Autor Tópico: O fetiche da educação  (Lida 4385 vezes)

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Offline TMAG

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O fetiche da educação
« Online: 28 de Setembro de 2011, 15:29:09 »
   
                                                             
 O fetiche da educação


Um dos truísmos mais repetidos por pessoas bem-intencionadas é que "o problema do Brasil é a educação", ou que "o país não progredirá enquanto não melhorarmos a educação". Isso, porém, é falso.

O que é necessário para o famoso progresso nacional é a melhora das instituições, a segurança jurídica, a tranquilidade em relação à propriedade, a facilidade para empreender.

Se você tem muita educação, mas não tem mercado em que as pessoas possam trabalhar, não tem oportunidades para essa gente toda, acaba ficando com 45 pessoas com PhD fazendo concurso para gari*. Há também o famoso brain drain, também conhecido como "fuga de cérebros". Afinal, você não estuda astrofísica para esperar pelo concurso para gari.

(Não venham dizer que é injusto a pessoa estudar em universidade pública e depois sair do país. A pessoa paga impostos, e nunca para de pagar, faça faculdade pública ou não. Na pior das hipóteses, estão todos quites.)

Os americanos têm uma expressão de que eu gosto muito, to throw money at the problem, "jogar dinheiro no problema". Não adianta "investir em educação". O governo formará uma geração de garis eruditíssimos, que, pendurados no caminhão da Comlurb, com suas roupas laranja, discutirão as diferenças na fixação dos textos da poesia grega antiga. Eu mesmo já me vejo indo perguntar a alguma simpática varredora de rua se ela considera correta a colocação da vírgula antes ou depois de "Echô" no último verso do Epigrama XXVIII de Calímaco.

Mas não é preciso especular. Já conhecemos engenheiros que dirigem táxis. E quem foi a Cuba e à Rússia já falou de mulheres que sabem física nuclear e trabalham no ramo da satisfação humana. Investimentos em educação, altos impostos, legislação ininteligível, 152 dias para abrir uma empresa: seguindo esse caminho, um dia nossas filhas poderão juntar-se a suas irmãs proletárias daqueles países em que o governo decide tudo e protege as pessoas do maldoso mercado.


Fonte: http://www.pedrosette.com/2009/11/o-fetiche-da-educacao.html
''O objetivo dos Governos é sempre o mesmo: limitar o indivíduo, domesticá-lo, subordiná-lo, subjugá-lo.'' - Max Stirner

Offline TMAG

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #1 Online: 28 de Setembro de 2011, 15:53:04 »
Texto relacionado:

A Egüinha Pocotó

February 15th, 2003 by Sergio de Biasi


“Vou mandando um beijinho
Pra filhinha e pra vovó
Mas não posso esquecer
Da minha égüinha pocotó
Pocotó pocotó pocotó pocotó
Minha égüinha pocotó?”

Me enviaram hoje uma cópia de um artigo cuja abertura é o texto acima.

O artigo prossegue, para esclarecer : “Esse é o grande sucesso da música popular brasileira, que domingo ocupou horas preciosas do horário nobre do programa do Gugu, batendo recordes de audiência.” Mais adiante, o autor comenta : “Eu sou pai. E assisto, consciente de minha impotência diante da máquina da TV, minha filha de 12 anos se divertindo, cantando e dançando o pocotó. Por sorte ela não entende as letras paupérrimas, chulas, apelando para o sexo e tratando as mulheres de éguas e cadelas.”

Concordo totalmente que a degeneração cultural pela qual estamos passando é lamentável, mas não concordo completamente que a causa seja só lavagem cerebral da televisão. As pessoas QUEREM ver a égua pocotó. Logo, há um problema sério com as próprias pessoas, um problema não somente de “nível cultural” (que supostamente as classes média e alta teriam mas vêem egüinha pocotó do mesmo jeito) mas principalmente de valores. É uma coisa comum de se dizer que a educação seria a solução, mas para mim isso é só parte da verdade, só se compreendermos a educação em seu sentido pleno. O principal benefício da educação, a meu ver, não é entulhar a cabeça das crianças com ementas do MEC ou dar-lhes “diplomas” (pfff…). O principal benefício é criar um respeito, uma admiração, um desejo pelo conhecimento e pela cultura. É despertar nas pessoas o gosto pelo mais elevado, pelo mais sofisticado, pelo transcendente. É acordar não só a sua inteligência mas também o seu gosto e sua sede por pensar, refletir, compreender. Pessoas com esse tipo de cabeça não vão suportar 5 segundos de egüinha pocotó. Não somente porque é de mau gosto e idiota, e sim por um motivo mais simples e menos ideológico : porque será chato e vazio. Será como olhar uma folha em branco.

Educadores (pais, professores, etc…) que não sabem ou não se importam em provocar essa mudança, que não puxam as crianças pela mão para fora da infantilidade intelectual e espiritual, são a maior ameaça que temos atualmente à grandeza de nosso país, de nossa civilização, de nossa espécie. A escola tornou-se praticamente uma máquina de ensinar as crianças a achar o conhecimento algo chato, sem sentido, incompreensível e inútil, e os pais freqüentemente concordam.

