Autor Tópico: Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças  (Lida 914 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Online: 04 de Dezembro de 2012, 01:10:58 »
Eu acho que nunca vi algo sobre políticas de prevenção de abuso sexual de crianças que levassem muito em conta o pedófilo como doente. Parece que sempre o foco/abordagem da mídia (e política) é mais ou menos o mesmo que se tem com crime comum ou crime organizado, repressão e punição posterior. E até para crimes comuns cujos perpetradores são julgados mentalmente saudáveis se fala mais em prevenção num aspecto "social" (geração de oportunidades de emprego e coisas como bolsa-família/welfare), em vez de ficar apenas em intimidação, por ameaça de ir para a cadeia.

A coisa mais próxima de políticas de prevenção que já vi não era sobre crianças, mas campanhas que tentam prevenir o estupro "educando" os supostos potenciais estupradores com mensagens do tipo "não significa não". Talvez também já tenha visto algo na TV dirigido às crianças, falando para elas procurarem algum outro adulto, mas não tenho certeza de estar me lembrando vagamente de algo ou criando algo ao tentar me lembrar.

Além disso acho que o que há são apenas regras mais rígidas sobre como as pessoas que trabalham em coisas como creches e escolas de crianças pequenas devem se comportar no que concerne ao contato físico -- evitar quase que totalmente, o que segundo alguns pode ser até uma forma de privação prejudicial ("teoria do apego").

Outra quase-aproximação são propostas de tratamento, mas como disse inicialmente, acho que geralmente isso se dá só depois do pedófilo já ter abusado de alguma criança ou apanhado por pornografia infantil. O quão comum será que é que eles procurem tratamento antecipadamente, voluntariamente ou por pressão/desconfiança de familires e amigos? Eu imagino que seja raro, mais raro do que com homossexuais, que já deve ser bem raro apesar de de vez em quando se ouvir falar desse "nicho" terapêutico.

Offline Laura

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #1 Online: 04 de Dezembro de 2012, 02:24:47 »
Há muitos anos, trabalhei por cerca de dois anos em um casa (Lar da Menina, em Novo Hamburgo) que abriga meninas encaminhadas pelo conselho tutelar (em tese não era para ser uma casa só de vítimas de abusos sexuais, mas todas estavam lá por esse motivo). No caso daquelas meninas, o abuso já havia ocorrido, mas não lembro de tomar conhecimento de nenhuma campanha preventiva, que orientasse as crianças quanto a isso.

Também não tenho conhecimento quanto a existência de normas quanto ao contato físico em creches ou escolas. Particularmente, nunca tomei nenhum cuidado especial e nem fui orientada em relação a isso. Pelo contrário, as crianças eram bem carentes e eu era quase "soterrada" por elas toda vez que chegava.

Quanto a algo visto na tv, só o que lembro é esse conselho do He-Man. Parece piada, mas não é.

<a href="http://www.youtube.com/v/QMNvD3kwPuY" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/QMNvD3kwPuY</a>



Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #2 Online: 04 de Dezembro de 2012, 02:47:48 »
Eu nem tinha pensado inicialmente em orientação das crianças, embora isso também deva ser importante. Eu me pergunto se não seria interessante algo meio no sentido de tentar encorajar os pedófilos a procurar "tratamento" antes de cometerem um crime. Seja lá como for que isso pudesse ser feito.



Offline Laura

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #3 Online: 04 de Dezembro de 2012, 17:04:21 »
Eu nem tinha pensado inicialmente em orientação das crianças, embora isso também deva ser importante. Eu me pergunto se não seria interessante algo meio no sentido de tentar encorajar os pedófilos a procurar "tratamento" antes de cometerem um crime. Seja lá como for que isso pudesse ser feito.

Buckaroo, assim como outras desordens mentais, devem existir graus de manifestações do sintoma da pedofilia. Acredito que os pedófilos que ainda possuem a capacidade de perceber esse desvio sexual como uma desordem e o perigo de seus atos caso ajam de acordo com seus impulsos, sejam os que procuram ajuda profissional, mas provavelmente esses sejam os que apenas sentem atração, não chegando a consumar o ato. Veja esses sites, dedicados a pedófilos que entendem o caráter nocivo de seus desejos e querem procurar ajuda.

http://www.virped.org/

http://www.ange-bleu.com/

No Brasil, não tenho conhecimento de nenhuma organização do gênero, apenas serviços que prestam atendimentos a casos onde a violência já ocorreu.   

