Autor Tópico: O fetiche da educação  (Lida 4386 vezes)

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Offline Dbohr

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #25 Online: 06 de Outubro de 2011, 12:04:46 »
É, não vai ser hoje, nem amanhã. Primeiro, os alunos precisam ir para a escola sabendo que vão aprender alguma coisa lá sem serem interrompidos por banalidades como merenda estragada/ desviada, professores ausentes/ despreparados, espaço escolar decente, família estruturada...

Mas nas linhas mais gerais possíveis, sustento o meu ponto inicial: expor crianças e jovens ao maior número possível de disciplinas e diferentes formas de produzir conhecimento é fundamental. Tão fundamental que tomo isso por axioma. O resto é discussão sobre como implementar -- ou deveria ser :)

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #26 Online: 13 de Julho de 2012, 01:21:08 »
<a href="http://www.youtube.com/v/NK0Y9j_CGgM&amp;feature=related" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/NK0Y9j_CGgM&amp;feature=related</a>

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #27 Online: 01 de Setembro de 2016, 22:36:22 »
Citar
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/06/090604_economist_educacao_cq.shtml

Um artigo na edição mais recente da revista britânica The Economist traça um panorama da situação da educação no Brasil e afirma que a má qualidade das escolas, "talvez mais do que qualquer outra coisa", é o que "freia" o desenvolvimento do país.

...

"Até a década de 1970, a Coreia do Sul era praticamente tão próspera quanto o Brasil, mas, ajudada por seu sistema escolar superior, ela saltou à frente e agora tem uma renda per capita cerca de quatro vezes maior".

...

"A conquista do mundo - mesmo a amigável e sem confrontos que o Brasil busca - não virá para um país onde 45% dos chefes de famílias pobres têm menos de um ano de escolaridade", diz a publicação.

Rhyan

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #28 Online: 03 de Setembro de 2016, 22:04:10 »
Existe uma correlação entre educação e produtividade. Infelizmente no Brasil educação não é considerado mercadoria e raramente tem como objetivo formar profissionais. Estão mais preocupados em "identidade de gênero", marxismo, moral e bons costumes, religião, criacionismo, politicamente correto, do que as coisas mais básicas como matemática, português e ciência.

Achar que basta colocar uma quantidade mágica de dinheiro público ("10% do PIB") num sistema fracassado vai resolver o problema é de uma imbecilidade forte. O mesmo vale para o sistema de saúde, que até mais improvável de se criar algo minimamente razoável através do estado.

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #29 Online: 20 de Março de 2018, 09:14:19 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.

A maioria dos estudantes, que não visam uma instituição de ensino superior e/ou  um curso muito concorrido,  fingem  estudar várias coisas inúteis porque:

1)Querem obter o título que é requisitado ao tentar uma vaga de emprego;


Um percentual menor  (em comparação com a grande massa) que  é a dos estudantes  que visam uma instituição de ensino superior e/ou  um curso muito concorrido,  estudam várias coisas inúteis porque:


2)Querem fazer uma boa pontuação na prova de vestibular e obter a concorrida vaga.


Grande parte (possivelmente a  maioria) dos  professores do ensino público médio  fingem  ensinar coisas inúteis porque:


1) Precisam estar na sala de aula para não terem problema em receber o salário no final do mês (e mesmo assim muitos conseguem licenças para escapar dessa desagradável tarefa);



« Última modificação: 20 de Março de 2018, 09:20:30 por JJ »

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #30 Online: 20 de Março de 2018, 18:04:52 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural.


Cultura é um conceito extremamente amplo que nem de longe se restringe aos programas  estatais  de educação:


Samba, funk, pancadão também são cultura.

Pratos típicas de todas as regiões do Brasil e na verdade toda a culinária brasileira também é cultura.

O catolicismo então nem se fala, faz parte "brutalmente", extensamente da cultura brasileira.

O protestantismo, e o  "evangelhismo" também já há algum tempo e atualmente fazem parte extensamente da cultura brasileira.

Carnaval e futebol também são cultura.

Fórmula 1, também é cultura, embora esteja em baixa.

Como cozinhar e limpar uma casa também é cultura.

Empinar moto também é cultura.

Rally também é cultura (embora não seja algo muito popular, mas cultura de elite também é cultura).

Aeromodelismo também é cultura.

Ferreomodelismo também é cultura.

