Autor Tópico: Sobre 1964...  (Lida 2930 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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Sobre 1964...
« Online: 12 de Maio de 2013, 13:19:53 »
E se a "revolução" de 1964 não houvesse ocorrido ? Os militares estavam com a razão em interferir na política brasileira da maneira como atuaram ?
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Offline Gigaview

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #1 Online: 12 de Maio de 2013, 15:49:48 »
Os militares tiveram pleno apoio da população. A revolução ocorreria de qualquer modo, mais cedo ou mais tarde, não havia outra opção, senão seria bagunça seguida de comunismo, que nunca foi bem visto e aceito pelo povo. Tudo isso, claro com o apoio velado dos EUA que não toleraria, de forma alguma, outra Cuba abaixo do equador através da presença vigilante de Vernon Walters. http://en.wikipedia.org/wiki/Vernon_A._Walters


http://midiadeofertas.blogspot.com.br/2011/04/o-apoio-da-populacao-ao-golpe-de-1964.html
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Offline DDV

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #3 Online: 12 de Maio de 2013, 16:16:36 »
E se a "revolução" de 1964 não houvesse ocorrido ? Os militares estavam com a razão em interferir na política brasileira da maneira como atuaram ?

Após o episódio da "revolta dos marinheiros" e a posterior quebra da hierarquia militar, com apoio de Goulart, a intervenção dos militares era inevitável. Fosse qual fosse o governo e fosse qual fosse a sua orientação, os militares não iriam deixar a a sua estrutura ser destruída (ilegalmente) sem reagirem.

O sistema político brasileiro na época estava podre, sua queda era apenas questão de tempo. Goulart chegou à presidência com  36% dos votos da população para vice-presidente (ou seja, não tinha o apoio da maioria desta) e quase todos os atores políticos da época tinham alguma forma de regime ditatorial em mente e em melhor conta do que a democracia. Não tinha jeito mesmo.

Talvez, com outro presidente menos burro, o sistema pudesse persistir por mais tempo ou até mesmo sobreviver, com uma nova constituição para consertar os buracos da anterior.

 
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Offline DDV

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #4 Online: 12 de Maio de 2013, 16:23:08 »
Se o Jânio Quadros não tivesse dado o "auto-golpe" (renunciando para tentar ser reconduzido ao cargo com mais poderes pelo congresso, que supostamente preferiria isso a ter Jango como presidente), Jango não teria tomado posse e consequentemente não teria havido a infiltração dos comunistas no poder, promovendo a baderna em diversos órgãos e instituições, greves gerais, ameaças ao congresso, etc. A desordem não teria invadido as forças armadas e seus oficiais não teriam motivos para se levantar contra o governo. Ocorreriam novas eleições em 1965, Juscelino seria eleito e tomaria posse em 1966. Pelo o que sabemos de Juscelino, quase certamente o Brasil teria alguma estabilidade até 1971. Daí em diante é uma incógnita.

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Offline Renato T

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #5 Online: 12 de Maio de 2013, 18:22:43 »
Não vejo qualquer propósito na pergunta "e se". Tudo vai ficar numa punhetagem condicional que nunca vai chegar perto do que teria sido a situação real caso não tivesse havido o golpe.
Mas é relevante questionar a razão e o direito dos militares terem tomado tal atitude.

Offline Moro

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #6 Online: 12 de Maio de 2013, 19:55:36 »
leia o "se"  como o entendimento necessário do contexto da época que acarretou o golpe de 64. Acho legítimo.

O fato é que Jango jogou um jogo que realmente corroborava a pecha de comunista. As reformas de base, que pretendiam socializar lucros de grandes corporações, era apenas uma das intervenções que ele tentou colocar em prática. Nem as idéias gozavam de consenso nem Jango possuía credibilidade para toca-las. A economia fraca e inflação em alta ainda lhe consolidavam a imagem de mal gestor e fanfarrão.

Aí, após a incompetência, veio a burrice. A demissão do ministro da marinha foi um tapa na cara dos militares.

Caiu de burro.

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Offline Feliperj

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #7 Online: 12 de Maio de 2013, 22:13:52 »
leia o "se"  como o entendimento necessário do contexto da época que acarretou o golpe de 64. Acho legítimo.

O fato é que Jango jogou um jogo que realmente corroborava a pecha de comunista. As reformas de base, que pretendiam socializar lucros de grandes corporações, era apenas uma das intervenções que ele tentou colocar em prática. Nem as idéias gozavam de consenso nem Jango possuía credibilidade para toca-las. A economia fraca e inflação em alta ainda lhe consolidavam a imagem de mal gestor e fanfarrão.

Aí, após a incompetência, veio a burrice. A demissão do ministro da marinha foi um tapa na cara dos militares.

Caiu de burro.

Fora o contexto geral de zona no país, insubordinação militar e as propostas do Brizola de tomada do poder pela força (grupo dos 11).