Outros pedófilos abusam de crianças e não sentem nenhum tipo de remorso por isso. No caso deles, duvido muito que sejam atingidos por campanhas educacionais, que incentivem a busca por tratamento. Não que elas não sejam positivas (mas, por favor, que sejam mais do que simplesmente "Diga não a pedofilia"), acredito que sejam, mas provavelmente só ajudarão os pedófilos que já possuem um nível de consciência sobre a sua condição, que já representam um risco muito menor e que desejam ajuda.

Campanhas que alertem crianças sobre a importância de denunciar até mesmo os indícios de abuso são bem importantes. Muitos pedófilos não consumam um ato sexual já no primeiro momento, eles começam aos poucos, com medo da reação da criança. Somente quando ela não conta a ninguém, por vergonha ou por estar sob ameaça, eles vão avançando na intensidade do abuso e, mesmo com o ato consumado, a repetição e o tempo de exposição aos abusos são muito danosos a saúde das vítimas, quanto antes elas conseguem denunciar, melhor. Seria interessante também algo que educasse os pais e, em especial as mães. Existem casos raros onde a própria mãe participa do abuso, mas muito comuns são os casos de mulheres que se omitem diante do comportamento dos próprios parceiros e que demoram a acreditar na criança. É uma realidade triste, mas como a violência em geral é praticada por alguém muito próximo das vítimas (em geral, pais e padastros) e muitas vezes são ignoradas pelas mães, as próprias crianças devem ser orientadas a denunciar.

<a href="http://www.youtube.com/v/ooooMGMfnVo" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/ooooMGMfnVo</a>

<a href="http://www.youtube.com/v/siNLSjCFUyU" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/siNLSjCFUyU</a>
 

 

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #4 Online: 04 de Dezembro de 2012, 18:51:45 »
Eu nem tinha pensado inicialmente em orientação das crianças, embora isso também deva ser importante. Eu me pergunto se não seria interessante algo meio no sentido de tentar encorajar os pedófilos a procurar "tratamento" antes de cometerem um crime. Seja lá como for que isso pudesse ser feito.

Buckaroo, assim como outras desordens mentais, devem existir graus de manifestações do sintoma da pedofilia.

Tem de fato umas coisas como associações com graus de retardamento mental, e que eles parecem abusar mais das crianças de acordo, e/ou serem mais comumente pegos de acordo com o grau de retardamento mental.


Citar
Acredito que os pedófilos que ainda possuem a capacidade de perceber esse desvio sexual como uma desordem e o perigo de seus atos caso ajam de acordo com seus impulsos, sejam os que procuram ajuda profissional, mas provavelmente esses sejam os que apenas sentem atração, não chegando a consumar o ato. Veja esses sites, dedicados a pedófilos que entendem o caráter nocivo de seus desejos e querem procurar ajuda.

http://www.virped.org/

http://www.ange-bleu.com/

Interessante.


Citar
Outros pedófilos abusam de crianças e não sentem nenhum tipo de remorso por isso. No caso deles, duvido muito que sejam atingidos por campanhas educacionais, que incentivem a busca por tratamento. Não que elas não sejam positivas (mas, por favor, que sejam mais do que simplesmente "Diga não a pedofilia"), acredito que sejam, mas provavelmente só ajudarão os pedófilos que já possuem um nível de consciência sobre a sua condição, que já representam um risco muito menor e que desejam ajuda.

Embora eu ache que talvez se pudesse ter algo que pudesse atingir àqueles com mais consciência, acho que isso provavelmente é difícil (e não apostaria um centavo em algo como "diga não à pedofilia") e complicado. Eu acabei imaginando algo como a polícia/alguma coisa do tipo tentar dar um jeito de encontrá-los com armadilhas usando algo como propaganda de pornografia infantil como "iscas", armadilhas essas que deveriam ser de tal forma que a polícia/alguém tivesse conhecimento de quem são, e então haveria uma investigação para ver se já não estaria havendo algo mais grave, e tratamento compulsório como pena.

