilhar de mais elementos de sua "visão de mundo" do que seus pais. E isto é, pelo que eu sei, uma situação comum.
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Offline Anne

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #20 Online: 30 de Julho de 2010, 01:43:21 »
uiliníli, eu sou muito ligada a minha família. O meu ateísmo não influi nisso. A pouco mais de 2 anos perdi meu padrasto (que nem merece esse título, pois era ele que estava sempre ao meu lado), e às vezs me supreendo pensando nele, tipo essa sua amiga, sei que ele está morto, acho que é a presença dele em mim mesma que me faz procurá-lo dentro de minhas mémórias e aí, neste lugar, ele será eterno, nessas memórias (até que eu também bata as botas). Volta e meia ao pensar nele, meus olhos lacrimejam, a dor de perder uma pessoa amada é muito grande, sufoca. Já tentei me abster desse tipo de emoção, mas provavelmente, sou muito emo pra conseguir uma proeza dessas.



O que eu acho mais estranho é que eu consigo empatizar com você, eu consigo imaginar e entender o que você sente, mas eu não me vejo sentindo isso por alguém no presente e num futuro próximo... Será que eu sou meio psicopata? :o

Todos somos, mas vc é mais um pouquinho :biglol:
Tô brincando...

Acho que não, agir de acordo com a razão não é sinônimo de pscopatia.

Offline Anne

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #21 Online: 30 de Julho de 2010, 01:45:02 »
Acho que até tenho um pouco de inveja dessa sua auto-suficiência.

Offline Adriano

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #22 Online: 30 de Julho de 2010, 01:53:03 »
uiliníli, eu sou muito ligada a minha família. O meu ateísmo não influi nisso. A pouco mais de 2 anos perdi meu padrasto (que nem merece esse título, pois era ele que estava sempre ao meu lado), e às vezs me supreendo pensando nele, tipo essa sua amiga, sei que ele está morto, acho que é a presença dele em mim mesma que me faz procurá-lo dentro de minhas mémórias e aí, neste lugar, ele será eterno, nessas memórias (até que eu também bata as botas). Volta e meia ao pensar nele, meus olhos lacrimejam, a dor de perder uma pessoa amada é muito grande, sufoca. Já tentei me abster desse tipo de emoção, mas provavelmente, sou muito emo pra conseguir uma proeza dessas.



O que eu acho mais estranho é que eu consigo empatizar com você, eu consigo imaginar e entender o que você sente, mas eu não me vejo sentindo isso por alguém no presente e num futuro próximo... Será que eu sou meio psicopata? :o
Que homem macho :susto:

Não é nem um pouco emo, não manifesta os sentimentos que diz ter. Pelo menos não da forma dramática exemplificada no texto  :wink:
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #23 Online: 30 de Julho de 2010, 02:05:40 »
Qualquer reação dentro de um espectro aceitável, na suposição que seus pais não são (ou foram) carrascos com voce: dor extrema seguida de desespero; choque profundo; consternação; resignação com um silêncio obsequioso; etc. Ou seja, qualquer atitude que externe algum sentimento mais profundo do que voce teria com outras pessoas.

Eles não foram carrascos comigo, não tenho motivos para reclamar deles. Mas acho que eles também nunca foram muito carinhosos, então também não é natural para mim expressar carinho para com eles... acho que nunca tivemos essa abertura. Então a minha relação com eles é de respeito, eu sou agradecido a eles pelo que fizeram e ainda fazem por mim, mas não passa disso. Claro que eu não posso adivinhar como vou me sentir quando eles morrerem, mas eu imagino que eu vou começar da etapa da consternação. Talvez até do choque profundo, mas acho que não chego à dor extrema seguida de desespero.
  
Todos somos, mas vc é mais um pouquinho :biglol:
Tô brincando...

Acho que não, agir de acordo com a razão não é sinônimo de pscopatia.

Mas não é que eu sente, pondere e procure agir racionalmente... não, esse comportamento é o meu normal. Eu sou quase o Spock! Eu não consigo sentir mais que isso. Eu me sindo diferente, sei lá...

Acho que até tenho um pouco de inveja dessa sua auto-suficiência.

Sabe, eu até li algo sobre isso num livro do filósofo francês Luc Ferry (o ex-ministro da educação que tentou banir os véus das muçulmanas das escolas públicas e ateu mais ou menos militante). Ele falava justamente sobre isso da dor da perda e do quanto ela era inevitável para o ser humano e dizia que os que melhor conseguiram se livrar desse problema são os que monges que romperam todas os seus laços humanos e foram seguir a vida monástica. Mas que naturalmente ele não propunha essa solução para aqueles de nós que pretendem seguir vivendo em sociedade, até porque a gente também paga um preço por se livrar da dor de perder os que amamos, que é o preço da solidão. Aí tem uma frase de Nietzsche para isso: "Para viver só, ou se é um deus, ou se é um animal." E eu não sou um deus.

Offline uiliníli

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Re: Ateísmo, morte, família.
« Resposta #24 Online: 30 de Julho de 2010, 02:07:47 »
Que homem macho :susto:

Não é nem um pouco emo, não manifesta os sentimentos que diz ter. Pelo menos não da forma dramática exemplificada no texto  :wink:

Hahahaha... é, talvez eu seja só um "macho" à moda antiga de filme de faroeste. Provavelmente o vilão :P

 

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