Plastimodelismo também é cultura.

Jogo de Tênis também é cultura.

Ciclismo também é cultura.

Pingue-Pong também é cultura.

Novelas brasileiras também são cultura.

Filmes brasileiros e internacionais também são cultura.

Aché também é cultura.

Rock nacional e internacional também é cultura.

Cerveja também é cultura.

Salgadinhos e tira gostos também são cultura.

Pastel também é cultura.

Cachorro-quente também é cultura.

Fazer amizades também é cultura, reunir com amigos idem.

Namorar também é cultura.

Falar sem ser de acordo com a norma culta também é cultura.

Contar piadas também é cultura.

Viajar e fazer turismo  também é cultura.

Escotismo também é cultura.

Política também é cultura.

Torcida organizada de futebol também é cultura.

Jogar xadrez também é cultura.

Ver o programa  do Faustão e/ou o do Luciano Huck também é cultura.

Xingar os esquerdistas no Facebook também é cultura.

Xingar os direitistas no Facebook também é cultura.

Escrever textão no Facebook também é cultura.

Capinar também é cultura,

Plantar milho também é cultura.

Plantar mandioca também é cultura.

Plantar tomate também é cultura.

Plantar soja também é cultura.

Plantar mamão também é cultura.

Plantar melão também é cultura.

Plantar cana de açúcar também é cultura.

Fazer pinga também é cultura.

Beber pinga também é cultura.

Plantar abacaxi e fazer suco de abacaxi também é cultura.

Plantar laranja e fazer suco de laranja também é cultura.




« Última modificação: 20 de Março de 2018, 18:15:25 por JJ »

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #31 Online: 20 de Março de 2018, 18:24:23 »
Não terminei de ler o segundo texto, mas de cara vejo um defeito. Arte e esporte não têm valor absoluto, [...]


Nada tem valor absoluto. O valor vem da necessidade/déficit  que cada sujeito específico tem em cada tempo, espaço  específico. Conforme esteja o sujeito, as suas necessidades podem variar, mudar, e consequentemente também os seus valores.

Apenas para exemplificar, numa situação normal 100 L de água potável (de torneira) não valem quase nada para um sujeito X, já se o mesmo sujeito X se acidentasse num deserto e ficasse 24 h sem água, ele seria capaz de dar 500 toneladas de ouro puro por aqueles 100 L de água potável.


« Última modificação: 20 de Março de 2018, 18:52:22 por JJ »

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #32 Online: 20 de Março de 2018, 18:36:45 »
Aviso: ainda não li o segundo texto.

Textinho falacioso, esse...

   
                                                             
 O fetiche da educação


Um dos truísmos mais repetidos por pessoas bem-intencionadas é que "o problema do Brasil é a educação", ou que "o país não progredirá enquanto não melhorarmos a educação". Isso, porém, é falso.

O que é necessário para o famoso progresso nacional é a melhora das instituições, a segurança jurídica, a tranquilidade em relação à propriedade, a facilidade para empreender.

Se você tem muita educação, mas não tem mercado em que as pessoas possam trabalhar, não tem oportunidades para essa gente toda, acaba ficando com 45 pessoas com PhD fazendo concurso para gari*. Há também o famoso brain drain, também conhecido como "fuga de cérebros". Afinal, você não estuda astrofísica para esperar pelo concurso para gari.

(Não venham dizer que é injusto a pessoa estudar em universidade pública e depois sair do país. A pessoa paga impostos, e nunca para de pagar, faça faculdade pública ou não. Na pior das hipóteses, estão todos quites.)


Fonte: http://www.pedrosette.com/2009/11/o-fetiche-da-educacao.html

Espantalho: ninguém que defende a educação como forma de alavancar o desenvolvimento do Brasil está propondo que todos sejamos doutores.


Citar a formação de doutores certamente é um exagero, mas  afirmar que grande parte do conteúdo do EM é dispensável para uma grande quantidade de profissões certamente é verdadeiro.


Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #33 Online: 20 de Março de 2018, 18:41:51 »
Sim, mas aí é uma questão de discutir a apresentação e não os temas em si.


Os temas em si podem e deveriam ser discutidos sim. Apenas para exemplificar,  programas inteiros de química, e/ou física e/ou literatura de EM não são necessários  para  que muitas e muitas pessoas sejam bons profissionais em diversas profissões.  Tais conteúdos/programas deveriam ser no máximo opcionais.  Deveriam ser de livre escolha para o indivíduo.




