Autor Tópico: Ciência X Filosofia.  (Lida 4812 vezes)

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Offline Muad'Dib

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Ciência X Filosofia.
« Online: 09 de Junho de 2012, 08:48:42 »
http://www.nytimes.com/2012/06/10/opinion/sunday/what-physics-learns-from-philosophy.html?_r=1

Não entendo o motivo de se haver um antagonismo entre filosofia e ciência. É indiscutível que é papel da ciência, e da ciência somente, fornecer para os homens dados sobre a natureza que sejam os mais próximos possíveis da realidade. Dados esses que passam pelo crivo da metodologia científica, que é, realmente e indiscutivelmente, o melhor método para se obter esses dados.

Mas a filosofia não é inútil. Ela pode muito bem ser considerada um instrumento da ciência. Tem um post do Derfel, se não me engano, onde ele faz uma síntese do que é o ceticismo e seu papel no método científico. Foi um parágrafo curto e extremamente direto, feito, provavelmente, para explicar para algum user "confuso" o que era ceticismo.

Ceticismo é o maior instrumento do método científico. Filosofia não poderia se encaixar nesse contexto também?

Filósofos tem a característica de pegar uma idéia X e decompô-la de forma lógica. Será que isso não tem um papel importante para a ciência?


Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #1 Online: 09 de Junho de 2012, 11:10:28 »
Quem se interessar, tá aqui a crítica do Albert sobre o livro do 'A universe from nothing' do Krauss, que o artigo postado pelo Iabadabadu citou. Apesar de filósofo, o Albert também é doutor em física. Ele sabe do que está falando. Ele critica o Krauss tanto em sua ingenuidade filosófica como seu entendimento de teoria quântica de campos.

No mais, minha opinião é a que está no final do texto que você passou:

Citar
As Bertrand Russell (himself no slouch at physics and mathematics) observed, philosophy aims at knowledge, and as soon as it obtains definite knowledge in a specific area, that area ceases to be called “philosophy.” And scientific progress gives philosophers more and more to do.

Filósofos são bons em fazer perguntas. São bons em criticar lingüagem não clara. Eles também são bons em uma espécie de pensamento inverso: ao invés de procurar a resposta para um problema, perguntam quais características uma resposta deve ter para contar como uma resposta. Três coisas úteis no debate sobre interpretações da Mecânica Quântica, por exemplo.

O único problema é que filosofia pode causar uma paralisia de pensamento. Ao ser tão chato com as definições, pode fazer o progresso impossível. É para ser usado com cuidado. :P

Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #2 Online: 09 de Junho de 2012, 11:15:59 »
Outra opinião que eu discordo é de que para um cientista saber epistemologia é tão desnecessário quanto um peixe saber hidrodinâmica.

O entendimento de epistemologia dos cientistas influenciam na seleção de teorias. A diferença no debate entre Bohr e Einstein sobre mecânica quântica, por exemplo, é tanto epistemológica quanto física. Caso a comunidade como um todo não aceitasse a idéia de Bohr de ciência, ela provavelmente teria procurado outras alternativas, como a que estava presente desde o início dos debates, a idéia da onda piloto de de Broglie. O que influenciaria no desenvolvimento científico, para melhor ou para pior.

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #3 Online: 09 de Junho de 2012, 11:42:56 »
Filosofia da ciência é incontestável. Se fosse ensinada nas escolas nós teriamos menos analfabetismo científico.

Eu tava pensando mais em filosofia da mente.

Estudos científicos sobre a mente foram totalmente negligenciados pelos cientístas. Só agora é que se está levando a sério essa questão.

Eu acho que a filosofia como um instrumento seria usar os diversos modelos filosóficos (Chalmers por exemplo, não sei se seria bem um modelo) como um trampolim para a ciência.

Filosofia da linguagem é outra coisa que está me parecendo extremamente útil.

Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #4 Online: 09 de Junho de 2012, 12:04:55 »
Filosofia da mente? Não vejo a utilidade.

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #5 Online: 09 de Junho de 2012, 12:07:58 »
Filosofia da mente? Não vejo a utilidade.