Talvez tenha sido algo nessas linhas que tenham feito no caso do guitarrista da banda "the who", ao menos na parte até chegar ao cara, mas imagino (impressão geral das coisas, nunca vi realmente muito sobre isso, posso estar enganado) que esse tipo de coisa normalmente objetive mais algo como prisão convencional, ignorando esse aspecto de tratamento. 


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Campanhas que alertem crianças sobre a importância de denunciar até mesmo os indícios de abuso são bem importantes.

Também acho, mas isso tem que ser feito com extremo cuidado para não traumatizar a criança, imagino que não seja difícil acabar criando algo que fosse prejudicial, mesmo com as melhores intenções. Ao mesmo tempo em que parece 100% desejável que as crianças tenham alguma noção de como perceber isso e conseguir ajuda, acho que até mesmo a abordagem dessa possibilidade talvez possa ser algo potencialmente traumático, como ficar "fermentando" na cabeça das crianças e acabar gerando memórias falsas por efeito de uma sugestão acidental na descrição da situação, e esse tipo de complicação. :/ 





Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #5 Online: 04 de Dezembro de 2012, 18:58:51 »
Eu nem acompanhei o caso do guitarrista:

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Operation Ore investigation and police caution

Townshend was cautioned by the British police in 2003 as part of Operation Ore. Following a news leak that suggested to Townshend that he was among the subjects of the investigation,[42] he came forward to publicly state that on one occasion, he had used a credit card to register with a website advertising child pornography.[43] Townshend, who had posted essays on his personal website in 2002 as part of his campaign against the widespread availability of child pornography on the internet,[44][45][46][47][48] claimed that he had entered the site for research purposes and had not downloaded any images.[43][49] A four-month police investigation, including forensic examination of all of his computers, established that Townshend was not in possession of any illegal downloaded images.[50] The police elected to caution him, stating, "It is not a defence to access these images for research or out of curiosity."[51] In a statement issued by his lawyer, Townshend said, "I accept that I was wrong to access this site, and that by doing so, I broke the law, and I have accepted the caution that the police have given me."[51][52]


http://en.wikipedia.org/wiki/Pete_Townshend#Operation_Ore_investigation_and_police_caution

Offline Laura

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #6 Online: 04 de Dezembro de 2012, 19:50:03 »
Embora eu ache que talvez se pudesse ter algo que pudesse atingir àqueles com mais consciência, acho que isso provavelmente é difícil (e não apostaria um centavo em algo como "diga não à pedofilia") e complicado. Eu acabei imaginando algo como a polícia/alguma coisa do tipo tentar dar um jeito de encontrá-los com armadilhas usando algo como propaganda de pornografia infantil como "iscas", armadilhas essas que deveriam ser de tal forma que a polícia/alguém tivesse conhecimento de quem são, e então haveria uma investigação para ver se já não estaria havendo algo mais grave, e tratamento compulsório como pena.

O FBI faz isso, com sites falsos de pornografia infantil.
http://news.cnet.com/8301-13578_3-9899151-38.html

Talvez tenha sido algo nessas linhas que tenham feito no caso do guitarrista da banda "the who", ao menos na parte até chegar ao cara, mas imagino (impressão geral das coisas, nunca vi realmente muito sobre isso, posso estar enganado) que esse tipo de coisa normalmente objetive mais algo como prisão convencional, ignorando esse aspecto de tratamento.
 

Exato, quando ele morde a isca, o tratamento dispensado ao pedófilo é o de criminoso e não o de doente.

