Dona nao confunda as coisas. Você viu o resultado das telcos? Prejuízo, ou pequenos lucros. E um segmento intensivo em capital e mão de obra. Nao fosse os investimentos bilionarios em rede, só despesas de calo center podem consumir 15% do faturamento. Você esta usando as premissas equivocadas, como se essas empresas fossem altamente lucrativas, e nao são.
Por que fizeram o desconto? Porque custa, salvo engano, aproximadamente 1000 reais para obter um cliente e dar de mão beijada para a concorrência nao é uma estratégia valida. E porque operam em economia de escala, nao há um custo direto da sua linha como tal.. Há apenas custos totais da operação para o que tange a rede.
Em primeiro lembremos que a discussão central é sobre a influência dos impostos no preço final ao consumidor, portanto minha insistência na comparação entre o perfil tributário de diversos países e seus preços finais continua porque é única forma de se entender se os impostos são mesmo o ponto (como é apresentado no post inicial ou pelo Felipe Neto ou pela Miriam Leitão) ou um dos pontos e, se for um dos pontos, é também o passo inicial para se entender quão visível no mapa é este ponto: se é um ponto grandão de megalópole ou um pontinho quase invisível de cidade do interior. Os exemplos do post inicial não diferem qualitativamente dos que eu mencionei, aliás, o preço do PS3 era exatamente o meu sparring preferido lá no outro tópico (que na verdade é substancialmente o mesmo que este).
Em relação à caricatura que eu criei usando Via/Oi/descontos: parece não ser isto que você aponta, porque
a concorrência já vende pacotes equivalentes a preços muito menores. Realmente o que você mencionou sobre neste mercado o valor unitário por consumidor não ser tão importante, mas o valor total arrecadado (ie: a Via vai continuar tendo basicamente o mesmo gasto com a manutenção/aluguel do satélite e com os contratos com as programadoras, com publiidade e com quase todo o resto estando eu com eles ou não: então melhor ficar com meus 70 reais que com nada),
faria sentido se a questão estivesse só no "ameacei cancelar e eles baixaram o preço", mas o pequeno detalhe "a OI já cobra os preços que eu estou exigindo, normalmente por um pacote praticamente idêntico" anula este raciocínio, falando-se especificamente deste setor.
Você pode supor que a Oi está fazendo preço predatório, mas 2 anos de predatorismo num mercado varejista e de bens supérfluos não é meio um tiro no pé? Se a intenção fosse essa não estariam fazendo errado, de modo que estariam de fato a baixar irremedialvelmente o valor do produto no mercado para o futuro? Poderia supor que a diferença é na qualidade do serviço prestado, mas tenho diversos conhecidos com OITV e a única diferença qualitativa é não ter alguns dos canais Globosat. Ainda estou tentado a achar que a prática generalizada de oferecer descontos de cancelamento (digo, de retenção)
neste setor é mais indício de que o preço ainda está sendo definido pelo critério "produto novidadeiro/de status" (sei que tem um nome em economês pra isso, mas não faço idéia de qual seja) que pelo critério "é o que podemos cobrar, senão quebramos".
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Quanto à lucratividade líquida das telcos (sacanagem, eu entendi Tesco e fiquei mó tempão tentando descobrir o que a Tesco tinha a ver com a história, fui atrás do relatório anual da Tesco, achei, li, reli, fiquei com a cabeça fodida pra achar o nexo que você tava tentando criar...

) eu acho que a premissa equivocada é exatamente usar
lucratividade líquida para comprovar baixa lucratividade das grandes empresas seja de telecomunicações ou de que setor for. Uma das características mais sublimes das grandes corporações é o alto índice de expansão destas: compram redes menores, abrem novas frentes de mercado, se expandem por países inteiros em curtíssimo tempo, o que implica necessariamente em custos operacionais extremos (continuando na OI por exemplo, há 5 anos só atuava no sudeste e no nordeste e apenas em telefonia e internet: hoje atua no país inteiro e ampliou sua gama de serviços incluindo TV fechada, emissoras de rádio: imagine os gastos operacionais em cabos, antenas, caixas de distribuição...).
