Acho legal e tudo mais, mas existe uma desvantagem em se usar físicos em trabalhos interdisciplinares, que está embutida neste trecho do texto:
A função de Bruno no Naco é ajudar o grupo a escrever algoritmos e desenvolver modelos matemáticos para abordar problemas biológicos. “Construir um modelo simplificado permite capturar a essência do que se quer estudar e obter resultados diretamente, sem que você dependa de um resultado experimental”, explicou o físico. Com a ajuda dessa ferramenta, o grupo determinou leis que parecem reger a construção do cérebro de diferentes grupos de mamíferos e, mais recentemente, mostrou as restrições que uma dieta crua impõe ao tamanho do cérebro dos primatas.
Costumo dizer aos estudantes de primeiro semestre que fazer pesquisa em física teórica é necessariamente mais fácil do que em Biologia, Bioquímica etc. Pelas seguintes razões:
1. A gente costuma lidar com partículas ou objetos simples: todos os elétrons são idênticos. Aliás, fundamentalmente indistinguíveis. Daí que a conta que serve para um serve para todos.
2. As interações entre as partículas costumam diminuir com a distância. Isso quer dizer que podemos saber, de forma sistemática, até que ponto podemos desprezar essas interações. Se as partículas não interagem (e devido ao item 1), podemos entender o comportamento coletivo delas estudando apenas uma partícula. E também podemos ir acrescentando as interações, por assim dizer, de forma controlada [1].
3. Interações diferentes costumam ser relevantes em escalas de energia diferentes. É por isso que, quando a gente estuda química, não precisa se preocupar com forças nucleares. Isso também vale para escalas de tempo.
4. Geralmente, sistemas físicos contém um número estupidamente, Fabulousamente, enorme de partículas. Isso quer dizer que o comportamento coletivo delas pode ser muito bem descrito pelas propriedades médias das partículas.
5... (Existem outras razões, de caráter mais técnico[2])
Se vocês não dormiram ainda, então o que quero dizer é que pelas razões acima, modelos simplificados costumam funcionar muito bem. Só que a Biologia, a Fisiologia, a Antropologia, etc. não satisfazem esses critérios. Elas lidam com sistemas
complicados. Daí que nesses caso, modelos simplificados devem ser tratados com MUITO cuidado. A mania dos físicos de usarem modelos simplificados é tão conhecida que já rendeu até aquela piada da "vaca esférica". Mas fora isso, acho legal essa ideia.
[1] Como em teoria de perturbação diagramática: antes de fazer as contas, podemos ter uma boa ideia de quais diagramas serão necessários.
[2] Que têm a ver com o tamanho da constante de Planck, efeitos de blindagem eletromagnética e do fato de elétrons serem férmions, mas dá pra ter uma ideia de onde quero chegar. Em seguida dou um exemplo de uma hierarquia de teorias em matéria condensada com níveis crescentes de complexidade e precisão: metais como um plasma, líquido de Fermi, teoria de bandas, modelo tight-binding, modelo de Hubbard, modelo de Hubbard com interação elétron-fônons, até chegar em DFT.