Putz, Buck, eu não queria estar na sua pele numa discussão dessas. E eu diria que junto com o sequestro e atrás somente, talvez, do infanticídio e de homicídios dentro da própria família, o estupro é considerado o pior dos crimes, tanto que o estuprador e o sequestrador têm que ser mantidos presos em separado para não serem mortos por outros presidiários.
Nah, deve ser só mordomia, regalias para os estupradores, apenas mais uma faceta da cultura do estupro que faz com que as mulheres continuem recebendo salários mais baixos e etc.
Uma condenação leviana causaria danos morais irreparáveis para um cidadão inocente, por isso é preciso haver evidências fortes para incriminá-lo.
"Danos morais" é pouco, o cara corre o risco de morrer. Eu não sei se é comum*, mas acho que é muito mais fácil uma pessoa qualquer conseguir arranjar uma turma para matar um estuprador de uma conhecida em comum do que para armar um estupro, situação na qual não só seria bem mais difícil encontrar cúmplices como provavelmente se estaria jogando minha vida social no lixo se não fosse muito, mas muito seletivo em sondar quem acharia "legal" isso.
* Não que eu tenha feito isso, Jaf
Entretanto, essa colocação de que pessoas se gabam de estupros como se gabam de gols no futebol não é totalmente incorreta também. Eu ouvi de um colega meu que um conhecido nosso se gabava de ter feito sexo anal com uma menina bêbada desmaiada. Tecnicamente acho que isso é atentado violento ao pudor, e não estupro, mas dá no mesmo. Numa situação dessas é impossível se provar o que quer que seja, só se o fdp confessar para as autoridades, porque é capaz de nem a menina, depois de acordar, saber direito o que aconteceu, quanto mais quem foi. Eu não posso denunciar a partir de uma história contada por um terceiro e também não sei quem é a menina e por fim o imbecil que me contou essa história sequer acha que isso é estupro.
Realmente isso existe, mas será que é preponderante ou a imensa maioria das pessoas vê isso como estupro, ou "praticamente a mesma coisa"?
Por "praticamente a mesma coisa": acho que quando não rotulam como "estupro" isso não se deve a acharem necessariamente mais aceitável (ainda que menos grave*), mas apenas por não ser o estupro estereotípico de um cara que puxa a mulher para um beco escuro armado de uma faca, a enche de pancadas e depois até mata ou quase, mas ainda não vêem isso como "certo".
* Colocação que também deve ser feita com muito cuidado, haja visto Maluf e o "quer estuprar? Estupra, mas não mata", que lhe valeu praticamente como admissão de ser totalmente complacente com estupros.
Acho ainda que esse tipo de coisa se dá mais ou menos da mesma forma que se daria entre ladrões ou assaltantes, sendo mais uma "aceitação social" dentro desse submundo do que uma coisa generalizada, com a ressalva feita anteriormente de que nem necessariamente todos vão entender a mesma coisa por "estupro" mas mesmo assim não irão aprovar ou ver como algo trivial os casos de estupro com pouco ou nenhum uso de violência, mas principalmente ou apenas álcool.
Acho que a diferença seria mais ou menos a mesma que vêem em assaltos violentos e roubarem um cara desprecavido (talvez até bêbado), sem no entanto fazerem uso significativo violência. Talvez, dependendo da descrição, as pessoas nem tendam também a usar a mesma palavra para rotular ambas as situações, tendo uma palavra que acham que se adequa mais aos casos violentos e que não se encaixa mais nos de "malandragem".
Mas sei lá, não é um assunto sobre o qual eu costumo ter muitas conversas, mas essa é a impressão geral que tenho. E, como sempre, se fosse generalizar a humanidade toda a partir de mim não seria esperado que existisse o "big brother" e outros "reality shows", então pode bem ser que a coisa seja significativamente diferente, mas acho difícil acreditar sem evidência que seja muito diferente.
Então, pior é que infelizmente há mesmo casos em que mulheres vão ser estupradas e não vai acontecer absolutamente nada e os monstros que fizeram isso ainda sairão contando vantagem, mas ainda assim não podemos atropelar nosso sistema legal e condenar alguém sem provas, porque também há muitas monstras por aí que estariam dispostas a prestar falso testemunho em nome de uma vingança ou pura maldade.
Não só maldade, mas arrependimento e confusão em torno do álcool (não lembrar o que aconteceu; vide o caso mais ou menos famoso da garota com o "estudo" sobre os seus pareceiros sexuais, sendo que um deles ela nem lembrava de nada de tão bêbada mas não considerou que foi estuprada, levou numa boa -- o que eu acho até muito esquisito para dizer a verdade, não que necessariamente devesse ser classificado como estupro, mas sei lá, só acho que no mínimo as pessoas não deveriam andar por aí tão bêbadas para não se arrependerem do que fazem depois), bem como noções mais excêntricas do que constitui "estupro". Há feministas que defendem a noção até de um estupro meio "retroativo", na hora do sexo pode ter sido consensual e ter sido tudo uma beleza, sem uma gota de álcool, mas se ela começar a reinterpretar o que aconteceu sob uma luz negativa, então "vira" uma forma de estupro.
Artigo que lida um pouco sobre isso:
http://cityroom.blogs.nytimes.com/2007/10/15/gray-rape-a-new-form-of-date-rape/E sim, eu não disse que tem que se condenar ninguém sem provas, o problema é que de um exame de corpo de delito num caso desses não se obtém prova alguma. Nem meramente o interrogando, onde a única chance seria se ele de livre e espontânea vontade confessasse. Acho que o único meio (o que inclui não só a condenação em si, mas meio de terceiros realmente poderem ter um palpite mais seguro sobre o que aconteceu, em vez de apenas identificarem-se como vítima de estupro ou de falsa acusação) seria armar uma confissão.