O que podemos fazer para reverter isso? Considero razoavelmente fútil e provavelmente até danoso achar que o governo, através de algum programa, ministério, subsídio ou seja lá o que for poderá fazer alguma coisa. Tudo em que o governo se mete torna-se instantaneamente impessoal e burocrático. Isso tem que ser uma iniciativa da sociedade, das comunidades, dos pais, dos professores, das igrejas…

Assim sendo, na verdade, acho que até há algo que o governo pode fazer, como na maioria dos casos : parar de atrapalhar. Deixar surgirem mais escolas particulares. Deixar as escolas escolherem suas ementas e cargas horárias. Deixar as escolas escolherem suas mensalidades. Acabar com a obrigatoriedade da matrícula de menores em escolas. Deixar os pais e seus filhos escolherem o que vão estudar e onde. Acabar com a exigência legal de diploma para o exercício da maioria das profissões em que ele é requerido.

“Oh!!!!”, dirão muitos, “Herege! Anarquista! Será o fim da educação!”. Pois eu digo que será o começo da possibilidade de uma educação de verdade.

Da forma como a coisa funciona atualmente, os diplomas são como bens; precisamos adquri-los e para isso devemos seguir certos procedimentos e pagar um certo preço. Feito isso, ganhamos privilégios e benefícios inventados pelo governo. Aprender alguma coisa não tem nada a ver com o assunto.

Se a educação tem algum valor em si, então será mais um recurso desejado por todos, inclusive pelos pobres, talvez nem necessariamente através de uma instituição escolar. E se for numa escola, então será naquela que cada um escolher como adequada às suas necessidades, convicções e ao seu orçamento.

Já dizia Roberto Campos : “Não existe isso de dizer que o governo oferece escola pública gratuita. Toda escola é pública e nenhuma escola é gratuita.” De fato, em nosso país, as escolas em geral, sejam do governo ou particulares, estão abertas a todos e prestam um serviço à parcela de nossa população que as freqüentam, e nesse sentido certamente são públicas. E ambas são pagas, porque o serviço que prestam, naturalmente, tem um custo. No caso das escolas particulares, esse custo é assumido voluntariamente por clientes pagantes. No caso das escolas desse governo, os pagantes somos todos nós, inclusive as famílias dos alunos, através de taxas, impostos e similares, e isso não só é pago involuntariamente como independentemente da qualidade dos serviços que recebemos ou mesmo de se sequer utilizamos esses serviços.

“Mas nesse caso como é que os pobres irão educar seus filhos?”. Eu inverto a pergunta – se o governo cria montes de escolas que educam “de graça”, como é que alguém vai conseguir ganhar dinheiro abrindo escolas para pobres, escolas que concorram entre si e ofereçam serviços que eles possam escolher, selecionar e pagar? Quem diz que isso é irreal, reflita que neste país, na época em que a telefonia estava nas mãos do governo, pobre não tinha telefone. Ponto. Após a privatização do setor, um dos resultado mais óbvios e palpáveis foi que agora não é mais necessário ser rico para ter um telefone. É absolutamente comum atualmente ver porteiros, empregadas domésticas, camelôs, etc… com telefones celulares pré-pagos. As companhias telefônicas estão fazendo isso porque são boazinhas? Não, estão fazendo porque os pobres estão comprando. Elas só acharam um jeito de oferecer um serviço que eles pudessem pagar.

Claro, então demagogicamente, há quem argumente que “Ah, mas a educação que eles poderão pagar será pior que a dos ricos!” É claro que será. Note-se que os pobres também precisam comer, morar, vestir, cuidar da saúde, etc… sua comida, habitação, roupas e atendimento médico também são piores. Talvez, pensam infantilmente alguns, o governo devesse então “dar” aos pobres tudo igual ao que “os ricos” têm. Só que isso é impossível – e não estou falando meramente de impossibilidade social ou econômica. É uma impossibilidade física. Simplesmente não há recursos materiais no mundo para todos viverem em mansões e comerem caviar. Não há como todos viverem segundo os padrões daqueles que usufruem do “melhor”.

Diante disso, surgem os que concluem – “Certo, então vamos tomar o que os ricos têm e distribuir.” Isso não só não resolve absolutamente nada como piora a vida de todos. A dos ricos é óbvio que piora – eles terão sido estuprados pelo governo. Só que mesmo as grandes fortunas, se distribuídas por toda uma população, não mudam em nada a vida de pessoas individuais. A chave para entender isso é o fato de que a economia é um jogo no qual, visto de longe e a longo prazo, é fisicamente impossível a média das pessoas receber mais do que o que a média das pessoas produz. Isso é óbvio. Tudo o que é construído, vendido, taxado, utilizado, alguém tem que ter feito. Se não fui eu, foi outro. Ficar mudando as coisas de mãos é algo que, em si mesmo, não resolve nenhum problema social, a não ser que dar os mesmos problemas sociais a todos seja considerado uma solução. Adicionalmente, o acúmulo de capital é necessário ao desenvolvimento econômico e social; sem ele, nada de vulto um pouco maior pode ser realizado. A diferença é que num sistema com maiores liberdades individuais as pessoas se reúnem espontaneamente para acumular capital, como quando uma comunidade se reúne para construir uma igreja, ou quando alguém abre uma loja, ou, num nível mais sofisticado, quando é lançada uma sociedade por ações. Sistemas totalitários, centralizados, como o comunismo, são tão capitalistas quanto todos os outros (é impossível fugir disso numa economia moderna) com a única diferença de que o governo, pelo meio da força, garante para si o monopólio do acúmulo de capital, o qual naturalmente também é feito por coerção.

