Decisão da presidente divide educadoresA decisão da presidente Dilma Rousseff de proibir a circulação dos vídeos e da cartilha contra a homofobia tem gerado controvérsia entre especialistas. Mais que o debate sobre o conteúdo dos vídeos, a questão recai sobre o fato de ser ou não papel do Estado atuar nesse assunto.
Para Silvia Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a escola não pode ficar alheia. 'Do mesmo jeito que a escola desenvolve conteúdo de educação para o tráfico, para o trânsito, precisa ter um material de combate à homofobia', diz. A educadora acrescenta que a discussão de valores como a tolerância deve ser tão valorizada quanto os conteúdos de história e geografia. 'Se não receber cuidado, isso se torna problema social, até crime.'
Ari Rehfeld, psicoterapeuta e professor da Faculdade de Psicologia da PUC, discorda. 'Não dá para o Estado se colocar na posição de pai, tratando o povo como filho imaturo. Não é seu papel influir na cultura de um povo e dizer que tem a verdade, independentemente de qual seja ela.'
Rehfeld defende que os vídeos sejam exibidos em circuitos alternativos, como ONGs e instituições culturais. 'O material é benfeito, porque coloca o espectador no lugar do personagem, faz com que ele entre no mundo dele', diz o psicoterapeuta. 'Mas deve ser visto de forma espontânea. A partir do momento em que chega à escola, vira conteúdo obrigatório. Isso é errado.'
Para o especialista, o argumento de quem alega que os vídeos estimulam a homossexualidade é improcedente. 'Isso é falta de conhecimento dos processos psicológicos e emocionais.'
RoteiroSão três os vídeos da série 'Escola contra homofobia' vetados pela presidente. O primeiro, Probabilidade, conta a história de Leonardo, um adolescente que se muda de cidade e é obrigado a deixar a namorada. De repente, ele se vê atraído e com vontade de beijar o primo de seu melhor amigo. No início, Leonardo se assusta com a possibilidade de ser gay. No dia seguinte, durante a aula, uma colega também lhe atrai. Por fim, Leonardo se convence que não precisa decidir se gosta só de garoto ou de garota.
O segundo, Torpedo, conta a história de duas adolescentes flagradas pelos colegas de escola. Depois de conversarem sobre o assunto, decidem assumir o namoro e enfrentar os olhares de reprovação.
Por fim, Encontrando Bianca é o depoimento de um jovem que sofreu até ser aceito pelos colegas. Hoje, ele frequenta as aulas vestido com roupas femininas e diz que há professores que ainda o chamam de José Ricardo, seu nome de batismo. 'Será que é tão complicado anotar outro nome ao lado do que está na chamada?', pergunta o narrador.
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