Você acha que a mente não é um objeto de estudo válido?


Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #6 Online: 09 de Junho de 2012, 12:16:19 »
Acho. Mas acho que é um problema científico onde filósofos podem deixar claro detalhes do problema e ajudar na busca de sua resolução, mas não resolvê-lo.

O que eu não vejo é a utilidade da "filosofia da mente" nas áreas em que não se preocupam em resolver o problema da 'experiência subjetiva'. Aliás, que áreas se preocupam? Inteligência artificial e neurociências, né?

Eu nunca estudei isto direito, hein, mas lá vai um pitaco do modelo que você citou: a idéia do Chalmers da consciência como uma entidade fundamental que não é reduzida a outros conceitos, como massa, posição, tempo, etc, me parece o velho dualismo e está sujeita às mesmas críticas do que este.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #7 Online: 09 de Junho de 2012, 12:35:41 »
A mim esse antagonismo soa coisa de quem tem uma visão esotérica da ciência. Ciência como "o que os magos-cientistas fazem", longe dos olhos dos não-feiticeiros, um processo mágico no qual não cogitam envolver questionamentos sobre "como saber" algo.

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #8 Online: 09 de Junho de 2012, 12:43:09 »
Acho. Mas acho que é um problema científico onde filósofos podem deixar claro detalhes do problema e ajudar na busca de sua resolução, mas não resolvê-lo.

O que eu não vejo é a utilidade da "filosofia da mente" nas áreas em que não se preocupam em resolver o problema da 'experiência subjetiva'. Aliás, que áreas se preocupam? Inteligência artificial e neurociências, né?

Eu nunca estudei isto direito, hein, mas lá vai um pitaco do modelo que você citou: a idéia do Chalmers da consciência como uma entidade fundamental que não é reduzida a outros conceitos, como massa, posição, tempo, etc, me parece o velho dualismo e está sujeita às mesmas críticas do que este.

Entendo.

Chalmers, tirando a ênfase que ele dá aos qualia, pelo que eu entendi de sua proposta, não sei se chega a propor algo realmente. O que ele propõe é que para se explicar a consciência devemos ter que encontrar supostas "novas leis fundamentais da física". Tipo o eletromagnetismo. Às vezes me parece mais epifenomenalismo que dualismo.

Mas o "Experimento do Quarto Chines" por exemplo, é muito lógico e interessante. É um derivado filosófico que pode servir de base para avaliações científicas, mesmo que sejam para refutar o experimento mental.

"Base científica" eu falo no sentido de "ajuda para quem está estudando o assunto organizar a ideia do que, possivelmente é ou não, o objeto".



Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #9 Online: 09 de Junho de 2012, 12:45:48 »
Eu nunca estudei isto direito, hein, mas lá vai um pitaco do modelo que você citou: a idéia do Chalmers da consciência como uma entidade fundamental que não é reduzida a outros conceitos, como massa, posição, tempo, etc, me parece o velho dualismo e está sujeita às mesmas críticas do que este.

Acho que há diferenças entre este dualismo e o "clássico". Pelo que me lembro do pouco que vi ele não propõe que exista a mente nessa "outra realidade" de forma isolada e com uma relação causal unilateral determinante sobre os correlatos neurais da consciência. Ou seja, não há toda essa linha geral de problemas de "se a mente não é física, por que ficamos bêbados quando bebemos demais?" Acho que nem bem seria o caso de se dizer que a mente em si não é física. E vai além até de apenas aceitar uma relação causal nos dois sentidos (o que seria uma melhora), ela pode ser apenas no sentido "neuroquímica → consciência", o que me parece deixar a coisa mais parcimoniosa.



No que a hipotética consideração desta "coisa" como entidade fundamental da física difere da consideração de outras entidades fundamentais da física? Com as últimas é uma consideração em algo "menos" filosófica?

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #10 Online: 09 de Junho de 2012, 12:47:09 »
A mim esse antagonismo soa coisa de quem tem uma visão esotérica da ciência. Ciência como "o que os magos-cientistas fazem", longe dos olhos dos não-feiticeiros, um processo mágico no qual não cogitam envolver questionamentos sobre "como saber" algo.

