Tópico: Tanatofobia

[lalmy]

Faz tempo que não visito esse forum,como vão vocês?
Gostaria de saber se alguém daqui já passou por tanatofobia,estou a meses com isso e é bem difícil de suportar.

[Südenbauer]

Bem, como eu comentei ontem no tópico da depressão, fiquei por duas semanas sem tirar isso da cabeça. Depois meio que percebi o óbvio, ficar pensando nisso não leva a nada, já nascemos condenados, então o que devemos fazer é tratar a morte como uma aliada e um motivo para fazer valer a pena.

Mas se o teu caso já dura a meses, acho que é a situação de procurar ajuda profissional.

[lalmy]

Ah,eu não aceito fácil,existe alguma coisa filosófica ou cientifica que estuda a morte ou prevê algo pra depois dela?

[Gaúcho]

Científica? Não. Filosófica? 99,9% das religiões existentes?

[lalmy]

Científica? Não. Filosófica? 99,9% das religiões existentes?

Ouvi falar de algo na filosofia de que depois que morremos continuamos a viver ate o momento em que as pessoas esquecem de nós

[Dr. Manhattan]

Não existe nenhuma razão científica para se acreditar em vida após a morte. Por outro lado, isso também implica que não existe razão para se temer uma vida após a morte.

A propósito: tenho vontade de fazer um longo post acerca dos significados da morte e de como esse fenômeno é mal interpretado, mas sempre fico com preguiça de escrever.

Pessoalmente, existem duas coisas que aprendi que me fazem não me preocupar com a não-existência*:

A primeira coisa é uma perspectiva acerca do tempo: Não existe nenhuma teoria física que implique na existência de um fluxo de tempo. O tempo pode tanto ser tratado como uma coordenada, ou como um parâmetro para a descrição de correlações entre eventos, um rótulo enfim. Mas não existe nada que exija a existência de um fluir do tempo**. Isso é mais claro na Teoria da Relatividade: num certo sentido, dentro dessa teoria, todos os instantes do tempo Existem, "simultaneamente" no espaço-tempo. Só não conseguimos perceber isso porque nossos estados de memória estão correlacionados com estados de forma que somente eventos mentais de "tempo abaixo" estão correlacionados com os de "agora". É mais fácil entender isso olhando para as páginas de um romance: para o leitor, todos os eventos vividos pelos personagens existem simultaneamente, nas páginas do livro - porém a informação desses evento do ponto de vista dos personagens existe de forma sequencial, mesmo que estas sejam lidas fora de ordem. Desse ponto de vista meio metafísico, o passado nunca se perdeu, e o futuro já existe. E isso vale tanto para os bons quanto para os maus momentos.***


A outra coisa foi uma experiência que tive: dois anos atrás tive que fazer uma cirurgia. Simples, mas que exigia anestesia e sedação. Lembro claramente de sentar na mesa de cirurgia, enquanto o anestesiologista aplicava a seringa com o sedativo e então... Nada. Subjetivamente, no instante seguinte acordei na sala de recuperação (me sentindo Ótimo, devido ao efeito dos remédios). Pensei então: eu poderia muito bem ter morrido durante a cirurgia (extremamente improvável, mas não impossível), mas isso não teria feito diferença nenhuma! Seria como se eu tivesse dormido e não acordado mais. Porque é que alguem teria medo disso? É difícil explicar, mas foi um insight profundamente liberador. Pelo menos para mim. .

Finalmente: existem também algumas teorias malucas que implicam na existência da imortalidade. Mas já falei sobre isso aqui no CC: ../forum/topic=7209.50.html#msg138811

*Um dos conceitos associados à morte - coisa que eu explicaria melhor nesse post longo que ainda escreverei.
**Até porque você precisaria incluir um outro tempo, sobre o qual o primeiro fluiria. É confuso mesmo.
**Uma ideia parecida é apresentada no romance "Abatedouro 5" de Kurt Vonnegut.


EDIT: Incluí o link para minha postagem antiga.

[DDV]

Eu li "tarantofobia".


