Autor Tópico: Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio  (Lida 10845 vezes)

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Offline Pasteur

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #75 Online: 11 de Fevereiro de 2016, 21:09:18 »
Será que a ciência/governos/universidades vão aprender a lição que o zika deu? Digo, enquanto o zika era uma doença esquecida, restrita à Africa e sudeste asiático, era negligenciada e pouco estudada. Agora que "deu as caras", estão preocupados em estudar melhor, desenvolver vacina, etc... Se a ciência/governos/universidades tivessem estudado o zika antes, já teriam mais informações, vacina, etc para enfrentar a doença agora que ela traz problemas. Isso deveria servir de lição, eu acho...

Creio que não aprenderam. Só agem quando o problema bate à porta.

Offline Geotecton

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #76 Online: 11 de Fevereiro de 2016, 21:12:45 »
Será que a ciência/governos/universidades vão aprender a lição que o zika deu? Digo, enquanto o zika era uma doença esquecida, restrita à Africa e sudeste asiático, era negligenciada e pouco estudada. Agora que "deu as caras", estão preocupados em estudar melhor, desenvolver vacina, etc... Se a ciência/governos/universidades tivessem estudado o zika antes, já teriam mais informações, vacina, etc para enfrentar a doença agora que ela traz problemas. Isso deveria servir de lição, eu acho...

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Offline Pasteur

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #77 Online: 11 de Fevereiro de 2016, 21:39:11 »
Será que a ciência/governos/universidades vão aprender a lição que o zika deu? Digo, enquanto o zika era uma doença esquecida, restrita à Africa e sudeste asiático, era negligenciada e pouco estudada. Agora que "deu as caras", estão preocupados em estudar melhor, desenvolver vacina, etc... Se a ciência/governos/universidades tivessem estudado o zika antes, já teriam mais informações, vacina, etc para enfrentar a doença agora que ela traz problemas. Isso deveria servir de lição, eu acho...

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Não aprendem porque não tem interesse.

Offline Lorentz

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #78 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 08:53:27 »
Será que a ciência/governos/universidades vão aprender a lição que o zika deu? Digo, enquanto o zika era uma doença esquecida, restrita à Africa e sudeste asiático, era negligenciada e pouco estudada. Agora que "deu as caras", estão preocupados em estudar melhor, desenvolver vacina, etc... Se a ciência/governos/universidades tivessem estudado o zika antes, já teriam mais informações, vacina, etc para enfrentar a doença agora que ela traz problemas. Isso deveria servir de lição, eu acho...

Creio que não aprenderam. Só agem quando o problema bate à porta.

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Não aprendem porque não tem interesse.

Existem estudos mais prioritários, como Aids, Cancer, nanotecnologia, e recentemente o ebola. Acredito que ninguém esteja parado.
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Offline Lakatos

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #79 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 18:05:07 »
Curar algumas centenas de ricos nos EUA sempre será mais lucrativo do que curar 500 mil miseráveis em Uganda, então é compreensível, do ponto de vista econômico, que certas pesquisas médicas sejam priorizadas e outras negligenciadas. Não é bonito, mas é como funciona.

Offline DDV

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #80 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 18:18:53 »
Serviços e tecnologias da área de saúde não são coisas 'naturais', são artificiais e caras, tanto a pesquisa quanto os serviços em si. Não são "direitos" naturais de toda e qualquer pessoa que nasça nesse planeta. As sociedades precisam de crescimento econômico e produtividade para bancar essas pesquisas e serviços, e é claro que um país A que tenha as condições para tanto irá priorizar os cidadãos do país A, e o que sobrar irá para os demais. Normal.

Quer ter seus cidadãos saudáveis: faça a lição de casa! Cresça, se desenvolva, invista em saneamento, em saúde básica e pesquisa médica.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Lakatos

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #81 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 18:26:41 »
é claro que um país A que tenha as condições para tanto irá priorizar os cidadãos do país A, e o que sobrar irá para os demais. Normal.

Em geral, quem será priorizado será quem paga. Se você é do país A mas não tem dinheiro, também não terá acesso aos serviços, enquanto as pessoas mais ricas dos países B, C, D, etc. poderão vir até o país A usufruí-los. A divisão não é geográfica, é econômica.

Offline DDV

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #82 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 19:35:57 »
é claro que um país A que tenha as condições para tanto irá priorizar os cidadãos do país A, e o que sobrar irá para os demais. Normal.

Em geral, quem será priorizado será quem paga. Se você é do país A mas não tem dinheiro, também não terá acesso aos serviços, enquanto as pessoas mais ricas dos países B, C, D, etc. poderão vir até o país A usufruí-los. A divisão não é geográfica, é econômica.

Sim, isso geralmente para as doenças raras.

Doenças comuns de países pobres podem (geralmente) ser prevenidas com medidas de saneamento relativamente baratas e que exigem apenas um mínimo de organização e honestidade. Se esses países fizessem a lição de casa com essas medidas, teriam mais razão em choramingar por pesquisa médica dos países ricos.

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #83 Online: 01 de Março de 2016, 19:02:54 »
Serviços e tecnologias da área de saúde não são coisas 'naturais', são artificiais e caras, tanto a pesquisa quanto os serviços em si. Não são "direitos" naturais de toda e qualquer pessoa que nasça nesse planeta. As sociedades precisam de crescimento econômico e produtividade para bancar essas pesquisas e serviços, e é claro que um país A que tenha as condições para tanto irá priorizar os cidadãos do país A, e o que sobrar irá para os demais. Normal.

