Quando eu era criança, eu achava que a coisa mais absurdamente ignorante que um ser humano podia ser era crente. Até que um dia me estarreci ao descobrir que havia agnósticos...
Fiquei curioso, quais são os principais problemas que você vê nos agnósticos?
Como já deixei claro, o principal problema que vejo é que são crentes todavia. Inclusive como o Buckaroo já parece ter entendido. Espero...
Eu já acho que há agnósticos tão fundamentalistas ou radicias quanto teístas ou ateus (já conheci um).
Todos os agnósticos são fundamentalistas, muito mais que crentes abertamente confessos. Os processos que passam nas mentes de todos esses são os mesmos no que se refere à deturpação perceptiva da realidade (não é a questão de se determinar a acreditar que haja deuses ou que não haja deuses, é a questão de se projetar tal "possibilidade" na realidade, sem qualquer razão natural, como se fosse algo inevitável a toda e qualquer mente) mas os agnósticos são versados no espírito político da hipocrisia e aprenderam a negar suas intenções reais até para si próprios, utilizando-se do princípio ludibriador da moderação, que, sobre o fundo do contexto histórico da humanidade, parece tão acolhedora que seduz facilmente os cognitivamente mais fracos.
Mas na maioria, me parece que os agnósticos são mais moderados e até que bem honestos em admitir as suas limitações.
Não há nenhuma vantagem científica em ser moderado, assim como nenhuma em admitir limitações, mas, tão simplesmente, em percebê-las, reconhecê-las e aceitá-las, porque nenhuma vantagem há em ser hipócrita além do poder de manipulação política que isso confere. Um pensador cientifico não precisa ser honesto porque a ele, naturalmente, não interessa nada que seja falso, ilusório; não precisa esforçar-se para fugir de si mesmo. Lembrando que deixei claro que só identifico e reconheço a existência dessas duas categorias mentais: mágicas e científicas.
Só não acho que eles estão mais certos, pois se existir algum deus os teístas estão certos, se não os ateus estão certos.
Cuidado para não cair em cima de Pascal ou deixá-lo cair em cima de você pois parece-me estar numa zona perigosa aí.
Como alguém pode estar certo ou errado se não afirma nada? É muito aquém disso, não é mesmo? Deuses... Coisas mágicas em geral... Isso não é um subproduto adquirível da realidade por uma mente. Não é uma possibilidade natural. Não é uma "possibilidade" que todo e qualquer aparato cognitivo aventará a partir de uma imersão na realidade natural circundante. É um subproduto puro e simples de um processo mental que se alheia, deliberadamente ou não, à realidade. A descrença total é a única posição comprovadamente certa até que se evindencie algum deus ou qualquer outro algo mágico, não a dúvida. Dúvida não é posição, é medo. E medo é produto de crença.
Me diga, Gilberto, você tem medo de descobrir e ter que reconhecer que toda a realidade que você entende como canonicamente evidenciada, por toda a verificação empírica mais fidedigna que se possa considerar, não é nada do que você pensa? Se tem, é um pensador mágico.
Logo o agnóstico só está certo quanto ao seu conhecimento próprio, mas não quanto a questão da existência/inexistência.
Isso não faz sentido algum.
Então, Gilberto, bem se poderia esperar que *você* percebesse que simplesmente não há uma "questão da existência/inexistência" mas a crença de que há essa questão. Percebe o ponto? É exatamente a "questão da existência/inexistência" que é a invenção ilusória, não a suposta existência/inexistência em si mesma.
Tentemos esclarecer o seguinte, Gilberto, já que me provoca uma desagradável sensação ler essas coisas vindas de você. Não há como quem aceita uma dúvida estar mais certo; só pode estar certo quem reconhece que "aquilo" com que não interage *não existe*, porque, antes de interagir com qualquer estrutura desconhecida, não contactada anteriormente da realidade natural, não pode concebê-la; é uma doutrina metafísica que se possa. Nada que qualquer um imagine que possa "estar escondido ali em algum canto insondado da natureza" pode existir. Eu já sei de longa data a dificuldade colossal para que isso possa ser percebido pela maioria, ainda mais depois de diversos resultados da investigação científica que são interpretados da maneira mais grosseiramente insipiente que se possa, como um criacionista que não entende a 2ª da termodinâmica, mas eu esperava que você pudesse ter uma maior facilidade.
Tentemos este exemplo, a partir da frase tão "moderada e imparcial" na assinatura do Snowraptor, "A presença de pessoas que procuram a verdade é infinitamente preferível à presença daqueles que pensam que a encontraram."
Mas é exatamente o contrário! Até porque está na raiz procedimental de muitas doutrinas mágicas o culto da busca pela verdade.
Parece muito bonito, cientificamente sóbrio para a maioria, mas disputa posição no topo da lista das ideias mais falaciosas que a primorosa mente humana já foi capaz de engendrar.
Uma frase minha mesmo, que eu poderia colocar como assinatura provocativa de descrente é: Jesus mandou que buscassem* pela verdade, que seriam libertos, mas esqueceu-se de apresentar ao menos uma foto da dita cuja e, assim, uma multidão busca por algo que nunca viu e não faz a menor ideia do que seja mas, incrivelmente, desenha inúmeros retratos falados da mesma.
*Na 'verdade', acho que o que está escrito lá é "conheçam" (conhecereis, mais exatamente, acho), e isso muda tudo, radicalmente. Mas, não estranhamente, nunca vi um crente sequer perceber isso. É perfeitamente possível conhecer a verdade mas buscá-la é perfeitamente impossível e, quando um pensador mágico fala em verdade, sempre se refere a "essa" que ele não conhece, que inventa e crê que pode buscar. E encontrar!
Espero que isso ajude a me fazer mais claro. Se não, já estou sem condições agora de prosseguir e não deverei poder pelos próximos dias. Se responder algo, em outro momento eu pondero, se puder.