Em relação à questão da vida após a morte, existe razão para se crer numa possível repetição dos eventos atuais (incluindo nossa existência) em alguma época futura. Explicando: se o universo for eterno e cíclico (big bang -big crunch -big bang...), ou houver infinitos universos ou qualquer coisa equivalente, a probabilidade de que os mesmos eventos que ocorreram desde o Big Bang voltem a se repetir em alguma outra época/universo, embora desprezível, se torna "garantida" pelo fato da quantidade dessas "tentativas" ser infinita. Daí, quando ocorrer outra "repetição" de eventos que inclua nossa existência, seria como se estivéssemos vivendo de novo, não importando se o período entre as 2 existências tenha sido de setilhões de anos, pois para nós seria algo instantâneo. 


Quanta viagem...



P.S: isso tudo o que eu falei envolve certos pressupostos sobre a consciência, que é algo que está muito longe de ser entendida e talvez nunca seja.

[Diegojaf]

Científica? Não.

Você obviamente nunca assistiu "Bones"...

[lalmy]

Não existe nenhuma razão científica para se acreditar em vida após a morte. Por outro lado, isso também implica que não existe razão para se temer uma vida após a morte.

A propósito: tenho vontade de fazer um longo post acerca dos significados da morte e de como esse fenômeno é mal interpretado, mas sempre fico com preguiça de escrever.

Pessoalmente, existem duas coisas que aprendi que me fazem não me preocupar com a não-existência*:

A primeira coisa é uma perspectiva acerca do tempo: Não existe nenhuma teoria física que implique na existência de um fluxo de tempo. O tempo pode tanto ser tratado como uma coordenada, ou como um parâmetro para a descrição de correlações entre eventos, um rótulo enfim. Mas não existe nada que exija a existência de um fluir do tempo**. Isso é mais claro na Teoria da Relatividade: num certo sentido, dentro dessa teoria, todos os instantes do tempo Existem, "simultaneamente" no espaço-tempo. Só não conseguimos perceber isso porque nossos estados de memória estão correlacionados com estados de forma que somente eventos mentais de "tempo abaixo" estão correlacionados com os de "agora". É mais fácil entender isso olhando para as páginas de um romance: para o leitor, todos os eventos vividos pelos personagens existem simultaneamente, nas páginas do livro - porém a informação desses evento do ponto de vista dos personagens existe de forma sequencial, mesmo que estas sejam lidas fora de ordem. Desse ponto de vista meio metafísico, o passado nunca se perdeu, e o futuro já existe. E isso vale tanto para os bons quanto para os maus momentos.***


A outra coisa foi uma experiência que tive: dois anos atrás tive que fazer uma cirurgia. Simples, mas que exigia anestesia e sedação. Lembro claramente de sentar na mesa de cirurgia, enquanto o anestesiologista aplicava a seringa com o sedativo e então... Nada. Subjetivamente, no instante seguinte acordei na sala de recuperação (me sentindo Ótimo, devido ao efeito dos remédios). Pensei então: eu poderia muito bem ter morrido durante a cirurgia (extremamente improvável, mas não impossível), mas isso não teria feito diferença nenhuma! Seria como se eu tivesse dormido e não acordado mais. Porque é que alguem teria medo disso? É difícil explicar, mas foi um insight profundamente liberador. Pelo menos para mim. .

Finalmente: existem também algumas teorias malucas que implicam na existência da imortalidade. Mas já falei sobre isso aqui no CC: ../forum/topic=7209.50.html#msg138811

*Um dos conceitos associados à morte - coisa que eu explicaria melhor nesse post longo que ainda escreverei.
**Até porque você precisaria incluir um outro tempo, sobre o qual o primeiro fluiria. É confuso mesmo.
**Uma ideia parecida é apresentada no romance "Abatedouro 5" de Kurt Vonnegut.


EDIT: Incluí o link para minha postagem antiga.

Acredito que essa experiência me deixaria mais louco xD

[lalmy]

Eu li "tarantofobia".


Em relação à questão da vida após a morte, existe razão para se crer numa possível repetição dos eventos atuais (incluindo nossa existência) em alguma época futura. Explicando: se o universo for eterno e cíclico (big bang -big crunch -big bang...), ou houver infinitos universos ou qualquer coisa equivalente, a probabilidade de que os mesmos eventos que ocorreram desde o Big Bang voltem a se repetir em alguma outra época/universo, embora desprezível, se torna "garantida" pelo fato da quantidade dessas "tentativas" ser infinita. Daí, quando ocorrer outra "repetição" de eventos que inclua nossa existência, seria como se estivéssemos vivendo de novo, não importando se o período entre as 2 existências tenha sido de setilhões de anos, pois para nós seria algo instantâneo. 