Quer ter seus cidadãos saudáveis: faça a lição de casa! Cresça, se desenvolva, invista em saneamento, em saúde básica e pesquisa médica.

É ainda uma outra "lição" de qualquer forma, "quer se prevenir de epidemias oriundas de países de terceiro mundo ante mudanças climáticas talvez tornando tudo algo mais imprevisível? Então deve ser mais prioritário estudar e até ajudar a combater doenças de terceiro mundo do que patologizar desconfortos triviais de primeiro mundo".

Embora talvez algumas dessas patologizações de trivialidades sejam mais de indústria "farmacosmética", que nem bem existe por definição, ou seja, mais uma espécie de semi-picaretagem de quem já não empreendia em medicina ou farmacologia propriamente ditas, mas em cosméticos ou quinquilharias.





Citar
Mas ainda não há nenhum estudo mostrando essa relação de causa e efeito. O zika é como o bandido que está no local do crime, mas ninguém viu ele cometendo o crime?
[Bandido] Encontrado em todos os locais do crime. Em Pernambuco, mais de 40 casos de crianças com microcefalia, em que foi extraído líquor da coluna, foi encontrado o IGM [anticorpo], que só pode ser produzido por ela, não pela mãe. É questão superada. A causa da epidemia de microcefalia é o vírus da zika. O que não tem resposta ainda é se o vírus é causa suficiente para provocar microcefalia ou se precisa de alguns fatores contribuintes.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/02/1744056-resta-saber-se-o-virus-da-zika-causa-sozinho-microcefalia-diz-ministro.shtml

Que tipo de outros fatores poderiam ser esses? Se encontra bebês nascidos sem microcefalia, mas com vírus? Então talvez o estágio de desenvolvimento quando ocorre a infecção? Ou a dúvida seria algo como relativa a própria disseminação do vírus, como talvez mães que já tenham tido dengue terem mais vírus de Zika quando infectadas, como sugere outra pessoa que citei anteriormente?

Offline Johnny Cash

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #84 Online: 02 de Março de 2016, 11:31:23 »
A crescente resistência de organismos aos antibióticos nos levará de volta ao passado sofrendo/morrendo de coisas hoje ainda triviais?

Offline Johnny Cash

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #85 Online: 25 de Maio de 2016, 09:36:24 »
Os dentes (e seu conjunto de 42) será sempre os mesmos em cachorros normais, independentemente da raça?

Skorpios

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #86 Online: 25 de Maio de 2016, 13:47:30 »
Os dentes (e seu conjunto de 42) será sempre os mesmos em cachorros normais, independentemente da raça?

Dei uma olhada e, pelo que diz aqui, me parece que sim. Pelo menos não cita exceções.
Já a Wikipédia diz:
Citar
Outra característica comum é a dentição. Em geral, um cão possui um total de 42 dentes, divididos em 12 incisivos, 4 caninos, 16 pré-molares e 10 molares.

Offline Johnny Cash

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #87 Online: 25 de Maio de 2016, 14:41:03 »
 :ok:

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #88 Online: 16 de Junho de 2016, 19:23:15 »
http://ngm.nationalgeographic.com/2013/07/125-explore/shared-genes

Isso aqui está correto? :hein:

Dá 84% de similaridade genética entre humanos e cães, seguida de 73% para zebrafish, 69% para ornitorrinco, e 65% para galinha.

Eu esperava que, apesar de umas bizarrices pontuais como microcromossomos das aves, a proximidade genética ainda fosse se dar no mesmo nível geral/grosso da taxonômica. Ou seja, humanos → cães (mamífero placentário) →ornitorrinco (mamífero marsupial/monotremado/whatever) → galinha (ovos amnióticos, "amniota") → zebrafish (vertebrado ou talvez algo um pouco mais próximo, mas ainda de longe o mais distante).


Qual a explicação?


:?::?::?::?::?:





:?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?:

Offline Gigaview

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #89 Online: 16 de Junho de 2016, 20:37:03 »
Agora está claro que o homo sapiens sapiens foi mesmo produzido em laboratório com pitadas da genética de várias espécies.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline JJ

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #90 Online: 16 de Junho de 2016, 21:05:06 »
http://ngm.nationalgeographic.com/2013/07/125-explore/shared-genes

Isso aqui está correto? :hein:

Dá 84% de similaridade genética entre humanos e cães, seguida de 73% para zebrafish, 69% para ornitorrinco, e 65% para galinha.

Eu esperava que, apesar de umas bizarrices pontuais como microcromossomos das aves, a proximidade genética ainda fosse se dar no mesmo nível geral/grosso da taxonômica. Ou seja, humanos → cães (mamífero placentário) →ornitorrinco (mamífero marsupial/monotremado/whatever) → galinha (ovos amnióticos, "amniota") → zebrafish (vertebrado ou talvez algo um pouco mais próximo, mas ainda de longe o mais distante).


Qual a explicação?