Offline pablito

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #8 Online: 15 de Maio de 2013, 15:18:05 »
E se a "revolução" de 1964 não houvesse ocorrido ? Os militares estavam com a razão em interferir na política brasileira da maneira como atuaram ?

Não havia, nos diversos grupos que se consideravam esquerda no Brasil do início dos anos 1960, condições para uma tomada do poder pela via revolucionária. Assim, os militares NÃO estavam com razão em interferir. A desculpa que o golpe foi preventivo é pra lá de esfarrapada. Nem as ligas camponeses nem os 'grupos dos 11' do Brizola tinham a menor condição de apoiar uma revolução. Uma prova disso foi a completa falta de resistência ao golpe.

A UDN, Carlos Lacerda à frente, tentaram usar os militares para chegar ao poder. Acreditavam, os 'ingênuos", que após o golpe os militares logo chamariam uma eleição sem a inconveniência do PTB e de parte do PSD. Mas os milicos tinham outros planos.

É bom lembrar que gogó não faz revolução. Se em 1961 a campanha legalista não pavimentou o caminho de Brizola ao poder, nada mais o faria. Brizola, como todos sabem, era um falastrão. Francisco Julião também - aliás, esse era quase um mitômano. O pobre PCB não tinha sequer penetração nos sindicatos. Os "revolucionários" anos 1960 (não só em Cuba, mas nos EUA, na França - nos costumes) davam aos diversos e conflitantes grupos da esquerda brasileira a crença/esperança de que chegariam ao poder em breve, mas não possuíam penetração social para chegarem pelo voto nem organização para chegarem pelas armas.

Dizer que o golpe de 64 nos livrou de uma ditadura comunista é balela. Não havia condições para isso. É bom lembrar que o próprio Carlos Lacerda (UDN, direita, anticomunista roxo) foi cassado, assim como JK (que de comunista não tinha nada também). A ditadura cassou seus inimigos, mesmo os democratas como JK e os direitistas reacionários como Lacerda. Os milicos só tinham compromisso com eles mesmos. Defender a família, a tradição e a propriedade era só a desculpa esfarrapada.

Offline Dr. Manhattan

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #9 Online: 15 de Maio de 2013, 16:01:37 »
E se a "revolução" de 1964 não houvesse ocorrido ? Os militares estavam com a razão em interferir na política brasileira da maneira como atuaram ?

Não havia, nos diversos grupos que se consideravam esquerda no Brasil do início dos anos 1960, condições para uma tomada do poder pela via revolucionária. Assim, os militares NÃO estavam com razão em interferir. A desculpa que o golpe foi preventivo é pra lá de esfarrapada. Nem as ligas camponeses nem os 'grupos dos 11' do Brizola tinham a menor condição de apoiar uma revolução. Uma prova disso foi a completa falta de resistência ao golpe.

A UDN, Carlos Lacerda à frente, tentaram usar os militares para chegar ao poder. Acreditavam, os 'ingênuos", que após o golpe os militares logo chamariam uma eleição sem a inconveniência do PTB e de parte do PSD. Mas os milicos tinham outros planos.

É bom lembrar que gogó não faz revolução. Se em 1961 a campanha legalista não pavimentou o caminho de Brizola ao poder, nada mais o faria. Brizola, como todos sabem, era um falastrão. Francisco Julião também - aliás, esse era quase um mitômano. O pobre PCB não tinha sequer penetração nos sindicatos. Os "revolucionários" anos 1960 (não só em Cuba, mas nos EUA, na França - nos costumes) davam aos diversos e conflitantes grupos da esquerda brasileira a crença/esperança de que chegariam ao poder em breve, mas não possuíam penetração social para chegarem pelo voto nem organização para chegarem pelas armas.

Dizer que o golpe de 64 nos livrou de uma ditadura comunista é balela. Não havia condições para isso. É bom lembrar que o próprio Carlos Lacerda (UDN, direita, anticomunista roxo) foi cassado, assim como JK (que de comunista não tinha nada também). A ditadura cassou seus inimigos, mesmo os democratas como JK e os direitistas reacionários como Lacerda. Os milicos só tinham compromisso com eles mesmos. Defender a família, a tradição e a propriedade era só a desculpa esfarrapada.

Concordo que não havia a possibilidade de os comunistas tomarem o poder em 64. Porém, o mais importante é saber se a opinião pública da época tinha noção disso [1]. Não vivi a época, mas pelo que já li, e por conversas que tive com pessoas que estavam lá,  muitos, civis e militares, realmente acreditavam que os comunistas-comedores-de-criancinhas estavam a ponto de chegar ao poder, e que algo precisava ser feito. Outra coisa: pelo que percebi, também havia entre muitos os que fizeram ou apoiaram o golpe a visão de que havia uma crise imediata - uma desordem institucional, que se não fosse contida, poderia levar o país ao caos. Sem falar que os militares já tinham uma cultura, que remetia ao tenentismo, de se acreditarem os salvadores da pátria, que tinham o direito e o dever de intervir na política quando lhe convinha.

