Aqui vai um texto meu baseado na vasta literatura sobre Psicologia que já tive acesso (não sou psicólogo, mas sou um autodidata muito interessado nos assuntos de Psicologia)...
Distúrbios emocionais e ajuda psicológica e médicaAo contrário do que muitos acreditam, muitas resoluções de problemas psicológicos não dependem de consultas a psicoterapeutas ou uso de medicamentos. A presença de emoções disfuncionais não torna a pessoa incapaz de aprender sobre as habilidades emocionais básicas com a ajuda da literatura psicológica dedicada ao público em geral. Todavia, apesar disso, quando o ensino dessas habilidades parece insuficiente talvez haja aí um sinal de que se atingiu o patamar de distúrbio emocional. Nesse caso, a consulta profissional de um especialista em saúde mental se faz necessária. Como será demonstrado nesta exposição, existem providências específicas e observações a se levar em conta antes de buscar a ajuda especializada.
Comecemos pela observação de que tipos de terapias devemos evitar. Ao contrário do que muitos imaginam, não é verdade a afirmação de que “A terapia só pode fazer bem, jamais pode fazer mal para um paciente psicológico”. No livro
Os 50 maiores mitos populares da psicologia, Scott Lilienfeld e outros (1) expõe essa assertiva como um dos mitos da psicologia popular. O argumento que os autores oferecem é que, às vezes, pode-se piorar a situação do paciente dependendo de que terapia está sendo aplicada. Um exemplo é o do uso do
debrief psicológico no caso do tratamento do transtorno do estresse pós-traumático.
Apesar disso, existem psicoterapias com eficácia confirmada através de estudos empíricos sérios, assim como medicamentos recomendados para cada enfermidade. Um trabalho em que se fala das psicoterapias e medicamentos adequados para cada distúrbio emocional é o livro
O que você pode e o que você não pode mudar do psicólogo Martin Seligman (2), ex-presidente da
American Psychological Association. O interessante do livro é que ele faz um ranking das intervenções psicológicas, mostrando os prós e contras de cada uma delas. Por exemplo, um exemplo de um “pró” de um medicamento antidepressivo é a relativa rapidez de resultados, enquanto um exemplo de um “contra” seria os efeitos colaterais do mesmo. Também é mostrada a porcentagem dos casos em que o tratamento é bem-sucedido.
Outro livro que trata do assunto é o livro
Psicologia (9ª edição) de David Myers (3). Esse livro tem a vantagem de indicar as terapias que não se mostraram eficazes de acordo com os estudos publicados em periódicos da área. É o melhor que achei que abordou esse tópico específico.
O que se pode dizer em relação às psicoterapias é que não existe uma única opção eficaz e muito menos que existe uma que sirva igualmente para todos os tipos de distúrbios. No meio acadêmico, há debates intermináveis sobre estes temas. Todavia, existe uma terapia que é utilizada em uma variedade imensa de distúrbios e talvez seja a mais influente entre os grandes acadêmicos. Trata-se da Terapia Cognitivo-Comportamental, que uma fusão dos conceitos da Terapia Cognitiva e da Terapia Comportamental. A terapeuta americana Judith Beck o descreve assim em uma entrevista (4):
“Terapia Cognitiva baseia-se na idéia que pessoas com estresse têm freqüentemente o pensamento distorcido e/ou disfuncional. Este pensamento negativo tem um impacto negativo em seu humor, em seu comportamento e, freqüentemente, em sua fisiologia. As sessões de terapia cognitiva são habitualmente estruturadas e direcionadas para auxiliar o paciente a solucionar seus problemas atuais. Neste contexto, o paciente aprende habilidades de solução de problemas, pensamento e comportamento que ele utiliza não só durante o tratamento, mas também no futuro, para permanecer bem. Uma importante parte do tratamento é auxiliar pacientes a aprender como avaliar a validade e a utilidade de seus pensamentos negativos e como responder a eles de uma forma realista. Os pacientes, quando aprendem a fazer isso, se sentem melhor e tornam-se capazes de comportar-se mais funcionalmente. O tratamento é sensível em relação ao tempo de duração e é freqüentemente mais curto do que outras psicoterapias, devido ao fato de que um dos objetivos principais do tratamento é ensinar os pacientes a serem seus próprios terapeutas. Esta é a razão pela qual a Terapia Cognitiva não só ajuda os pacientes a ficarem melhor, mas também a permanecerem melhores.
A Terapia Comportamental é baseada nos princípios de condicionamento clássico e operante. Ela assume que comportamentos são respostas apreendidas a estímulos e que novas respostas podem ser aprendidas.
Terapia Cognitivo Comportamental é um termo abrangente para uma variedade de terapias que utilizam algumas combinações de técnicas cognitivas e comportamentais.”
A partir de estudos comparativos, Aaron Beck, da Universidade da Pensilvânia, conseguiu comprovar a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental. Inicialmente Aaron Beck constatou que isso tratava bem a depressão e a ansiedade; posteriormente ficou claro para ele que aquela tratava adequadamente transtorno do estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias de todos os tipos e transtornos alimentares (4). Ademais, descobriu-se que a terapia também serve para aliviar a dor na coluna lombar, colite, hipertensão e síndrome da fadiga crônica.
A Terapia Cognitiva também pode ser ensinada num contexto de prevenção de pessimismo e de depressão, e não só para vítimas de psicopatologia atendidas por psicoterapeutas. Alguns, como Martin Seligman, usam uma versão do modelo chamado ACCCE para esse fim (6). Outros fazem a distinção entre a Terapia Cognitivo-Comportamental, que deve ser usada apenas por terapeutas, e a Terapia Cognitivo-Construtiva, que pode ser aprendida e usada pelo público em geral (7). Esse último é o caso de Jesse Wright e Monica Basco, que usam esse modelo para trabalhar com o significado pessoal e o crescimento.
É interessante notar que as psicoterapias e medicamentos que os psicólogos recomendam e que causam intervenções psicológicas benéficas nem sempre estão relacionadas a distúrbios emocionais, e às vezes, nem mesmo a problemas estritamente psicológicos. Algumas desordens sexuais, problemas de perda de peso, fadiga, insônia e dores são exemplos em que a ajuda especializada se mostra útil.
O que você pode e o que você não pode mudar, do psicólogo Martin Seligman, trata de alguns dos problemas mencionados acima.
Dito isso, uma vez que se dominou as habilidades emocionais básicas e se adquiriu as informações necessárias para proceder em caso da aparição de um distúrbio emocional (ou algo que pode gerar um), então o trabalho com as emoções destrutivas foi concluído. É hora de passar para o próximo passo da aptidão emocional, que é saber como lidar com as emoções positivas e criar a motivação. Mas isso fica para um próximo artigo...
(1) LILIENFELD, Scott O.
et al.
Os 50 maiores mitos populares da psicologia. São Paulo: Editora Gente, 2010.
(2) SELIGMAN, Martin E. P.
O que você pode e o que você não pode mudar. São Paulo: Editora Objetiva, 1995.
(3) MYERS, David G.
Psicologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2012.
(4)
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1808-56872006000200011&script=sci_arttext (5) BECK, Judith S.
Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Editora Artmed, 1997.
(6) SELIGMAN, Martin E. P.
Aprenda a ser otimista. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2005.
(7) WRIGHT, Jesse H.
et al.
Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre, Editora Artmed, 2008.