Autor Tópico: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?  (Lida 7724 vezes)

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Offline HeadLikeAHole

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #25 Online: 23 de Março de 2011, 17:39:53 »
http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2011/03/is-tokyo-at-increased-risk-of.html?DCMP=OTC-rss&nsref=online-news

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First attempts to calculate Tokyo's quake risk
12:49 23 March 2011

Michael Marshall, environment reporter

As if the thousands killed, injured or displaced by the Japanese earthquake and tsunami hasn't caused the country enough distress, there are now reports that the megaquake may have increased the chance of a major earthquake hitting Tokyo. But seismologists are emphasising that any such claims are extremely tentative.

Ross Stein of the US Geological Survey in Menlo Park, California, and his colleagues are running the numbers to try and work out how the magnitude-9 quake has affected seismicity in the region.

Offline Geotecton

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #26 Online: 27 de Março de 2011, 18:53:26 »
aproveitando o tópico e para dar mais uma chupinhada na sabedoria do Geo e aquela história que eu eu ouço desde que eu tenho uns 10 anos na tv que um dia do nada um terremoto de proporções colossais vai separar a peninsula da california do resto do continente, que tal terremoto é iminente (numa escala de tempo geologica). quais seriam as implicaçoes de um terremoto que fizesse isso?

O que voce ouviu em documentários e narrativas tem dois aspectos bem distintos. O primeiro, e que é correto, é que realmente a península da Califórnia vai se separar do resto do continente americano.

Grosso modo falando toda a parte oeste do continente americano é afetada, direta e indiretamente, pelas subducções das placas de Nazca sob a Sul-Americana, e da Juan de Fuca sob a Norte-Americana.


Mapa esquemático mostrando as placas tectônicas e seus limites.


No entanto, no trecho entre o Golfo da Califórnia (México) e o norte da Califórnia (EUA), já houve uma outra micro-placa, talvez uma extensão da Juan de Fuca, que já subductou em boa parte. Hoje não está mais ocorrendo uma subducção ali e sim uma acomodação das tensões por feixes de falhas transcorrentes, na qual a mais famosa é a de San Andreas. Estes feixes de falhas fazem com que dois blocos tectônicos se movimentem horizontalmente um em relação ao outro, praticamente sem haver uma componente vertical, e que levaria um bloco sobre o outro.


Mapa esquemático mostrando a disposição das principais falhas transcorrentes no oeste do estado da Califórnia, EUA.



Mapa esquemático da região no entorno da baía de San Francisco, mostrando as principais falhas transcorrentes.

 
Assim, o que está ocorrendo na Califórnia é algo pitoresco. Simplificadamente falando, o bloco à oeste da falha de San Andreas (que comporta o resto da micro-placa oceânica e um fragmento da placa continental Norte-Americana) está sendo transportado para o sentido NW, enquanto que o bloco à leste da falha de San Andreas (constituído pela placa Norte-Americana) está sendo transportado no sentido SE. Estima-se que em menos de 50 milhões de anos todo o bloco à oeste da falha estará totalmente desconectado do resto.


Figura esquemática mostrando os blocos tectônicos e seus movimentos relativos em função da falha de San Andreas.


O segundo aspecto, relativo ao “super-terremoto” que “separaria” a península da Califórnia, é completamente equivocado. A magnitude (energia desprendida) para que tal evento ocorresse é totalmente fora da escala planetária. Ou seja, ele não ocorrerá.

Em termos um pouco mais técnicos, a energia acumulada em um terremoto é produto direto da tensão cisalhante aplicada ao longo da extensão e da largura do plano de falha. Assim sendo, quanto maior e mais profunda for a falha, mais intensos poderão ser os seus sismos.

