Apenas reiterando que eu não conheço bem a coisa (nunca me lembro de todos aspectos), acho que não, que a idéia é que haja apenas a relação causal "neuroquímica → consciência fenomenológica". Acho que não dá para deixar de dizer que é uma "interação", ainda que "unilateral"/principalmente unilateral. Numa analogia que eu mesmo inventei e portanto talvez não valha uma titica usada, em vez de algo mágico, não-físico, seria meio análogo à sombra ou ao som de um motor. Não tem exatamente função alguma, apenas se correlaciona em algo
O que eu imaginei é que, se tivermos uma teoria em que explique como a atividade dos neurônios produzem tudo o que a nossa consciência produz - nossas escolhas, nossos pensamentos e sentimentos, etc - não há espaço para a interação da consciência com esta. Mas, se como você disse, a interação for unilateral, com apenas o cérebro influenciando a consciência, não há este problema. E parece que é isto mesmo que o Chalmers pensa, como mostra este trecho do artigo postado pelo Iabadabadu:
Sempre que falamos de propriedades elementares, falamos igualmente de leis elementares. Neste caso, as leis devem relaci onar a experiência com elementos da física. É quase certo que estas leis não irão interferir com as leis do mundo físico; parece que estas formam um sistema fechado de pleno direito. Pe lo contrário, as leis irão servir como uma ponte, especificando o modo como a experiência depende de processos físicos subjacentes. É esta a ponte que irá suprimir a falha explicativa.
A ser assim, uma teoria completa terá dois componentes: leis físicas que exprimem o
comportamento dos sistemas físicos do nível infi nitesimal ao nível cosmológico e aquilo que
poderemos chamar leis psicofísicas, as quais explicarão como é que alguns desses sistemas
estão associados à experiência consciente.
Para explicar porque somos conscientes, e não uma pedra:
Um outro candidato a uma lei psicofísica é um princípio de invari ância organizacional. Segundo este princípio, sistemas físicos com a mesma organização abstracta darão origem ao mesmo tipo de experiência consciente, independentemente daquilo de que são feitos. Por exemplo, se as interacções precisas entre os nossos neurónios pudessem ser reproduzidas com chips de silicone, o mesmo tipo de consciência or iginar-se-ia. Esta ideia é algo controversa mas penso que certas experiências de pensamento que descrevem a substituição gradual de neurónios por silicone a defendem bastante bem. A implicação digna de nota é que a consciência pode vir a ser obtida em máquinas.
E em um apêndice no final do artigo ele diz uma boa experiência de pensamento para demonstrar porquê máquinas com a mesma função que nosso cérebro são conscientes.
Mas enfim, a hipótese do Chalmers ainda me parece um pouco ad hoc. Não conseguimos explicar um fenômeno, logo postulamos uma nova entidade que é este fenômeno, em resumo, e não influencia o mundo (apenas é influenciada por este). E um tanto misteriosa, com a consciência aparecendo do nada em determinados seres. Se tivermos uma teoria de como a atividade em grupo dos neurônios podem gerar o que chamamos de consciência - assim como a atividade em grupo de átomos geram o que chamamos 'temperatura' - sem dúvida esta seria uma teoria preferível.
Edit: Há outro motivo, também. Se esta teoria está certa, não precisamos da consciência para nada, e somos [nosso corpo] os tais 'zumbis filosóficos'. Mas EU CHUTO que estes seriam complexos demais para a seleção natural produzir. Seria bacana um trabalho com a vantagem adaptativa da consciência.