A explicação eu não sei, mas  achei esse  artigo que informa que está popularizando o seu uso como cobaia, e que a similaridade é 70%:



Um peixe modelo


Mais prático e barato que os roedores, o paulistinha começa a ser usado em pesquisas de neurociências e testes de medicamentos no Brasil



RICARDO ZORZETTO | ED. 209 | JULHO 2013
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© LÉO RAMOS
Preenchendo lacuna: nativo da Ásia, o paulistinha ou zebrafish é um modelo animal intermediário entre a drosófila e os roedoresPreenchendo lacuna: nativo da Ásia, o paulistinha ou zebrafish é um modelo animal intermediário entre a drosófila e os roedores



No subsolo do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em Porto Alegre, funciona uma agência de encontros um tanto incomum. Todo fim de tarde alguns casais – trios, na verdade – são conduzidos a uma sala silenciosa onde, às escuras, passam algumas horas se conhecendo a certa distância. Pela manhã, quando as luzes são acesas e o contato físico é liberado, os participantes iniciam um namoro de apenas 15 minutos que costuma deixar muitos descendentes. Um cartaz afixado no lado de fora da porta mantém afastados os curiosos: “Não entre: acasalamento em andamento”. Nesse laboratório da PUC-RS, a bióloga Monica Ryff Moreira Vianna, seguindo estratégias que ela otimizou, controla a reprodução de um pequeno peixe listrado de prata e negro conhecido como zebrafish ou paulistinha, cada vez mais usado nas pesquisas em neurociências no mundo e, agora, no Brasil.

“Em alguns testes, o zebrafish pode funcionar como uma alternativa ao uso de roedores; em outros, pode oferecer informação complementar”, afirma o biólogo Denis Rosemberg, que recentemente participou da instalação de um biotério de zebrafish na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), em Santa Catarina. Ele começou a trabalhar com o peixe no Laboratório de Neuroquímica e Psicofarmacologia, da farmacologista Carla Bonan, durante a graduação na PUC-RS. Ele investigou os efeitos danosos do álcool sobre o cérebro e demonstrou a ação neuroprotetora da taurina, naturalmente produzida pelo organismo e encontrada em bebidas energéticas, quando migrou para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em Santa Catarina, Rosemberg e o farmacologista Angelo Piato começam agora a usar o peixe para investigar os efeitos do estresse no sistema nervoso central e no comportamento. Esse, aliás, é um dos casos em que o zebrafish (Danio rerio) pode oferecer vantagens sobre os roedores. É que no peixe o hormônio que controla o estresse é o cortisol, o mesmo que nos seres humanos é liberado por glândulas situadas sobre os rins em situações reais ou imaginárias de ameaça à vida. Nos roedores, o hormônio produzido nessas situações é a corticosterona, que ocorre em concentrações muito baixas no organismo humano.

Na UFRGS, o grupo do biólogo Diogo Losch de Oliveira conseguiu dar um passo além. Em um trabalho publicado no início deste ano na revista PLoS One, ele e seu aluno de mestrado Ben Hur Mussulini haviam descrito detalhadamente as alterações comportamentais que caracterizam os estágios epilépticos no zebrafish adulto. “Na literatura científica só havia descrições detalhadas para o modelo em larvas, que apresentam um repertório comportamental mais restrito”, diz Losch.

© NATALIA ELTZ SILVAQuase transparente: embriões de zebrafish 24 horas após a fertlização
Quase transparente: embriões de zebrafish 24 horas após a fertlização
Mais recentemente seu grupo começou a testar os primeiros de um grupo de 30 compostos desenvolvidos em parceria com Grace Grosmann, da Faculdade de Farmácia da UFRGS. Esses compostos tentam explorar uma via bioquímica distinta das que são alvo dos medicamentos atualmente disponíveis, incapazes de controlar cerca de 30% dos casos de epilepsia. Dos três compostos testados, apenas um se mostrou capaz de reduzir a intensidade das crises e deve seguir para outras fases de avaliação.

Estudos internacionais, a propósito, consideram o zebrafish uma ferramenta bastante promissora para a análise e seleção de compostos candidatos a medicamentos. Com esse peixe, espera-se acelerar e baratear o processo. Uma das vantagens é que seu ciclo de vida é rápido – em quatro dias vários dos seus órgãos estão formados – e as larvas, que nascem às centenas a cada postura, com uns poucos milímetros de comprimento, podem ser acomodadas em vários poços de teste com doses baixíssimas de compostos químicos. Com essa seleção, imagina-se ser possível reduzir o número de moléculas que seguiriam para as fases seguintes, de experimentos com roedores. “Com o zebrafish é possível testar em meses e com alguns milhares de dólares o que levaria anos para ser feito com roedores e custaria milhões”, comenta o bioquímico Diogo Onofre Souza, coordenador do Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de Excitoxocidade e Neuroproteção, onde são desenvolvidas as pesquisas com zebrafish na UFRGS. No exterior, algumas indústrias de medicamentos já começam a adotá-lo em sua linha de testes.

Pioneiros
Nativo do sudoeste da Ásia, onde é encontrado em rios calmos e rasos e nas plantações alagadas de arroz e juta, esse peixe chegou aos laboratórios de pesquisa no final dos anos 1960, com o biólogo norte-americano George Streisinger, da Universidade do Oregon. Ele trabalhou sozinho por uma década para selecionar linhagens que permitissem entender como defeitos em diferentes genes afetavam o desenvolvimento. Seu esforço só conseguiu reduzir o ceticismo dos colegas em 1981, quando publicou um artigo na revista Nature apresentando o modelo consolidado. Nos anos seguintes, o número de artigos científicos que usavam o peixe como modelo biológico cresceu aceleradamente, em especial nos estudos de genética e desenvolvimento, e só na última década o zebrafish chegou à neurociência.

