Vamos por partes.
1. A psicografia (escrita automática) não é uma exclusividade do espiritismo ou de outra seita místico-religiosa qualquer que também a utilize. Existem psicólogos que usam a psicografia como técnica para aflorar conteúdos guardados no subconsciente. Muito antes do espiritismo, poetas e escritores já utilizavam essa técnica em exercícios de criatividade. A adoção da psicografia pelos espiritas transformou essa técnica numa ferramenta de comunicação com os mortos.
2. Muitas vezes somos surpreendidos pelo poder criativo do nosso subconsciente. Os sonhos são repletos dessas criações que podem nos enganar estimulando-nos a atribuir o seu conteúdo a uma realidade sobrenatural. Outras vezes, nossa intuição pode revelar idéias ou soluções como se fossem sugeridas por alguma entidade invisível. Em geral, as pessoas tendem a acreditar nisso e nem lhes passa pela cabeça que existem explicações mais parcimoniosas no contexto da atividade cerebral.
3. Na psicografia espirita a hipótese da comunicação com espíritos é naturalmente predominante e muitas vezes o talento pessoal do "médium" deixa de ser reconhecido para ceder lugar para a comunicação com um espirito mais criativo para justificar o que poderia ser aparentemente impossível. Uma pessoa semi-analfabeta, por exemplo, jamais poderia escrever um soneto com rimas tão bem elaboradas, portanto, deve tratar-se de um médium sob a inspiração de um poeta falecido. Conhecí um professor espírita que atribuia todo o seu talento ao além, restando-lhe apenas uma parte mínima de auto-estima para continuar vivendo apenas como um instrumento dos espíritos. Pobre professor.
4. Mas, então de onde vem toda a informação psicografada ou como se explicam os "mistérios" da psicografia espirita? A resposta pode estar na capacidade de resgatar conteúdos de memória guardados na mente e manipular essa informação criativamente. Um caso interessante aconteceu ao professor e economista Mário Henrique Simonsen, que além do dom matemático também tinha ouvido absoluto e um raríssimo talento para a música chegando a sentar-se em juris de concursos internacionais de música ao lado de maestros consagrados sem ser maestro. Conta-se que o professor Simonsen revelou ainda jovem esse talento musical e aprendeu composição musical. Logo no início foi alertado por amigos que partes de suas composições eram trechos de sinfonias de outros compositores famosos. Ele estava revelando um processo de fraude inconsciente onde o seu cérebro era incapaz de diferenciar a sua criação daquilo que já tinha armazenado na memória e por isso achou prudente parar de compor.
5. O site "Obras Psicografadas" (
http://obraspsicografadas.haaan.com/category/obras-de-chico-xavier/) prova que Chico Xavier foi um leitor compulsivo e mostra inúmeros casos as fraudes que podem ser inconscientes, através dessa indistinção entre o conteúdo criativo pessoal do médium que é atribuído aos espíritos e a memória do médium, ou de fraude consciente, premeditada para sustentar a sua fama e notoriedade supostamente mediúnica. De qualquer forma, críticos literários apontam que o conteúdo psicografado é muito inferior em qualidade quando comparado ao conteúdo produzido pelos autores em vida. Existem também evidências marcantes de fraude por cópia e obras com erros crassos de história. O próprio "espírito" Emmanuel cometia erros primários quando "mandava" textos em inglês para o CX psicografar e ele mesmo (Emmanuel) foi uma criação da mente do CX, conforme provado pelo ex-forista Vitor Moura, responsável pelo "Obras Psicografadas".
6. Há ainda a psicografia de mensagens de familiares em busca de conforto. Um sistema de informações fazia chegar até CX um briefing dos casos, detalhes sobre a vida e as circunstâncias de falecimento dos "espiritos" comunicantes. A partir daí, o gênio criativo de CX construia mensagens de sentido amplo, normalmente de conteúdo piegas e recheando-as com alguns detalhes convincentes para emocionar parentes e amigos do falecido.
7. Chico Xavier poderia ter sido um escritor formidável se tivesse recebido a orientação e educação corretas, desenvolvendo sua criatividade e o seu talento pessoal e se não tivesse sido explorado pela causa espírita. Uma pena.