« Última modificação: 21 de Março de 2018, 13:56:22 por JJ »

Offline Pedro Reis

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #34 Online: 20 de Março de 2018, 18:43:05 »
É tão simples: só educação pode não resolver ( vide Cuba )

Mas sem educação não se resolve.

Podem encerrar o tópico.

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #35 Online: 20 de Março de 2018, 18:46:24 »
Sem dúvida que é possível e necessário discutir o que deve ou não constar no programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física -- desde que HAJA um programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física



Não, não é necessário que haja um programa obrigatório (para todos estudantes) de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física.  Muitos profissionais não precisam de uma ou mais de uma dessas disciplinas, para serem bons profissionais.








Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #36 Online: 20 de Março de 2018, 18:49:00 »
É tão simples: só educação pode não resolver ( vide Cuba )

Mas sem educação não se resolve.

Podem encerrar o tópico.


A questão não é eliminar toda e qualquer educação, eu não fiz tal proposta. A questão é a maior  liberdade  possível  para que pais, e alunos e escolas escolham livremente o que eles considerem ter maior valor de  estudar ,  e aprender.



Offline Zero

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #37 Online: 20 de Março de 2018, 19:15:16 »
Sem dúvida que é possível e necessário discutir o que deve ou não constar no programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física -- desde que HAJA um programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física



Não, não é necessário que haja um programa obrigatório (para todos estudantes) de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física.  Muitos profissionais não precisam de uma ou mais de uma dessas disciplinas, para serem bons profissionais.

Exato, não precisam, mas na bagagem intelectual fará falta, isso considerando que o indivíduo de o mínimo de atenção para esse aspecto.

É tão simples: só educação pode não resolver ( vide Cuba )

Mas sem educação não se resolve.

Podem encerrar o tópico.


A questão não é eliminar toda e qualquer educação, eu não fiz tal proposta. A questão é a maior  liberdade  possível  para que pais, e alunos e escolas escolham livremente o que eles considerem ter maior valor de  estudar ,  e aprender.

No caso, o que propõe em parte a nova Reforma do Ensino Médio.

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #38 Online: 20 de Março de 2018, 19:23:25 »
Sem dúvida que é possível e necessário discutir o que deve ou não constar no programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física -- desde que HAJA um programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física


Não, não é necessário que haja um programa obrigatório (para todos estudantes) de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física.  Muitos profissionais não precisam de uma ou mais de uma dessas disciplinas, para serem bons profissionais.

Exato, não precisam, mas na bagagem intelectual fará falta, isso considerando que o indivíduo de o mínimo de atenção para esse aspecto.



Só quem tem que decidir livremente qual "bagagem intelectual"  deve-se ter é o próprio indivíduo (no máximo com interferência dos pais) e não burocratas do Estado.



Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #39 Online: 20 de Março de 2018, 19:26:42 »
A questão não é eliminar toda e qualquer educação, eu não fiz tal proposta. A questão é a maior  liberdade  possível  para que pais, e alunos e escolas escolham livremente o que eles considerem ter maior valor de  estudar ,  e aprender.

No caso, o que propõe em parte a nova Reforma do Ensino Médio.


Foi bem fraca, a liberdade deveria ser muito mais ampla, do que essa pequena concessão que foi feita pelo Estado.


Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #40 Online: 20 de Março de 2018, 20:30:52 »
Vendo e revendo estes posts, e também ouvindo comentários e opiniões ao vivo ou na TV,  fico com a impressão de que a ideia de  que se deveria conceder mais liberdade para as pessoas e menos poder para o Estado, ainda encontra muita resistência.  Fico com a impressão de que o desejo de controlar os comportamentos  das outras pessoas, e de impor os próprios valores sobre as outras pessoas, ainda é algo muito forte nas pessoas.  Parece que quase todos nós cultivamos um certo grau de autoritarismo em nossas mentes, uns em menor grau, e outros em maior grau, alguns chegando a graus  bem elevados.

