Vou começar o tópico admitindo um pecado: eu assisti a um filme ilegalmente. Juro que vou compensar assistindo a ele novamente quando estrear nos cinemas, a questão é que ainda vai demorar muito para ele ser lançado, se é que vai ser exibido nos cinemas em minha cidade e se eu não consegui esperar pela estreia nos cinemas daqui a cerca de um mês, imaginem só esperar pelo DVD? Bom, mas o assunto que eu quero puxar não é sobre downloads ilegais, é outra coisa e tem a ver com o tema do filme.
Bom, a película de que estou falando é
127 horas, de Danny Boyle. É um filme genial com uma atuação brilhante de James Franco e que já ganhou minha torcida em todas as categorias do Oscar 2011. Se ele ganhar menos de cinco estatuetas eu vou ficar revoltado.
Para quem não sabe o filme conta a história de Aron Ralston, um montanhista americano que foi eleito pelo Cracked.com como uma das
sete pessoas que enganaram a morte e depois chutaram o saco dela. Em 2003 Ralston passou mais de 5 dias (127 horas, para ser mais exato) preso pelo braço a uma pedra no cânion Blue John em Utah. Após acabar a água e a comida, Ralston amputou seu próprio braço com um canivete vagabundo com a lâmina cega que veio de brinde com uma lanterna igualmente vagabunda que ele ganhou da mãe - o filme mostra a cena cabal meio de longe, mas é perto o suficiente para provocar mal-estar, inclusive
há vários relatos de gente que passou mal ou desmaiou durante exibições em cinemas.
Enfim, um detalhe interessante é que durante o filme, em momento nenhum Ralston reza ou invoca Deus para ajudá-lo, o que me levou a pesquisar se por acaso ele não seria ateu.
Em uma entrevista que ele deu, porém, ele afirma que acredita em um deus à sua maneira, parece que ele é o que no Orkut chamam de "tenho um lado espiritual independente das religiões", porém Ralston e o entrevistador citam o caso um pouco menos famoso de um outro sujeito chamado
Joe Simpson que passou por uma situação similar.
E Joe Simpson era ateu antes, durante e depois de seu infortúnio.
A história de Simpson, que também rendeu um filme (o documentário
Touching the Void, eleito pelo Channel 4 em 2005 o segundo lugar em sua lista dos
50 melhores de todos os tempos), aconteceu no Peru em 1985, quando ele tentou subir o Monte Siula Grande, de 6344 m pela sua face oeste, uma façanha que nunca tinha sido realizada até então. Ele estava acompanhado por Simon Yates e ambos conseguiram chegar ao cume do monte, mas durante a descida Simpson caiu e quebrou a perna. Ele e seu amigo decidiram que não havia outra opção além de descê-lo por uma corda, mas havia uma enorme tempestade acontecendo, de forma que Yates sequer podia ver direito para onde ele estava descendo seu colega e eventualmente ele deixou a corda se soltar, de modo que Simpson ficou dependurado em um abismo. Mesmo com Yates tendo conseguido recuperar a corda, ele não conseguia mais ver e nem escutar Simpson por causa da tempestade, e após cerca de uma hora segurando a corda e vendo que não tinha jeito de puxar o companheiro de volta, Yates tomou a difícil decisão de cortar a corda e deixar Simpson à própria sorte.
Após sobreviver à noite tempestuosa e sob um frio abaixo de zero, Yates desceu para procurar por Simpson, mas não teve sucesso. Porém, Simpson sobrevivera à queda, dentro de uma fissura. Como não tinha como subir, Simpson teve que descer mais ainda, com a perna quebrada, para dentro do abismo escuro, mas ele conseguiu encontra uma saída que levava para a base da montanha, então ele passou três dias rastejando sobre gelo e pedras e chegou em estado delirante até o acampamento base quando os montanhistas já estavam abandonando as buscas e o tomando como morto. Após o acontecido, quando o caso já tinha se tornado público na televisão, Simpson defendeu Yates pela sua decisão, apesar das críticas que ele recebeu na Grã-Bretanha. Após passar por várias cirurgias, os médicos disseram que Simpson nunca mais poderia praticar alpinismo novamente e que ele teria dificuldades permanentes mesmo para andar. Dois anos depois, porém, Simpson já estava escalando e ele passou por várias outras situações que quase lhe custaram a vida.
Em uma entrevista, perguntado sobre sua fé, Simpson respondeu:
At 16, I asked all these monks some serious questions and they didn't come up with the answers, and I just decided I didn't believe in God. And I always thought, you know, if everything hit the fan, then I might turn around and say, you know, a couple of Hail Marys, "Can you get me out of here?" And in all those days, I never did once, not even in the crevasse. I never thought of some God or some omniscient being that'd lean down and give me help, and I feel, actually, if I had believed that, I just would've stopped and waited for it, and I would've died. And so in a way, that's why that loneliness, I think, came in. I was 25, I was fit, strong, ambitious. I wanted to climb the world and I was dying. There was no afterlife, there's no paradise, there's no heaven. It's just dead. And I really didn't want to lose that. I've got immense respect for other people's religions, be it Christian or Buddhist, Hindu or Muslim. I just…I don't happen to have a belief, and I've tested that atheism, so, um, I respect my own lack of belief now. Before, I was never quite sure