Representante do Brasil no Oscar 2011 não precisa ser o melhorMarco Tomazzoni, iG São Paulo
Presidente da Academia Brasileira de Cinema defende que qualidade não é o principal critério da escolha, e sim chances de ganharSem nunca ter conquistado o Oscar de melhor filme estrangeiro – contra duas vezes da Argentina –, o Brasil tem transformado a escolha do filme que vai representar o país na premiação em uma disputa digna de campeonato. Nos anos anteriores, o Ministério da Cultura (MinC) era responsável, sozinho, por apontar o concorrente brasileiro. Em 2010, no entanto, além dos membros indicados pelo governo, a Academia Brasileira de Cinema também indicou nomes para integrar a comissão de seleção, que anunciará o filme escolhido nesta quinta-feira (23), ao meio-dia, em São Paulo.
No total, 23 filmes se inscreveram em busca da vaga, entre eles “Nosso Lar”, “Chico Xavier”, “O Bem Amado” e “Lula, o Filho do Brasil”, os maiores sucessos de bilheteria nacional neste ano. Nove especialistas integram a comissão, indicados pelo gabinete do MinC, Secretaria do Audiovisual e Agência Nacional de Cinema (Ancine). Segundo a assessoria do ministério, todo o processo é regulamentado pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences, a famosa Academia de Hollywood.
A ideia de convidar a Academia Brasileira para participar da escolha, conforme o MinC, é “inserir a participação da sociedade civil”. “A Academia Brasileira de Cinema foi escolhida por ser uma entidade que congrega profissionais dos mais diversos setores da indústria audiovisual: desde produtores, diretores, artistas e roteiristas até técnicos de áudio e efeitos visuais, entre outros”, informa a assessoria.
É o mesmo discurso do presidente da Academia, o diretor e produtor Roberto Farias. Por trás de alguns clássicos do cinema nacional (“O Assalto ao Trem Pagador”, “Pra Frente, Brasil”), presidente da Embrafilme na década de 1970, Farias diz que há anos vinha reivindicando o direito da entidade de indicar o filme brasileiro ao Oscar, a exemplo de similares em outros países, como no México e Espanha. “Não é o Estado, o governo, quem deve fazer isso. Antigamente acontecia porque não havia a academia. A indicação ao Oscar é uma indicação de especialistas, de pessoas que fazem cinema, que, inclusive, são por tradição quem escolhe os vencedores do prêmio.”
Fundada em 2002, a Academia Brasileira surgiu com o objetivo de defender e divulgar o cinema nacional. Ainda “jovem”, segundo Farias, seu principal projeto é realizar o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Atualmente, possui 250 membros, número considerado “representativo” pelo presidente. Para efeito de comparação, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (Sindcine) tem cerca de 2400 associados. “A Academia está sempre aberta para que outros venham participar”, assegura Farias, “e isso é muito mais democrático do que uma comissão escolhida conforme os interesses de quem estiver no momento no ministério”.
Filme com “cara” de Oscar
O critério para eleger o brasileiro no Oscar, na opinião de Farias, não é qualidade ou bilheteria, mas sim a “cara” de Oscar. “Nós [a Academia] não fazemos juízo de valor, a não ser na hora de premiar o melhor filme brasileiro do ano [o último vencedor foi ‘É Proibido Fumar’, que está entre os inscritos no MinC]. Para o Oscar, é preciso passar o filme que talvez tenha mais chance.” Nesse sentido, o nome do diretor influiria – ele cita cineastas conhecidos, como Bruno Barreto e Hector Babenco –, assim como temas com maior apelo junto ao público norte-americano.
“Qualquer filme que fosse mandado para lá teria qualidades para concorrer. Outra coisa é analisar quais são os filmes brasileiros escolhidos nos outros anos, com que frequência determinados filmes são vencedores, qual é o tema, o que está acontecendo no mundo nesse momento, qual é preocupação maior atual, qual deles teria mais condições do que o eleito no ano anterior. São muitas variáveis, discutidas numa comissão de nove pessoas.”