Mas o antagonismo parte justamente de cientistas.

Não imagino que exista um filósofo que seja ingênuo a ponto de acreditar que suas ideias podem tomar o lugar da ciência.


Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #11 Online: 09 de Junho de 2012, 13:16:04 »
Citar
Acho que há diferenças entre este dualismo e o "clássico". Pelo que me lembro do pouco que vi ele não propõe que exista a mente nessa "outra realidade" de forma isolada e com uma relação causal unilateral determinante sobre os correlatos neurais da consciência. Ou seja, não há toda essa linha geral de problemas de "se a mente não é física, por que ficamos bêbados quando bebemos demais?" Acho que nem bem seria o caso de se dizer que a mente em si não é física. E vai além até de apenas aceitar uma relação causal nos dois sentidos (o que seria uma melhora), ela pode ser apenas no sentido "neuroquímica → consciência", o que me parece deixar a coisa mais parcimoniosa.

Deixa eu ver se entendi. Nessa visão, a consciência não é um produto do cérebro, mas interage com este. Mas, neste caso, se conseguirmos algum dia correlacionar todos os estados da consciência com o que ocorre no cérebro, sem vestígio algum de um "Eu", estaria provado que não há interação e logo é o velho dualismo?

O meu problema com esta idéia é que ela parece meio mágica, algo influenciando a atividade do cérebro e rompendo as boas leis da física. Parece um pouco ad hoc, também.

Citar
No que a hipotética consideração desta "coisa" como entidade fundamental da física difere da consideração de outras entidades fundamentais da física? Com as últimas é uma consideração em algo "menos" filosófica?

É uma pergunta muito boa, para a qual não tenho resposta. Eu poderia arriscar uma diferença.

Por exemplo, "posição", "tempo" e "massa" são conceitos fundamentais, não definidos em termos de algo prévio. Mas, embora não conseguimos defini-los (assim como a consciência!), sabemos como medi-los, utilizando reguas, relógios, balanças. Como medir a consciência?


Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #13 Online: 09 de Junho de 2012, 13:40:46 »
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Acho que há diferenças entre este dualismo e o "clássico". Pelo que me lembro do pouco que vi ele não propõe que exista a mente nessa "outra realidade" de forma isolada e com uma relação causal unilateral determinante sobre os correlatos neurais da consciência. Ou seja, não há toda essa linha geral de problemas de "se a mente não é física, por que ficamos bêbados quando bebemos demais?" Acho que nem bem seria o caso de se dizer que a mente em si não é física. E vai além até de apenas aceitar uma relação causal nos dois sentidos (o que seria uma melhora), ela pode ser apenas no sentido "neuroquímica → consciência", o que me parece deixar a coisa mais parcimoniosa.

Deixa eu ver se entendi. Nessa visão, a consciência não é um produto do cérebro, mas interage com este. Mas, neste caso, se conseguirmos algum dia correlacionar todos os estados da consciência com o que ocorre no cérebro, sem vestígio algum de um "Eu", estaria provado que não há interação e logo é o velho dualismo?

O meu problema com esta idéia é que ela parece meio mágica, algo influenciando a atividade do cérebro e rompendo as boas leis da física. Parece um pouco ad hoc, também.

Apenas reiterando que eu não conheço bem a coisa (nunca me lembro de todos aspectos), acho que não, que a idéia é que haja apenas a relação causal "neuroquímica → consciência fenomenológica". Acho que não dá para deixar de dizer que é uma "interação", ainda que "unilateral"/principalmente unilateral. Numa analogia que eu mesmo inventei e portanto talvez não valha uma titica usada, em vez de algo mágico, não-físico, seria meio análogo à sombra ou ao som de um motor. Não tem exatamente função alguma, apenas se correlaciona em algo.

Não entendi a lógica do que colocou em "mas, neste caso", e não saberia responder.


Citar
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No que a hipotética consideração desta "coisa" como entidade fundamental da física difere da consideração de outras entidades fundamentais da física? Com as últimas é uma consideração em algo "menos" filosófica?