« Última modificação: 20 de Março de 2018, 20:34:12 por JJ »

Offline Gauss

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #41 Online: 20 de Março de 2018, 22:06:51 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.
Certamente o Dbohr não teve que pagar cadeiras como "América Latina e Sustentabilidade Socioambiental", ou "Afrodescendentes na América Latina ", ou "Povos Indígenas na América Latina Contemporânea", ou "Antropologia Filosófica e Tecnociência " cursando ENGENHARIA ELÉTRICA! Sim , eu tive que pagar por cadeiras com esses nomes cursando ENGENHARIA na universidade onde estudo.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #42 Online: 21 de Março de 2018, 13:40:37 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.
Certamente o Dbohr não teve que pagar cadeiras como "América Latina e Sustentabilidade Socioambiental", ou "Afrodescendentes na América Latina ", ou "Povos Indígenas na América Latina Contemporânea", ou "Antropologia Filosófica e Tecnociência " cursando ENGENHARIA ELÉTRICA! Sim , eu tive que pagar por cadeiras com esses nomes cursando ENGENHARIA na universidade onde estudo.


Mas,  essas disciplinas contribuíram para você aumentar a sua cultura.  Com isso você ficou culturalmente mais rico.  Você deveria estar agradecido aos  sábios  que escolheram e decidiram para o seu bem essas disciplinas que você  teve  que fazer,  para o bem de sua  expansão cultural.

E não venha com o argumento pobre de que isso não servirá realmente em sua profissão,  afinal de contas o que é realmente importante é alargar o seu horizonte cultural.




« Última modificação: 21 de Março de 2018, 13:44:02 por JJ »

Offline Zero

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #43 Online: 21 de Março de 2018, 18:28:03 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.
Certamente o Dbohr não teve que pagar cadeiras como "América Latina e Sustentabilidade Socioambiental", ou "Afrodescendentes na América Latina ", ou "Povos Indígenas na América Latina Contemporânea", ou "Antropologia Filosófica e Tecnociência " cursando ENGENHARIA ELÉTRICA! Sim , eu tive que pagar por cadeiras com esses nomes cursando ENGENHARIA na universidade onde estudo.


Mas,  essas disciplinas contribuíram para você aumentar a sua cultura.  Com isso você ficou culturalmente mais rico.  Você deveria estar agradecido aos  sábios  que escolheram e decidiram para o seu bem essas disciplinas que você  teve  que fazer,  para o bem de sua  expansão cultural.

E não venha com o argumento pobre de que isso não servirá realmente em sua profissão,  afinal de contas o que é realmente importante é alargar o seu horizonte cultural.

Há cultura "útil" e cultura "inútil", alargar o horizonte cultural não significa engolir informações que não farão nenhuma diferença significativa em sua vida.

Offline Geotecton

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #44 Online: 21 de Março de 2018, 20:11:24 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.
Certamente o Dbohr não teve que pagar cadeiras como "América Latina e Sustentabilidade Socioambiental", ou "Afrodescendentes na América Latina ", ou "Povos Indígenas na América Latina Contemporânea", ou "Antropologia Filosófica e Tecnociência " cursando ENGENHARIA ELÉTRICA! Sim , eu tive que pagar por cadeiras com esses nomes cursando ENGENHARIA na universidade onde estudo.


Mas,  essas disciplinas contribuíram para você aumentar a sua cultura.  Com isso você ficou culturalmente mais rico.  Você deveria estar agradecido aos  sábios  que escolheram e decidiram para o seu bem essas disciplinas que você  teve  que fazer,  para o bem de sua  expansão cultural.

E não venha com o argumento pobre de que isso não servirá realmente em sua profissão,  afinal de contas o que é realmente importante é alargar o seu horizonte cultural.
Há cultura "útil" e cultura "inútil", alargar o horizonte cultural não significa engolir informações que não farão nenhuma diferença significativa em sua vida.

E como você traça o limite para aplicar este 'utilitarismo'?
Foto USGS

Offline Zero

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #45 Online: 21 de Março de 2018, 20:27:07 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.
Certamente o Dbohr não teve que pagar cadeiras como "América Latina e Sustentabilidade Socioambiental", ou "Afrodescendentes na América Latina ", ou "Povos Indígenas na América Latina Contemporânea", ou "Antropologia Filosófica e Tecnociência " cursando ENGENHARIA ELÉTRICA! Sim , eu tive que pagar por cadeiras com esses nomes cursando ENGENHARIA na universidade onde estudo.


Mas,  essas disciplinas contribuíram para você aumentar a sua cultura.  Com isso você ficou culturalmente mais rico.  Você deveria estar agradecido aos  sábios  que escolheram e decidiram para o seu bem essas disciplinas que você  teve  que fazer,  para o bem de sua  expansão cultural.

