Autor Tópico: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?  (Lida 3118 vezes)

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Offline Moro

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Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Online: 07 de Fevereiro de 2011, 23:15:36 »
estou assistindo GNT agora e a matéria é sobre Epigenética.

O que estão falando é que as características adquiridas podem sim ser passadas de pai para filhos. Uma pesquisa mostra como ovos de mosca aquecidos a determinadas temperaturas geram moscas com olhos vermelhos. Mas a surpresa mesmo foi notar que os descendentes dessa mosca também tiveram olhos vermelhos.

comentem por favor
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Offline Moro

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #1 Online: 07 de Fevereiro de 2011, 23:57:07 »
Citar
For the unfolding of an organism or the theory that plants and animals develop in this way, see epigenesis (biology). For epigenetics in robotics, see developmental robotics.
In biology, and specifically genetics, epigenetics is the study of heritable changes in phenotype (appearance) or gene expression caused by mechanisms other than changes in the underlying DNA sequence, hence the name epi- (Greek: επί- over, above) -genetics. These changes may remain through cell divisions for the remainder of the cell's life and may also last for multiple generations. However, there is no change in the underlying DNA sequence of the organism;[1] instead, non-genetic factors cause the organism's genes to behave (or "express themselves") differently.[2]

agora f...
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Offline Geotecton

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #2 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 00:12:48 »
Pelo que eu (pouco) sei de epigenética é que ela é uma espécie de Lamarckismo do final do século XX.
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #3 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 01:06:24 »
Achei que tivesse tendo uma espécie de deja vu ou que o Agnóstico já tivesse postado um tópico meio parecido há algum tempo, mas foi o Hsette. Vou reproduzir uma explicação que dei lá, acho que pode servir aqui:

Mais ou menos isso, mas não necessariamente.

Talvez seja mais fácil de entender através do que "realmente" é epigenética de modo geral em vez de apenas nesse contexto entre gerações de macro-organismos.

As células tem um monte de outras coisas no seu interior além dos genes, e essas coisas, ainda que em parte sejam produtos dos genes, também afetam/regulam a sua expressão, e isso pode estar também sendo desengatado ou influenciado por interações com o ambiente. Isso vale para qualquer célula individual e para organismos unicelulares.

Através disso é possível que os organismos multicelulares tenham a diferenciação de células, tecidos e órgãos. Toda célula de um indivíduo, seja da pele ou do cérebro, tem exatamente o mesmo genótipo, mas são bem diferentes, essas diferenças são epigenéticas. Isso se dá mais ou menos porque uma célula que "adquiriu", digamos, a característica de ser célula muscular, só consiga "transmitir essa característica adquirida", se dividir dando origem a células musculares também.

Nos organismos mais complexos, por outro lado, a reprodução não se dá por uma simples divisão celular ou por se arrancar uma parte do corpo qualquer (situações mais onde a herança epigenética é mais importante), mas a partir de células especializadas que reduzem a herança epigenética/especialização das células, de forma viabilizar o desenvolvimento.

Apesar dessa especialização, nem sempre a prole pode se livrar totalmente dessa influência. Tanto por uma incapacidade de "filtrar" totalmente essa influência nos gametas, quanto, no caso dos mamíferos principalmente, porque o embrião em gestação não está completamente isolado do que se passa no corpo da mãe.

Em todos os casos, seja de geração para geração ou no decorrer da divisão celular, o que ocorre não é sempre uma ativação de uma característica fenotípica igual à da célula progenitora, até porque assim não haveria diferenciação celular, toda célula seria sempre igual à que a originou. A diferenciação complexa existe por causa de uma "não-linearidade" nesse proceso de herança; as células transmitem às suas filhas/vizinhas diferentes graus de herança epigenética e essas por sua vez também transmitem  em um outro grau. Junto com as interações "programadas" pelos genes isso pode ter um efeito mais drástico ainda, em vez de simplesmente uma questão de diluição ao longo da distância.

Esse mecanismo todo pode impedir em diversas situações uma "herança de caracteres adquiridos", porque as mesmas influências epigenéticas em um estado de desenvolvimento podem ter diferentes efeitos em outros estágios.