Para que um terremoto fosse capaz de “rachar” de uma só vez o oeste da Califórnia ele teria que acumular uma tensão gigantesca em uma falha com pelo menos 20.000 km de extensão e mais de 80 km de profundidade. Ou seja, ela teria que ser mais de 12 vezes mais comprida que a falha de San Andreas e, ainda por cima, deveria liberar toda a energia de uma só vez.

Isto não quer dizer que o Big One, um grande terremoto de magnitude 9,2 ou mais, não vá ocorrer. Quando isto acontecer será catastrófico para toda a infra-estrutura humana, mas de modo algum levará ao cenário apocalíptico que a mídia leiga gosta de propalar.

Espero que esta explicação tenha sido satisfatória, meu caro 3libras.


Fonte: Mapas e Desenhos (USGS).
« Última modificação: 28 de Março de 2011, 20:39:16 por Geotecton »
Foto USGS

Offline Sr. Lobo

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #27 Online: 28 de Março de 2011, 11:31:30 »
Ótimas explanações, Geotecton!
Agora estou ansioso por ler sobre Yellowstone.
/ Fr.s.t

Offline 3libras

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #28 Online: 28 de Março de 2011, 20:09:27 »
foi sim, obrigado!!!
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Offline Moro

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #29 Online: 28 de Março de 2011, 22:36:38 »
Fantástico. History Channel adora o big one
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Offline Geotecton

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #30 Online: 28 de Março de 2011, 23:30:39 »
http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2011/03/is-tokyo-at-increased-risk-of.html?DCMP=OTC-rss&nsref=online-news

Ótima indicação HeadLikeAHole.

Depois que eu preparar o texto sobre Yellowstone, eu farei alguns comentários sobre o artigo do link.
Foto USGS

Offline Geotecton

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #31 Online: 03 de Abril de 2011, 19:44:09 »
Geo, quando YellowStone vai explodir e varrer os Yankes da Terra???  :hihi:

Esta é uma daquelas perguntas cuja resposta correta valeria bilhões de dólares. Ninguém tem realmente certeza se ou quando isto ocorrerá, tendo em vista que Yellowstone é parte de um sistema que contém três caldeiras geradas por um hot spot, que é um ponto de calor anômalo no manto, cujo mecanismo de formação ainda não foi totalmente esclarecido. Neste link é possível acompanhar o efeito do hot spot na placa Norte-Americana nos últimos 16 milhões de anos, com a formação de seis campos vulcânicos e mais a região de Yellowstone. Pela figura se deduz que a placa está se deslocando de NE para SW, a uma taxa estimada de 4 cm/ano.


Mapa esquemático do estado do Wyoming, com destaque para o Parque Nacional de Yellowstone e a caldeira homônima, cujo limite foi demarcado por uma linha tracejada vermelha.


Desde o surgimento do homem moderno não houve nenhuma grande erupção no local. De fato, nos últimos dois milhões de anos ocorreram três grandes erupções há: 2,00; 1,25 e 0,64 milhões de anos AP. A terceira caldeira, que contém praticamente todo o Parque Nacional do Yellowstone, possui cerca de 80 km de extensão e 50 km de largura. A última erupção significativa ocorreu há cerca de 75.000 anos, considerada pequena porque só ejetou 200 Km3 de magma riolítico e material piroclástico. Nos últimos 640 mil anos ocorreram cerca de 30 destas pequenas erupções, algumas com menos de 1 km3 de material ejetado.

Eu, pessoalmente, acho que haverá pelo menos outro grande evento eruptivo porque a região continua tendo uma atividade magmática, tipificada nos diversos gêiseres e pelos constantes sismos que indicam movimentações na grande câmara magmática que jaz em subsuperfície, ainda que existam alívios temporários na pressão formada na câmara.

Entre 1923 e 1984 a superfície da região foi elevada em 83 cm, retornando praticamente ao nível de 1923 entre 1985 e 1989, sendo que tal alçamento e subsidência ocorreram pela combinação da variação no volume de material na câmara magmática e pela variação na pressão da água subterrânea que circula e alimenta os geiseres daquela área. Os freqüentes terremotos desde 1920 também serviram para aliviar o esforço tensional, e eles tem sido muito bem estudados nos últimos 10 anos. Em 1959 foi registrado um terremoto de magnitude 7,5.



