Enquanto é mesmo digno de todo repúdio coisas como o caso dos tweets da jornalista/estudante de direito e etc, também é muito comum ver como "resposta", gente falando coisas como que todos eleitores não-petistas são praticamente uns nazistinhas que querem mesmo é que o povo continue pobre, que ficam horrorizados com o "Brasil do Lula", que "permitiu que domésticas fizessem faculdade", e etc. Que lêem sobre isso e pensam, "será que essas pessoas não enxergam o seu devido lugar?"
Eu não estou dizendo que os dois preconceitos são iguais no dano que causam. Às vítimas individuais, o preconceito contra os pobres é em geral mais danoso. Mas levando-se em consideração o aspecto social o clima político, acho meio tenebrosas essas colocações dos mais ricos e nem-tão-pobres como seres mesquinhos que controlam tudo para manter o status quo, manter os miseráveis na miséria para ter mão-de-obra barata e desfrutar disso. Não que seja um nazismo iminente, mas é um clima fértil para o populismo.
E não é só nisso, nem na ofensa que isso representa aos heréticos não-petistas, o problema. Tem que se ter extremo cuidado para se discutir coisas como o fator "educação" na decisão ou intenção do voto, para não ser violentamente jogado no saco daqueles que acham que os nordestinos e os pobres são todos uma raça de vagabundos ignorantes que só votam no Lula ou na Dilma para ganhar bolsa-família e viver como marajás. Enquanto que, claro, não votar na Dilma ou Lula é tranqülamente motivado por esse pensamento preconceituoso, e não é nada demais dizer isso. Você não corre risco de ser processado por racismo nem nada. Agora, alguém, hipoteticamente sugerir que possa haver algo como uma qualidade de voto, uma consciência, diferente, correlacionada/devida a educação... meio arriscado. A assunção segura é de que a diferença entre votos com essa correlação é porque o pobre sabe de fato quem fez ou fará mais por ele, e o não-pobre ou menos pobre também, e quer impedir isso a todo custo, para manter seu domínio, manter o país atrasado.
Uma nota um pouco pessoal. E talvez meio preconceituosa também. Eu tive durante muito tempo maior identificação com o PT. Foi o partido no qual votei quando comecei a votar, na época que o Lula foi eleito pela primeira vez. Era bastante apolítico, e acho que a imagem do Lula light, razoavelmente moderada, talvez tenha me causado uma má impressão das coisas. Esperava ver mais moderados por aí, mas parece que quanto mais olho, ao longo de toda essa década, mais encontro o maniqueísmo bitolado de "operário bom, burguês mau".
Segunda nota, menos pessoal, e acho que menos preconceituosa, ou no mínimo, mais socialmente aceitável. Não estou sugerindo que o voto de classe média para cima seja de um esplendor de consciência política e econômica nem nada. Eu até acredito que deve haver uma boa parte de votos motivados por esse ranço contra pobres e etc, só não sei se é significativo, embora realmente maior que o voto do "pobre-que-não-quer-trabalhar-e-ficar-só-na-mordomia-ganhando-bolsa-família".