É uma pergunta muito boa, para a qual não tenho resposta. Eu poderia arriscar uma diferença.

Por exemplo, "posição", "tempo" e "massa" são conceitos fundamentais, não definidos em termos de algo prévio. Mas, embora não conseguimos defini-los (assim como a consciência!), sabemos como medi-los, utilizando reguas, relógios, balanças. Como medir a consciência?

Eu não digo que seja de maneira alguma algo fácil, talvez seja meio comparável com temperatura e toda a problemática envolvida* da qual normalmente nem nos damos conta. Ainda mais problemático, tendo nós apenas coisas meio como relatos de "quente", "frio", "morno", mas sem graus de qualquer tipo, ao menos ainda. E os únicos "termômetros" parecem ainda ser nossos cérebros mesmo.



* Vi sobre isso aqui:

Citar
Inventing temperature - This lecture will argue that examining what seems to be a very straightforward question - what is temperature and how can we measure it? - reveals surprising insights into the nature of science and of scientific authority.

<a href="http://beemp3.com/player/player.swf?soundFile=http://richmedia.lse.ac.uk/publicLecturesAndEvents/20070418_1715_inventingTemperature.mp3" target="_blank" class="new_win">http://beemp3.com/player/player.swf?soundFile=http://richmedia.lse.ac.uk/publicLecturesAndEvents/20070418_1715_inventingTemperature.mp3</a>

http://richmedia.lse.ac.uk/publicLecturesAndEvents/20070418_1715_inventingTemperature.mp3


http://www2.lse.ac.uk/newsAndMedia/videoAndAudio/channels/publicLecturesAndEvents/player.aspx?id=331

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #14 Online: 09 de Junho de 2012, 13:45:35 »
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Deixa eu ver se entendi. Nessa visão, a consciência não é um produto do cérebro, mas interage com este. Mas, neste caso, se conseguirmos algum dia correlacionar todos os estados da consciência com o que ocorre no cérebro, sem vestígio algum de um "Eu", estaria provado que não há interação e logo é o velho dualismo?

O meu problema com esta idéia é que ela parece meio mágica, algo influenciando a atividade do cérebro e rompendo as boas leis da física. Parece um pouco ad hoc, também.

Eu acho que é mais a rede neural que, através de uma hipotética lei fundamental da física ainda desconhecida, que produz o fenomeno da experiência subjetiva.

Se identificássemos essa lei a experiência subjetiva ficaria "mais palpável".

Se isso é correto ou não é outro caso. Mas não é um papel válido da filosofia da mente na ciência? Essa discussão que proporciona?


Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #15 Online: 09 de Junho de 2012, 13:46:43 »
Uma espécie de continuação da minha última pergunta. Não houve na história mais ou menos recente da física (talvez até da biologia), mudanças de paradigma que se pudesse dizer serem em "nível filosófico"? (Em vez de uma progressão mais gradual de pequenos fatos de menor significância, não implicando em nenhuma grande revisão na forma de enxergar as coisas)

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #16 Online: 09 de Junho de 2012, 13:49:51 »
Uma espécie de continuação da minha última pergunta. Não houve na história mais ou menos recente da física (talvez até da biologia), mudanças de paradigma que se pudesse dizer serem em "nível filosófico"? (Em vez de uma progressão mais gradual de pequenos fatos de menor significância, não implicando em nenhuma grande revisão na forma de enxergar as coisas)
Houve?


Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #17 Online: 09 de Junho de 2012, 14:26:24 »
É o que pergunto. Coisas que talvez o pessoal mais na linha do Thomas Kuhn apontassem como casos de "revoluções científicas", ou no mínimo os opositores tivessem que torcer um pouco o nariz e ter algum trabalho razoável para dizer que não é o caso.

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #18 Online: 09 de Junho de 2012, 14:39:22 »
É o que pergunto. Coisas que talvez o pessoal mais na linha do Thomas Kuhn apontassem como casos de "revoluções científicas", ou no mínimo os opositores tivessem que torcer um pouco o nariz e ter algum trabalho razoável para dizer que não é o caso.

Na biologia eu acho que não. Na física eu duvido muito.

