Seria o designer um ET? Não sabemos, pois a TDI se propõe tão-somente identificar 'sinais de inteligência' e não a identidade ou natureza do designer
Mensagem de Enézio F. de Almeida Filho (neddy@uol.com.br), coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente:
“Em ‘Quem desenhou o Designer?’ (Folha de SP, Mais!, 31/7, JC E-Mail 2823, de 1/8), inadvertidamente Marcelo Gleiser, tornou-se (ironia do 'destino'?) o 'sujeito' de um artigo seu intitulado ‘Quando os mestres erram’ (Micro/Macro, FSP, domingo, 26/11/2000), sobre como ‘a autoridade intelectual opera na comunidade científica, muitas vezes com efeitos negativos. Essa imagem do grande mestre projeta uma aura de infalibilidade que é falsa: grandes mentes também erram’.
Na coluna semanal Micro/Macro, Gleiser projeta esta aura de 'infalibilidade': não destaca as críticas recebidas e nem a FSP dá espaço aos que são criticados se defenderem. Segundo a FSP, isso é 'jornalismo crítico, moderno, pluralista e apartidário'.
Isto posto, vamos aos erros de Gleiser:
A questão do Design Inteligente (DI) não é o novo capítulo da guerra ciência vs. religião, mas sim um inusitado capítulo em História da Ciência da recusa obstinada da Academia em lidar com a questão científica fundamental: a insustentável suficiência epistêmica da teoria geral da evolução de Darwin e de seguir as evidências aonde elas forem dar.
Polarizar a questão como sendo ciência vs. religião é blindar Darwin convenientemente de quaisquer críticas. Mesmo as científicas.
Nós, proponentes do DI, rejeitamos o rótulo acima porque apresentamos um método científico de detecção de marcadores empíricos de design: complexidade irredutível de sistemas biológicos complexos (Behe - biologia) e informação complexa especificada (Dembski - teoria da informação e matemática).
Gleiser sabe, a identidade do designer não é questão científica, mas metafísica (ontológica) e assunto pertinente à filosofia e teologia.
O DI se contrapõe [parcialmente] ao processo de design não-inteligente [acaso + necessidade + mutação + seleção natural + tempo] como sendo capaz de "explicar" a complexidade [e diversidade] da vida.
Seria o designer um ET? Não sabemos, pois a TDI se propõe tão-somente identificar 'sinais de inteligência' e não a identidade ou natureza do designer.
A justificativa de Gleiser de utilizar o espaço da coluna Micro/Macro "para discutir DI" é louvável, mas ela é do tipo "morde e assopra".
‘Assopra’: Ele se considera 'diferente' dos que rejeitam o DI porque discute o assunto, mesmo que isso nos dê imerecida ‘credibilidade’. O DI não precisa disso para se estabelecer como teoria científica: são as evidências que precisam ser consultadas.
A recusa de muitos cientistas de participarem de mesas redondas com os teóricos e defensores do DI, não é pelos motivos alegados por Gleiser, mas pela estratégia de se evitar o confronto de idéias em foros legítimos e até em publicações especializadas de revisão por pares.
‘Morde’: Gleiser discorda e subestima a capacidade intelectual dos teóricos e defensores do DI – ‘Talvez seja mesmo impossível usar argumentos racionais para convencer aqueles que acreditam cegamente nas premissas do DI’, quando temos cientista que já foi indicado cinco vezes ao prêmio Nobel e é o terceiro químico mais citado nas publicações científicas.
O DI tem como alvo tanto a Academia como milhões de outras pessoas, maioria que não é silenciosa, nem está confusa, mas curiosa, tentando entender o por que do silêncio imposto pela Academia ao livre debate das idéias.
Por que alguns cientistas não aparecem publicamente ‘para derrubar de uma vez por todas o movimento do DI’? Simples, deve ser devido à impossibilidade de expor a insuficiência epistêmica da TDI.
Gleiser está certo: argumentos do tipo ‘para um cientista, é perda de tempo engajar-se nesse debate’ soam como desculpa de alguém que já está derrotado ou que tem medo do confronto.
Esse silêncio dos cientistas é comprometedor e revelador: não podem mais tapar o Sol dos erros da teoria geral da evolução com uma peneira epistemológica furada, mas fortemente apoiada pelo naturalismo filosófico mascarado de ciência.
Quanto à questão da hipótese científica, o DI também entende: uma hipótese só é considerada científica se for passível de validação empírica. Pero no mucho!
O rigor epistêmico do ‘ver para crer’ da ciência (racional) nem sempre se opõe ao ‘crer para ver’ da religião (irracional). É muito mais fácil ‘ver’ 'buracos de minhoca' quando se acredita que milagres também possam acontecer em Física.
Nem sempre 'no ver para crer científico' uma hipótese vem acompanhada de testes que determinem se está certa ou errada: teorias da ciência das origens como o Big Bang ou a origem da vida.
Contudo, somente em teorias da ciência operacional, a hipótese, se estiver certa, explica os fenômenos que se propõe a explicar.
A existência dos átomos (formados de prótons e nêutrons no núcleo e de elétrons à sua volta) é exemplo de física (ciência operacional). Mais difícil é a hipótese controversa em biologia do ancestral comum.
Os cientistas construíram teorias para explicar milhares de fenômenos de grande informação biológica sem nenhuma observação em laboratórios, nem a identificação dos mecanismos responsáveis pelo transformismo biótico até hoje.
Segundo a discussão acima, a hipótese do 'relojoeiro cego' [Dawkins] (somos o produto de um processo não-inteligente que não nos tinha em mente) não é científica. Segundo o rigor epistêmico de Gleiser, ela não é observável nem verificável em laboratórios.
Quanto ao designer, que Gleiser nomeia como sendo Deus, ser aparentemente tímido ao longo de 'uns bons 3 bilhões de anos', queira nos contatar, revelar o que aprendeu conosco ou os objetivos do experimento, ou ‘quem foi que o desenhou?’ é questionamento que não cabe em ciência: é metafísica pura.
Além disso, segundo a tradição religiosa de Gleiser: finitum non capax infinitum.
A pergunta ‘quem foi que desenhou o designer?’ demanda explicações da realidade última, universal e através do tempo.
As explicações teóricas do Design Inteligente são próximas ou locais e minimalistas: determinar se algum evento, objeto ou estrutura particular exibe sinais claros de inteligência que possam ser atribuídos a design intencional: complexidade irredutível de sistemas biológicos (Behe) e a informação complexa especificada (Dembski).
Concluindo com a conclusão do artigo ‘Quando os mestres erram’: ‘para nós, fica a lição de que, em ciência, autoridade [Gleiser] pode cegar a visão de muitos durante um bom tempo. Mas, cedo ou tarde, se Davi [DI] tiver melhores idéias do que Golias [Darwinismo], ele vai vencer a batalha’.“