Temos que ser céticos e, quando desafiados pela evidencia, estar prontos a modificar nossas crenças de acordo com a força dos fatos.
Para as pessoas que não tem o mesmo caráter cético que temos é óbvio que o efeito backfire será mais intenso. Mas sempre vai haver uma parcela, mesmo que pequena, que modficará seu pensamento quando confrontada com evidencias fortes.
A minha questão não é tanto o que "nós", que somos céticos, podemos fazer para não sermos vítimas disso (ainda que seja sempre importante, apesar do ceticismo, que de fato seria por definição uma menor predisposição a isso, ainda que nem sempre seja mesmo o caso), mas, supondo nós estarmos cientes dos fatos, como podemos promovê-los de forma mais eficiente do que sua mera exposição e confrontação, que talvez tendam a ser contraproducentes? Ou no mínimo algo menos eficaz do que aquilo que seria possível se buscarmos um melhor entendimento de como as pessoas vêm a mudar de idéia sobre conceitos errôneos aos quais estão apegadas.
Por isso mesmo o debate é importante. Nào importa se a maioria permancerá acreditando em lendas urbanas. O debate as fará, pelo menos pensar um pouco
Afinal, foi desta forma que a maioria das pessoas deste forum se tornaram céticas, não foi?
Acho que talvez nem tanto o debate em si seja a resposta, mas o "se tornaram". Poucas pessoas, acredito, se "converteram" ao ceticismo por uma exposição singular dos fatos por uma outra pessoa. Geralmente é um processo mais gradual, onde, imagino, o principal componente talvez seja a pessoa não chegar lá levado pela mão, mas encontrar por si própria a conclusão.
Talvez a conscientização sobre certos tipos de coisas* possa ser mais eficiente se não se tentar levar as pessoas diretamente até a conclusão que se têm a partir dos fatos, mas um discurso mais "agnóstico", que forneça aquilo que as pessoas precisam para chegar àquela conclusão por si próprias.
Claro que isso são só linhas gerais extremamente vagas, e há versões menores do problema dentro do problema. Por exemplo, evolução e criacionismo. Poderia se tentar exposições dos fatos pertinentes de forma que deixe a conclusão (evolução) menos explícita, mas ainda haverá problemas com alguns elementos como falar de "intermediários entre os macacos e o homem" de forma vaga, o que poderá fazer soar o alarme "homem de Piltdown", criando uma resistência que não haveria com uma exposição ainda mais cuidadosa que, "sorrateiramente" lidasse com os fatos acerca do homem de Piltdown de forma a talvez conseguir o efeito "hum... então o homem de Piltdown não foi uma falsificação por uma conspiração de ateus com o intuito de provar a evolução", prevenindo a reação que haveria de outra forma.
Um ponto bastante importante, supondo que tal "esquema" seja realmente superior a uma exposição mais enfocada ou enfática na conclusão comumente rejeitada, seria fazer isso de forma honesta. Não se pode fingir não ter tido a conclusão, ainda que isso não implique em não poder omití-la quando não for estritamente necessário mencioná-la para acrescentar fatos pertinentes que estejam faltando à discussão, ou minimizar tanto quanto for possível a ênfase sobre ela.
Acho que essa idéia segue mais ou menos as mesmas linhas do
"discurso socrático" (ou "método socrático"), embora eu não conheça realmente muito sobre isso, só li alguma vez uma descrição há vários anos.
* agora não me lembro se o texto chegou a abordar esse ponto, mas não é apenas com questões às quais as pessoas tenham algum apego ideológico que o efeito ocorre, pode ocorrer também com fatos mais triviais, os quais as pessoas não teriam problema em aceitar uma correção. O problema é simplesmente que, ao refutar um mito, normalmente acabamos repetindo-o em um momento ou outro, o que acaba tendo um efeito de "reforço", não de correção. Acho que especialmente se isso já acontece nos "títulos" de textos ou palestras. Se as pessoas aprendem previamente que "A causa B", então exposições na forma de "O mito de que A causa B" acabam tendo o efeito de reforçar "A causa B"; o ideal supostamente seria alco como (talvez) "as verdadeiras causas de B", ou "Os verdadeiros efeitos de A".