Isso tudo do ponto de vista econômico e político. Agora, do ponto de vista moral e humano, além da perda de liberdades, ocorre algo ainda pior quando o governo se mete a consertar “desigualdades” através da força. Os teoricamente “beneficiados” pelas ações governamentais perdem qualquer incentivo prático ao auto-aperfeiçoamento. Pior ainda, perdem completamente a noção da conexão entre mérito e recompensa, entre trabalho e resultado, entre investimento e retorno, que são leis morais e físicas universais que nenhum governo pode revogar. Passam então a viver num mundo de fantasia, no qual acham que tem “direito” a ter magicamente tudo o que desejarem – inteligência, estudo, reconhecimento, conforto – exclusivamente pelo fato de que outros têm, não porque tenham passado pelo esforço pessoal de obtê-lo.

O que isso tudo tem a ver com educação? Tudo! A ilusão de que eu possa “salvar” uma pessoa simplesmente dando bens materiais para ela sem que ela se engaje de qualquer forma na produção desses bens é exatamente a mesma que no caso da educação. Só que na educação, mais do que em qualquer outra área, essa falácia se esfarela mais fragorosamente e causando mais prejuízos. Ninguém pode me “dar” uma educação, como um presente caro numa caixa com uma fita em cima; eu preciso conquistá-la, a educação é um esforço de transformação interna. Ninguém pode fazê-lo por mim. Da mesma forma, ninguém pode me “obrigar” a ter uma educação. Podem me obrigar a ir a uma escola e a seguir rituais burocráticos ditados pelo governo, mas se eu não estiver pessoalmente engajado, isso só contribuirá para me despersonalizar e para me acostumar a aceitar pacificamente seguir ordens inúteis e a recitar historinhas sem sentido.

Aliás, se chega-se ao ponto de coagir as pessoas a mandar seus filhos para a escola, então realmente tem de haver algo de fundamentalmente errado com o sistema. Pais zelosos (que suponho que ainda sejam uma boa parte da população) educam muito melhor do que qualquer escola; eles saberão como administrar a educação de seus filhos. E se os pais não forem zelosos, dificilmente haverá governo ou escola no mundo que tenha autoridade moral ou competência para substituí-los adequadamente. Mesmo supondo que haja muitos pais alienados, o que é preciso é um trabalho contínuo de CONVENCIMENTO de que a escola será boa para seus filhos. Colocar um oficial de justiça para intimá-lo a mandar seu filho para a escola é simples violência totalitária.

E para piorar, em geral é inútil. Quantas pessoas, ricas ou pobres, se lembram, quando adultas, do conteúdo das aulas de primeiro e segundo grau? Quantas, mesmo as “cultas”, conseguem usar uma crase corretamente, achar o circuncentro de um triângulo, lembrar como começou a Segunda Guerra Mundial, explicar o que é uma meiose ou desenhar a estrutura molecular do álcool etílico? Lembrem-se, nós passamos aproximadamente UMA DÉCADA de nossas vidas, e ainda por cima justamente um dos períodos em que nossa mente estava mais ativa e apta a aprender… sentados em cadeiras, dia após dia, numa sala fechada, proibidos de conversar e sendo obrigados a ouvir coisas… as quais posteriormente, quando adultas, a grande maioria das pessoas absolutamente não será capaz de se lembrar nem sob tortura.

Por que isso aconteceu? Será que os professores não “ensinaram” os “conteúdos” direito? Ou será que a falha foi mais básica, mais fundamental, em não conseguir despertar nos jovens a noção de que há algum valor, algum mérito, alguma beleza, alguma importância em saber todas essas coisas? Falhando isso, todo o resto perde o significado. Os adultos que não se lembram de todas essas coisas provavelmente as responderam algum dia numa prova há dez, vinte, trinta anos atrás. Só não viram absolutamente qualquer motivo para prestar atenção nelas, e continuam até hoje não vendo. Sua educação falhou. Foi tudo um grande desperdício de dinheiro, tempo, esforço, mas principalmente de vidas humanas que depois crescem para achar maravilhoso ficar dançando e cantando ao som da Egüinha Pocotó.

Fonte: http://www.oindividuo.org/2003/02/15/a-eguinha-pocoto/
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Offline Dr. Manhattan

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #2 Online: 28 de Setembro de 2011, 16:15:20 »
Aviso: ainda não li o segundo texto.

Textinho falacioso, esse...

   
                                                             
 O fetiche da educação


Um dos truísmos mais repetidos por pessoas bem-intencionadas é que "o problema do Brasil é a educação", ou que "o país não progredirá enquanto não melhorarmos a educação". Isso, porém, é falso.

O que é necessário para o famoso progresso nacional é a melhora das instituições, a segurança jurídica, a tranquilidade em relação à propriedade, a facilidade para empreender.