Os dois últimos longas-metragens eleitos para representar o Brasil no Oscar foram Ônibus 174, de Bruno Barreto, e Salve Geral, de Sérgio Rezende. Ambos retratam a violência urbana no país, assim como nosso maior fenômeno de público no mercado internacional, Cidade de Deus. Para Farias, não faz sentido afirmar que essas escolhas reforçam uma imagem negativa do país no exterior – segundo ele, isso é algo “ultrapassado”. “Essa preocupação das pessoas é um negócio quase fascista. O Brasil é um país soberano, tem sua importância no cenário mundial. Um país adulto encara seus problemas, é uma prova de capacidade.”
Voto dos internautas não deve influir
Outra novidade deste ano é que o MinC decidiu realizar uma votação paralela em seu site para os internautas darem sua opinião de qual filme deveria representar o Brasil no Oscar 2011. O vencedor será submetido à comissão como um “olhar da sociedade sobre o cinema brasileiro”, mas a decisão final cabe aos especialistas. “Um filme que vence uma enquete popular, sendo ele selecionado para concorrer ao Oscar ou não, já é um vencedor”, justifica a assessoria do MinC.
Para o presidente da Academia Brasileira, a ideia da enquete reflete um período de “transição”. “O MinC ainda não assimilou completamente a ideia de que a escolha de um filme para competir em um festival internacional não tem nada a ver com o governo”, sustenta. “Os profissionais que conhecem as tendências, o que está se fazendo no mundo, são muito mais aparelhados para fazer essa escolha do que envolver todo o povo brasileiro. As pessoas votam segundo preferências pessoais, e não analisando qual é o filme que teria mais possibilidades de ganhar o Oscar.”
Até segunda-feira, quando a enquete ainda estava ativa, “Nosso Lar” era o líder isolado, com 72% dos votos – a campanha para o filme envolveu até um banner no site da Federação Espírita Brasileira. Farias considera o longa baseado no livro de Chico Xavier “interessante” e que a votação vai ajudar a compreender o que pensa a maioria da população, só isso. “A gente vai ver [o resultado], mas duvido muito que isso levado em conta pelos membros.”
A comissão é composta por Cássio Starling Carlos, Clélia Bessa, Elisa Tolomelli, Frederico Hermann Barbosa Maia, Jean Claude Bernardet, Leon Kakoff, Márcia Lellis de Souza Amaral, Mariza Leão e o próprio Roberto Farias.
O filme escolhido para representar o Brasil no Oscar 2011 vai disputar com outros de mais de 95 países a chance de estar entre os cinco finalistas na categoria de melhor filme em língua estrangeira. A lista dos indicados será divulgada no dia 25 de janeiro. A cerimônia de premiação, por sua vez, acontece em 27 de fevereiro, no Kodak Theatre, em Los Angeles.
Na sua opinião, quem deveria representar o Brasil no Oscar? A enquete ao lado conta com os campeões atuais de bilheteria em 2010. Vote no seu preferido e veja abaixo a lista completa de filmes que se inscreveram em busca da indicação:
"As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky
"A Suprema Felicidade", de Arnaldo Jabor
"Antes que o Mundo Acabe", de Ana Luiza Azevedo
"Bróder", de Jeferson De
"Carregadoras de Sonhos", de Deivison Fiuza
"Cabeça a Prêmio", de Marco Ricca
"Cinco Vezes Favela, Agora Por Nós Mesmos", direção coletiva
"Chico Xavier", de Daniel Filho
"É Proibido Fumar", de Anna Muylaert
"Em Teu Nome", de Paulo Sacramento
"Hotel Atlântico", de Suzana Amaral
"Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto
"Nosso Lar", de Wagner de Assis
"Olhos Azuis", José Joffily
"Ouro Negro", de Isa Albuquerque
"O Bem Amado", de Guel Arraes
"O Grão", de Petrus Cariry
"Os Inquilinos", Sérgio Bianchi
"Os Famosos e os Duendes da Morte", de Esmir Filho
"Quincas Berro D’água", de Sérgio Machado
"Reflexões de um Liquidificador", de André Klotzel
"Sonhos Roubados", de Sandra Werneck
"Utopia e Barbárie", de Silvio Tendler
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