Resumindo: acho que um golpe da direita era praticamente inevitável em meados dos anos 60, e que a raiz de tudo foi, como disse o Agnóstico, a insensatez do Jânio, misturada com paranóia anticomunista e o messianismo dos militares. A verdade é que naquela época ninguém mesmo acreditava na democracia. Mas isso é só um chute meu.



[1] Da mesma forma que é comum criticar os britânicos por tentarem apaziguar Hitler em 1935. Isso fazia sentido na época: a Primeira Guerra havia deixado uma marca profunda na opinião pública da Grã Bretanha, e eles não estavam a fim de repetir a experiência. Ninguém sabia realmente até onde iam a maldade e a ambição dos nazistas.
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Offline Moro

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #10 Online: 15 de Maio de 2013, 19:58:45 »
E se a "revolução" de 1964 não houvesse ocorrido ? Os militares estavam com a razão em interferir na política brasileira da maneira como atuaram ?

Não havia, nos diversos grupos que se consideravam esquerda no Brasil do início dos anos 1960, condições para uma tomada do poder pela via revolucionária. Assim, os militares NÃO estavam com razão em interferir. A desculpa que o golpe foi preventivo é pra lá de esfarrapada. Nem as ligas camponeses nem os 'grupos dos 11' do Brizola tinham a menor condição de apoiar uma revolução. Uma prova disso foi a completa falta de resistência ao golpe.

A UDN, Carlos Lacerda à frente, tentaram usar os militares para chegar ao poder. Acreditavam, os 'ingênuos", que após o golpe os militares logo chamariam uma eleição sem a inconveniência do PTB e de parte do PSD. Mas os milicos tinham outros planos.

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Dizer que o golpe de 64 nos livrou de uma ditadura comunista é balela. Não havia condições para isso. É bom lembrar que o próprio Carlos Lacerda (UDN, direita, anticomunista roxo) foi cassado, assim como JK (que de comunista não tinha nada também). A ditadura cassou seus inimigos, mesmo os democratas como JK e os direitistas reacionários como Lacerda. Os milicos só tinham compromisso com eles mesmos. Defender a família, a tradição e a propriedade era só a desculpa esfarrapada.

porque não comenta sobre os posts dos demais foristas?
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #11 Online: 15 de Maio de 2013, 20:17:58 »
Essa coisa toda de "[não havia] condições para uma tomada do poder pela via revolucionária". Sabemos que que os militares, naquela época, estavam cientes disso, tal como estamos hoje? Ou é puro viés de análise retrospctiva? Há alguma espécie de documentação que nos diga que eles avaliavam, confiantemente, que o potencial de revolução era desprezível, por estarem dotados de "inteligência"/informações completíssimas,? Ou admissões posteriores?

Offline Fabrício

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #12 Online: 15 de Maio de 2013, 20:42:32 »
Essa coisa toda de "[não havia] condições para uma tomada do poder pela via revolucionária". Sabemos que que os militares, naquela época, estavam cientes disso, tal como estamos hoje? Ou é puro viés de análise retrospctiva? Há alguma espécie de documentação que nos diga que eles avaliavam, confiantemente, que o potencial de revolução era desprezível, por estarem dotados de "inteligência"/informações completíssimas,? Ou admissões posteriores?

Todo problema parece simples depois de resolvido...
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Offline Moro

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #13 Online: 15 de Maio de 2013, 20:48:59 »
Essa coisa toda de "[não havia] condições para uma tomada do poder pela via revolucionária". Sabemos que que os militares, naquela época, estavam cientes disso, tal como estamos hoje? Ou é puro viés de análise retrospctiva? Há alguma espécie de documentação que nos diga que eles avaliavam, confiantemente, que o potencial de revolução era desprezível, por estarem dotados de "inteligência"/informações completíssimas,? Ou admissões posteriores?

o presidente queria o golpe. acho que por definição ele tinha um bom posicionamento
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Offline DDV

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #14 Online: 16 de Maio de 2013, 13:02:39 »
Matéria da revista "O Cruzeiro", de 10/04/1964, intitulada "Por que Jango Caiu".





"O SENHOR João Goulart perdeu o jôgo no momento em que, abandonando a tática da conciliação política, que prevaleceu nos dois primeiros anos de seu govêrno, preferiu comandar ostensivamente o esquema da esquerda radical que tinha numa entidade juridicamente ilegal, o Comando Geral dos Trabalhadores, o centro de suas atividades revolucionárias.

Chegando ao Poder pela sua extraordinária habilidade política, usada principalmente no amaciamento dos impulsos revolucionários do seu cunhado Leonel Brizola e de uma paciente e longa viagem da Ásia a Pôrto Alegre quando ganhou tempo para assumir de modo pacífico a Presidência vaga com a renúncia de Jânio, o Sr. João Goulart passou a estruturar um dispositivo de segurança baseado em alguns oficiais de sua confiança pessoal.

