Bem, esse pesquisador é real e ele realmente "investiga" esse tipo terapia alternativa. Segundo seu Lattes, possui 13 artigos publicados. A maioria, julgando pelo título, tem a ver com esses negócios Nova Era/Bicho-Grilo e foram publicados em uma obscura revista nacional, uma tal de Revista Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (qualis B5). A propósito, ele é professor da UNIFESP, não da USP.
Não consigo entender como alguém consegue dizer sem rir coisas como:
A constatação no estudo de que a imposição de mãos libera energia capaz de produzir bem-estar foi possível porque a ciência atual ainda não possui uma precisão exata sobre esse efeitos. “A ciência chama estas energias de ‘energias sutis’, e também considera que o espaço onde elas estão inseridas esteja próximo às frequências eletromagnéticas de baixo nível”, explicou.
Isso é equivalente a um suposto mecânico de automóveis dizendo que o problema no seu carro é causado pela rebimboca da parafuseta desconectada do cilindro despolarizador de massa do gradiente inverso do platinado. Bullshit de alto grau de pureza.
E pra finalizar: já vi gente defendendo terapias alternativas do tipo esotério em trabalhos supostamente científicos. Eles só esquecem de usar duplo cego, amostras grandes o suficiente ("basta o relato de 5 pacientes"). E controle? Quequeísso?
Eu me pergunto se as pessoas que expoem essas idéias realmente acreditam no que estão dizendo. Digo, as pessoas que deveriam saber melhor, não o pessoal que apenas lê livros e revistas de misticismo e esotérismo, e acaba sendo mais naturalmente levado a crer numa outra "versão" da realidade.
Eu duvido muito da honestidade dos autores criacionistas, não raras vezes o que eles colocam sugere que devem ter um conhecimento tal que, já seria suficiente para desacreditar aquilo que eles propoem (ou suas pretensas contestações/críticas à biologia ou física). A impressão que passa é que vivem sob um conflito onde crêem que devem crer numa mentira (ou em algo que, por tudo que sabem, parece inegavelmente falso), e que é melhor que as pessoas acreditem nessa mentira. Então eles fazem o que podem para "proteger" os fiéis do conhecimento integral das coisas, que ameaçaria sua fé.
Já nesses casos de esoterismo/misticismo, não parece poder haver um apelo de "missão" de salvar as pessoas, e tenho a impressão que geralmente esses pesquisadores não estão ganhando com "prática" dessas técnicas "alternativas" ou livros para o público leigo. Acho que a explicação é que eles um dia foram esse público leigo que acreditava nessas coisas e só acha difícil abandonar, uma espécie de viés de aversão à perda de investimentos, só que o investimento tendo sido de tempo e imagem, em vez de apenas financeiro. "Se isso estiver errado, então eu passei metade na minha vida acreditando numa bobagem, logo isso deve ser certo".
Relacionado a isso, vi num dos episódios do podcast do Dan Ariely, que as pessoas acabam se convencendo de serem mesmo mais inteligentes quando, ao fazer um teste de QI ou algo análogo, têm a oportunidade de ver as respostas. Acho que isso pode ter alguma analogia no design de experimento aquém do ideal. Mesmo saber dessas falhas gritantes não afeta a crença na validade dos resultados, e talvez elas já tenham sido colocadas lá de forma essencialmente deliberada, mas com todo esse aspecto de "auto-enganação sincera".