© LAURA ROESLER NERY Larva de zebrafish com 5 dias de vida
Larva de zebrafish com 5 dias de vida
Modelos Complementares

“O zebrafish começa a preencher uma lacuna que existia entre os modelos animais para o estudo de doenças humanas”, diz o neurofisiologista Luiz Eugenio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que estuda alterações no sistema nervoso central, entre elas as causadas pela epilepsia, usando ratos como modelo biológico. Mello lembra que um axioma da ciência diz que o melhor modelo para investigar uma coisa é a própria coisa. De acordo com esse raciocínio, o ideal para o estudo das doenças humanas seriam os próprios seres humanos. Mas isso raramente é possível. “Na maioria das vezes há restrições éticas e limitações de tempo, espaço e custo para realizar as pesquisas”, afirma. “Por isso são necessários vários modelos experimentais, dos mais simples aos mais complexos, para compreender a origem de alguns problemas.”

Quando não se pode investigar um problema no próprio ser humano, a medicina e a biologia adotam uma espécie de escala preferencial de modelos, em que são levados em conta fatores como a semelhança evolutiva, anatômica, fisiológica e genética. Segundo esse sistema, os animais que permitiriam extrapolar os resultados com mais segurança para as pessoas seriam os outros primatas, como o chimpanzé, cujo uso em pesquisa é proibido no Brasil e vem sendo banido nos Estados Unidos, e outros macacos. “Só trabalha com primata quem dispõe de muita verba e muito espaço”, comenta o biólogo molecular João Bosco Pesquero, também da Unifesp, criador de uma das primeiras linhagens brasileiras de camundongos transgênicos.“Por isso, muita gente opta pelos roedores, que são mamíferos como os seres humanos”, diz.

Diante de dificuldades técnicas que impedem o trabalho com roedores, o que às vezes ocorre na genética – por exemplo, só há bem pouco tempo se começou a conseguir a produzir ratos transgênicos –, a saída é trabalhar com modelos evolutivamente mais distantes dos seres humanos, mas mais fáceis de manipular, como as drosófilas. E mais recentemente com o zebrafish.

O mais importante, porém, é que, do ponto de vista evolutivo, o zebrafish é mais próximo dos seres humanos do que as drosófilas, há quase um século usadas como organismo modelo em genética. O genoma do zebrafish, concluído no início deste ano, indica que 70% de seus 26 mil genes são semelhantes aos genes humanos – essa similaridade é menor com a drosófila e maior com camundongos e ratos, que serviram de base para muito do que se conhece de fisiologia humana.

“Historicamente as pesquisas em neurociências usam os roedores como modelo biológico, mas esse cenário começa a mudar”, conta Monica, que também integra a diretoria da Rede Latino-americana de Zebrafish (Lazen). Esse consórcio reúne pesquisadores de sete países que usam o peixe em seus estudos e oferece treinamento para aqueles, em geral em início de carreira, interessados em adotar o zebrafish como modelo experimental. Dos 39 grupos que integram a rede, 11 são brasileiros e quase metade está no Rio Grande do Sul.

A produção científica nacional utilizando o zebrafish, que inexistia há pouco mais de uma década, vem crescendo de modo acelerado nos últimos anos, num ritmo maior do que no restante do mundo. A bióloga Luciana Calabró, especialista em cientometria e integrante de um dos grupos que realizam estudos com o paulistinha na UFRGS, chegou a essa conclusão em um levantamento recente realizado em uma das maiores bases internacionais de artigos científicos, a Scopus. “A produção brasileira saiu de 2 artigos por ano em 1999 para 36 em 2012, quando passou a representar cerca de 2% dos trabalhos com zebrafish publicados no mundo”, conta.

A produção nacional com esse peixe ainda é modesta ante a internacional, que soma quase 2 mil artigos por ano nos últimos tempos. Mas vem conseguindo se destacar nas neurociências. “O zebrafish é um modelo novo nessa área e a comunidade que trabalha com ele ainda é pequena”, conta Monica.

No Brasil
Os primeiros trabalhos com esse peixe feitos no Brasil saíram do laboratório da pesquisadora Rosana Mattioli, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo. Naquela época o zebrafish começava a ser usado nas pesquisas em neurociências, mas o comportamento natural da espécie ainda era pouco conhecido. Rosana, então, realizou uma série de experimentos simples que ajudou a identificar a preferência do peixe por viver em ambientes escuros. Ela colocava os exemplares do zebrafish em um aquário pintado de duas cores – metade preto e metade branco – e media o tempo que passavam em cada uma das partes. Assim, observou que eles ficavam a maior parte do tempo (cerca de 80%) no lado negro. Viu também que, uma vez colocados na parte clara, eles rapidamente nadavam para a parte escura. Esse trabalho, publicado em 1999 no Brazilian Journal of Medical and Biological Research, começou a estabelecer a base de um importante teste de ansiedade, aprimorado em seguida por ela e outros pesquisadores e hoje utilizado para avaliar o efeito de compostos que combatem a depressão e a ansiedade.

