Não existe moral absoluta, no sentido de que ela é só existe no contexto da humanidade. Porém, existe empatia.
Se não existe moral absoluta, existe o relativismo moral. E a empatia também é relativa.
Creio que não fui muito claro antes: o relativismo moral a que me referi é uma atitude específica de não-interferência e de suspensão de juízos frente a ações que possamos julgar moralmente repreensíveis, para evitar uma suposta imposição cultural. Note que concordo com um aspecto desse tipo de relativismo: não fazer juízos de valor acerca de quem realiza a ação. Por exemplo: eu tentaria impedir um índio de cometer infanticídio de uma criança com lábio leporino, mas não consideraria esse índio uma pessoa essencialmente má.
E existe uma unidade na experiência humana: o meu sofrimento e o meu prazer não são essencialmente diferentes, nem melhores nem piores que o prazer e o sofrimento de alguém com outro background. Uma maneira mais precisa de expressar o que penso seria dizer que não aceito - me recuso a aceitar, a imobilidade diante do sofrimento desnecessário* imposto a um outro ser humano, mesmo que uma cultura específica o justifique. É por isso que citei o utilitarismo: ele tem os seus defeitos, mas é a moral que é tacitamente aceita, mesmo imperfeitamente, atualmente no ocidente, e com a qual me identifico.
Se recusar a aceitar tais praticas não torna a moral por trás delas inválida, incorreta, pior do que a sua e muito menos inexistente. Você não provou que sofrimento desnecessário é algo errado; apenas crê nisso( levando em conta apenas suas postagens nesse tópico) da mesma forma que grande parte da populacao crê na bíblia.
Mas é isso justamente o que tentei expressar antes: a falta de crenças religiosas não significa a ausência total de crenças. A minha crença, no caso, é a convicção de que a experiência consciente dos outros é fundamentalmente semelhante à minha: creio que as outras pessoas são tão humanas quanto eu. Essa é uma das bases da moralidade. Isso parece óbvio, mas na verdade não pode ser provado. Não é à toa que o primeiro passo que grupos ou governos tomam antes de iniciar um genocídio é tentar desumanizar seus alvos - eles são descritos por caricaturas, tratados como menos que humanos, rotulados (kulaks, não-arianos, muggles), tratados como não totalmente conscientes. Essa é uma forma de tentar neutralizar a empatia natural dos humanos. O interessante é que hoje em dia podemos ver exemplos de situações onde essa uniformidade da experiência humana Não se aplica! Por exemplo, em certos jogos de computador existem PCs (sigla em inglês para personagens de jogadores, controlados por humanos) e NPC (personagens não-jogadores, controlados pela IA do jogo). É comum ver jogadores saindo massacrando NPCs só por diversão, ao ponto de certos jogos penalizarem jogadores que fazem isso. Por outro lado, no mundo real só existem PCs, só que não é possível provar isso.
Como disse antes, a vantagem desse tipo de crença em relação às religiões não está na crença em si, mas na atitude acerca da crença: ter sempre em mente que crenças são construtos mentais, criados a partir de um diálogo constante entre nossa mente e a realidade física, e assim passíveis de revisões.