Offline VSR

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #4 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 03:29:08 »
Lí num livro certa vez, algo sobre "genes saltadores" e que certa interação com o meio ativariam tal genes, que saltariam de lugar modificando a arranjo genético do indivíduo, podendo inclusive alterar a formação da sua prole

Talvez seja uma reformulação das idéias de Lamark, quando lí achei bem interessante e plausível.

um pequeno artigo sobre : http://oamigodewigner.blogspot.com/2010/01/descoberta-dos-genes-saltadores.html
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #5 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 04:00:15 »
São transposons. Novamente não chega a poder ser algo que pudesse servir para noticiar "A VOLTA DE LAMARCK" sem ser sensacionalismo barato, mas tem lá sua similaridade em alguns casos. Mas "sofre" do mesmo problema de não ser algo sempre herdado, por exemplo, teoriza-se que o sistema imunológico seja uma espécie de especialização de transposons. E, acho que mais comumente do que algo parecido com isso, ou com o caso do milho (que parece mais lamarckista ainda, uma vez que no sistema imune o que ocorre é um "darwinismo interno"), o que ocorre é só uma mutação aleatória, que para a maior parte dos efeitos não difere muito de outra qualquer, exceto nesse aspecto de ser um gene levado para outro lugar.


Nota meio pedante: herança de caracteres adquiridos é comumente chamado de "lamarckismo", mas não é idéia original dele, nem as suas idéias originais tem nisso o ponto principal. Darwin era "lamarckista", não conhecia a herança mendeliana e aceitava a herança de caracteres adquiridos. As idéias principais de Lamarck eram de uma tendência ortogênica, uma tendência inerente à complexificação natural dos organismos, e fatores ambientais induzindo a adaptação correspondente através das mudanças de hábitos. A primeira idéia é onde mais difere de Darwin, não tanto no papel atribuído a herança de caracteres adquiridos.

Offline VSR

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #6 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 14:49:22 »
o que ocorre é só uma mutação aleatória, que para a maior parte dos efeitos não difere muito de outra qualquer

Mas pelo que entendi tal mutação poderia ser decorrida de algum estímulo ambiental ou estilo de vida, li que algumas substancias ao serem ingeridas também poderiam causar tal mutações, acho que é nisso que se assemelha à Lamark...
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Offline Moro

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #7 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 23:25:40 »
para mim, é muito semelhante a Lamark mesmo.. ainda que por fatores mais sutis.

Não sei bem ao certo, mas Lamark tinha uma questão de uso e desuso.. algo muito mais físico como "um cara fez trabalho braçal sua vida inteira logo seu filho vai nascer com possibilidade de ser mais forte" e não é nada disso que a epigenia trata. Ela é bem mais sutil na determinação da causa e efeito.

Lamark deve ser o Kardec da biologia.
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Offline VSR

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #8 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 23:47:18 »
para mim, é muito semelhante a Lamark mesmo.. ainda que por fatores mais sutis.

Não sei bem ao certo, mas Lamark tinha uma questão de uso e desuso.. algo muito mais físico como "um cara fez trabalho braçal sua vida inteira logo seu filho vai nascer com possibilidade de ser mais forte" e não é nada disso que a epigenia trata. Ela é bem mais sutil na determinação da causa e efeito.

Lamark deve ser o Kardec da biologia.

acho que seria algo mais do tipo: "os humanos começam a utilizar mais da força física" Darwin diria que apenas os mais fortes sobreviveriam, levando seus genes à diante e fazendo a população ficar mais forte, Lamark diria que a genética humana sofreria uma mutação à longo tempo, por causa do maior uso dos músculos... Não tenho certeza, mas acho que Lamark não dizia sobre mutações em apenas uma geração...
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Offline Moro

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #9 Online: 08 de Fevereiro de 2011, 23:48:56 »
tem que esperar o Buck
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Re: Herança Epigenética - hereditariedade de características adquiridas?
« Resposta #10 Online: 09 de Fevereiro de 2011, 21:50:20 »
para mim, é muito semelhante a Lamark mesmo.. ainda que por fatores mais sutis.

Não sei bem ao certo, mas Lamark tinha uma questão de uso e desuso.. algo muito mais físico como "um cara fez trabalho braçal sua vida inteira logo seu filho vai nascer com possibilidade de ser mais forte" e não é nada disso que a epigenia trata. Ela é bem mais sutil na determinação da causa e efeito.

Lamark deve ser o Kardec da biologia.

acho que seria algo mais do tipo: "os humanos começam a utilizar mais da força física" Darwin diria que apenas os mais fortes sobreviveriam, levando seus genes à diante e fazendo a população ficar mais forte, Lamark diria que a genética humana sofreria uma mutação à longo tempo, por causa do maior uso dos músculos... Não tenho certeza, mas acho que Lamark não dizia sobre mutações em apenas uma geração...

