Autor Tópico: Várias perguntas nerds/geológicas sobre praias  (Lida 10196 vezes)

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Offline Geotecton

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Re:Várias perguntas nerds/geológicas sobre praias
« Resposta #50 Online: 04 de Maio de 2014, 21:51:28 »
Sem stress.

Na realidade os eventos sísmicos ocorrem por causa do stress:P


Geo, acho que você já escreveu algo a respeito, mas vou colocar de novo porque acho intrigante.  Parece que toda vez que há um abalo de pequena intensidade no Brasil, poucos dias depois acontece um de grande intensidade na América Latina.  Recentemente houve um abalo em Montes Claros MG e logo em seguida outro no Chile. Existe relação?

Como eu havia escrito anteriormente, sim, há uma relação. E muito forte.

Quase toda a costa oeste da América do Sul é uma zona de subducção, na qual, principalmente, a placa oceânica de Nazca está 'mergulhando' sob a placa continental Sul-Americana. Este mergulho não ocorre 'pacificamente' porque há um forte atrito das rochas 'basálticas' de Nazca com as 'rochas graníticas e sedimentares' da América do Sul. Este atrito gera uma tensão (stress) que é inicialmente acomodada pelas rochas mas que vai aumentando e, ao ultrapassar um certo valor, é dissipada pelo rearranjo espacial das zonas de descontinuidade crustais (as falhas e zonas de cisalhamento), no qual os terremotos são os principais resultados "visíveis". Por causa disto, toda a borda ocidental apresenta intensa sismicidade tectônica que pode gerar sismos de alta magnitude.

Mas o aumento de tensão tectônica não se limita às bordas e ao seu entorno como se pensava até 15 ou 20 anos. Ao longo das últimas duas décadas foram coletados muitos dados que mostraram que a tensão se espalha pelo interior de todas as placas continentais (e oceânicas), ainda que de maneira completamente não-uniforme, devido à multiplicidade composicional e estrutural da crosta e da franja mais externa do manto superior (a chamada 'astenosfera'), tanto vertical como horizontalmente.

O município mineiro de Montes Claros e o seu entorno possuem um denso e intrincado (ainda que pouco conhecido) sistema de falhas muito antigas, no qual uma (ou mais falhas) teve uma ínfima acomodação espacial para absorver a tensão tectônica da região, cuja origem está na subducção mencionada no primeiro parágrafo. Assim como há outras regiões brasileiras (especialmente no NE e no Acre) que tem abalos frequentes, embora a origem da tensão no primeiro local, esteja mais relacionada à abertura do Atlântico.

Resumindo: A "força" que provoca os abalos em Montes Claros se origina a muitos milhares de quilômetros dali e não há nada que se possa fazer para impedir isto. Mas, para minorar a possibilidade de prejuízos materiais e evitar tragédias humanas, o que se deve fazer é implementar um programa específico de construções civis mais reforçadas.
« Última modificação: 08 de Maio de 2014, 00:02:47 por Geotecton »
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Várias perguntas nerds/geológicas sobre praias
« Resposta #51 Online: 25 de Julho de 2016, 17:09:58 »
Vou cooptar esse tópico como "perguntas paleontológicas/geológicas que não merecem um tópico próprio".


Existiria evidência fóssil/geológica, ou mesmo biogeográfica apenas, mas "direta" - deve ficar claro em seguida - daqueles tipos de ilhas vegetais flutuantes terem levado espécies animais para diferentes continentes?

Algo como, fósseis dessas ilhas encontrados de forma a sugerir uma origem "migratória"/"derivatória" dos mesmos, talvez. Provavelmente algo no contexto maior, como, ter-se registro de tais plantas num continente, considerável "evidência de ausência" delas em outro por um período, e mais tarde, elas se estabelecem lá. Talvez melhor ainda fossem só fósseis mais isolados não sugestivos de população local, de algo que se soubesse existir em outros continentes.

Evidência biogeográfica "direta" que eu me referia seria então, haver tais plantas em algum canto, por exemplo, da África, e elas terem parentes mais próximos na América do Sul, e não de acordo com uma rota terrestre ou costeira mais longa ("indireta" seria apenas a assunção da hipótese que algo assim deve ter trazido os macacos do velho mundo para cá).

Lembro vagamente de ter lido teorização biogeográfica não tão full-blown-crackpot de uma maior proximidade das Américas com a Ásia, mas não lembro se as plantas em questão seriam desse tipo, acho que era algo bem mais mundano envolvendo só vegetais "comuns" mesmo.



Interessante ainda seria se ter reconstruções independentes de fluxos oceânicos que calhassem de enviesar as rotas de balsas/ilhas flutuantes naturais de acordo com padrões biogeográficos. "Independentes" significando que sua inferência não se dê a partir da distribuição dessas espécies, mas de outras evidências quaisquer.