Se você tem muita educação, mas não tem mercado em que as pessoas possam trabalhar, não tem oportunidades para essa gente toda, acaba ficando com 45 pessoas com PhD fazendo concurso para gari*. Há também o famoso brain drain, também conhecido como "fuga de cérebros". Afinal, você não estuda astrofísica para esperar pelo concurso para gari.

(Não venham dizer que é injusto a pessoa estudar em universidade pública e depois sair do país. A pessoa paga impostos, e nunca para de pagar, faça faculdade pública ou não. Na pior das hipóteses, estão todos quites.)


Fonte: http://www.pedrosette.com/2009/11/o-fetiche-da-educacao.html

Espantalho: ninguém que defende a educação como forma de alavancar o desenvolvimento do Brasil está propondo que todos sejamos doutores. O problema é dar uma formação minimamente decente à população, coisa que ainda não acontece hoje. O fato é que existe uma correlação entre o nível de escolaridade e a renda. O aumento da escolaridade também torna as pessoas mais empregáveis e permite que  nossos trabalhadores lidem com tecnologias mais avançadas do que uma vassoura de gari. E note que a grande concorrência para o emprego de gari não é um demérito para a educação, mas um sintoma de uma baixa oferta de vagas de trabalho.

Sobre o trecho destacado: Falsa dicotomia. Além dos itens citados pelo autor, podemos incluir também "educação de qualidade para todos". Uma coisa não exclui a outra. Muito pelo contrário. É difícil, por exemplo, ter instituições fortalecidas se boa parte da população mal sabe escrever o próprio nome. Por outro lado, uma população letrada, que é capaz de acompanhar os noticiários, vai naturalmente desejar instituições mais fortes.
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Alan Watts

Offline Titoff

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #3 Online: 28 de Setembro de 2011, 16:20:32 »
Eu acho que precisamos de mais educação, mas não (unicamente) como o primeiro texto aborda. O autor se limita ao nível superior.

O que tem faltado é um nível básico de educação. Pessoas que conseguem interpretar um texto e escrever uma frase que outras pessoas consigam interpretar. Conhecimentos básicos de como são as regras oficiais da sociedade em que está inserido, ou que ao menos tenha condições de correr atrás disto.

Falta a educação feijão-com-arroz.

Vou citar um exemplo que me chocou:

Um amigo médico contou-me que atendeu um sujeito que resolveu usar camisinha para transar com a namoradinha dele. Até aí tudo certo na atitude do carinha.
Acontece que ele abriu a embalagem e achou que tinha que engolir a camisinha, como uma pílula grande! Confesso que no começo achei que fosse sacanagem deste amigo meu.
Isto ocorreu no Rio de Janeiro, capital, local onde proclamadamente o acesso a informação e cultura é maior que em outras regiões do Brasil. Se fosse em Ipixuna, interior do Acre, já seria tosco.

Acho que é esse tipo de educação básica que falta.

O segundo texto aborda questões mais complexas. Não vi justificativa para não ter o chamado ensino público.
Há de se ter uma certa padronização do ensino. Como um aluno mudaria de colégio ou qual seria o critério para passar para uma instituição de outro nível (médio, superior) se não estiverem todos falando basicamente a mesma coisa?

Não acho que um pai zeloso é capaz de educar melhor que uma escola. De casa ganhamos (ou deveríamos ganhar) educação que não de conhecimento escolar: regras de convivência, direitos e deveres, esforço pessoal, etc, etc. Pais zelosos dificilmente seriam capazes de ensinar conteúdos de português, matemática, biologia, história, etc.

Outra crítica é ao modelo de escola. É um modelo até já bem criticado, tendo escolas que trabalham de forma diferenciada. De qualquer forma, há colégios que atuam de forma mais tradicional, públicos inclusive, e são muito bons.
A variedade de didática acho interessante, mas é difícil fugir de tópicos do conteúdo a ser dado a todos.

Sobre o trecho destacado: Falsa dicotomia. Além dos itens citados pelo autor, podemos incluir também "educação de qualidade para todos". Uma coisa não exclui a outra. Muito pelo contrário. É difícil, por exemplo, ter instituições fortalecidas se boa parte da população mal sabe escrever o próprio nome. Por outro lado, uma população letrada, que é capaz de acompanhar os noticiários, vai naturalmente desejar instituições mais fortes.

Bem colocado.

Offline uiliníli

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #4 Online: 28 de Setembro de 2011, 19:09:35 »
O problema é que realmente temos pessoas supostamente educadas que não cansam de repetir o mantra de que a solução para todos os problemas do Brasil é unicamente "investir em educação". Oito anos atrás Cristóvão Buarque se lançou candidato a presidente com uma única proposta "investir em educação". Os estudantes não perdem uma oportunidade de invadir uma reitoria para pedir para o governo "investir em educação". Uma amiga minha chilena que intercambiou aqui no semestre passado estava me falando da greve de estudantes que estão quebrando o pau por lá - sim, eles querem que o governo "invista em educação" (um dos principais pontos que eles exigem é a estatização forçada das universidades privadas, o Chile não tem universidade pública gratuita como o Brasil) É óbvio que educação é importante, mas o que o texto do TMAG escreve também é tão óbvio que chega a ser constrangedor o quanto esse pessoal do "investir em educação" ignora a questão: não adianta só educação, é preciso criar condições para essa educação poder fazer alguma diferença pelo progresso do país. Essa história de físicas nucleares se prostituindo e engenheiros dirigindo táxi não é nenhuma caricatura, isso realmente existe em países que acertaram na educação e falharam na economia. O Brasil tem muito a melhorar na educação, mas tem muito a melhorar na economia também e as das coisas têm que andar juntas.