Ansiedade
Ao ver esse trabalho, o psicólogo Amauri Gouveia Junior, então na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Bauru, notou uma grande semelhança entre o teste do claro-escuro em zebrafish e um experimento que avalia o nível de ansiedade em roedores. Nesse teste, o roedor é colocado em uma plataforma em X a cerca de 60 centímetros do chão. Em dois dos braços, o espaço para caminhar é protegido por paredes, enquanto nos outros dois é aberto. Uma vez no labirinto, os ratos, curiosos, apresentam a tendência de explorá-lo. Mas passam a evitar a parte aberta. Essa ansiedade resulta de um conflito entre a curiosidade e o medo. “O tempo que os peixes passavam no lado escuro era muito semelhante àquele que os roedores ficavam na parte protegida do labirinto”, conta Gouveia. “Por isso imaginei que os dois testes pudessem medir a ansiedade em animais diferentes.” Desde então, ele aplicou o teste de claro-escuro a 12 espécies de peixe, o zebrafish entre eles, para avaliar ansiedade em peixes. “É um dos testes mais adotados hoje em laboratórios de estudos de peixe no mundo todo”, conta Gouveia, hoje pesquisador na Universidade Federal do Pará.

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A fase seguinte é testar compostos que interferem nesse comportamento para tentar descobrir como eles o alteram. Com alguns desses testes padronizados, os pesquisadores brasileiros já identificam alterações químicas e celulares no cérebro, provocadas por crises de epilepsia ou por compostos que controlam a depressão e a ansiedade. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde instalou um laboratório de zebrafish há dois anos, a geneticista Cláudia Maurer-Morelli e sua aluna de mestrado Patrícia Barbalho viram que os níveis de uma molécula inflamatória, a interleucina 1-beta, aumentaram logo após uma crise epiléptica induzida. As crises também elevam a produção e a atividade do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína que em humanos está alterada na epilepsia, como mostraram os resultados publicados por Fernanda Reis-Pinto em 2012 no Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology. Numa linha de pesquisa em fase inicial, Cláudia planeja produzir peixes com alterações genéticas encontradas em pessoas com epilepsia para investigar o papel dessas mutações na doença. O trabalho integra o Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão financiados pela FAPESP, coordenado por Fernando Cendes.

Embora os primeiros trabalhos com zebrafish tenham sido feitos em São Paulo, cerca de metade dos artigos brasileiros dos últimos anos é de equipes do Rio Grande do Sul, boa parte em neurociências. Segundo Monica Vianna, uma razão histórica explica a concentração dos trabalhos brasileiros com paulistinha em neurociências. Tanto ela quanto Carla Bonan, da PUC-RS, uma das primeiras a instalar um laboratório de zebrafish no Brasil, haviam feito parte de seu treinamento no grupo de Iván Izquierdo na UFRGS, um dos principais estudiosos da memória no mundo. Depois de trabalhar com roedores no mestrado e no doutorado, Carla e Monica decidiram investir no zebrafish. Nos últimos anos, Carla mostrou que nesses peixes os níveis de algumas moléculas que atuam na comunicação entre as células cerebrais – o trifosfato de adenosina e um de seus componentes, a adenosina – desempenham um papel protetor contra a epilepsia, o estresse e a neurotoxicidade induzida por metais.

Reprodução
Na PUC-RS, Monica e sua equipe trabalharam meses até chegarem à estratégia mais eficiente de promover o acasalamento dos peixes no Laboratório de Biologia e Desenvolvimento do Sistema Nervoso. Ela só conseguiu aumentar a taxa reprodutiva quando reuniu os participantes em grupos de três (uma fêmea e dois machos) e os manteve separados por uma divisória transparente – machos de um lado e fêmeas do outro – durante toda uma noite antes que pudessem finalmente ter contato. “Se não os separo, cada fêmea produz menos de uma dezena de ovos”, conta a bióloga. Já com o isolamento e as 12 horas de namoro a distância, esse número pode aumentar para cerca de 200. Lá ocorrem cerca de dez acasalamentos por dia e nascem, em média, 2 mil filhotes por mês. Em uma manhã excepcionalmente produtiva de maio deste ano, Monica e sua equipe passaram horas recolhendo um a um, com uma pipeta, os cerca de 1.800 embriões que resultaram de um único acasalamento de algumas dezenas de trios de zebrafish, que ela vem usando para investigar a bioquímica da memória e de doenças neurodegenerativas como o mal de Alzheimer.

Com a expectativa de que a demanda por exemplares do peixe possa crescer nos próximos anos, os grupos de Monica, Carla e os colegas que compartilham o biotério da PUC-RS trabalham na sua ampliação. É que os 5 mil peixes mantidos ali hoje são suficientes apenas para suprir os estudos conduzidos por eles e alguns colaboradores. A meta é tornar esses laboratórios um dos principais fornecedores desse zebrafish para pesquisa no Brasil, ao lado do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, onde a equipe do biólogo José Xavier Neto instalou no ano passado um biotério para produzir zebrafish com alterações genéticas para o estudo do desenvolvimento de vertebrados. Comparando o desenvolvimento embrionário de peixes, galinhas e camundongos, a equipe de Xavier começou a elucidar nos últimos anos o papel de alguns fatores envolvidos na diferenciação do coração dos vertebrados e no desenvolvimento de neurônios sensoriais.