E não venha com o argumento pobre de que isso não servirá realmente em sua profissão,  afinal de contas o que é realmente importante é alargar o seu horizonte cultural.
Há cultura "útil" e cultura "inútil", alargar o horizonte cultural não significa engolir informações que não farão nenhuma diferença significativa em sua vida.

E como você traça o limite para aplicar este 'utilitarismo'?

Opinião e gosto pessoal. Há quem veja utilidade em aprender sobre elemento a, mas não sobre elemento b, ou mesmo quem ache interessante aprender sobre ambas ou não vê nada de interessante em nenhuma dessas.
« Última modificação: 21 de Março de 2018, 20:29:26 por Zero »

Offline JJ

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #46 Online: 23 de Março de 2018, 18:45:22 »
Etapa foca apenas no preparo para o vestibular, mas não prepara jovens "para o mundo", segundo educadores e estudantes



Até a 8ª série, Evelyn Manuel Rodrigues era a típica boa aluna, com caderno caprichado, gosto pelos estudos e notas acima da média. Na 1ª série do ensino médio, seu rendimento caiu, faltou várias vezes às aulas, chegou atrasada tantas outras, acabou reprovada e desistiu de estudar. Longe de ser uma exceção, ela entrou para um grupo que consiste na metade dos estudantes desta etapa de ensino: os que desistem antes de terminá-la. A escola não consegue manter o interesse dos adolescentes.


A falta de atratividade é tema da segunda reportagem da série do iG Educação sobre o ensino médio . Além dos alunos que deixam de estudar nesta fase, muitos dos que ficam não demonstram vontade de aprender, o que contribui diretamente para torná-la a pior etapa da educação brasileira.

 Para especialistas, ensino médio com o o currículo atual é inútil para a maioria dos estudantes
Guilherme Lara Campos/Fotoarena


Para especialistas, ensino médio com o o currículo atual é inútil para a maioria dos estudantes


“O ensino médio, como está, é algo inútil na vida da maioria dos jovens”, afirma Elizabeth Balbachevsky, livre docente do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora participante de grupos internacionais na área de educação para jovens. Para ela, a orientação para o vestibular, objetivo de quase todas as escolas desta etapa, é um desperdício.


A pior etapa da educação do Brasil Opinião: Adolescentes procuram escola só por diploma “Para quem não está na perspectiva de entrar na faculdade, a sala de aula não tem nada a oferecer. O ensino brasileiro tem uma carga muito forte, toda preparatória para o acesso à universidade e não para a vida ou o curso superior em si”, comenta. O problema é que a maioria não vai prestar o tão esperado processo seletivo, principalmente antes de experimentar primeiro o mercado de trabalho: só 15% dos jovens brasileiros de até 29 anos fizeram ou estão fazendo um curso superior. Nos países mais desenvolvidos esta porcentagem dobra, mas ainda fica muito longe de ser maioria.


O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, concorda que o foco do ensino médio precisa ser ajustado. “No mundo todo, a fase tem um caráter terminativo. Dali para frente a pessoa está preparada para começar a vida adulta, pode até ser na faculdade, para quem quer, mas também pode ser trabalhando ou em qualquer projeto. A educação básica está concluída”, diz.


 Para Ayrton Souza, única função do ensino médio é preparar para o vestibular
Amana Salles/Fotoarena



Hoje aos 19 anos, Evelyn Rodrigues, a jovem que abre esta reportagem, percebeu a falta que lhe faz os estudos. Nos três anos em que ficou longe da sala de aula, trabalhou como tosadora de cães, foi morar com o namorado e ficou grávida. “Nesta época, eu queria trabalhar. Quando arrumei um emprego, achei que estava aprendendo mais lá do que na escola. A aula parecia não ter muito a ver com minha vida. Agora sei que era fundamental para melhorá-la.”

“Acho que a escola podia dar um curso”


Os alunos do ensino médio reconhecem o objetivo pré-vestibular da escola. Ao ser questionado sobre para que serve essa fase, Ayrton Senna da Silva Souza, de 16 anos, estudante do 3º ano na escola estadual José Monteiro Boanova, no Alto da Lapa, área nobre de São Paulo, resume a função em uma frase: “Para mim, esta é a etapa que vai mostrar quem está pronto para entrar na faculdade”, disse.