Tem gente que chama esse tipo de coisa de "neo-lamarckismo" e etc, nada contra, é só importante fazer a ressalva de que é bem mais limitado do que se imaginava na época (ou do que se costuma pensar pelo termo), e nem sempre é uma "herança de uma característica adquirida", podendo ser só o aparecimento de algo que poderia ser meio inesperado se supormos que os genes determinam o fenótipo de forma bastante rígida, que o ambiente praticamente não pudesse afetar em nada. Exemplos, que nem sei se encaixam bem no termo (acho que tem definições mais e menos restritas, uma delas restringindo a um mecanismo específico de bloquear genes): filhos de uma mulher que se tornou obesa, mesmo sem hipotéticos genes para obesidade, tem mesmo aparentemente uma tendência a obesidade. Até aí bem de acordo, mas se for o contrário, uma mulher meio obcecada com magreza, se chegar a ser meio desnutrida, mas não o suficiente para não ovular, parece que a tendência de seus filhos também é a obesidade (além de nascerem com menor circunferência craniana), em vez de a magreza. De forma parecida, se a mulher tiver níveis elevados de testosterona durante a gestação (como talvez por exercício, se for suficiente, não sei -- mas isso pode também ser o mecanismo subjacente nos casos de magreza/desnutrição, porque os hormônios femininos são produzidos meio que em resposta a gordura corporal, inclusive talvez seja um achado pesquisando esses casos, não lembro), a tendência é a bebês menores (o que é correlacionado de modo geral a riscos maiores de problemas de saúde), não mais fortes.

Mas não quer dizer que não seja nada importante ou interessante. Hormônios relacionados ao estresse afetam o desenvolvimento/estrutura cerebral, e até mesmo antes do nascimento, ou depois do cérebro já completo, com efeitos diversos/não muito claros (mas na maior parte não exatamente bons). Parece que devido a esse tipo de coisa que o antropólogo e/ou primatólogo e neurologista Robert Sapolsky descobriu um bando de babuínos que era meio como bonobos, "pacifistas", enquanto que costumam ser mais como chimpanzés, um bando de machos alfa aterrorizando os mais fracos só porque pode botar medo mesmo. Não era uma nova espécie, mas algo que acho que se supõe ter ocorrido por um bando ter sido fundado por um número maior de fêmeas ou menos machos adultos e adolescentes, não havendo todo o estresse da agressividade masculina sendo transmitido meio que "culturalmente" (mas com efeitos cerebrais) para os machos filhotes, que crescem mais relax, menos agressivos/defensivos. (Eu não sei se alguém defende isso, mas me pergunto se a própria divisão inicial entre bonobos e chimpanzés não poderia ter se dado por mecanismos desse tipo, mais "leves" do que mutações).



Quanto a isso dos genes saltadores, não sei se costumam ser benéficos, ou responder algum estresse. Acho que sua atividade está mais comumente relacionada a problemas/doenças do que adaptação. Quando não, além de apenas sorte, pode ser uma espécie de "domesticação" deles pela seleção natural, controlando essa tendência de forma benéfica, nos casos em que parece ser mais adaptativo. Como disse, talvez até o sistema imunológico tenha surgido disso.


E quanto ao lado histórico, Darwin e Lamarck acreditavam em herança de caracteres adquiridos, era o que se costumava pensar na época. O "darwinismo" só se desassociou um pouco disso com Wallace e Weissman, o último famoso por ter cortado a cauda de ratos por algumas gerações, sem que isso afetasse em nada a prole. Daí surgiu o "neo-darwinismo" na acepção original do termo, diferente de como é mais comumente usado hoje.

A diferença principal era que Darwin dava um papel mais importante ao ambiente, na forma da seleção natural. Não são só mudanças no estilo de vida afetando o que é herdado pela prole, mas de toda prole que nasce, só uma fração sobrevive até a idade adulta e se reproduz. Isso no mínimo acelera o processo. Hoje/mais tarde, sabendo que qualquer coisa parecida com herança por uso e desuso chega perto de ser negligenciável na maior parte do tempo, a seleção é tudo que realmente sobra. O Darwin dos livros didáticos está mais para Wallace, nesse aspecto.

Darwin, e Lamarck, também supunham haver além de modificações por uso e desuso algo que seria parecido com mutações aleatórias, sendo que Lamarck enfatizava mais um aspecto inerentemente progressivo nisso, menos aleatório que Darwin, que eu saiba. E com essa suposição até fariam sentido alguns questionamentos criacionistas, como "por que ainda existem amebas", se bem que acho que o Lamarck também imaginava que a vida continuasse surgindo continuamente, de forma que sempre haveriam novas gerações/populações ainda "pouco evoluídas".

 

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