Uma outra pergunta, relacionada ao PSF:
Quando comecei a ter contato com o PSF, uma as coisas que me chamou a atenção foi o grau de "intromissão" na vida das pessoas que o programa oficialmente prescreve. Deve-se colher informações sobre todas as famílias para se fazer trabalhos de prevenção e promoção da saúde. As informações não se resumem a questões puramente sanitárias, deve-se pesquisar e registrar informações econômicas, sociais, psicológicas, culturais e etc (ex: onde trabalha, o que costuma fazer nas horas de folga, com quem se relaciona, com quem tem contato frequente, etc).
Tecnicamente falando, o programa está correto em asseverar que os problemas de saúde não se resumem às doenças em si e que toda informação é importante para se planejar medidas de intervenção. Entretanto, eu achei o programa "intrusivo" demais na vida das pessoas (íntima inclusive). Vi agentes de saúde comentando detalhes da vida de diversas pessoas, como se fosse uma roda de fofoca.
É interessante também ver que apenas as pessoas pobres ou miseráveis são registradas e incluídas com êxito nesse esquema de coleta de informações, busca ativa e intervenções. As casas de classe média para cima costumam não aceitar essa intervenção, até porque eles não precisam constantemente do atendimento do SUS.
Considerando que o grau de ignorância, pobreza e preguiça das classes atendidas é ainda tremendo, essa forma de intervir é muito boa e eficaz (na minha opinião), dado que até as coisas mais simples esse pessoal não costuma fazer pela própria saúde. Entretanto, eu pergunto: até quando essa política será necessária?
As cartilhas do PSF o colocam como algo permanente, que veio para ficar para sempre, mas como eu acredito que há uma tendência da população a aumentar a renda e o nível de educação com o tempo, acredito que esse esquema intervencionista do PSF terá que ser deixado de lado devido à crescente rejeição da própria população-alvo.
É o mesmo sistema que ocorre no Canadá e Reino Unido, por exemplo. As informações coletadas pelos ACS estão contidas na ficha A do SIAB:
http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/acervo/saude/arquivos/siab/A.pdfEssas fichas estão sendo substituídas pelas de cadastro individual e domiciliar do SISAB:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/ficha_cadastro_domiciliar.pdfhttp://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/ficha_cadastro_individual.pdfAs informações são necessárias para o planejamento das ações das equipes da ESF, mas são de caráter voluntário. No caso de existir mais informações das classes C, D e E, isso se dá mais nos grandes centros, já que as áreas que concentram essa população são as cobertas pela ESF. Nos municípios que possuem 100% de cobertura, mesmo que seja apenas do PACS, todas as pessoas são cadastradas, independente da classe social. É importante observar que o ACS é morador da sua área, normalmente um vizinho, um parente, isso facilita o acesso do profissional.
Para além das questões do cadastramento familiar, o ACS tem outras funções como acompanhamento das gestantes e crianças da sua área e que encontram-se na unidade; acompanhamento dos acamados; procura ativa de TB e dos comunicantes; captação precoce de gestantes para o PN e outras funções mais. Serve também como elo de ligação da equipe com a comunidade, acompanha nas visitas domiciliares e leva demandas por serviços para a equipe.
Se há mais intrusão na vida das pessoas, pode ser devido a um contato com ACS fofoqueiros. Fofoqueiros existem em qualquer profissão.