 Recém-formado, Carlos Educardo Dias acha que a escola podia ter oferecido
Amana Salles/Fotoarena


Recém-formado, Carlos Educardo Dias acha que a escola podia ter oferecido "cursos" que ajudassem na busca do emprego


Quando a pergunta é o que gostariam que a escola oferecesse, a resposta muda. “Um curso”, responde Carlos Eduardo Dias, de 18 anos, que se formou na mesma unidade em dezembro. Ele espera fazer curso superior um dia, quando souber melhor em que área quer se especializar e tiver dinheiro para pagar a mensalidade. Enquanto isso, trabalha como auxiliar em uma concessionária de veículos. “Tive sorte de ser indicado, mas acho que a escola podia dar um curso que ajudasse mais, de informática, de vendas, algo assim.”


Outra colega do 3º ano, Eliza Rock da Silva, de 17 anos, mesmo tendo a universidade como meta, gostaria de ter mais autonomia e um ambiente melhor para aprender. “Acho que se os alunos tivessem o direito de escolher parte do curso, diminuiria o desrespeito pelos professores e, quem tem interesse, conseguiria estudar. Eu gostaria.”


A superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engel, sugere, além de conteúdos voltados ao mercado de trabalho, mais atividades culturais e esportivas. Ela lembra que até pouco mais de uma década, o ensino médio era uma "festa" para os jovens que tinham acesso a ele. Os alunos se envolviam em grêmios estudantis, festivais culturais, competições esportivas e outras atividades que desapareceram da maioria das instituições. Para a educadora, só há dois motivos capazes de manter os jovens na escola: “ou eles vão porque vale o esforço, vão aprender algo útil e conseguir emprego; ou porque há atrações que os envolvem”.


 Para Eliza, mais autonomia geraria respeito em sala de aula para interessados poderem estudar
Amana Salles/Fotoarena


Nem só o mercado de trabalho precisa de jovens bem formados. O professor de Políticas Educacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Pablo Gentili, lembra que os jovens também são cidadãos, eleitores e ajudam a definir a cara da sociedade brasileira por gerações. "O ensino médio deveria se preocupar com a formação do ser humano", resume.


Ele entende que a adolescência é um momento de transformação da pessoa e, portanto, é essencial que bons valores sejam apresentados. "O ensino médio é uma oportunidade ímpar para que o jovem se depare com o conhecimento que vai torná-lo ativo e produtivo”, afirma.


Para ele, em vez de um conteúdo voltado ao vestibular ou ao mercado de trabalho imediato, as escolas deveriam focar nas disciplinas que ampliam o entendimento do mundo em que vivem, com noções de política, filosofia, sociologia, ciências, português e matemática. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tenta atrair a escola para esses focos, ao solicitar nas provas de acesso a boa parte das universidades públicas mais conhecimentos gerais e capacidade de raciocínio do que conteúdos específicos. “Um cidadão melhor se tornará, inclusive, bom profissional.”


Ainda esta semana:

Quarta-feira: O que significa a má qualidade indicada nos índices?
Quinta-feira : Falta o mínimo: professores qualificados
Sexta-feira: Iniciativas que podem mudar este quadro


Fonte: Último Segundo - iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/ensino-medio-afasta-aluno-da-escola/n1238085086879.html


« Última modificação: 23 de Março de 2018, 18:51:38 por JJ »

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #47 Online: 23 de Março de 2018, 18:50:50 »



Enquanto insistirem com matérias praticamente inúteis para uma grande quantidade de alunos do ensino médio público, o resultado continuará sendo uma grande maioria de estudantes desinteressados  (no conhecimento em si dessas matérias), e uma grande maioria de professores frustrados tentando inutilmente fazer com que outras pessoas  passem a gostar do que não gostam (do que não veem utilidade), isso em relação aos professores que ainda acreditam nisso, pois uma boa parte nem deve acreditar mais nisso.


O resultado continuará a ser o duplo fingimento  de uma grande maioria de alunos e professores. 