Êsse dispositivo teve que ser revisto mais de uma vez. As contingências do regime parlamentarista obrigaram o Presidente Goulart a manter no Ministério da Guerra o General Nelson de Melo, notòriamente anticomunista. Derrubado o sistema parlamentar de govêrno, através de uma intensa pressão política, sindical e militar, pôde, então, o Sr. João Goulart preparar o caminho para sua futura aliança total com as esquerdas.

A Marinha e a Aeronáutica passaram a ter, a partir do primeiro ano de govêrno presidencialista, comandos fiéis ao Presidente. O Ministério da Guerra foi entregue, então, ao General Amaury Kruel, amigo pessoal do Presidente mas oficial tão anticomunista quanto o seu antecessor na Pasta. O Sr. Leonel Brizola iniciou, então, e vitoriosamente, uma intensa campanha, pelo rádio e televisão, contra a permanência de Kruel no comando-geral do Exército.

O General legalista Jair Dantas Ribeiro foi convocado para assumir o Ministério da Guerra. Construiu, então, um esquema militar inteiramente legalista e anticomunista, substituindo mais de cem comandos em todo o território nacional. Para manter, porém, um dispositivo militar esquerdista, fiel às reformas econômicas que propunha e à sua futura aliança com a esquerda, o Sr. João Goulart levou para a chefia de seu gabinete militar o General Assis Brasil. Aí começou a estruturação de uma ampla frente esquerdista, política, sindical e militar, sob a orientação política da Casa Militar da Presidência.

A um ano e meio das eleições presidenciais o Senhor João Goulart recusava-se a conversar sôbre a sua sucessão. O Sr. Juscelino Kubitschek, que seria o candidato natural do esquema governista, teve seu nome sumàriamente vetado pelas fôrças esquerdistas mais radicais, que obedeciam ao comando do Deputado Leonel Brizola. Deu-se o esvaziamento da candidatura Kubitschek e o crescimento da candidatura Lacerda, na área oposta.

As lideranças políticas, inclusive as mais próximas do Presidente Goulart, passaram a desconfiar das intenções continuístas do chefe trabalhista. O PSD não lhe dava cobertura parlamentar para as reformas. A UND liderava, no Congresso, a anti-reforma. Estruturava-se, assim, um dispositivo de defesa do regime democrático, que os principais partidos e vários governadores comandados por Adhemar e Lacerda puseram a funcionar inicialmente na área puramente política para, mais tarde, ganhar a consciência e o apoio das Fôrças Armadas.

O Govêrno fêz várias tentativas de contenção dêsse dispositivo oposicionista. Mal aconselhado tanto política quanto militarmente, o Sr. João Goulart contava, apenas, com apoios populares, suportes sindicais e sua intuição e habilidade política para sobreviver. A inflação se agravava, desmoronavam-se os planos administrativos do Govêrno. Necessário que o Presidente apressasse sua aliança com as esquerdas, passasse a comandá-las ostensivamente a fim de ocupar o espaço de tempo, os dois meses que separavam a primeira quinzena de março da oficialização da candidatura Lacerda, já marcada para princípios de abril. Com a candidatura Kubitschek já lançada pelo PSD, restava ao Sr. João Goulart fazer a sua opção: ou marcharia com ela, ou concentraria seus esforços para a esquematização de uma candidatura esquerdista com tintas democráticas. Êle desprezou a solução eleitoral e decidiu romper a barreira da conciliação política, indo ao encontro das lideranças identificadas com o pensamento marxista.

Estaria absolutamente convencido o Presidente Goulart de contar com apoios militares para essa jogada? Estaria certo que as fôrças militares dariam cobertura, ao menos parcial, às teses defendidas pela esquerda radical e comunistas no palanque armado em frente ao Ministério da Guerra no dia 13 de março? O simples fato da presença do General Jair Dantas Ribeiro naquele palanque não autorizava a ninguém a acreditar que Exército, Marinha e Aeronáutica estavam solidárias com a nova posição do Presidente da República.

A partir do comício do dia 13 radicalizaram-se as posições políticas e as Fôrças Armadas começaram a sensibilizar-se. O Decreto de desapropriações de terras, o do tabelamento dos aluguéis, o de encampação de refinarias de petróleo foram os dados menos importantes na crise que se armava. Para exercer a sua autoridade de Presidente da República e para tomar medidas administrativas até mesmo reformistas, o Sr. João Goulart contava, ao menos aparentemente, com a cobertura militar do esquema montado pelo Ministro Jair Dantas Ribeiro. Mas o próprio Ministro confessava, em conversas confidenciais, que não teria condições para mobilizar seus comandos no sentido de prestigiar uma solução golpista para o problema sucessório, nem de esquerda, nem de direita.

Na realidade - verificou-se mais tarde - O Presidente Goulart não tinha estruturado um dispositivo militar de esquerda, capaz de prestigiar sua aliança com os revolucionários. Se estava mal-informado pela sua assessoria militar chefiada pelo General Assis Brasil, não se sabe. Se agiu conscientemente, certo de que contaria com a cobertura popular para a sua ação, só êle poderá responder.