Quanta viagem...



P.S: isso tudo o que eu falei envolve certos pressupostos sobre a consciência, que é algo que está muito longe de ser entendida e talvez nunca seja.

Um físico me disse que a teoria do big crunch é interessante mas os fatos que ela se sustenta são distorcidos.

[DDV]

Eu li "tarantofobia".


Em relação à questão da vida após a morte, existe razão para se crer numa possível repetição dos eventos atuais (incluindo nossa existência) em alguma época futura. Explicando: se o universo for eterno e cíclico (big bang -big crunch -big bang...), ou houver infinitos universos ou qualquer coisa equivalente, a probabilidade de que os mesmos eventos que ocorreram desde o Big Bang voltem a se repetir em alguma outra época/universo, embora desprezível, se torna "garantida" pelo fato da quantidade dessas "tentativas" ser infinita. Daí, quando ocorrer outra "repetição" de eventos que inclua nossa existência, seria como se estivéssemos vivendo de novo, não importando se o período entre as 2 existências tenha sido de setilhões de anos, pois para nós seria algo instantâneo. 


Quanta viagem...



P.S: isso tudo o que eu falei envolve certos pressupostos sobre a consciência, que é algo que está muito longe de ser entendida e talvez nunca seja.

Um físico me disse que a teoria do big crunch é interessante mas os fatos que ela se sustenta são distorcidos.

Então morre, diabo! 

 

[lalmy]

Científica? Não.

Você obviamente nunca assistiu "Bones"...

Esse bones fala isso? xD

[Fabrício]

Eu li "tarantofobia".


Em relação à questão da vida após a morte, existe razão para se crer numa possível repetição dos eventos atuais (incluindo nossa existência) em alguma época futura. Explicando: se o universo for eterno e cíclico (big bang -big crunch -big bang...), ou houver infinitos universos ou qualquer coisa equivalente, a probabilidade de que os mesmos eventos que ocorreram desde o Big Bang voltem a se repetir em alguma outra época/universo, embora desprezível, se torna "garantida" pelo fato da quantidade dessas "tentativas" ser infinita. Daí, quando ocorrer outra "repetição" de eventos que inclua nossa existência, seria como se estivéssemos vivendo de novo, não importando se o período entre as 2 existências tenha sido de setilhões de anos, pois para nós seria algo instantâneo. 


Quanta viagem...



P.S: isso tudo o que eu falei envolve certos pressupostos sobre a consciência, que é algo que está muito longe de ser entendida e talvez nunca seja.

Um físico me disse que a teoria do big crunch é interessante mas os fatos que ela se sustenta são distorcidos.

Então morre, diabo! 

 

 

[Sparke]

Complementando o post do Dr. Manhattan, tem uma frase de Schopenhauer, retirada do Vazio da Existência (artigo curto de umas cinco páginas, muito bom mesmo!), neste sentido:

"Um homem, para seu assombro, repentinamente torna-se consciente de sua existência após um estado de não-existência de muitos milhares de anos; vive por um breve período e então, novamente, retorna a um estado de não-existência por um tempo igualmente longo".

Ou seja, tanto eu, como você, já experimentamos a não-existência equivalente com a morte!

[Feliperj]

Não existe nenhuma razão científica para se acreditar em vida após a morte. Por outro lado, isso também implica que não existe razão para se temer uma vida após a morte.

A propósito: tenho vontade de fazer um longo post acerca dos significados da morte e de como esse fenômeno é mal interpretado, mas sempre fico com preguiça de escrever.

Pessoalmente, existem duas coisas que aprendi que me fazem não me preocupar com a não-existência*:

A primeira coisa é uma perspectiva acerca do tempo: Não existe nenhuma teoria física que implique na existência de um fluxo de tempo. O tempo pode tanto ser tratado como uma coordenada, ou como um parâmetro para a descrição de correlações entre eventos, um rótulo enfim. Mas não existe nada que exija a existência de um fluir do tempo**. Isso é mais claro na Teoria da Relatividade: num certo sentido, dentro dessa teoria, todos os instantes do tempo Existem, "simultaneamente" no espaço-tempo. Só não conseguimos perceber isso porque nossos estados de memória estão correlacionados com estados de forma que somente eventos mentais de "tempo abaixo" estão correlacionados com os de "agora". É mais fácil entender isso olhando para as páginas de um romance: para o leitor, todos os eventos vividos pelos personagens existem simultaneamente, nas páginas do livro - porém a informação desses evento do ponto de vista dos personagens existe de forma sequencial, mesmo que estas sejam lidas fora de ordem. Desse ponto de vista meio metafísico, o passado nunca se perdeu, e o futuro já existe. E isso vale tanto para os bons quanto para os maus momentos.***