« Última modificação: 23 de Março de 2018, 18:53:07 por JJ »

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #48 Online: 28 de Março de 2018, 14:02:47 »

Conrad Wolfram: “80% do que se aprende nas aulas de matemática não serve para nada”

Físico, que ficou conhecido após palestra no TED viralizar e que está mudando o ensino de matemática, aposta no fim dos cálculos à mão


Conrad Wolfram (Oxford, 1970) avalia que nós temos um problema com a matemática. Ninguém está satisfeito: os estudantes acham que é uma matéria difícil e desinteressante, os professores se sentem frustrados com os resultados de seus alunos e os governos sabem que ela é importante para a economia, mas não sabem como atualizar os currículos escolares. “Vivemos em um mundo cada vez mais matemático, mas o seu ensino está estancado”, avalia Wolfram, físico e matemático formado pela Universidade de Cambridge e fundador da Computer Based Math, uma empresa focada na revisão do ensino da matemática que lançou há dois anos o seu programa piloto numa parceria com o Governo da Estônia.


Em 2010, Wolfram chamou a atenção de educadores e especialistas em educação de várias partes do mundo com sua palestra na TED intitulada Como ensinar a matemática do mundo real às crianças, que teve mais de 1,5 milhão de reproduções e na qual analisa os motivos pelos quais os estudantes perderam o interesse pela disciplina que está por trás das “mais emocionantes criações da humanidade”, desde os foguetes até as bolsas de valores.

Um excesso de horas dedicadas a aprender a calcular grandes equações e fazer contas em geral. Essa é a grande falha, segundo Wolfram, que aposta na introdução da computação nas salas de aula, deixando que as máquinas façam os cálculos.


Pergunta. Se as crianças não aprenderem a calcular, fazendo as operações com o computador, como irão entender o que estão fazendo?


Resposta. Os matemáticos vão me odiar por dizer isto, mas antes da existência dos computadores a matemática não era muito útil no dia a dia, para a vida em geral. Como em qualquer campo em que se utilizam muitos dados, como a física, a biologia ou a saúde, a computação elevou a matemática um novo patamar. Os problemas reais do século XXI só podem ser solucionados com o uso do computador, por isso ele deve entrar no sistema educacional como uma parte fundamental da disciplina de matemática. Não tem mais sentido que as crianças façam cálculos de equações de segundo grau em sala de aula; é preciso ensiná-las a interpretar os dados e a explorar a matemática em toda a sua utilidade. Tudo bem ensinar o seu funcionamento básico, mas complicar isso tudo até o esgotamento é uma estratégia equivocada que distancia o aluno da disciplina para o resto da vida. Basta dar o exemplo da condução: não é preciso entender o funcionamento do motor para dirigir um carro.


P. Alguns especialistas dizem que o cálculo ajuda a apreender o sentido dos números e constitui uma boa ferramenta para treinar a tomada de decisões.


R. Quando foi a última vez que você multiplicou 3/17 por 2/15? Provavelmente aprendeu a fazer isso na escola, mas nunca mais voltou a fazer essa conta. Muitos especialistas dirão que ao multiplicar frações você aprende, mas, na verdade, está apenas relembrando um determinado procedimento. Na verdade, não entende para o que faz isso, nem para que isso serve. Um exemplo bastante simples: na equação x+2=4, lhe ensinaram que se você passar o 2 para a direita, o sinal muda e se transforma em menos 2. Nesse caso você também não entende o que está fazendo. A matemática tradicional já não faz sentido e provavelmente 80% do conteúdo das aulas não é útil e você jamais utilizará fora da escola.


Não faz mais sentido que durante as aulas as crianças façam elas mesmas os cálculos de equações de segundo grau


P. Alguém poderia objetar que deixar que o computador faça os cálculos na idade de aprendizado é coisa de preguiçoso.


R. Tentar saber como é que o computador funciona não requer menos trabalho para o cérebro. Muito pelo contrário. Os problemas a serem resolvidos são muito mais complexos, e é aí que as crianças deveriam ser treinadas. A programação é algo que hoje equivaleria ao cálculo à mão. Saber dizer ao computador de forma muito precisa, com códigos e números, o que ele tem de fazer. Matemática, programação e raciocínio computacional devem fazer parte de uma mesma disciplina.


P. Poderia dar um exemplo de uma situação da vida real do que o senhor está falando?

R. Se eu lhe mostro os dados de dois sites e pergunto qual dos dois funciona melhor, a primeira pergunta que você deve fazer é o que significa melhor. Pode ser o tempo que os usuários passam em cada um deles ou as vezes que têm de clicar em algumas das abas... No mundo real, você pode usar a machine learning ou a análise estatística para medir e analisar resultados. Escolher qual opção funciona melhor em cada caso é complicado, e esse tipo de conhecimento não é ensinado na escola. A matemática é muito mais do que cálculos, embora seja compreensível que durante centenas de anos tenhamos dado tanta importância a isso, pois só havia uma forma de fazê-lo: à mão. Acontece que a matemática se libertou do cálculo, mas essa libertação ainda não chegou ao ensino.