Uma das razões para aumentar a produção do peixe é que há um potencial mercado. A Lei Arouca, que regulamenta o uso de animais em pesquisa, determina que a partir de 2014 sejam usados exemplares de origem, qualidade e uniformidade certificadas. “Em princípio”, diz Monica, “não será mais possível fazer pesquisa com peixes comprados em lojas de animais”.

Artigos científicos
MUSSULINI, B.H. et al. Seizures Induced by Pentylenetetrazole in the adult zebrafish: a detailed behavioral characterization. PLos One. v. 8. Jan. 2013.
REIS-PINTO, F. C. et al. Análise temporal dos transcritos dos genes bdnf e ntrk2 em cérebro de zebrafish induzido à crise epiléptica por pentilenotetrazol. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology. v. 18, n. 14, p. 107-13. 2012.
CASTILLO, H. A. et al. Insights into the organization of dorsal spinal cord pathways from an evolutionarily conserved raldh2 intronic enhancer. Development. v. 137, p. 507-18. 2010.


http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/07/12/um-peixe-modelo/


« Última modificação: 16 de Junho de 2016, 21:08:06 por JJ »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #91 Online: 21 de Junho de 2016, 17:22:44 »
Em doenças genéticas de manifestação tardia, existem "gatilhos" bioquímicos comuns (não universais, mas comuns) para que as coisas comecem a degringolar?

Talvez a pergunta possa valer para qualquer faixa etária de manifestação, na verdade. Só acho mais curioso quais seriam os possíveis gatilhos tardios, em vez de algo mais previsível como mudanças hormonais na adolescência.

Existiria uma propensão geral ao bom condicionamento físico e qualidade de vida a atrasarem a manifestação dessas doenças? Já que parece que essa "juventude" é visível até nos telômeros. Se bem que isso é o tipo de coisa que talvez não diga nada por ser meio "circular", exceto talvez por um trabalho meio insano de eliminação dessa "cicularidade". E acho que se aplicaria mais especificamente a esses hipotéticos gatilhos na velhice, e não entre adolescência e velhice...

Isso que estou perguntando existiria numa espécie de "temática", uma "algumacoisa-logia" dentro das pesquisas de biomedicina, ou a coisa fica muito mais dispersa nas pesquisas sobre cada doença, sem tentar encontrar fatores em comum?

Skorpios

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #92 Online: 22 de Junho de 2016, 08:56:51 »
  Minha esposa tem uma doença que foi diagnosticada como Ataxia (ou Distaxia) cerebelar classe C(ou 3).

  Começou com alguns sintomas como uma eventual tontura e que podem, eventualmente acontecer com qualquer pessoa e por isso eram ignoradas.

  Quando começou a dificuldade na marcha e na fala, fomos atrás de um diagnóstico, que depois de superados os "especialistas" que deram diagnósticos completamente errados (AVC) conseguimos depois de 3 anos de tratamentos inefetivos e que nada tinham a ver.

  Tive que sacar uma boa quantia do bolso para consultar um médico que é conhecido como um dos maiores especialistas brasileiros nesse tipo de doença e o que ele me disse, foi o seguinte:

  É uma "ataxia de múltiplos sistemas de início tardio" de origem não hereditária. Provoca a degeneração da conexão do cérebro com os nervos e o prognóstico é que acabe perdendo o controle de todas as funções do corpo e venha a morrer disso
.
  O tratamento é apenas sintomático, para melhorar a qualidade de vida. A literatura médica mostra que as pessoas acometidas por essa doença tem um ciclo, entre o aparecimento dos primeiros sintomas até a morte de 9 anos.

  Sabe-se o que essa doença faz, mas não se sabe o que a causa.

  Então, estamos a 10 anos lutando contra isso, com tratamentos experimentais que acabaram abandonados por não terem demonstrado efetividade e a doença está progredindo mais lentamente do que era previsto. Ela ainda não perdeu totalmente a capacidade de marcha (usa um andador) mas é questão de tempo.

  Assim, toda esse ladainha para dizer que, os médicos, pelo menos os que eu consultei, não sabem se existe algum gatilho, ou pelo menos, não o conhecem.

Offline DDV

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #93 Online: 22 de Junho de 2016, 12:12:36 »
  Minha esposa tem uma doença que foi diagnosticada como Ataxia (ou Distaxia) cerebelar classe C(ou 3).

  Começou com alguns sintomas como uma eventual tontura e que podem, eventualmente acontecer com qualquer pessoa e por isso eram ignoradas.

  Quando começou a dificuldade na marcha e na fala, fomos atrás de um diagnóstico, que depois de superados os "especialistas" que deram diagnósticos completamente errados (AVC) conseguimos depois de 3 anos de tratamentos inefetivos e que nada tinham a ver.

  Tive que sacar uma boa quantia do bolso para consultar um médico que é conhecido como um dos maiores especialistas brasileiros nesse tipo de doença e o que ele me disse, foi o seguinte:

  É uma "ataxia de múltiplos sistemas de início tardio" de origem não hereditária. Provoca a degeneração da conexão do cérebro com os nervos e o prognóstico é que acabe perdendo o controle de todas as funções do corpo e venha a morrer disso
.
  O tratamento é apenas sintomático, para melhorar a qualidade de vida. A literatura médica mostra que as pessoas acometidas por essa doença tem um ciclo, entre o aparecimento dos primeiros sintomas até a morte de 9 anos.

