No primeiro encontro entre um ateu e um agnóstico, a assertiva infalível:
- Mas você não pode afirmar com 100% de certeza que deus não existe!
Já me senti embaraçado com isso. Bons tempos, tenra idade. Passei um período em que minha resposta girava em torno de um "e daí?" erudito, deixando claro que minha "condição" era de alguém sem nenhum interesse em desvendar os mistérios do divino. Um bom observador enxergava a fraqueza na minha muralha e passava a me bombardear com aquelas baboseiras de sempre: "Mas o que havia antes do Big Bang?", "Você acha possível um ser tão complexo como você ter surgido do nada, sem a intervenção de uma 'energia superior'?" e que tais. Papo aborrecido, sem nexo; nunca recuei um milímetro em direção ao "agnosticismo" e suas variantes.
Engraçado como uma pequena guinada de pescoço faz a gente enxergar as coisas de outro ângulo. Pois finalmente dei meu Olhar 43, aquele assim, meio de lado... Achei um agnóstico, preparei a bola na marca do penalty, me afastei alguns passos e preparei o petardo:
- Mas você não pode afirmar com 100% de certeza que deus não existe!
- Não afirmo. Aliás, em quantos por cento você está hoje?
- Como assim?
- Bem. Você não atingiu os 100% - e imagino que, como agnóstico, já tenha saído do zero. O agnóstico tá sempre procurando respostas, então essa porcentagem de descrédito por deus deve variar no seu dia-a-dia. Então me diz: como estamos hoje?
- Eu?
- É.
Fium, fium, fium. O papo murcha na mesma hora. Muda o assunto:
- Cara, vai chover, vai não?
- Não tenho 100% de certeza.