Mas acho que esse nem é o papel da filosofia. 

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #19 Online: 09 de Junho de 2012, 14:58:31 »

Mas dá para traçar uma linha entre "papel da ciência" e "papel da filosofia"?

Como exatamente essas mudanças de paradigma se dão "sem filosofia", "apenas com ciência"? Existe isso?

Da wikipédia:

Citar
[...]

The transition between the Maxwellian Electromagnetic worldview and the Einsteinian Relativistic worldview.
The transition between the worldview of Newtonian physics and the Einsteinian Relativistic worldview.
The development of quantum mechanics, which replaced classical mechanics at microscopic scales.
The acceptance of plate tectonics as the explanation for large-scale geologic changes.
The development of absolute dating
The acceptance of Lavoisier's theory of chemical reactions and combustion in place of phlogiston theory, known as the Chemical Revolution.
The acceptance of Mendelian inheritance, as opposed to pangenesis in the early 20th century
[...]

Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #20 Online: 09 de Junho de 2012, 15:05:30 »
Citar
Apenas reiterando que eu não conheço bem a coisa (nunca me lembro de todos aspectos), acho que não, que a idéia é que haja apenas a relação causal "neuroquímica → consciência fenomenológica". Acho que não dá para deixar de dizer que é uma "interação", ainda que "unilateral"/principalmente unilateral. Numa analogia que eu mesmo inventei e portanto talvez não valha uma titica usada, em vez de algo mágico, não-físico, seria meio análogo à sombra ou ao som de um motor. Não tem exatamente função alguma, apenas se correlaciona em algo

O que eu imaginei é que, se tivermos uma teoria em que explique como a atividade dos neurônios produzem tudo o que a nossa consciência produz - nossas escolhas, nossos pensamentos e sentimentos, etc - não há espaço para a interação da consciência com esta. Mas, se como você disse, a interação for unilateral, com apenas o cérebro influenciando a consciência, não há este problema. E parece que é isto mesmo que o Chalmers pensa, como mostra este trecho do artigo postado pelo Iabadabadu:

Citar
Sempre que falamos de propriedades elementares, falamos igualmente de leis elementares. Neste caso, as leis devem relaci onar a experiência com elementos da física. É quase certo que estas leis não irão interferir com as leis do mundo físico; parece que estas formam um sistema fechado de pleno direito. Pe lo contrário, as leis irão servir como uma ponte, especificando o modo como a experiência depende de processos físicos subjacentes. É esta a ponte que irá suprimir a falha explicativa.

A ser assim, uma teoria completa terá dois componentes: leis físicas que exprimem o
comportamento dos sistemas físicos do nível infi nitesimal ao nível cosmológico e aquilo que
poderemos chamar leis psicofísicas, as quais  explicarão como é que alguns desses sistemas
estão associados à experiência consciente.

Para explicar porque somos conscientes, e não uma pedra:

Citar
Um outro candidato a uma lei psicofísica é  um princípio de invari ância organizacional. Segundo este princípio, sistemas físicos com a mesma organização abstracta darão origem ao mesmo tipo de experiência consciente, independentemente daquilo de que são feitos. Por exemplo, se as interacções precisas entre os  nossos neurónios pudessem ser reproduzidas com chips de silicone, o mesmo tipo de consciência or iginar-se-ia. Esta ideia é algo controversa mas penso que certas experiências de pensamento que descrevem a substituição gradual de neurónios por silicone a defendem bastante bem. A implicação digna de nota é que a consciência pode vir a ser obtida em máquinas.

E em um apêndice no final do artigo ele diz uma boa experiência de pensamento para demonstrar porquê máquinas com a mesma função que nosso cérebro são conscientes.

Mas enfim, a hipótese do Chalmers ainda me parece um pouco ad hoc. Não conseguimos explicar um fenômeno, logo postulamos uma nova entidade que é este fenômeno, em resumo, e não influencia o mundo (apenas é influenciada por este). E um tanto misteriosa, com a consciência aparecendo do nada em determinados seres. Se tivermos uma teoria de como a atividade em grupo dos neurônios podem gerar o que chamamos de consciência - assim como a atividade em grupo de átomos geram o que chamamos 'temperatura' - sem dúvida esta seria uma teoria preferível.

