[...]
Por que eu acho isso? Fiquei mais de dez anos dentro de um sindicato, militando por uma causa, então eu reconheço um idiota quando vejo porque sempre que acordava tinha que olhar para um no espelho.
Autocrítica bem pesada.
Eu era um militante bastante empolgado, e isso me tornou cego. Mas, diferente do que possa parecer, eu não me envergonho e tampouco me orgulho do que já fiz ou participei* (não matei ninguém e nem roubei, quero deixar isso bem claro), somente passei a analisar as coisas de uma maneira mais racional. Poucos de nós aqui se conhecem pessoalmente para que seja possível fazermos qualquer tipo de juízo de valor uns dos outros, por isso não gosto quando me rotulam (mesmo indiretamente) como sendo partidário da corrente X ou Y. Mesmo que eu não goste, minhas posições me situam no espectro socialista da política atual, mais precisamente como centro-esquerda, como a maioria aqui, arrisco a dizer. O que isso tem a ver com ateísmo?
Ser ateu para mim não é uma causa (já foi, mas eu amadureci - pelo menos gosto de pensar assim) assim como ser da "esquerda" também não é, mas me torna apto a reconhecer um militante radical quando vejo um. E se não gosto que me tornem cúmplices de crimes apenas pelo que eu acredito, ou deixo de acreditar, também não me sinto a vontade quando alguém se torna o meu porta-voz e insiste em me defender de perigos reais e, o que é mais provável, imaginários.
* Fiz greves, mobiliações, pregações, etc... o grande problema é que um dia descobri que estava sendo manipulado, as pessoas me usavam, por ser do sindicato, para atacar o chefe, o diretor, entre outras coisas. Eu entrei na onda e logo estava me sentindo o super-herói, pronto a salvar o mundo e as pessoas (salvar do que? delas mesmas, do capitalismo, da Globo). Até que um dia eu vi um cara que era um grande incentivador das greves, das mobilizações e de minha atuação andando de braços dados com o diretor que ele queria deposto, degolado ou morto; e tudo isso para ganhar um carguinho. O demônio nasceu de um anjo de luz, e assim é com os grandes ditadores, eles começam fazendo aquilo que os outros não querem fazer, até que um dia eles não deixam ninguém fazer mais nada.
Estou exagerando? Talvez... mas, guardadas as devidas proporções, era assim que eu me sentia.