Fatos são eventos considerados verdadeiros.
Como distinguir o que é fato e o que não é, vai depender do que mais especificamente se supõe ser um fato.
É, você pode ser mais ou menos estrito quanto àquilo que considera como sendo um fato. Eu, por exemplo, considero como fato apenas aquilo que eu percebo diretamente por meio da experiência, ou seja, por meio dos meus sentidos. Mais estrito do que isso impossível, acho. Por exemplo, quando olho pro céu à noite e vejo a lua lá, isso é um fato. Agora, que a lua chegou lá porque deu uma volta ao redor da Terra, não é um fato, é uma explicação (muito boa, convenhamos). Em outras palavras, precisou abstrair, precisou interpretar, deixou de ser fato e virou teoria.
Ah tá. Eu considero também como fatos explicações muito boas que não fujam dos fatos (incluindo os fatos que são explicações muito boas) que conheço. Por exemplo, se me viro e vejo alguém atrás de mim, posso não ter visto nem ouvido essa pessoa chegar, mas ainda assim assumo como fato (o que acho que por essa sua concepção seria uma teoria) que ela veio parar ali andando, em vez de ter se materializado, caido ilesa e silenciosamente de um salto enorme, ou ter estado sempre lá, só que invisivelmente.
O mesmo eu aplico para outras coisas diversas, como teoria da evolução. Eu nunca presenciei nascimentos do que mais do que um punhadinho de seres vivos, e com certeza nunca fiz testes sobre herdabilidade de seus traços. Mas a hipótese de que os seres são provenientes apenas de outros seres me parece boa o suficiente para que eu a considere um fato. Somo a isso as pequenas quantidades de informações dispersas que me sugerem fortemente que há variações hereditárias nos seres vivos, e já está aí o esqueleto básico da evolução. Ele se mantém de pé e é preenchido com todos os órgãos na medida que só observo os fatos que seriam observados se essa hipótese fosse verdadeira, e principalmente, nunca vejo fatos que seriam contrários a hipótese, apesar desses serem em teoria esmagadoramente mais numerosos, se a teoria não fosse fato.
É uma assunção tão ou mais segura quanto a de assumir que as crateras na lua foram produzidas por impactos, apesar de ninguém vivo ter visto isso ocorrer. É apenas mais complexa, exige mais observações de fatos para sua comprovação, ao mesmo tempo que também aumenta a possibilidade de refutaçào por observações incompatíveis.
Acho que se alguém discorda dessa ou de alguma outra eventual definição de "fato" (que nào devem ser muito discordantes dessa, apesar de poderem ser bem melhores), não tem muito o que fazer, esse alguém deve ser solipsista ou coisa parecida. E aí vale toda a imaginação mesmo, os fatos científicos são menos que palpites.
Ah, não, não convém nem discutir, pelo menos não agora, essas maluquices, essas coisas tipo "Teoria da Matrix" ou similares. O problema que eu quis apontar na argumentação do Atheist é ficar usando a palavra "fato" indiscriminadamente, como se fosse óbvio, por exemplo, que a gravidade, ou o eletromagnetismo, ou a evolução (das espécies) sejam fatos tanto quanto a pedra que cai do Perseus, e que isso não deveria ser objetivo de discussão séria. Para mim, são teorias, são explicações de fatos, mas não são fatos eles mesmos. Para outros, podem ser. E a discussão dessa factualidade (ou não), desgraçadamente, cai fora do balaio da ciência e cai dentro, invariavelmente, no da filosofia.
Ah, entendo.
Eu acho que essas "teorias comprovadas como fatos", ou como quiser chamar, realmente não são óbvias como "fatos cotidianos" (aguns dos quais que podem ironicamente ser ilusões!), podem até ser contra-intuitivos, como a esfericidade e o movimento da Terra.
Não são imediatamente óbvios, mas acho que podem ser bastante "seguros", ser até colocados fora de questão, tendo se examinado suficientemente, levando em consideração o maior número possível de... fatos.
Chega um ponto que para certas teorias estarem erradas, não serem fatos, você teria que assumir que a realidade é absurdamente diferente do que aparenta ser, tanto quanto em algumas das hipóteses alternativas para como uma pessoa "apareceu" sem que tenhamos visto ou ouvido.