Vi agora, o documentário é muito bom. Concordo com o autor, exceto em pequenos detalhes. Vou comentar alguns pontos. Nada de muito relevante. Divagarei, a quem interessar:
1. O autor no início chama a arte moderna de egoísta, e eu concordo. Eu diria que a arte moderna "popular", digamos, também é egoísta. Somos de uma época em que pela primeira vez a arte tornou-se um produto vendido em escala massiva; música pop, filmes, etc... E em muito disso eu vejo uma arte como uma máquina de vender refrigerante, onde você coloca uma nota e recebe o refrigerante. Na arte, você se projeta em um personagem, e recebe em troca
escapismo - conforto em um mundo imaginário que satisfaz seus desejos pessoais.
Eu vejo isto naqueles vídeoclipes de mulheres cantando rap e falando da sua capacidade sexual ou social. Eu vejo isto em filmes onde um rapaz qualquer de repente encontra uma
Manic Pixie Dream Girl (alguém postou o link para isso no fórum, achei muito legal). Em comédias românticas "para mulheres", naturalmente. E etc, etc. Aliás, lembro de uma situação curiosa, onde nos anos 50-60 no Japão, havia um gênero para filmes em que o pai era um paspalho atrapalhado. A figura do pai no Japão é uma figura de autoridade - nada mais natural as pessoas quererem ver filmes onde ela não fosse.
Se você vê a arte como um produto, este tipo de arte naturalmente vende mais e deveria ser mais produzida. Britney Spears é um produto melhor do que Beethoven, por mais que ninguém considere um melhor do que o outro em termos de qualidade.
Apesar do que falei em cima sugerir isto, não farei nenhum ataque ao escapismo. Certamente tais coisas não tem um lugar de destaque em termos de qualidade no mundo da arte, mas não vejo um problema em serem consumidos em massa. Até eu gosto disso: ligo o SNES, torno-me Link e salvo o mundo de forças malignas e fujo do mundo onde tenho que resolver questões de mecânica quântica que duram horas.
2. "Originalidade passou a ser o objetivo". O autor afirma isto no início, também. Este eu acho outro ponto interessante. Eu diria que arte querendo ser original nunca será grande coisa. Se você perguntasse a Shakespeare, ele diria que a sua arte é um espelho para a natureza. Sabemos que isso é besteira. "Realismo" - separar o que é real do que não é, é muitas vezes uma questão ideológica. Mas é a atitude que mais rende boa arte. Inspirar-se no vida, na natureza, nos seus antepassados...
3. "Beleza, um valor tão importante quanto a verdade e a bondade". Outra citação do documentário. Valores que para Platão estão interconectados, aliás, são a mesma coisa. No mundo moderno há a separação entre eles de acordo com Weber, a chamada
"separação das esferas de valores", e isto poderia ser um motivo para a arte ter perdido sua "beleza", seu propósito, sua unidade. Weber diz que não é à-toa que a arte moderna é íntima, não monumental - a separação das esferas de valor explicaria isso.
4. Em um momento, o autor afirma que o amor e a amizade são inúteis. Isto é claramente errado - não existe coisa mais útil que o amor e a amizade. São o que nos move, o que nos faz levantar da cama de manhã e a nossa maior fonte de aprendizado. Como diria a música do Flaming Lips,
love is just too valuable - oh, to feel for even a second without it. O autor se corrige depois, dizendo que o inútil é o mais útil de tudo - o que torna tudo uma confusão de palavras. Essa coisa de defender o inútil é coisa de gente esnobe.
5. A "atitude desinteressada" de Kant é um argumento interessante - realmente, a arte muitas vezes não tem nenhum interesse
imediato, ao menos nada material. O próprio autor cita interesses emotivos - consolo para as nossas tristezas, festa para a alegria, o de mostrar a beleza no que ainda não havia sido notado como belo... Mas acho interessante, novamente, essa coisa da arte de nos tirar do "egoísmo". Lembro de um filme do Wong Kar Wai, Amores Expressos, que conta duas histórias, levemente conectadas. Contar as duas histórias no mesmo filme o faz pensar no que nas duas de há de comum, o que não é particular, o que é, enfim, o que todos nós vivemos. E quando a arte faz isto, é uma coisa muito bela e há um senso de comunhão.