  Sabe-se o que essa doença faz, mas não se sabe o que a causa.

  Então, estamos a 10 anos lutando contra isso, com tratamentos experimentais que acabaram abandonados por não terem demonstrado efetividade e a doença está progredindo mais lentamente do que era previsto. Ela ainda não perdeu totalmente a capacidade de marcha (usa um andador) mas é questão de tempo.

  Assim, toda esse ladainha para dizer que, os médicos, pelo menos os que eu consultei, não sabem se existe algum gatilho, ou pelo menos, não o conhecem.

A grande maioria das doenças catalogadas têm etiologia ou processo patogênico (o 'mecanismo' fisiopatológico da doença) completamente ou parcialmente desconhecidos. Com as doenças raras isso é ainda pior, pois geralmente têm menos volume de estudos.

Bem vindo à medicina!
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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #94 Online: 22 de Junho de 2016, 12:22:13 »
Em doenças genéticas de manifestação tardia, existem "gatilhos" bioquímicos comuns (não universais, mas comuns) para que as coisas comecem a degringolar?

Talvez a pergunta possa valer para qualquer faixa etária de manifestação, na verdade. Só acho mais curioso quais seriam os possíveis gatilhos tardios, em vez de algo mais previsível como mudanças hormonais na adolescência.

Existiria uma propensão geral ao bom condicionamento físico e qualidade de vida a atrasarem a manifestação dessas doenças? Já que parece que essa "juventude" é visível até nos telômeros. Se bem que isso é o tipo de coisa que talvez não diga nada por ser meio "circular", exceto talvez por um trabalho meio insano de eliminação dessa "cicularidade". E acho que se aplicaria mais especificamente a esses hipotéticos gatilhos na velhice, e não entre adolescência e velhice...

Isso que estou perguntando existiria numa espécie de "temática", uma "algumacoisa-logia" dentro das pesquisas de biomedicina, ou a coisa fica muito mais dispersa nas pesquisas sobre cada doença, sem tentar encontrar fatores em comum?

O bom condicionamento físico serve como uma contraposição ao efeito de algumas doenças (ex: um atleta com melhor preparo físico suporta melhor uma asma do que um sedentário), mas o 'gatilho' das doenças em si está mais ligado a fatores 'ambientais' (ex: dieta ou respiração com menos fatores cancerígenos, com mais antioxidantes, menos infecções por certos patógenos, menos intoxicações, etc) do que ao condicionamento físico em si.

Diríamos que o condicionamento físico aumenta a "margem" para o indivíduo poder adoecer e ter menos efeitos 'práticos' em sua fisiologia.

Mas há casos e casos.
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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #95 Online: 22 de Junho de 2016, 14:00:30 »
Sim, esses são os fatores que imaginei que "confundiriam" uma explicação relacionada apenas ao envelhecimento num nível genético, do encurtamento dos telômeros, e o que quer que isso desengatasse. Já que seriam benefícios em si mesmos, que acompanhariam uma menor redução nos telômeros, provavelmente.

Mas a curiosidade principal é de doenças genéticas que seriam mais próximas de independentes de condicionamento físico, e que ainda assim se manifestassem em adultos ou idosos, em vez de desde o nascimento ou na adolescência.

Talvez em muitos casos em vez de haver um gatilho "natural" seja parte da doença, com um gradual "acúmulo" do que quer que os genes façam de errado ou deixem de fazer, que apenas coincide de ser mais visível só mais tarde... :hein:

Mas ainda fica meio estranho não ser já a condição inicial... só se tiver sempre algo a ver com afetar capacidades de regeneração "especializadas", talvez... :|





Doença de Huntington é um caso como esse que eu imaginei, efeito tardio do acúmulo de produto "malfeito" dos genes ao longo da vida:

http://www.nature.com/scitable/topicpage/genetic-causes-of-adult-onset-disorders-34609









  Assim, toda esse ladainha para dizer que, os médicos, pelo menos os que eu consultei, não sabem se existe algum gatilho, ou pelo menos, não o conhecem.

:/

Sinto muito. É, tinha certeza que algo assim não seria conhecido em nível definitivo, mas imaginava talvez poderem estar havendo pesquisas nesse sentido. Se não me engano, com câncer e até ataque cardíaco, está sendo estudada a possibilidade de "vacinas".

http://hsci.harvard.edu/news/vaccination-prevent-heart-attacks
(acho que essa ataca uma etiologia diferente da que vi sobre isso na primeira vez)

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/behindtheheadlines/news/2016-06-02-research-raises-hope-of-a-holy-grail-universal-cancer-vaccine/

Acho que já ouvi falar de "vacinas" relacionadas a câncer mesmo não causados por oncovírus, relacionado a idéia de gatilhos universais de câncer... mas não lembro de nada... acho que vi num TED talks sobre isso, ou algo assim.

Achava que talvez como com câncer, pudesse haver comumente algum gatilho epigenético associado a idade que fosse responsável por desregular a expressão de outros genes, ou dos genes problemáticos. Mas deve ser mais provável não haver esse gatilho meio-universal, em vez disso ser sempre um acúmulo gradual de produto defeituoso dos genes.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #96 Online: 22 de Setembro de 2016, 13:33:20 »
Existem variações anatômicas como uma série de músculos e ossos que algumas pessoas têm a menos (ou a mais), algumas vezes rotulados como "vestigiais". Também acontece das pessoas algumas vezes terem vértebras e costelas adicionais.