A verdade é que, a partir do momento em que consolidou sua liderança esquerdista, o Senhor João Goulart foi radicalizando sua posição política e arrastou suas teses para os quartéis. Do outro lado, as fôrças oposicionistas passaram da tática política para a estratégia militar. Construiu-se, ràpidamente um poderoso dispositivo militar inicialmente defensivo, para evitar que o CGT, a UNE, a Frente Parlamentar Nacionalista, os Comandos do Deputado Brizola, o Governador Miguel Arraes - o esquema da esquerda radical - pudessem dar solução prática às teses revolucionárias que defendiam.

De um lado, o Sr. João Goulart estimulou a reação de sargentos e praças, soldados e marinheiros à política tradicional das Fôrças Armadas, provocando um clima de indisciplina que se generalizou na Marinha sob a orientação do Almirante Aragão. A insubordinação de marinheiros e fuzileiros navais, e a solução dada pelo Presidente à crise na Armada, fazendo o Almirante Aragão retornar ao comando dos fuzileiros, pondo no Ministério um almirante identificado com o marxismo e designando o Almirante Suzano para o Estado-Maior - já encontravam, do outro lado, uma poderosa aliança de governadores do Centro-Sul, com cobertura militar do II Exército do General Kruel.

Há mais de dois meses que essa aliança estava sendo esquematizada. Ney Braga aderiu a ela quando da visita do Governador Lacerda a Curitiba. Adhemar, Lacerda e Meneghetti já estavam entendidos. Faltava a adesão de Magalhães Pinto. O próprio Lacerda a obteve, entregando ao Governador mineiro o comando-geral das fôrças democráticas. Mato Grosso e Goiás foram adesões que se fizeram naturalmente, devido à situação geográfica dos dois Estados centrais e da posição ideológica de seus governadores.

Quando o Governador Adhemar de Barros afirmava que tinha condições de reagir à investida esquerdista, não estava blefando. Quando os dirigentes da esquerda radical afirmavam que a revolução estava ganha e êles já se aproximavam do Poder, estavam mentindo. Não contavam as esquerdas com a opinião pública, e o esquema adversário era tremendamente mais poderoso.

O choque pareceu inevitável no momento em que o Presidente João Goulart resolveu tornar irreversível sua posição de comandante de um esquema mal estruturado, e baseado tão-sòmente na sua liderança popular e nas falsas lideranças sindicais comunistas. Quando falou a sargentos e marinheiros, no dia 30 de março, atacando seus adversários e mantendo sua determinação de ir mais adiante nos seus propósitos, o Sr. João Goulart fêz, definitivamente, sua opção. Preferiu contar com as fôrças populares que esperava se rebelassem em todo o País para enfrentar a reação política e militar ao seu nôvo govêrno, à quebra da hierarquia nas Fôrças Armadas e ao poder sindical representado no CGT.

Essas fôrças, porém, não foram suficientes para manter o Sr. João Goulart no Poder e garantir a sobrevivência de seu esquema político. Muito mais poderosas do que elas, melhor articuladas, e com apoio da opinião pública do principais Estados do País, eram as fôrças contrárias.

O Sr. João Goulart marchou, então, para a luta, consciente de que contava ao menos com os trabalhadores mobilizados pelos sindicatos e com a lealdade dos chefes militares à autoridade do Presidente da República. Mas os sindicatos falharam totalmente na mobilização das massas operárias, e os chefes militares viram-se na contingência - cruel para êles - de sacrificar o mandato do Chefe da Nação para evitar a desagregação das Fôrças Armadas, a tomada do Poder pelo esquema esquerdista radical e, quem sabe, a guerra civil no País.

O General Kruel não desejava a deposição do Presidente. O General Jair nunca a desejou. Nem o General Âncora, nem o General Castelo Branco . O Comandante do II Exército chegou a sugerir ao Presidente, no momento em que suas fôrças se preparavam para marchar sôbre o Rio, que desarticulasse o sistema esquerdista, fechasse o CGT, normalizasse a situação na Marinha e êle, Goulart, contaria com o apoio das Fôrças Armadas. Mas o Presidente disse não. Não sacrificaria seus aliados, frase que repetiria, mais tarde ao Ministro Jair Dantas Ribeiro, quando êste lhe fêz idêntico apêlo. Estava o Presidente diante de uma opção que lhe era colocada pela quase totalidade das Fôrças Armadas: ou desarticularia o dispositivo de esquerda que passara a comandar, ou os generais teriam que tomar posição para defender a integridade do regime democrático que juraram defender.