Edit: Há outro motivo, também. Se esta teoria está certa, não precisamos da consciência para nada, e somos [nosso corpo] os tais 'zumbis filosóficos'. Mas EU CHUTO que estes seriam complexos demais para a seleção natural produzir. Seria bacana um trabalho com a vantagem adaptativa da consciência.
« Última modificação: 09 de Junho de 2012, 15:09:37 por Martuchelli »

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #21 Online: 09 de Junho de 2012, 15:10:57 »

Mas dá para traçar uma linha entre "papel da ciência" e "papel da filosofia"?

Como exatamente essas mudanças de paradigma se dão "sem filosofia", "apenas com ciência"? Existe isso?

Da wikipédia:

Citar
[...]

The transition between the Maxwellian Electromagnetic worldview and the Einsteinian Relativistic worldview.
The transition between the worldview of Newtonian physics and the Einsteinian Relativistic worldview.
The development of quantum mechanics, which replaced classical mechanics at microscopic scales.
The acceptance of plate tectonics as the explanation for large-scale geologic changes.
The development of absolute dating
The acceptance of Lavoisier's theory of chemical reactions and combustion in place of phlogiston theory, known as the Chemical Revolution.
The acceptance of Mendelian inheritance, as opposed to pangenesis in the early 20th century
[...]

Tipo que esses avanços se deveram ao positivismo?

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #22 Online: 09 de Junho de 2012, 15:14:29 »
Invariância organizacional é besteira.  :)

O cérebro não é estático. Está em constante mudança. Agora nesse momento novas sinapses estão se formando  na cabeça de cada um.

Offline Muad'Dib

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #23 Online: 09 de Junho de 2012, 15:32:20 »
besteira no sentido de que não dá para reproduzir o cérebro em chips de silicone.

Os chips seriam sempre os mesmos.

o cérebro está em constante mudança. Mesmo que fosse possível um robo com sinapses nervosas artificiais que fossem passíveis de plasticidade nós ainda não sabemos direiro como e em que circunstâncias uma sinápse e feita ou desfeita.

Copiando o sistema físico não dá para reproduzir a consciência.

Offline Rocky Joe

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Re:Ciência X Filosofia.
« Resposta #24 Online: 09 de Junho de 2012, 15:37:18 »
Citar
Uma espécie de continuação da minha última pergunta. Não houve na história mais ou menos recente da física (talvez até da biologia), mudanças de paradigma que se pudesse dizer serem em "nível filosófico"? (Em vez de uma progressão mais gradual de pequenos fatos de menor significância, não implicando em nenhuma grande revisão na forma de enxergar as coisas)?

Acho que o mais comum é ambos influenciarem numa mudança de paradigma - tanto o "nível filosófico" como "nivel científico". Para dar um exemplo, a hipótese atômica descreve perfeitamente diversos fenômenos - como o movimento browniano - mas aceitá-la também necessitou uma mudança de como vemos a ciência - um "papel da filosofia". Muitos cientistas - como Ernst Mach - não aceitavam o átomo por não poder ser observado (diretamente). Mas imaginar uma mudança de paradigma em nível filosófico apenas, eu não consigo*.

* Se eu soubesse mais história da ciência, poderia tentar arriscar uma: se dissermos que uma mudança dessas é feita se já existe uma teoria que descreve os mesmos fenômenos, e mesmo assim a mudança de paradigma para outra teoria é feita, a relatividade restrita me parece encaixar-se nisto. Já havia uma teoria que explicava a dilatação do tempo, experimento de Michelson-Morley, etc: a teoria do éter de Lorentz. Mas como tem uma hipótese que foi considerada ad hoc - o éter - foi deixada de lado.

Mas, enfim, acho que o importante não é sermos específicos no que é ciência e o que é filosofia, mas dizer que não há problemas em filósofos trabalhando com cientistas (como ocorre em áreas como os fundamentos das teorias quânticas).
« Última modificação: 09 de Junho de 2012, 15:40:16 por Martuchelli »

 

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