para mim, é muito semelhante a Lamark mesmo.. ainda que por fatores mais sutis.
Não sei bem ao certo, mas Lamark tinha uma questão de uso e desuso.. algo muito mais físico como "um cara fez trabalho braçal sua vida inteira logo seu filho vai nascer com possibilidade de ser mais forte" e não é nada disso que a epigenia trata. Ela é bem mais sutil na determinação da causa e efeito.
Lamark deve ser o Kardec da biologia.
acho que seria algo mais do tipo: "os humanos começam a utilizar mais da força física" Darwin diria que apenas os mais fortes sobreviveriam, levando seus genes à diante e fazendo a população ficar mais forte, Lamark diria que a genética humana sofreria uma mutação à longo tempo, por causa do maior uso dos músculos... Não tenho certeza, mas acho que Lamark não dizia sobre mutações em apenas uma geração...
Tem gente que chama esse tipo de coisa de "neo-lamarckismo" e etc, nada contra, é só importante fazer a ressalva de que é bem mais limitado do que se imaginava na época (ou do que se costuma pensar pelo termo), e nem sempre é uma "herança de uma característica adquirida", podendo ser só o aparecimento de algo que poderia ser meio inesperado se supormos que os genes determinam o fenótipo de forma bastante rígida, que o ambiente praticamente não pudesse afetar em nada. Exemplos, que nem sei se encaixam bem no termo (acho que tem definições mais e menos restritas, uma delas restringindo a um mecanismo específico de bloquear genes): filhos de uma mulher que se tornou obesa, mesmo sem hipotéticos genes para obesidade, tem mesmo aparentemente uma tendência a obesidade. Até aí bem de acordo, mas se for o contrário, uma mulher meio obcecada com magreza, se chegar a ser meio desnutrida, mas não o suficiente para não ovular, parece que a tendência de seus filhos
também é a obesidade (além de nascerem com menor circunferência craniana), em vez de a magreza. De forma parecida, se a mulher tiver níveis elevados de testosterona durante a gestação (como talvez por exercício, se for suficiente, não sei -- mas isso pode também ser o mecanismo subjacente nos casos de magreza/desnutrição, porque os hormônios femininos são produzidos meio que em resposta a gordura corporal, inclusive talvez seja um achado pesquisando esses casos, não lembro), a tendência é a bebês menores (o que é correlacionado de modo geral a riscos maiores de problemas de saúde), não mais fortes.
Mas não quer dizer que não seja nada importante ou interessante. Hormônios relacionados ao estresse afetam o desenvolvimento/estrutura cerebral, e até mesmo antes do nascimento, ou depois do cérebro já completo, com efeitos diversos/não muito claros (mas na maior parte não exatamente bons). Parece que devido a esse tipo de coisa que o antropólogo e/ou primatólogo e neurologista Robert Sapolsky descobriu um bando de babuínos que era meio como bonobos, "pacifistas", enquanto que costumam ser mais como chimpanzés, um bando de machos alfa aterrorizando os mais fracos só porque pode botar medo mesmo. Não era uma nova espécie, mas algo que acho que se supõe ter ocorrido por um bando ter sido fundado por um número maior de fêmeas ou menos machos adultos e adolescentes, não havendo todo o estresse da agressividade masculina sendo transmitido meio que "culturalmente" (mas com efeitos cerebrais) para os machos filhotes, que crescem mais relax, menos agressivos/defensivos. (Eu não sei se alguém defende isso, mas me pergunto se a própria divisão inicial entre bonobos e chimpanzés não poderia ter se dado por mecanismos desse tipo, mais "leves" do que mutações).
Quanto a isso dos genes saltadores, não sei se costumam ser benéficos, ou responder algum estresse. Acho que sua atividade está mais comumente relacionada a problemas/doenças do que adaptação. Quando não, além de apenas sorte, pode ser uma espécie de "domesticação" deles pela seleção natural, controlando essa tendência de forma benéfica, nos casos em que parece ser mais adaptativo. Como disse, talvez até o sistema imunológico tenha surgido disso.
E quanto ao lado histórico, Darwin e Lamarck acreditavam em herança de caracteres adquiridos, era o que se costumava pensar na época. O "darwinismo" só se desassociou um pouco disso com Wallace e Weissman, o último famoso por ter cortado a cauda de ratos por algumas gerações, sem que isso afetasse em nada a prole. Daí surgiu o "neo-darwinismo" na acepção original do termo, diferente de como é mais comumente usado hoje.
A diferença principal era que Darwin dava um papel mais importante ao ambiente, na forma da seleção natural. Não são só mudanças no estilo de vida afetando o que é herdado pela prole, mas de toda prole que nasce, só uma fração sobrevive até a idade adulta e se reproduz. Isso no mínimo acelera o processo. Hoje/mais tarde, sabendo que qualquer coisa parecida com herança por uso e desuso chega perto de ser negligenciável na maior parte do tempo, a seleção é tudo que realmente sobra. O Darwin dos livros didáticos está mais para Wallace, nesse aspecto.
Darwin, e Lamarck, também supunham haver além de modificações por uso e desuso algo que seria parecido com mutações aleatórias, sendo que Lamarck enfatizava mais um aspecto inerentemente progressivo nisso, menos aleatório que Darwin, que eu saiba. E com essa suposição até fariam sentido alguns questionamentos criacionistas, como "por que ainda existem amebas", se bem que acho que o Lamarck também imaginava que a vida continuasse surgindo continuamente, de forma que sempre haveriam novas gerações/populações ainda "pouco evoluídas".