Conscientemente, o Sr. João Goulart marchou para o sacrifício. Não recuou um passo, quando poderia ter declarado a ilegalidade do CGT, reformado o comando da Marinha e mantido a prisão do Almirante Aragão, decretada pelo Ministro Silvio Mota. E quando já se esperava o choque das fôrças do II Exército com as tropas da Vila Militar, que se mantinham fiéis ao Presidente, o General Jair - recusado o apêlo que fêz ao Sr. João Goulart - renunciou ao pôsto, deixando ao Estado Maior do Exército a decisão suprema. O Presidente pensou em resistir, mas nunca na Guanabara, onde os comandos militares agiam com extraordinária rapidez na mobilização de tropas e no encaminhamento de uma solução política para a crise.

Não tendo renunciado ao pôsto nos momentos decisivos da crise, o Presidente quis que se caracterizasse a sua deposição. Escolheu o seu caminho, quando teve todas as condições para contornar a crise no seu primeiro instante. Trocou o seu mandato pela liderança popular que espera exercer na faixa revolucionária que o Sr. Brizola ocupou sòzinho nos dois últimos anos."


http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/10041964/100464_1.htm
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Offline Moro

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« Resposta #15 Online: 16 de Maio de 2013, 13:35:54 »
Bom relato.
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Offline Renato T

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #16 Online: 17 de Maio de 2013, 15:33:10 »
Interessante.

Mas a questão volta, se o problema era a articulação que o Jango estava fazendo para a subida da esquerda ao poder com apoio militar e o objetivo dos militares era a prevalência da democracia; então porque a democracia demorou tanto tempo pra ser restabelecida depois do golpe?
Digo, se o problema era o próprio Jango, porque então ele não foi deposto e logo em seguida a democracia foi restabelecida?

Offline _Juca_

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #17 Online: 17 de Maio de 2013, 16:29:34 »
Mais um tópico pra falar da mesma coisa?

Offline Dr. Manhattan

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #18 Online: 17 de Maio de 2013, 16:47:39 »
Interessante.

Mas a questão volta, se o problema era a articulação que o Jango estava fazendo para a subida da esquerda ao poder com apoio militar e o objetivo dos militares era a prevalência da democracia; então porque a democracia demorou tanto tempo pra ser restabelecida depois do golpe?
Digo, se o problema era o próprio Jango, porque então ele não foi deposto e logo em seguida a democracia foi restabelecida?

Parece pergunta retórica. :)
O fato é que, nada dá maior aparência de respeitabilidade para sua causa do que colocá-la sob o manto da "defesa da democracia". Claro que os líderes do Golpe nada tinham de democratas. Tanto assim é que logo que tiveram a oportunidade, deixaram para trás essa fantasia (AI5). Tenho para mim que boa parte da lideranca militar tinha horror a democracia. O Jango apenas lhes deu, de forma atrapalhada e confusa, a desculpa ideal para finalmente tomarem o poder que tanto desejavam.
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Alan Watts

Offline Fabrício

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #19 Online: 17 de Maio de 2013, 16:50:52 »
Interessante.

Mas a questão volta, se o problema era a articulação que o Jango estava fazendo para a subida da esquerda ao poder com apoio militar e o objetivo dos militares era a prevalência da democracia; então porque a democracia demorou tanto tempo pra ser restabelecida depois do golpe?
Digo, se o problema era o próprio Jango, porque então ele não foi deposto e logo em seguida a democracia foi restabelecida?

Parece pergunta retórica. :)
O fato é que, nada dá maior aparência de respeitabilidade para sua causa do que colocá-la sob o manto da "defesa da democracia". Claro que os líderes do Golpe nada tinham de democratas. Tanto assim é que logo que tiveram a oportunidade, deixaram para trás essa fantasia (AI5). Tenho para mim que boa parte da lideranca militar tinha horror a democracia. O Jango apenas lhes deu, de forma atrapalhada e confusa, a desculpa ideal para finalmente tomarem o poder que tanto desejavam.

Eles eram tão defensores da democracia quanto os guerrilheiros que lutaram contra eles depois. Duas faces da mesma moeda.
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Offline Dr. Manhattan

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #20 Online: 17 de Maio de 2013, 16:57:09 »
Interessante.

Mas a questão volta, se o problema era a articulação que o Jango estava fazendo para a subida da esquerda ao poder com apoio militar e o objetivo dos militares era a prevalência da democracia; então porque a democracia demorou tanto tempo pra ser restabelecida depois do golpe?
Digo, se o problema era o próprio Jango, porque então ele não foi deposto e logo em seguida a democracia foi restabelecida?

Parece pergunta retórica. :)
O fato é que, nada dá maior aparência de respeitabilidade para sua causa do que colocá-la sob o manto da "defesa da democracia". Claro que os líderes do Golpe nada tinham de democratas. Tanto assim é que logo que tiveram a oportunidade, deixaram para trás essa fantasia (AI5). Tenho para mim que boa parte da lideranca militar tinha horror a democracia. O Jango apenas lhes deu, de forma atrapalhada e confusa, a desculpa ideal para finalmente tomarem o poder que tanto desejavam.

Eles eram tão defensores da democracia quanto os guerrilheiros que lutaram contra eles depois. Duas faces da mesma moeda.