Existiria casos de músculos ou ossos "novos", não-atávicos/vestigiais ocorrerendo esporadicamente?

Imagino que seja possível porque em muitos casos o "atavismo" talvez seja "falso", não a reativação de toda uma rotina genética-ontológica ancestral, mas só uma "falha de execução" que calha de produzir algo similar. Meio como pessoas terem dedos a mais não será atavismo dos tetrápodes mais primitivos, ou terem dois pênis ou vaginas sugestivo de algum estágio ancestral que não se costumava imaginar.

O que me lembro que talvez se enquadre nisso são só os ossos wormianos no crânio.



Lembrei do termo "supernumerário", que ajudaa a ampliar um pouco essa resposta que já dei a mim mesmo:







Citar
Multiple supernumerary muscles of the arm and its clinical significance.
Nayak SR1, Krishnamurthy A, Prabhu LV, Jiji PJ, Ramanathan L, Kumar S.
Author information
Abstract
During routine cadaveric dissection of the flexor compartment of the right arm, multiple supernumerary muscles were observed in a 56-year-old male cadaver. There were three supernumerary muscles took taking origin independently from the humerus distally to the insertion of coracobrachialis muscle. The upper two supernumerary muscles were attached to the common tendon of the biceps brachii muscle and considered as its additional heads. The third supernumerary muscle passed between the biceps brachii and brachialis muscles, then crossed obliquely the brachial artery and median nerve nearing cubital fossa to get inserted in to the radial side of the humeral head of the pronator teres. The clinical significance of the above variations is discussed (Fig. 1, Ref. 16).

Offline DDV

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #97 Online: 25 de Setembro de 2016, 14:28:20 »
http://ngm.nationalgeographic.com/2013/07/125-explore/shared-genes

Isso aqui está correto? :hein:

Dá 84% de similaridade genética entre humanos e cães, seguida de 73% para zebrafish, 69% para ornitorrinco, e 65% para galinha.

Eu esperava que, apesar de umas bizarrices pontuais como microcromossomos das aves, a proximidade genética ainda fosse se dar no mesmo nível geral/grosso da taxonômica. Ou seja, humanos → cães (mamífero placentário) →ornitorrinco (mamífero marsupial/monotremado/whatever) → galinha (ovos amnióticos, "amniota") → zebrafish (vertebrado ou talvez algo um pouco mais próximo, mas ainda de longe o mais distante).


Qual a explicação?


:?::?::?::?::?:





:?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?::?:

Se o zebrafish é de um grupo taxonômico que é ancestral comum das aves e mamíferos, eu diria que tanto a linhagem do homem quanto a linhagem da galinha e do ornitorrinco deve ter acumulado genes 'novos' (surgidos após a separação filogenética) não compartilhados entre si, enquanto o zebrafish teve menos dessas mutações 'novas' e mantém uma proporção maior de genes em comum com ambas as linhagens.


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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #98 Online: 25 de Setembro de 2016, 21:47:52 »
É, pela mesma lógica, mais ou menos, acho, que compartilhamos uns 50% de genes com bananas. Quanto mais "ancestral" o parentesco, maior deve ser a quantidade de genes compartilhados, possibilitando organismos de um mesmo "galho" ainda diferirem mais entre si do que de um ancestral, apesar de compartilharem apenas um pouco do genoma para estarem em comum no mesmo "galho".

http://www.mirror.co.uk/news/weird-news/humans-share-50-dna-bananas-2482139





Curiosamente também somos proteicamente mais parecidos ainda com tubarões do que com os paulistinhas, e que os paulistinhas com tubarões. :hein:

http://www.news.cornell.edu/stories/2013/12/shark-human-proteins-are-surprisingly-similar


Tem uma teoria ultra-fringe-maluca de que os humanos são os mamíferos vertebrados ancestrais, originados diretamente dos peixes ou meso proto-peixes algo como tunicados, "bipedalismo ancestral". Se os inventores dessa idéia não estiverem ainda internados num manicômio devem estar adaptando esses achados dentro dessa "teoria".

Citar

http://scienceblogs.com/tetrapodzoology/2008/03/17/initial-bipedalism/

According to this little known school of thought, not only do humans owe their anatomy to a direct aquatic ancestry, so do ALL mammals and all other tetrapods. In fact, all vertebrates evolved from aquatic bipedal human-like ancestors like the marine homonculus shown here [reconstruction by Robert Dumont]…

Initial bipedalism is not a new idea, but was first mooted in the 1920s by a group of European mammalogists, most notably Serge Frechkop and Max Westenh�fer.

...

Offline Lakatos

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Re:Perguntas sobre ciências biológicas e médicas que não merecem tópico próprio
« Resposta #99 Online: 26 de Janeiro de 2017, 02:17:01 »
1) Existem espécies de peixes sencientes?

2) Existem projetos para criação de gado, porcos, galinhas etc. geneticamente modificados para "desativar" as funções cerebrais responsáveis pela senciência, evitando assim as questões morais relacionadas à pecuária? Não seria tecnicamente mais fácil fazer isso do que criar apenas a carne ou o leite em laboratório?

 

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