Figura esquemática mostrando os vetores de deslocamento por deformação da superfície na região do Parque Nacional de Yellowstone (flechas) e os sismos associados (bolinhas), entre 2004 e 2009.


Na década passada, observou-se um soerguimento de aproximadamente 17 cm desde 2004, sendo que este alçamento foi atribuído a uma recarga de magma na câmara magmática, que teria sido aumentada em pelo menos 6 km lineares.

Mas, diferentemente de outros locais da Terra, as variações geológicas do Parque Nacional de Yellowstone são muito bem acompanhadas remotamente, com várias estações sismológicas e de GPS (estas para acompanhar eventuais deformações e ou deslocamentos).



Mapa esquemático mostrando as estações de GPS em funcionamento (amarelo) e as programadas (azul) em 1999, na região do Parque Nacional do Yellowstone.


Por fim, a mídia leiga veicula há algum tempo que o “supervulcão” (este termo não existe na literatura vulcanológica) está prestes a explodir de novo porque “ocorreram grandes erupções há cerca de 1,30 e 0,64 milhões de anos” e deste modo “a próxima erupção é eminente”.

Isto é uma tremenda bobagem. Não há nenhuma evidência de que as erupções ocorram em ciclos, em períodos pré-determináveis. Seria ótimo se assim fosse, pois facilitaria o trabalho dos geólogos, pois a estes bastava datar dois eventos e os demais seriam deduzidos. Infelizmente a natureza dos vulcões é muito mais complexa, não provendo o menor sinal de uma regularidade eruptiva ao longo do tempo geológico.


Link com informações adicionais sobre a geologia de Yellowstone.
« Última modificação: 04 de Abril de 2011, 23:23:59 por Geotecton »
Foto USGS

Offline Gaúcho

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #32 Online: 12 de Abril de 2011, 22:28:00 »
Ótimo texto, Geo. :ok:

Esse último parágrafo foi muito esclarecedor, visto que, sempre que lemos sobre vulcões, aparecem previsões baseadas em erupções passadas.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline Geotecton

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Re: Aumento no número de terremotos: acaso ou há uma ligação?
« Resposta #33 Online: 21 de Agosto de 2011, 23:57:01 »
http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2011/03/is-tokyo-at-increased-risk-of.html?DCMP=OTC-rss&nsref=online-news

Do link indicado pelo HeadLikeAhole fica claro o grau de dificuldade em predizer, com uma margem aceitável de segurança, quando e em que local ocorrerá o próximo terremoto de magnitude que possa trazer riscos aos humanos e à infra-estrutura.

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Using this type of model, he has calculated how the stresses have changed since the big quake, to identify which faults have been pushed closer to failure and which further away. Some early results are available on his website, but he has repeatedly revised them over the last few days and expects to continue to do so for the foreseeable future.

The results suggest that the risk of a big quake in Tokyo is now higher than it was before the quake, but there is no way to put a figure on the overall increase in risk.

According to the calculations, the most affected fault is the Sagami Trough, an undersea trench south of Tokyo at the junction of the three plates. Stress on a region of this fault that is thought to have caused the 1923 Great Kantō earthquake appears to have eased. But another area, further out to sea and linked to the 1703 Genroku earthquake, is apparently closer to rupturing. The neighbouring Tokai fault, long treated as a risk, may also be slightly more stressed.

But these predictions should be taken with a big pinch of salt. Stein himself calls the calculations "ridiculously naive" and "frail", emphasising the enormous uncertainties:

"Earth's rubberiness varies from place to place. The amount of slip from the quake is poorly known. Which faults are active is also only crudely known."


Foto USGS

 

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