P. Sua empresa reinventou a disciplina da matemática, introduzindo a computação e novas habilidades a serem avaliadas, como a comunicação matemática. Como foi que conseguiu convencer o Governo da Estônia a implantar essa concepção nas escolas públicas?


R. Com 1,3 milhão de habitantes, a Estônia é considerado o país mais digitalizado da Europa. Seus habitantes podem votar, pagar impostos, acessar arquivos médicos ou registrar uma empresa a partir de seus computadores caseiros em poucos minutos. No último relatório PISA, o país ultrapassou os finlandeses em ciências e matemática e se tornou a nova referência em termos de inovação educacional na Europa. Há três anos, eu conheci em um colóquio o seu Ministro da Educação, que é físico. Dois anos depois, lançamos o primeiro projeto piloto, que está sendo adotado em 10% das escolas públicas do país. Focamos a disciplina, no caso dos estudantes do ensino médio, em probabilidade e estatística e mudamos o sistema de avaliação. Os alunos aprendem a resolver questões reais, como, por exemplo: as meninas são melhores em matemática? Minha estatura está na média? Estamos conversando também com a Irlanda e com a Austrália.


P. Já tentou oferecer o seu programa a escolas inovadoras do Reino Unido?


R. O colégio frequentado pela minha filha, que tem 13 anos, modernizou a disciplina de história. Na nossa época, costumávamos decorar datas e fatos históricos. Agora, o foco está em como pesquisar. O seu primeiro trabalho foi analisar a história da própria escola. O currículo de matemática, porém, continua intocado e estancado. A barreira fundamental, para as escolas, é o diploma; atingir os padrões de conhecimento predeterminados para poder entrar na faculdade. Um fato chama atenção: temos detectado que os países que ocupam as melhores posições no PISA são aqueles que estão mais abertos às mudanças, enquanto os outros, como no caso da Espanha, que está estagnada há 15 anos na mesma posição, são mais resistentes a elas.

A barreira, para as escolas, é o diploma; atingir os padrões para o aluno poder entrar na faculdade


P. A palestra na TED de 2010 marcou uma virada em sua carreira?


R. Trabalhei durante mais de 30 anos com meu irmão em nossa empresa de software Wolfram Research, que tem sede em Illinois, nos Estados Unidos, e conta com cerca de 500 funcionários. No mesmo ano da palestra na TED, eu montei um pequeno departamento em Oxford, com umas 30 pessoas, dedicado exclusivamente a repensar a disciplina da matemática. Nosso lema é redesenhar a matemática reconhecendo a existência dos computadores. A ideia surgiu a partir de um serviço que oferecíamos para a Apple, especificamente para a Siri, o seu sistema de busca por meio de reconhecimento da voz. Se você questiona esse sistema a respeito de qualquer operação matemática complexa, em segundos ele o remete para nós. Foi então que me perguntei por que obrigamos os estudantes a dedicarem tantos anos de suas vidas a aprender o que um telefone resolve em poucos segundos.


P. Acredita que os governos dariam mais atenção às reformas que o senhor propõe se ela partisse de uma grande universidade, com Cambridge, por exemplo?


R. Hoje em dia Cambridge, Oxford, Harvard ou o MIT são organizações comerciais, que buscam o lucro tanto quanto qualquer empresa. Os governos precisam refletir sobre isso e não retirar credibilidade de uma iniciativa determinada só porque ela não vem de uma universidade. O que os paralisa é a falta de evidências, e eles acham que não fazer nada é menos arriscado do que experimentar novos métodos. O sistema educacional está em falta cada vez mais com os estudantes, e isso se explica pela falta de perfis STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Os jovens precisam ver alguma utilidade neles: ter habilidade para diferenciar uma boa hipoteca ou o ceticismo suficiente para questionar as estatísticas divulgadas pelo Governo. A falta de motivação é uma das grandes tragédias da matemática.


https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/30/economia/1509378342_617037.html?rel=str_articulo#1522254708291



 

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