Também acho, mas isso tem que ser feito com extremo cuidado para não traumatizar a criança, imagino que não seja difícil acabar criando algo que fosse prejudicial, mesmo com as melhores intenções. Ao mesmo tempo em que parece 100% desejável que as crianças tenham alguma noção de como perceber isso e conseguir ajuda, acho que até mesmo a abordagem dessa possibilidade talvez possa ser algo potencialmente traumático, como ficar "fermentando" na cabeça das crianças e acabar gerando memórias falsas por efeito de uma sugestão acidental na descrição da situação, e esse tipo de complicação. :/

Sem dúvida, é um assunto delicado e a própria abordagem, se descuidada, pode ser prejudicial. Mas há meios de se comunicar com crianças que as deixe confortáveis. Na realidade, acho que o ideal é que esse alerta viesse das escolas, nas séries iniciais (o ideal mesmo é que isso já fosse abordado em casa... mas é lá que está a maior parte do problema). Imagino que o melhor é que a educação nesse sentido deva ser voltada a aspectos muito sutis, que antecedem os abusos mais graves; algo mais no sentido de não aceitar ameaças, se sentir seguro para compartilhar o que lhe acontece com adultos, procurar ajuda quando algo não vai bem (se não é possível em casa, que seja na escola, conversando com um professor ou orientador), não aceitar presentes em troca de favores (e comunicar quando qualquer proposta do gênero acontecer)... enfim, existe uma série de detalhes que se uma criança comentar chamam a atenção para um potencial abuso. Pelo que já vi, a maioria dos abusos vem acompanhado de alguma(s) dessas características, já na fase inicial, antes de se concretizar um abuso mais grave. 

Offline Pasteur

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #7 Online: 05 de Dezembro de 2012, 20:29:41 »
Projeto que torna hediondos crimes relacionados à pedofilia é aprovado pela Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou hoje (5) projeto de lei que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tornando os crimes relacionados à pedofilia como hediondos. O projeto também amplia a tipificação dos crimes de exploração sexual de criança e adolescente.
 
A matéria objetiva aprimorar o combate à prostituição e à exploração sexual de menores. O projeto retorna ao Senado para nova apreciação dos senadores já que foi modificado pelos deputados.
 
Pelo texto aprovado, quem aliciar, agenciar, atrair ou induzir criança ou adolescente à exploração sexual ou prostituição estará sujeito a pena de reclusão de cinco a 12 anos e multa. Também incorre na mesmas pena quem, de qualquer forma, facilitar a exploração sexual ou prostituição de menores.
 
O mesmo ocorrerá com o proprietário, gerente, ou responsável pelo local onde o crime seja cometido. A pena será aumentada se o crime for com emprego de violência ou grave ameaça.
 
O projeto também estabelece que estará sujeito a pena de três a oito anos de prisão e multa se o fato não constituir crime mais grave quem cometer conjunção carnal ou ato libidinoso com adolescente, em situação de exploração sexual, prostituição ou abandono.

Offline AleYsatis

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #8 Online: 08 de Dezembro de 2012, 06:13:29 »
Acho que o problema é o preconceito. Primeiro agente tem que lembrar que a pedofilia é invenção da modernidade. Antigamente não existia pedofilia, meninas de 10 anos se casavam, garotos tinham sua iniciação sexual com seus progenitores na Grécia. Então creio que agente tem que começar a entender primeiro que o desejo pedófilo não é uma monstruosidade, que ele é normal, e que o que é uma monstruosidade e um crime (para nossa sociedade) é sua prática.

Acho que isso é importante porque o pedófilo, o cara que sente essas atrações vive num mundo que o demoniza e ao mesmo tempo ele não se sente assim, ele sabe que não tem culpa do que sente, ele não consegue se controlar. Imagine, por exemplo, que nossa sociedade passe a ver a heterossexualidade como crime e uma monstruosidade, os homens aceitariam bem isso, iriam procurar tratamento numa boa, iriam se conter fácil, ou fariam essa práticas criminosas escondidos?
 
Entende, não é defender o ato pedófilo, JAMAIS, mas é tentar se colocar no lugar do pobre do sujeito que para nossa sociedade está colocado como um doente ou criminoso e tentar entender que não deve ser fácil para ele. Acho que se agente fizesse isso, se o preconceito social fosse menor, eles já não teriam tanto problema em procurar ajuda. Imagine a dificuldade de você conseguir chegar num psiquiatra e dizer “eu sou pedófilo” com o peso e estigma que isso tem na nossa sociedade, fica muito mais difícil.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #9 Online: 08 de Dezembro de 2012, 13:15:36 »
Acho que o problema é o preconceito. Primeiro agente tem que lembrar que a pedofilia é invenção da modernidade. Antigamente não existia pedofilia, meninas de 10 anos se casavam, garotos tinham sua iniciação sexual com seus progenitores na Grécia.