Exato. Por isso vejo o Golpe de 64 e toda a violência que se desenrolou depois como uma tragédia. No sentido literário mesmo: algo terrível ia acontecer, algo que em princípio poderia ser evitado, mas que nenhum dos participantes parecia interessado ou disposto a evitar. Por ignorância, mau-caratismo, burrice ou fantasias. Algo como ver uma colisao de trens em camara lenta...
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Alan Watts

Offline _Juca_

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #21 Online: 17 de Maio de 2013, 17:02:27 »

Offline Sr. Alguém

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #22 Online: 27 de Maio de 2013, 12:40:44 »
“Eu mereci”, diz Amado Batista sobre ter sido torturado na Ditadura

Na madrugada desta segunda-feira (27) foi ao ar a entrevista de Marília Gabriela com Amado Batista no programa De Frente com Gabí do SBT.

E quando a entrevistadora falou sobre o Regime Militar, um dos momentos mais terríveis da história do Brasil, o papo ficou polêmico.

Amado contou que quando era jovem, entre 18 e 19 anos, trabalhava numa livraria e com este emprego conheceu e facilitou o acesso de alguns escritores, jornalistas e intelectuais aos livros proibidos na época, geralmente de filosofia, política, etc.

Foi aí que quando os militares investigaram aqueles intelectuais acabam chegando até ele, e prenderam Amado Batista, que ainda não cantava. Levaram-no à uma cela e o torturaram, e Amado contou:

“Me bateram muito. Me deram choques elétrico, e ainda um dia me colocaram com uma cobra”.

O músico ainda conta que fizeram muitas torturas psicológicas e ameaçam de morte o tempo todo, disse ele:

“Um dia me soltaram. Todo machucado. Fiquei tão atordoado que pensei em ser mendigo. Queria largar tudo. E virar andarilho”.

Marília citou a atual Comissão da Verdade que está ouvindo as pessoas e investigando alguns acontecimentos da tortura militar, e fez-lhe uma pergunta:

“Você não tem vontade de encontrar os caras que fizeram isso contigo? Ir a fundo, limpar esse passado?"

Amado causou surpresa em Gabí com sua resposta:

“Não. Eu acho que eu mereci. Eu fiz coisas erradas, então eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho”.

Marília boquiaberta retrucou: “Que coisa errada você fez?”

Amado prontamente disse:

“Eu acho que eu estava errado de estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força”, e acrescentou: “Fui torturado, mas merecia”.

A repórter foi enfática: “Você passou para o lado de quem te torturou!”.

O cantor tentou finalizar o assunto dizendo que era passado e que achou que os militares estavam certos, pois se eles não fizessem “aquilo” o Brasil poderia ter se tornado uma Cuba.

Gabí disse que entendia a posição do músico, mas contou que Amado recebe uma indenização pela tortura no tempo da Ditadura Militar, oferecido pela Comissão de Direitos Humanos e da Lei de Anistia e quis saber o valor do salário mensal.

Amado resistiu um pouco, mas depois respondeu: “Eu recebo um salário de R$1 mil e pouco, todo mês desde algum tempo”, finalizou ele.

Marília lembrou-o que os militares também tomaram o poder à força e continuou a entrevista focando o papo em sua carreira e também em sua relação com os fãs.


http://ofuxico.terra.com.br/noticias-sobre-famosos/eu-mereci-diz-amado-batista-sobre-ter-sido-torturado-na-ditadura/2013/05/27-172213.html
Se você acha que sua crença é baseada na razão, você a defenderá com argumentos e não pela força e renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem inválidos. (Bertrand Russell)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Humanismo_secular
http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo_social

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #23 Online: 27 de Maio de 2013, 13:50:37 »
At the end of the Korean War, 21 American prisoners-of-war chose to remain in communist Korea and openly sided with an enemy that had killed thousands of their comrades. In addition, a surprisingly large number of the American service personnel who did return home enthusiastically expounded the strengths of communism. The family and friends of these servicemen were stunned, and the world’s media flocked to Korea to report the story. Some researchers suggested that the Koreans had brainwashed the American soldiers with flashing lights, hypnosis or mind-altering drugs.

They were all wrong.

My latest book, Rip It Up, examines the curious relationship between behaviour and thought. Your everyday experience tells you that your thoughts cause you to behave in certain ways. Feeling happy makes you smile, and feeling sad makes you frown.  However, decades of research have revealed that the exact opposite is also true - behaviour creates thoughts. When you smile you feel happier, and when you frown you feel sad. The same effect applies to belief. Get people to behave as if they hold a certain belief and bingo, they start to actually believe.

Extensive interviews with prisoners-of-war who returned from Korea revealed that the Chinese authorities had employed this principle.