Offline Cumpadi

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #5 Online: 29 de Setembro de 2011, 00:20:16 »
Não terminei de ler o segundo texto, mas de cara vejo um defeito. Arte e esporte não têm valor absoluto, assim, não há nada de errado em achar que ouvir a música da eguinha pocotó é mais prazeroso que ouvir Mozzart. Futebol não é intrinsicamente "melhor" que jogar peteca. A educação no Brasil tem uma face que caminha para a doutrinação cultural por esse mesmo tipo de pensamento do autor (apesar de que o que ele propõe resultaria em uma diminuição disso.

E achei muito bem colocado Titoff, talvez os maiores objetivos da educação são tornar as pessoas capazes de aprender bem (que envolve aprender a se comunicar e a pensar cientificamente) e a lidarem com seus problemas do dia a dia, e não enfiar qualquer tipo de conteúdo goela abaixo dos alunos (apesar de que esse será um efeito secundário inevitável até certo ponto).
http://tomwoods.com . Venezuela, pode ir que estamos logo atrás.

Offline Dbohr

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #6 Online: 29 de Setembro de 2011, 10:40:21 »
Fetiche, tá...

Sabem, os velhos gregos diziam que algumas pessoas tinham ἀρετή (areté), ou "excelência" e alguns outros eram βάναυσοι (banausói), ou seja, "trabalhadores manuais". Uns alcançavam o seu melhor potencial seja na filosofia, no esporte, na guerra, na política ou mesmo na virtude; enquanto outros serviam apenas para trabalhos repetitivos. Repare: não era uma divisão de castas, já que qualquer um podia alcançar a areté em algum campo. Mas a maioria se contentava em ser mais um banausói -- que, de qualquer maneira, eram necessários à manutenção do status quo.

Alguém tinha que limpar, varrer e catar esterco, basicamente.

Não sou nenhum Werner Jaeger, mas me parece que a grande sacada da Revolução Industrial foi vender a ideia que o trabalho repetitivo e rotineiro era uma virtude em si mesma e até hoje estamos pagando o preço disso. Para cada grande investidor que diz que vai dormir sonhando com a próxima crise, porque é uma oportunidade de ganhar dinheiro, existe uma massa ignara de banausói que sequer sonham entender por que eles são pequenas engrenagens nessa máquina de falsas virtudes.

Eu não sei quanto a vocês. Mas se é para o mundo ser eternamente dividido entre os banausói e os possuidores de areté, eu prefiro que ao menos os banausói saibam porque são o que são. E para isso, precisamos de bons níveis de instrução.



Offline Cumpadi

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #7 Online: 29 de Setembro de 2011, 10:47:43 »
Ou seja, você sabe muito melhor o que os banausóis que eles mesmos. Muito familiar esse pensamento de dono da verdade.
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Offline Dbohr

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #8 Online: 29 de Setembro de 2011, 10:52:42 »
Não, filho.

Estou dizendo que apenas através da educação você pode fazer escolhas justas sobre sua vida e carreira. Não tem nada a ver com gostar de Mozart ou de funk.

Offline TMAG

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #9 Online: 29 de Setembro de 2011, 12:10:44 »
Tópico relacionado:  ../forum/topic=22009.25.html
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Offline TMAG

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #10 Online: 29 de Setembro de 2011, 12:44:40 »
Não concordo totalmente com os textos postados, mas eles levantam questionamentos interessantes, a saber:

1- Boa parte da intelligentsia nacional coloca a educação* como um método quase arcano para estimular o desenvolvimento do país, algo como: ''eduquem-se e se desenvolverão''. Ora, isso é obviamente falso, existem problemas muito maiores a limitar o desenvolvimento do país que o baixo nível educacional, é justamente isso que o primeiro texto vem a questionar.

2- Outro questionamento bastante válido contido no segundo texto é a obrigatoriedade do ensino de determinados conteúdos, que passado algum tempo ninguém irá se lembrar, como exemplificado nessa passagem:

Citar
 
E para piorar, em geral é inútil. Quantas pessoas, ricas ou pobres, se lembram, quando adultas, do conteúdo das aulas de primeiro e segundo grau? Quantas, mesmo as “cultas”, conseguem usar uma crase corretamente, achar o circuncentro de um triângulo, lembrar como começou a Segunda Guerra Mundial, explicar o que é uma meiose ou desenhar a estrutura molecular do álcool etílico? Lembrem-se, nós passamos aproximadamente UMA DÉCADA de nossas vidas, e ainda por cima justamente um dos períodos em que nossa mente estava mais ativa e apta a aprender… sentados em cadeiras, dia após dia, numa sala fechada, proibidos de conversar e sendo obrigados a ouvir coisas… as quais posteriormente, quando adultas, a grande maioria das pessoas absolutamente não será capaz de se lembrar nem sob tortura.