Pedofilia é "invenção da modernidade" da mesma forma que mal de Alzheimer é, apenas foi algo descrito recentemente (e talvez nem tão recentemente, não sei).

Casamentos nessa idade não implicam necessariamente na prática de sexo com crianças, que eu saiba na maior parte do tempo o que ocorre são casamentos arranjados desde criança, e não que houvesse sexo já nessa idade. O que, mesmo que seja o caso em algumas instâncias (dificilmente a atração sexual por crianças e prática de sexo com elas seria a norma de qualquer população), não descaracteriza o aspecto patológico da coisa da mesma forma que maior aceitação em algumas culturas históricas ao estupro, necrofilia, etc, sugeriria que é algo "normal".

Caso de fato isso fosse realmente algo muito mais prevalente, isso ainda não seria suficiente para caracterizar a coisa como alguma "invenção" sem significado real, apenas nos sugeriria que a talvez maior das pessoas/uma parte bem maior das pessoas teria o potencial de plasticidade cerebral para vir a se tornar pedófilo. O que nos forneceria pistas sobre prevenção e talvez até reversão, não qualquer argumento sobre considerar isso algo "normal". Ou, não mais "normal" do que é o estupro não-sádico contra mulheres adultas.


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Então creio que agente tem que começar a entender primeiro que o desejo pedófilo não é uma monstruosidade, que ele é normal, e que o que é uma monstruosidade e um crime (para nossa sociedade) é sua prática.

Acho que isso é importante porque o pedófilo, o cara que sente essas atrações vive num mundo que o demoniza e ao mesmo tempo ele não se sente assim, ele sabe que não tem culpa do que sente, ele não consegue se controlar. Imagine, por exemplo, que nossa sociedade passe a ver a heterossexualidade como crime e uma monstruosidade, os homens aceitariam bem isso, iriam procurar tratamento numa boa, iriam se conter fácil, ou fariam essa práticas criminosas escondidos?
 
Entende, não é defender o ato pedófilo, JAMAIS, mas é tentar se colocar no lugar do pobre do sujeito que para nossa sociedade está colocado como um doente ou criminoso e tentar entender que não deve ser fácil para ele. Acho que se agente fizesse isso, se o preconceito social fosse menor, eles já não teriam tanto problema em procurar ajuda. Imagine a dificuldade de você conseguir chegar num psiquiatra e dizer “eu sou pedófilo” com o peso e estigma que isso tem na nossa sociedade, fica muito mais difícil.

É um fator que imaginei que estivesse sendo comumente desconsiderado nessa questão toda, e que quando está, parece estar sendo feito dentro de um contexto que fede à apologia. Esse aspecto da pessoa não ter culpa da atração (mas não ser isento de culpa do ato) acho que pode ser meio análogo ao enfoque do vício em drogas como preocupação de saúde pública em vez de apenas criminal (ainda que pedofilia não seja um "vício" e portanto difira daí por diante).

Offline AleYsatis

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #10 Online: 08 de Dezembro de 2012, 22:39:35 »
"não descaracteriza o aspecto patológico da coisa da mesma forma que maior aceitação em algumas culturas históricas ao estupro, necrofilia, etc, sugeriria que é algo "normal"."

E o que caracteriza o aspecto patológico para você que independe da visão cultural? Algum gene específico?

Realmente não tenho muito fé nos discursos médicos que nossa sociedade faz com tudo. Tudo precisa ser caracterizado como doença para tentarmos curá-la? É um ideia que vem da modernidade ainda onde o homem se achava senhor de si próprio e da natureza e acreditava que a ciência e as técnicas iram consertar o homem em todos os aspectos...