Caso contrário, fica notoriamente evidente que a arca de Noé fornece um mecanismo mais parcimonioso para a distribuição biogeográfica dos seres do que os sortudos náufragos do acaso evolucionista.

Offline Gigaview

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Re:Várias perguntas nerds/geológicas sobre praias
« Resposta #52 Online: 25 de Julho de 2016, 21:16:24 »
A descoberta abaixo torna a sua hipótese aceitável. Imagine quantas dessas ilhas surgiram numa época de atividade vulcânica mais intensa e quanta vida poderia ter encontrado refúgio nelas e viajado ao sabor das correntes marítimas até se fragmentarem.

http://grist.org/article/floating-island-the-size-of-new-jersey-discovered-in-south-pacific/
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Várias perguntas nerds/geológicas sobre praias
« Resposta #53 Online: 26 de Julho de 2016, 04:50:04 »
"Hipótese" minha aqui é apenas a especulação sobre se ter encontrado "armas fumegantes" desse mecanismo de dispersão, em vez de apenas os resultados indiretos. Mas esse tipo de ocorrência é algo largamente aceito, visto como necessário. Exemplo talvez mais trivial seja Madagascar, e mais impressionante seja para os primatas americanos, que supostamente vieram diretamente da África ao nordeste brasileiro através do oceano Atlântico.



http://grist.org/article/floating-island-the-size-of-new-jersey-discovered-in-south-pacific/

Não sabia que esse tipo de pedra poderia chegar a esse tamanho. :shock:

Realmente talvez com períodos de produção mais regular disso talvez até acabassem sendo veículo mais provável do que ilhas vegetais... ao mesmo tempo em que talvez tenha maiores chances de acabar havendo algum registro fóssil/geológico incriminador.


Sobre ilhas flutuantes vegetais:

Citar
https://en.wikisource.org/wiki/Popular_Science_Monthly/Volume_79/September_1911/Floating_Islands

FLOATING ISLANDS
By SIDNEY POWERS, B.A.

WILLIAMS COLLEGE

IF one should see in a story the statement that a floating island 100 feet square, upon which were growing trees thirty feet in height, was used by the hero as a place of refuge, and that the island traveled 1,000 miles out to sea, he would probably accuse the author of an abuse of the imagination. But such an island—without the hero—was seen off the coast of North America and is known to have traveled at least 1,000 miles. Floating islands also occasionally occur in the lakes of some of our northern states. It is the purpose of this article to point out the location of some of these islands and to explain their origin.

In order to understand the formation of a floating island let us imagine a pond on the edges of which rushes and grasses are growing. These gradually push their way out into the deeper water, leaving a mass of decaying vegetable matter upon which, in time, mosses such as sphagnum may secure a foothold, and start a shelf which will extend out into the water. As soon as the sphagnum has become well established, water-loving plants and shrubs such as alders, sheep laurel and sweet gale will grow with the moss. Cranberries and pitcher plants may also aid in the formation of the mat, forming the familiar cranberry bog. This shelf will be attached to the shore for several feet, the distance depending on the depth of the water, but the peat will seldom attain a thickness of more than three feet. After the mat has become firm, black spruces and larches may grow upon it, often anchoring it and always making it more compact by means of their roots. Such a mat is illustrated by the drawing on page 304.

After the shelf has extended itself some distance into the pond, if the water level is raised unusually high by excessive rainfall or the construction of a dam across the outlet, the mat may break off and form a floating island. This island will either become attached near its former position by roots extending underneath it, or it will float around the lake.

[....]


Cross-section of a Lake, showing a mat of vegetation growing out from both sides. A rise in water level might break off this shelf, and thus form a floating island.


Cross-section of Sadawga Lake, Whitingham, Vt., showing two floating islands. The large island grew out from the shore and was broken off by high water. It is now attached at the east side.

[...]



Citar

http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0122542

The Floating Forest: Traditional Knowledge and Use of Matupá Vegetation Islands by Riverine Peoples of the Central Amazon

Abstract

Matupás are floating vegetation islands found in floodplain lakes of the central Brazilian Amazon. They form initially from the agglomeration of aquatic vegetation, and through time can accumulate a substrate of organic matter sufficient to grow forest patches of several hectares in area and up to 12 m in height. There is little published information on matupás despite their singular characteristics and importance to local fauna and people. In this study we document the traditional ecological knowledge of riverine populations who live near and interact with matupás. [...]


Fig 1. Pictures of matupás in Amanã Sustainable Development Reserve (Amazonas, Brasil).

A—Aerial view of matupás floating on a lake; B—Matupá seen from afar, corresponding to the lowest stratum and lighter in color than the forest in the background; C—Matupá seen up close, representing all vegetation in the image; D—Carolina T. Freitas on the matupá surface during field work.

[...]

 

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