3- Outra consideração feita pelo segundo texto que acho interessante é o propósito que é atribuido a educação por quem defende o sistema educacional obrigatório, na visão dessas pessoas o conhecimento é apenas uma ferramenta para se atingir determinados fins, não um fim em si mesmo. Acho isso deplorável.

Não terminei de ler o segundo texto, mas de cara vejo um defeito. Arte e esporte não têm valor absoluto, assim, não há nada de errado em achar que ouvir a música da eguinha pocotó é mais prazeroso que ouvir Mozzart.

Existem vários critérios pelos quais podemos definir que uma obra de arte é melhor que outra, na verdade tenho várias ressalvas se poderia-se aplicar o termo ''arte'' a eguinha pocotó, mas isso discussão para outro tópico. E sobre a doutrinação cultural feita atualmente no Brasil, ela é totalmente antagônica a esse tipo de pensamento, na cabeça dos esquerdalhas do ''ministério da cultura'' obras culturais tem o mesmo valor independentemente de seu conteúdo e, considerar Mozart melhor que algum funk nojento é ''preconceito''.

Depois comento mais, agora estou sem tempo.


*O que eles entendem por educação, é claro.
« Última modificação: 29 de Setembro de 2011, 12:48:46 por TMAG »
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Offline Liddell Heart

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #11 Online: 29 de Setembro de 2011, 14:30:13 »
Um dos truísmos mais repetidos por pessoas bem-intencionadas é que "o problema do Brasil é a educação", ou que "o país não progredirá enquanto não melhorarmos a educação". Isso, porém, é falso.

O que é necessário para o famoso progresso nacional é a melhora das instituições, a segurança jurídica, a tranquilidade em relação à propriedade, a facilidade para empreender.

Como já foi dito, o autor apresenta uma falsa dicotomia. Tanto a melhora na educação quanto uma melhora nos itens citados acima pode elevar o progresso de uma sociedade.

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Se você tem muita educação, mas não tem mercado em que as pessoas possam trabalhar, não tem oportunidades para essa gente toda, acaba ficando com 45 pessoas com PhD fazendo concurso para gari*. Há também o famoso brain drain, também conhecido como "fuga de cérebros". Afinal, você não estuda astrofísica para esperar pelo concurso para gari.

O que adianta ter vaga para PhD's quando uma população é semi-analfabeta?

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Investimentos em educação, altos impostos, legislação ininteligível, 152 dias para abrir uma empresa: seguindo esse caminho, um dia nossas filhas poderão juntar-se a suas irmãs proletárias daqueles países em que o governo decide tudo e protege as pessoas do maldoso mercado.

A única coisa que está listada e não faz mal a um país, muito pelo contrário, é a educação.
"Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria."
Benjamin Franklin

"Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la."
Voltaire

Offline Liddell Heart

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #12 Online: 29 de Setembro de 2011, 14:58:13 »
Não concordo totalmente com os textos postados, mas eles levantam questionamentos interessantes, a saber:

1- Boa parte da intelligentsia nacional coloca a educação* como um método quase arcano para estimular o desenvolvimento do país, algo como: ''eduquem-se e se desenvolverão''. Ora, isso é obviamente falso, existem problemas muito maiores a limitar o desenvolvimento do país que o baixo nível educacional, é justamente isso que o primeiro texto vem a questionar.

Certo, um Brasil com nível de ensino de Singapura não terá maior probabilidade de se desenvolver que um Brasil com nível de ensino do Peru. ::)

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3- Outra consideração feita pelo segundo texto que acho interessante é o propósito que é atribuido a educação por quem defende o sistema educacional obrigatório, na visão dessas pessoas o conhecimento é apenas uma ferramenta para se atingir determinados fins, não um fim em si mesmo. Acho isso deplorável.

A educação pode ser um fim em si mesmo ou um meio, depende. Mas o certo é que a educação é um investimento, e que ela eleva o capital humano.

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Não terminei de ler o segundo texto, mas de cara vejo um defeito. Arte e esporte não têm valor absoluto, assim, não há nada de errado em achar que ouvir a música da eguinha pocotó é mais prazeroso que ouvir Mozzart.

Existem vários critérios pelos quais podemos definir que uma obra de arte é melhor que outra, na verdade tenho várias ressalvas se poderia-se aplicar o termo ''arte'' a eguinha pocotó, mas isso discussão para outro tópico.

Há infinitos critérios pelos quais podemos definir que uma obra é superior a outra, eu diria que isso é subjetivo.

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E sobre a doutrinação cultural feita atualmente no Brasil, ela é totalmente antagônica a esse tipo de pensamento, na cabeça dos esquerdalhas do ''ministério da cultura'' obras culturais tem o mesmo valor independentemente de seu conteúdo e, considerar Mozart melhor que algum funk nojento é ''preconceito''.

