A explicação para a consciência não me parece fora de alcanse, sua descrição sim, porque aí cai sempre em auto-referência e todo o vocabulário existente parece insuficiente.
Eu repito a pergunta : explicação em que sentido ? A grande questão a ser respondida é : como passamos de processamento de informação, para processamento de informação com experiência subjetiva?
Abs
Felipe
Isso me lembrou uma pergunta que fiz em outro tópico sobre o "como os bichos formulam pensamentos sem vocabulário", mas não consegui expressar muito bem a idéia. Tinha exatamente a ver com subjetividade, algo como "é possível que haja subjetividade apenas visual ou talvez ela dependa, entre outras coisas, do vocabulário?"
Sempre viajo nisso observando meu cachorro quando ele parece distraído "pensando na vida", mas sabendo que temos uma tendência quase instintiva de humanizar as coisas, me pergunto se ele realmente pode experimentar, ainda que de uma forma muito simples, o que chamamos de subjetividade. E outros como porcos, golfinhos, baleias e alguns primatas.
A primeira impressão que tenho é que sim, mas voltando a sua pergunta, a resposta talvez seja linguagem - decodificação do processamento natural de informação.
Penso que talvez façamos uma inevitével associação entre processamento e subjetividade, porque no nosso caso talvez realmente seja e, consequentemente, extendemos essa percepção a outras espécies porque de outra forma não conseguiríamos processar a informação, mas talvez não seja assim.
Se a questão é corroborar o quanto um animal, como um cão, por exemplo, pode experimentar de subjetividade, sugiro que observe um cachorro dormindo e verá como os seus olhos as vezes se movem sob suas pálpebras fechadas e também ele executa movimentos como se estivesse a se debater, ou a saltar ou correr. É incrível como se parece com uma pessoa qualquer dormindo.
Talvez um cão não seja muito diferente de um indivíduo humano analfabeto com relação as suas experiências subjetivas diferindo apenas a intensidade. Que aliás diferiria até de pessoa pra pessoa.
Talvez o significado que dei para a expressão subjetividade difira do seu ou talvez do próprio significado da palavra. Consciência ou raciocínio talvez exemplifique melhor. É que para mim não faz muito sentido dissociar uma coisa da outra. Mas se por subjetividade nos referirmos a presença de atividade cerebral, então, sim, todo cérebro ou ao menos os mais complexos, produzem experiências subjetivas.
Voltando aos exemplos. Meu cachorro demonstra interesse por todo cachorro que avista, mas reage aos cachorros que vê na TV do mesmo modo que reage ao próprio reflexo no espelho, sem qualquer interesse especial. Então, me pergunto se ele tem noção que tanto o espelho quanto a TV projetam apenas ilusões ou se o que desperta seu interesse, na verdade, é o olfato e não a visão. Me parece ser o último caso, e nesse caso, me parece mais uma reação instintiva do que consciente. Ao mesmo tempo me pergunto se sua atividade mental quando vê um cachorro na TV ou sua própria imagem refletida difere de quando vê a maioria dos objetos.
Outra coisa notável é que o som das palavras, mesmo o próprio nome, parece ter pouco ou nenhum significado para ele, mas sim o tom da voz. Se digo "amor, dicionário ou café" em tom amistoso ele abana o rabo, se digo em tom severo senta cabisbaixo.
Por outro lado, ele tem reações em algumas situações que parecem mais intecionais do que acidentais ou instintivas, o que pressupõe alguma capacidade de dedução e planejamento, o que pressupõe capacidade de interpretação dos dados captados pelos sentidos, o que por sua vez, parece depender de uma ferramenta de manipulação desses dados, um sistema de símbolos, a exemplo do vocabulário, algo do que ele não parece dispor.
Tudo isso para, voltando ao tópico, dizer que resposta a explicação para a consciência parece estar no desenvolvimento do mecanismo de comunicação.