Shortly after capture, the Chinese guards asked servicemen to jot down a few short pro-communist statements ("Communism is wonderful", and "Communism is the way of the future"). Many of the Americans were happy to oblige because the request seemed so trivial. A few weeks later the guards upped the ante and asked the prisoners to read the statements aloud to themselves. A couple of weeks later the Americans were asked to read the statements out to their fellow prisoners, and to engage in mock debates arguing why they believed the statements to be correct. Finally, fresh fruit or sweets were offered to any soldiers who were prepared to write pro-communist essays for the camp newsletter. Once again, many of the prisoners were happy to oblige.

The Chinese did not have to resort to arcane brainwashing techniques. Instead, they simply ensured that the prisoners were encouraged repeatedly to support communism, and then leave them to develop beliefs that were consistent with their behaviour.

Researchers have seen the same effect in their laboratories. In some studies participants have completed questionnaires about their political beliefs, and then been asked to give a short speech in favour of a political party that they oppose. Two weeks later the participants had come to believe that perhaps the opposition party wasn’t so bad after all.

The same procedure has been used in many different contexts, with people presenting talks about abortion, smoking, drink-driving, and greater police powers. On each occasion, behaving as if they believed a certain argument achieves what a hundred rational reasons couldn’t, quickly changing their attitudes in favour of the position they were asked to support. Indeed, the depth of change is such that the participants often deny ever holding their original opinions, and if they are shown their original questionnaires they argue that the forms have been faked or claim that they misread the questions.

The same effect can be used to influence entire populations. Saying "Heil Hitler" every day would have encouraged many ordinary Germans to become more open to Nazi ideology. Having people repeatedly sing a national anthem will make them more patriotic. Making children pray every morning will increase the likelihood of them adopting religious beliefs.

Each time people may feel as if they are simply "playing along". In reality, their behaviour is having a deep and lasting effect on their thoughts and beliefs.

Professor Richard Wiseman is a psychologist at the University of Hertfordshire. 'Rip It Up' is published by Macmillan on 5 July.

http://www.newstatesman.com/blogs/lifestyle/2012/07/truth-about-mind-control

Offline Fabrício

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Re:Sobre 1964...
« Resposta #24 Online: 27 de Maio de 2013, 14:21:35 »
“Eu mereci”, diz Amado Batista sobre ter sido torturado na Ditadura

Na madrugada desta segunda-feira (27) foi ao ar a entrevista de Marília Gabriela com Amado Batista no programa De Frente com Gabí do SBT.

E quando a entrevistadora falou sobre o Regime Militar, um dos momentos mais terríveis da história do Brasil, o papo ficou polêmico.

Amado contou que quando era jovem, entre 18 e 19 anos, trabalhava numa livraria e com este emprego conheceu e facilitou o acesso de alguns escritores, jornalistas e intelectuais aos livros proibidos na época, geralmente de filosofia, política, etc.

Foi aí que quando os militares investigaram aqueles intelectuais acabam chegando até ele, e prenderam Amado Batista, que ainda não cantava. Levaram-no à uma cela e o torturaram, e Amado contou:

“Me bateram muito. Me deram choques elétrico, e ainda um dia me colocaram com uma cobra”.

O músico ainda conta que fizeram muitas torturas psicológicas e ameaçam de morte o tempo todo, disse ele:

“Um dia me soltaram. Todo machucado. Fiquei tão atordoado que pensei em ser mendigo. Queria largar tudo. E virar andarilho”.

Marília citou a atual Comissão da Verdade que está ouvindo as pessoas e investigando alguns acontecimentos da tortura militar, e fez-lhe uma pergunta:

“Você não tem vontade de encontrar os caras que fizeram isso contigo? Ir a fundo, limpar esse passado?"

Amado causou surpresa em Gabí com sua resposta:

“Não. Eu acho que eu mereci. Eu fiz coisas erradas, então eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho”.

Marília boquiaberta retrucou: “Que coisa errada você fez?”

Amado prontamente disse:

“Eu acho que eu estava errado de estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força”, e acrescentou: “Fui torturado, mas merecia”.

A repórter foi enfática: “Você passou para o lado de quem te torturou!”.

O cantor tentou finalizar o assunto dizendo que era passado e que achou que os militares estavam certos, pois se eles não fizessem “aquilo” o Brasil poderia ter se tornado uma Cuba.

Gabí disse que entendia a posição do músico, mas contou que Amado recebe uma indenização pela tortura no tempo da Ditadura Militar, oferecido pela Comissão de Direitos Humanos e da Lei de Anistia e quis saber o valor do salário mensal.

Amado resistiu um pouco, mas depois respondeu: “Eu recebo um salário de R$1 mil e pouco, todo mês desde algum tempo”, finalizou ele.

Marília lembrou-o que os militares também tomaram o poder à força e continuou a entrevista focando o papo em sua carreira e também em sua relação com os fãs.


http://ofuxico.terra.com.br/noticias-sobre-famosos/eu-mereci-diz-amado-batista-sobre-ter-sido-torturado-na-ditadura/2013/05/27-172213.html

Ele fala que aceitou a tortura a que foi submetido, mas se vinga nos torturando com a música dele.
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