Sim Temma, higienista. A maior feira da cidade se chama Feira Hippie e é óbvia a tentativa de exterminar todos os hippies da cidade, não foram só aqueles de uma área de 200m² onde não existe estrutura para a atividade. Claro que você está certo e a comparação com a repressão dos anos 70 procede.
o fato de existir uma área reservada ao comércio de artesanato só significa isso. que naquele lugar o comércio é tolerável. Isso não impede que sejam combatidos em outras áreas. E política higienísta não é algo dos anos 70, o prefeito do Rio com seu "choque de ordem", promoveu a retirada de mendigos(creio que apenas de zonas nobres), muito mais pensando em "embelezar" a cidade, que em recuperá-los.
Há uma reportagem na revista piauí muito boa, sobre o tema. se se interessar:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-44/questoes-intrataveis/morar-na-rua-em-ipanema
E quando eu falo que o poder público está atendendo a interesses particulares, eu faço referência aos interesses de lojistas, que não raro se opoem tanto aos ambulantes, quanto aos camelôs e também aos hippies sujos.
Nesse caso o conflito se assemelha entre o de moradores e o de mendigos, e não me parece em nenhum dos casos que o Estado deixou de tomar partido.
E sim, eu estou presumindo que pode ter havido uma comoção dos lojistas para a retirada dos artesãos, exercendo influência sobre a prefeitura. Eu posso estar errado (a praça sete fica num bairro comercial?), mas eu estou procurando as razões por trás da arbitrariedade da ação policial, apenas isso. POsso estar dando um tiro no escuro, mas minha observação não reduz a arbitrariedade da ação.
Temma, vou tentar te explicar só mais uma vez. Depois, você pensa o que quiser e eu vivo com isso.
Há cerca de 10 anos, Belo Horizonte era assolada pela praga dos camelôs. Era impossível transitar pelas calçadas de tantos vendedores ambulantes que existiam, forçando os pedestres a andarem no meio das ruas e tornando o trânsito um caos. Além da sujeira, ainda haviam diversos camelôs que davam fuga ou abrigo para os pivetes que furtavam livremente no meio da zona que era a cidade.
Diante disto, foi criado um shopping popular (hoje são 5) pára abrigar todos os camelôs da cidade, devidamente registrados e com a oportunidade de legalizar a atividade. Funcionou a contento e desde então, as calçadas de Belo Horizonte ficaram limpas.
No caso concreto do documentário, uma quadra de 200m², que pela ocupação dos hippies se tornou uma espécie de "corredor polonês", passou a causas diversos transtornos a quem passava ali. A criminalidade aumentou praticamente ao mesmo tempo em que eles passaram a ocupar o local e pequenos furtos começaram a explodir nas estatísticas. Veja bem, NO LOCAL. Os hippies ainda estão espalhados em praticamente toda a cidade, onde caminham vendendo seus produtos sem serem importunados.
Após as cenas serem fotografadas e gravadas e alguns pivetes terem "dado a fita" de que passavam os produtos furtados pros hippies, várias abordagens foram realizadas, mas não dá pra prender uma pessoa por possuir partes de um relógio ou cordão desmontado sem que haja uma vítima para representar. E as vítimas raramente corriam atrás desse prejuízo.
Então, a prefeitura pediu várias vezes para que eles deixassem AQUELE LOCAL, e voltassem a realizar a atividade itinerante como outros 1000 hippies pela cidade fazem. Eles nunca obedeceram. Por que? Se por ali estarem ganhando mais com os produtos furtados ou por quererem fazer valer sua liberdade de ir e vir? Vai saber. Sei que não saíram. A solução? A prefeitura soltou a fiscalização sistematicamente em cima deles, novamente, NAQUELE LOCAL. Nenhum hippie em nenhum outro lugar da cidade foi importunado. O negócio era tirarem eles daquela área que é o centro da cidade, onde passam milhares de pessoas todos os dias.
Não há moradores na região e o quarteirão onde eles permanecem é fechado, tendo uma lanchonete em uma esquina e uma pequena galeria que tem uma das entradas voltadas para o quarteirão fechado com algumas lanchonetes e lojas que vendem produtos para os artesãos (fios, sementes, pedras) e que lucram com a presença deles. De resto, o quarteirão é só uma parede dos de um dos lados e essas lojas do outro.
Logo após as operações de fiscalizações, mesmo sem a presença da polícia, os hippies deixaram de se concentrar ali e foram para a praça da rodoviária. Resultado? As ocorrências de furtos passaram imediatamente pra lá. E esse quarteirão fechado se tornou novamente ponto de encontro de diversos outros grupos que haviam sido expulsos pelos hippies que se juntavam e mandavam a molecada andar. Estudantes, anarquistas, metaleiros, sk8ters e semelhantes voltaram a frequentar o local. Um ou outro hippie ainda fica por lá, mas não mais em número suficiente pra causar problemas.
Agora, se você ainda acha que existe uma ação geral, realmente, não posso fazer nada.
Tép.