Não creio, somos bichos e temos instintos de bichos. Como sociedade podemos criar mecanismos de controle de atos e não de desejos e não "curas" para aspectos completamente subjetivos da nossa vontade e das nossas fantasias... Então pra mim, vale a máxima:

"Sou um homem: nada do que é humano me é estranho" Terêncio

Acho sim que esses desejos e quaisquer outros são normais. Como diz Schopenhauer também no "mundo como vontade e representação" nas minhas palavras porque não achei a citação: não há tolice maior do que uma sociedade que culpa os homens por seus desejos.

PS: Isso é resquício de um moralismo cristão. Repare que em no Oriente são mais maleáveis a essa questão da pedofilia, por exemplo..
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #11 Online: 09 de Dezembro de 2012, 00:31:17 »
Bem, não diria que "independe" da visão cultural, pois a visão de que existem "doenças" é uma perspectiva cultural, assim como a de que existem "moléculas". Doenças são geralmente desvios nocivos do funcionamento normal/mais comum do organismo de uma espécie. Nocivo pode ser tanto ao indivíduo ou aos demais indivíduos, e pedofilia se enquadra em ambas as situações.

"Normal" é uma palavra, palavras podem ter vários significados válidos, e não faz muito sentido discutir algo como um "verdadeiro" significado válido. Acho até argumentável que talvez por sua definição essa palavra já não tenha qualquer signficado, pois parece tornar tudo normal (ou poderia dar algum exemplo de anomalia?). Mas isso não importa, o que importa é que há várias outras definições possíveis, várias das quais deixariam pedofilia de fora da normalidade. Penso que essas geralmente são as mais úteis, objetivas, ou menos confusas/turvas na maior parte dos casos em que se estiver falando sobre o tema. E para qualquer espécie de ressalva que essa rotulação queira fazer, como de que não deve se "culpar" a pessoa pelo desejo/condição, não é realmente necessário rotulá-lo de "normal", o que evita confusão sobre a extensão do problema e não se dá margem à sugestão de que não haveria problema algum. E todo o esforço adicional que se teria que ter para arranjar formas de frasear coisas como proporções disso na população e particularidades relevantes no que se desvia do comporamento normal/comum/como queira.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Pedofilia e políticas de prevenção ao abuso sexual de crianças
« Resposta #12 Online: 14 de Dezembro de 2012, 02:47:50 »
Também acho, mas isso tem que ser feito com extremo cuidado para não traumatizar a criança, imagino que não seja difícil acabar criando algo que fosse prejudicial, mesmo com as melhores intenções. Ao mesmo tempo em que parece 100% desejável que as crianças tenham alguma noção de como perceber isso e conseguir ajuda, acho que até mesmo a abordagem dessa possibilidade talvez possa ser algo potencialmente traumático, como ficar "fermentando" na cabeça das crianças e acabar gerando memórias falsas por efeito de uma sugestão acidental na descrição da situação, e esse tipo de complicação. :/

Sem dúvida, é um assunto delicado e a própria abordagem, se descuidada, pode ser prejudicial. Mas há meios de se comunicar com crianças que as deixe confortáveis. Na realidade, acho que o ideal é que esse alerta viesse das escolas, nas séries iniciais (o ideal mesmo é que isso já fosse abordado em casa... mas é lá que está a maior parte do problema). Imagino que o melhor é que a educação nesse sentido deva ser voltada a aspectos muito sutis, que antecedem os abusos mais graves; algo mais no sentido de não aceitar ameaças, se sentir seguro para compartilhar o que lhe acontece com adultos, procurar ajuda quando algo não vai bem (se não é possível em casa, que seja na escola, conversando com um professor ou orientador), não aceitar presentes em troca de favores (e comunicar quando qualquer proposta do gênero acontecer)... enfim, existe uma série de detalhes que se uma criança comentar chamam a atenção para um potencial abuso. Pelo que já vi, a maioria dos abusos vem acompanhado de alguma(s) dessas características, já na fase inicial, antes de se concretizar um abuso mais grave. 

Um pouco relacionado:


<a href="http://www.youtube.com/v/Vx6nGxw_hnM" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/Vx6nGxw_hnM</a>

 

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