A outra coisa foi uma experiência que tive: dois anos atrás tive que fazer uma cirurgia. Simples, mas que exigia anestesia e sedação. Lembro claramente de sentar na mesa de cirurgia, enquanto o anestesiologista aplicava a seringa com o sedativo e então... Nada. Subjetivamente, no instante seguinte acordei na sala de recuperação (me sentindo Ótimo, devido ao efeito dos remédios). Pensei então: eu poderia muito bem ter morrido durante a cirurgia (extremamente improvável, mas não impossível), mas isso não teria feito diferença nenhuma! Seria como se eu tivesse dormido e não acordado mais. Porque é que alguem teria medo disso? É difícil explicar, mas foi um insight profundamente liberador. Pelo menos para mim. .

Finalmente: existem também algumas teorias malucas que implicam na existência da imortalidade. Mas já falei sobre isso aqui no CC: ../forum/topic=7209.50.html#msg138811

*Um dos conceitos associados à morte - coisa que eu explicaria melhor nesse post longo que ainda escreverei.
**Até porque você precisaria incluir um outro tempo, sobre o qual o primeiro fluiria. É confuso mesmo.
**Uma ideia parecida é apresentada no romance "Abatedouro 5" de Kurt Vonnegut.


EDIT: Incluí o link para minha postagem antiga.

Vc está se esquecendo que poderia ter tido uma EQM libertadora ou amedontradora, se realmente entrasse nas mesmas condições de um cérebro moribundo!!!!

Eu ia escrever algo aqui sobre essa questão da relatividade e fluxo do tempo, mas acho que vale a pena abir outro tópico.

Abs
Felipe

Abs
Felipe

[-Huxley-]

Para tanatofobia, nada melhor do que aforismoterapia  :

“Não tenho medo da morte. Estive morto por bilhões e bilhões de anos antes de meu nascimento, e isso nunca me causou qualquer inconveniência.”
— Mark Twain

“Enquanto sou, a morte não é; e desde que ela seja, não sou mais.”
— Epicuro

[Diegojaf]

Claro que o processo até você não ser mais pode ser lento, doloroso e assustador.

[-Huxley-]

Claro que o processo até você não ser mais pode ser lento, doloroso e assustador.

Confusão por proximidade... Se temos medo de algo, é de algo próximo à morte, ou seja, o medo de sofrer antes de morrer.

 

[-Huxley-]

Vida precária deveria dá mais medo do que a morte. Parece razoável ter medo do que acontece em vida, e não da morte.

[lalmy]

Vida precária deveria dá mais medo do que a morte. Parece razoável ter medo do que acontece em vida, e não da morte.

Tem um pouco de razão,mas se morrer é deixar de existir,desejo viver seja em quais circunstancias forem 

[JJ]

Vida precária deveria dá mais medo do que a morte. Parece razoável ter medo do que acontece em vida, e não da morte.

Tem um pouco de razão,mas se morrer é deixar de existir,desejo viver seja em quais circunstancias forem 

Só quem em estado de grande sofrimento a pessoa deixa de desejar estar vivo. E passa a desejar a morte.



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[cavecanem]

Vida precária deveria dá mais medo do que a morte. Parece razoável ter medo do que acontece em vida, e não da morte.

Tem um pouco de razão,mas se morrer é deixar de existir,desejo viver seja em quais circunstancias forem 

Só quem em estado de grande sofrimento a pessoa deixa de desejar estar vivo. E passa a desejar a morte.



.

Creio que o -Huxley- não falava sobre desejar a morte, mas sim sobre a aceitação da morte sem temores ou revoltas, ainda mais quando a vida, seja lá por quais circunstâncias, é incapaz de fornecer prazer ou alívio. É uma postura que remete a alguns preceitos da filosofia estóica.