Vamos sair do universo cheio de cálculos das grandes empresas. Imagine um pequeno comércio irregular numa favela qualquer, a
Mercearia do Josias LTDA, que tem como funcionários ele mesmo e os filhos e dona patroa (zero custo com funcionários) que não paga água nem luz (tudo no gato) e muito menos qualquer tributo e que estabeleceu uma prática de cobrar sobre cada produto vendido um valor tal que seja 70% referente ao preço de atacado e 30% lucro. Se o Josias vendeu durante o ano um total de 60 mil reais ele obteve lucro líquido de 20000 reais. Agora imagine que o Josias (que vive do dinheiro que ganha como militar reformado) juntou este lucro todo debaixo do colchão e ao final do ano usou 10000 destes 20000 reais para virar sócio de uma birosca na mesma favela, gerando mais renda pra família. O lucro de fato do Josias continua sendo 20000, os 10000 investidos na ampliação do patrimônio, no incremento da robustês da agora
Josias Favela's Holding não viraram prejuízo, mas deixaram de ser lucro líquido, se ele ainda pegar os 10000 restantes e investir tudo em novos equipamentos (freezeres. máquina de fazer churros, assadeiras e fritadeiras) que possibilitarão ao comerciante transformar sua mercearia em uma |mercearia/lachonete tipo podrão| poderá se dizer que ele teve lucro zero: o que é substancialmente falso.
Sim, eu sei que grandes empresas não operam na mesma lógica simples que a birosca do Manoel da esquina: eu sei que os cálculos são muito mais complexos e é certo que eu nem sei fazê-los (tenho certeza de que, como pequeno empresário e executivo, você sabe muito melhor que eu) , ainda mais se for uma empresa que (como quase todas as grandes) opere na bolsa. Sei que estes difíceis cálculos envolvem empréstimos BNDESticos a perder de vista, capital especulativo e volátil das bolsas de valores, valores intangíveis das marcas, dívidas judiciais.
Mas se fundamentar apenas no lucro líquido para negar a alta lucratividade de determinada empresa é exatamente se fazer de cego para as formas mais simples desta complexidade. Se pegarmos o último relatório anual da Oi você vai ver que eles multiplicaram o patrimônio ativo em 3 vezes nos últimos 10 anos: (é verdade que o líquido até regrediu um pouco, algo em torno de 20%, mas isso é muito mais resultado dos altos investimentos em expansão da malha e ampliação dos serviços prestados do que de baixa lucratividade). A baixa lucratividade
líquida das telcos assim como seu endividamento, Agnóstico, são estratégicos, e o fim da estratégia é exatamente multiplicar o quanto mais rápido possível o valor de mercado, a carteira de clientes, o patrimônio da empresa.
A Hypermarcas por exemplo (se usar as telcos como modelo vale, usar a Hypermarcas também vale) que também é uma empresa expansionista (grandes empresas dãããããããã) mas que opera numa lógica um tanto distinta porque não oferece serviços e não atua num mercado em expansão ao mesmo nível que os mercados de telecomunicações teve um avanço patrimonial líquido (o resultado da subtração de tudo que se tem por tudo que se deve) de ~= 2bi para ~=5 bi em 2 anos (o patrimônio ativo pulou de cerca de 3bi para cerca de 10bi no mesmo período): mas registrou lucro líquido médio nestes mesmo 2 anos de ~=300mi, então eu acho que nós realmente não estamos fazendo a conta certa.
O valor de mercado das empresas brasileiras que operam na Bovespa se multiplicou 12 vezes em 15 anos. Será que não existem outras grandezas e outros critérios a se levar em conta para medir a lucratividade de uma empresa senão o valor em dinheiro vivo resultante da vantagem de tudo que se vendeu contra tudo que se investiu ou pagou durante um ano? Se
eu abro uma empresa hoje investindo 70.000 reais iniciais e se daqui a 7 ou 8 anos há grandes corporações dispostas a
me pagar 620.000 pelo mesmo negócio com todas as suas dívidas e bônus como se chamam estes 550.000 divididos por 7 ou 8, Agnóstico?