Quem explica a existência da alma é O Livro dos Espíritos, cuja doutrina, se pretende comprovado os seus postulados por alguns cientistas do século XIX.
E como isso, a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita, se pretendem a doutrina (eles não gostam de ser chamados de religiosos) que vai comprovar não só a existência e a imortalidade da alma, mas também, os missionários que vão retirar os demais religiosos do obscurantismo em que se encontram, e conduzir a humanidade para um "mundo de regeneração", ou seja, um mundo feliz, bem melhor do que este em que vivemos atualmente.
É interessante a leitura de O Livro dos Espíritos, pois ele se pretende algo escrito pelos próprios Espíritos. Mais que isso, em O Livro dos Médiuns - que é uma continuação do LE - é relatado todos os métodos e pormenores de como se evocam os Espíritos, e etc. Tanto é que o subtítulo é "Guia dos médiuns e evocadores".
É muito interessante este livro, pois, ele adverte o tempo todo sobre as manifestações de "Espíritos inferiores e charlatães", e também sobre o animismo. Explica como se desenvolve a mediunidade; os critérios de evocação e comunicação com os Espíritos, e, sobretudo a questão de não confiar no que é dito pelos Espíritos.
Fui espírita durante 20 anos, e nunca vi nada. A crença na existência e imortalidade da alma me parece óbvia, mas a questão que perdura é: ela é útil?
Alguns ex-espíritas fazem uma análise criteriosa do Movimento Espírita segundo suas próprias bases: os espíritas estariam passando por provações, a saber que, em acreditando-se pioneiros de uma nova era e missionários que irão retirar a humanidade do pecado e as religiões do obscurantismo, estão iludidos.
Temos que fazer perguntas inteligentes mesmo dentro de um contexto espírita: de que serve saber ou mesmo ter provas da imortalidade da alma?
Em O Livro dos Espíritos é dito que o Espírito ao reencarnar perde a memória de quem é, das suas outras vidas, devido à grosseria da matéria.
Então é óbvio que, lembrar de vidas passadas ou mesmo ter a certeza de que somos Espíritos reencarnados não resolve o problema.
Os indianos, com suas escolas filosóficas como a Vedanta, ou com religiões como o Hinduísmo - eles que inventaram a reencarnação - não se preocupam com a questão da reencarnação e a imortalidade da alma.
Se você está aqui neste mundo, é para que você obtenha conhecimento de quem ou o que você é, dizem os advaitistas.
Eu acredito na reencarnação, mas e daí? Acredito na imortalidade da alma, mas e daí? Como todos, estou num mundo material, em que os instintos e a matéria determinam nossos comportamentos.
Veja por exemplo Paulo de Tarso: "É preciso que se mate impiedosamente o homem velho para que o novo ressurja". E, Jesus falando - na conversa com Nicodemos: "Se não renascerdes na carne e no vinho, não entrareis no Reino dos Céus".
Em ambas citações, não há menção à reencarnação. Os espíritas interpretaram as palavras de Jesus como dizendo respeito à reencarnação. Mas não foi isso o que ele quis dizer. O "renascer na própria carne", é o renascimento do "homem novo", é a morte da personalidade material, para o renascimento de uma, ou melhor, de nenhuma outra personalidade.
É o desgarrar-se do rebanho, do unânime formigueiro aludido por Nietzsche.
Vejam, que não é preciso recorrer à reencarnação e á imortalidade da alma para entender a mensagem desses grandes mestres.
E Paulo viveu isso, quando, reconvertido, proclamou "já não sou eu quem vive, mas é o Cristo que vive em mim". Essa é uma afirmação monista, que pode ser confrontada tanto com o monismo de Spinosa quanto com o monismo dos orientais.
Enfim, crer ou não crer na imortalidade da alma ou na reencarnação é completamente inútil.
A mensagem dos grandes mestres, como Jesus, Paulo, Buda, Krishna, diz respeito á mudança de percepção da realidade ainda nesta vida, e tal mister pode ser encetado por ateus, não ateus, espíritas, por qualquer um...
É isso.