Então o correto seria o governo subsidiar a música gospel nacional, mas salvar a moral e os bons costumes.   :ok:

Um grande homem disse uma vez: "Não odeie o jogador, odeie o jogo".
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Offline Cumpadi

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #13 Online: 29 de Setembro de 2011, 15:25:51 »
E sobre a doutrinação cultural feita atualmente no Brasil, ela é totalmente antagônica a esse tipo de pensamento, na cabeça dos esquerdalhas do ''ministério da cultura'' obras culturais tem o mesmo valor independentemente de seu conteúdo e, considerar Mozart melhor que algum funk nojento é ''preconceito''.

*O que eles entendem por educação, é claro.
A partir do momento em que há benefício (pior ainda se for desigual) por parte do governo para qualquer tipo de arte/esporte, está se cometendo doutrinação, pois o governo está impactando no valor subjetivo daquela arte positivamente quando o faz.
http://tomwoods.com . Venezuela, pode ir que estamos logo atrás.

Offline Fabi

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #14 Online: 29 de Setembro de 2011, 16:25:15 »
Fetiche, tá...

Sabem, os velhos gregos diziam que algumas pessoas tinham ἀρετή (areté), ou "excelência" e alguns outros eram βάναυσοι (banausói), ou seja, "trabalhadores manuais". Uns alcançavam o seu melhor potencial seja na filosofia, no esporte, na guerra, na política ou mesmo na virtude; enquanto outros serviam apenas para trabalhos repetitivos. Repare: não era uma divisão de castas, já que qualquer um podia alcançar a areté em algum campo. Mas a maioria se contentava em ser mais um banausói -- que, de qualquer maneira, eram necessários à manutenção do status quo.
E aí a antiga grécia acabou, e vieram os romanos e depois o que veio? A idade média, a idade das trevas... ::) Por que será?

O declinio do Império Romano, enterrou todo o conhecimento greco-romano. Foram os gregos que inventaram o cálculo dos triângulos, e que criaram um código de leis, e instituições. Para um povo que viveu há 2000 anos atrás, eles eram bem avançados.

Mas aí veio a idade média e essas coisas ficaram esquecidas. E por que? Porque o povão não tinha educação, e ai vieram os monges, padres, bispos católicos e esconderam todo esse conhecimento.

E agora perguntam: por que aprender logaritimo? por que aprender a calcular triângulo? Ou por que saber o motivo da primeira guerra mundial? Um povo educado e inteligente não se deixa ser dominado por religiões e ideologias bobas.
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Re: O fetiche da educação
« Resposta #15 Online: 29 de Setembro de 2011, 16:46:47 »
Outra coisa: acho ridículos esses argumentos baseados na ideia de que "somos obrigados a aprender coisas inúteis". Caros, até chegarmos ao ponto de cair no mundo real, longe do ambiente doméstico, tendo que nos virar no mercado de trabalho, nós (a) não temos como avaliar a importância de muito do que aprendemos e (b) não temos como prever qual aspecto do que nos é ensinado nos vai ser útil. Por exemplo, o conhecimento acerca do ciclo de Krebs não é muito útil para mim - mas poderia ser! O conhecimento de matrizes me é extremamente útil, mas não seria se eu fosse advogado.

No final das contas, concluo que esse "argumento de inutilidade" é nada mais que um exemplo do Efeito Dunning-Kruger em ação.
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Offline Sergiomgbr

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #16 Online: 29 de Setembro de 2011, 16:48:37 »
Fetiche, tá...

Sabem, os velhos gregos diziam que algumas pessoas tinham ἀρετή (areté), ou "excelência" e alguns outros eram βάναυσοι (banausói), ou seja, "trabalhadores manuais". Uns alcançavam o seu melhor potencial seja na filosofia, no esporte, na guerra, na política ou mesmo na virtude; enquanto outros serviam apenas para trabalhos repetitivos. Repare: não era uma divisão de castas, já que qualquer um podia alcançar a areté em algum campo. Mas a maioria se contentava em ser mais um banausói -- que, de qualquer maneira, eram necessários à manutenção do status quo.
E aí a antiga grécia acabou, e vieram os romanos e depois o que veio? A idade média, a idade das trevas... ::) Por que será?

O declinio do Império Romano, enterrou todo o conhecimento greco-romano. Foram os gregos que inventaram o cálculo dos triângulos, e que criaram um código de leis, e instituições. Para um povo que viveu há 2000 anos atrás, eles eram bem avançados.

Mas aí veio a idade média e essas coisas ficaram esquecidas. E por que? Porque o povão não tinha educação, e ai vieram os monges, padres, bispos católicos e esconderam todo esse conhecimento.

E agora perguntam: por que aprender logaritimo? por que aprender a calcular triângulo? Ou por que saber o motivo da primeira guerra mundial? Um povo educado e inteligente não se deixa ser dominado por religiões e ideologias bobas.
Fico pensando um grego típico trepado numa escarpa qualquer, numa daquelas ilhas gregas, sem nadica de pitibiribas pra fazer, se divertindo em ver formigas carregando folhinhas, bichinhos se formando nas núvens, letras em espumas de mar... até que resolvesse riscar o chão com uma varetinha e achar hipotenusas em triângulos...Oh mundo, vasto mundo, se tú te chamasses Raimundo...

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Offline Dr. Manhattan

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #17 Online: 29 de Setembro de 2011, 16:49:48 »
A questão é que, mesmo esse grego que você descreveu não era exatamente típico...
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Alan Watts

Offline TMAG

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Re: O fetiche da educação
« Resposta #18 Online: 06 de Outubro de 2011, 01:21:53 »
E sobre a doutrinação cultural feita atualmente no Brasil, ela é totalmente antagônica a esse tipo de pensamento, na cabeça dos esquerdalhas do ''ministério da cultura'' obras culturais tem o mesmo valor independentemente de seu conteúdo e, considerar Mozart melhor que algum funk nojento é ''preconceito''.

*O que eles entendem por educação, é claro.
A partir do momento em que há benefício (pior ainda se for desigual) por parte do governo para qualquer tipo de arte/esporte, está se cometendo doutrinação, pois o governo está impactando no valor subjetivo daquela arte positivamente quando o faz.

E onde nos textos os autores defendem algo desse tipo? A questão é justamente o contrário, eles querem que o governo pare de atrapalhar intervindo nessas questões, os textos postados são efusivamente contra a ação governamental.

Muita gente interpretou como se eles estivéssem defendendo o analbetismo e o fim da educação, quando na verdade o que os autores estão propondo é simplesmente a desvinculação da educação com o governo, o fim da mesma como política pública. Uma desburocratização da educação seria extremamente benéfica para o país. Para quem não leu direito segue-se um trecho do segundo texto:

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Assim sendo, na verdade, acho que até há algo que o governo pode fazer, como na maioria dos casos : parar de atrapalhar. Deixar surgirem mais escolas particulares. Deixar as escolas escolherem suas ementas e cargas horárias. Deixar as escolas escolherem suas mensalidades. Acabar com a obrigatoriedade da matrícula de menores em escolas. Deixar os pais e seus filhos escolherem o que vão estudar e onde. Acabar com a exigência legal de diploma para o exercício da maioria das profissões em que ele é requerido.
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Re:O fetiche da educação
« Resposta #19 Online: 06 de Outubro de 2011, 10:14:00 »
Estudamos coisas "inúteis" porque elas nos tornam mais completos. Mais complexos. Porque é nossa herança cultural. Porque é o que nos tira das cavernas. Porque nos obrigam a pensar diferente do que estamos acostumados e nos tiram de nossa zona de conforto. Porque o utilitarismo bruto sem ser temperado pelo "inútil" é a morte da criatividade e do pensamento lateral. Estudamos coisas "inúteis" porque não somos drones.

Offline uiliníli

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #20 Online: 06 de Outubro de 2011, 10:46:29 »
Mas estudamos coisa demais no colégio. Eu poderia viver sem saber o que são xilema e floema, se perde tempo demais divagando em apêndices e os estudantes não assimilam o principal: talvez se passássemos menos tempo decorando nomes e mais tempo raciocinando nos tópicos elementares, mais pessoas entenderiam a teoria da evolução, por exemplo.

Offline Dbohr

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #21 Online: 06 de Outubro de 2011, 11:01:09 »
Sim, mas aí é uma questão de discutir a apresentação e não os temas em si.

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #22 Online: 06 de Outubro de 2011, 11:35:43 »
Acho que até toca um pouco nos temas, sim. Eu acho que boa parte das disciplinas estudadas no colégio poderiam ser mais enxugadas, alguns conteúdos mais periféricos deixados de fora e dar mais ênfase no que é realmente fundamental. Por exemplo, olha o conteúdo programático do vestibular de uma tal de Urcamp, que eu achei agora, quanta coisa exigimos que jovens de 17 anos saibam durante dois ou três dias de provas: http://www.urcamp.tche.br/vestibular/conteudo.html

Para ter uma noção do absurdo que é isso, eu tentei colar o conteúdo inteiro aqui no CC em vez de passar o link e apareceu uma mensagem de erro dizendo que a mensagem excedia o número máximo de caracteres permitido, 30 000 caracteres. Isso só para citar os nomes dos conteúdos que se espera que um adolescente saiba após passar pelo ensino médio. É tão absurdamente essencial assim saber tanta coisa sobre o sistema de organização feudal para podermos entrar na vida adulta?

Offline Dbohr

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #23 Online: 06 de Outubro de 2011, 11:49:19 »
Sem dúvida que é possível e necessário discutir o que deve ou não constar no programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física -- desde que HAJA um programa de Biologia, Química, Literatura, Matemática ou Física :-)

Veja, eu não acho ruim que o currículo escolar seja generalista (de fato, acho que caberia Cálculo perfeitamente no currículo de Matemática, mas eu sou um freak). O jovem que sai da escola para a Universidade ou para o mercado vai naturalmente reforçar o que ele precisa saber mais e o que não é assim tão importante para a carreira dele no futuro. Mas o ponto é: é preciso que o jovem seja EXPOSTO a essa diversidade em algum momento de sua vida; e é melhor que seja na escola, quando a cobrança não é tão grande.

Offline uiliníli

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Re:O fetiche da educação
« Resposta #24 Online: 06 de Outubro de 2011, 11:53:41 »
De fato nos EUA e na Europa os jovens aprendem cálculo no colégio. Mas isso é possível porque os alunos podem focar seus estudos em uma grande área em detrimento de outras. Mas imagine a dificuldade em implementar esse modelo aqui no Brasil?

 

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