Não precisa ser exatamente o caso de não conseguir, mas não sei se é tão fácil excluir.
Seria o caso se tivéssemos que supor que há uma hierarquia rígida nos instintos, algo como um "programa", "se 'prole' = sua espécie; então execute cuidados parentais".
Mas pode ser que seja mas algo como "se 'ser' tem características gerais de prole & 'ser' age como 'prole' então 'ser' = 'prole'". O que na maior parte do tempo não vai resultar em identificações erradas porque é algo improvável de ocorrer rotineiramente.
Se bobear já fizeram algum estudo de imageamento cerebral com adoções interespecíficas vendo se o indivíduo da espécie que adota outra não "acende" o cérebro da mesma forma que "acenderia" com a prole, eu acho que é o mais provável, ainda que talvez haja ainda alguma distinção que façam, mas que fique comparativamente "apagada"/seja menos visível.
Mais curioso até acho que seriam os casos de amizades entre animais de diferentes espécies. Geralmente a "psicologia animal folk" faz essas suposições de que são vistos como outro da mesma espécie, mas eu não sei se há confirmação.
Ah, e os gatos geralmente brincam com as presas durante e depois do abate. Ainda não vi o vídeo, talvez também possa ser o caso.
Então leões somente reconhecem leões pois os leões agem como leões? Ainda prefiro admitir que a empatia, essa característica tão essencial ao convívio social, comportamento comum a muitos mamíferos, seja muito mais relevante que essa sua teoria ad hoc. Até por cheiro animais se identificam, se reconhecem e se divertem.
Acho que não é bem "minha teoria ad hoc".
Não sei bem como funcionam as coisas (que vão variar tanto de acordo com o tipo de animal e até de macho para fêmea), mas acho que essas coisas de reconhecimento de espécie, parceiros, e prole são sim mais na linha de uma série de "estímulos" ("cues") e respostas, que pouco tem a ver com uma espécie de "conceito taxonômico" que os animais teriam/aprenderiam.
A identificação da prole pode ser suficientemente distinta da identificação de espécie, e não uma "subcategoria", como se os animais "se classificassem" como primeiramente pertencentes a uma espécie e que dentro dessa espécie eles têm filhotes e adultos. Esse tipo de "classficação instintiva" coincidente com a nossa taxonomia e compreensão das coisas não deve ser algo necessário para explicar o comportamento, e deve inclusive conflitar com os erros crassos de reconhecimento, como explorado pelos cucos, que botam seus ovos nos ninhos de outras espécies, que chocam, matam os ovos da espécie parasitada, e são alimentados pelos pais, algumas vezes bem menores que o filhote.
Talvez relacionado:
The (mis)concept of species recognition.
Mendelson TC, Shaw KL.
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Abstract
To many, the concept of 'species recognition' is integral to the origin and maintenance of species. However, the heuristic value of species recognition is hampered by its reliance on the problematic concept of species. In this paper, we first discuss assumptions associated with prevailing use of the term, including the typological implications of the concept, the false dichotomy of compatibility and mate quality, and the commonly held model of species recognition in which animals determine taxonomic status before mate status. Subsequently, we propose research directions aimed to improve our understanding of the role of courtship behavior in speciation. We propose two complementary research approaches, one addressing the processes that drive the evolution of mate recognition systems and the other addressing the phenotypic architecture of behavioral isolation. Our approach emphasizes the fitness consequences and multidimensional nature of mate choice.
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Empatia não requer todo um senso de "eu" e "teoria da mente"? Eu acho isso impossível no caso. Talvez em outros primatas, e golfinhos ou baleias.
Não vejo o porquê. A maioria das pesquisas que me recordo envolvendo reconhecimento do eu envolviam reconhecimento em espelhos, mas eram situações particulares, de reconhecimento da própria imagem. Enfim, algum tipo de identificação primitiva tem de haver, do contrário sequer predadores e presas os animais conseguiriam diferenciar. Leões sabem quem são as hienas e sabem quem são os elefantes. Hiena agindo como leão não é critério para que a mesma se infiltre.
Bem, quanto ao reconhecimento, acho que é como falei anteriormente, uma série de estímulos/sinais, e não exatamente uma "taxonomia" precisa. Hienas não agem como leões, então não sei se isso quer dizer muita coisa. Não estou dizendo que esses sinais são só comportamentais, são também visuais, auditivos e olfativos. A questão é que não serão necessariamente os mesmos e usados para criar uma taxonomia com a hierarquia igual à do nosso conhecimento biológico. O reconhecimento de prole pode ser tal que é mais facilmente tapeado do que o de parceiro, ou "de espécie".
Mas nesse trecho estava falando de empatia, não reconhecimento de espécie ou prole. Empatia, ao menos a empatia "humana", tem como parte da definição o reconhecimento de que aquele outro ser também tem sentimentos/emoções, como o próprio indivíduo ("teoria da mente"). O que parece empatia, comportamentalmente, pode não ter esse componente, e provavelmente não tem, em outros animais, que não têm "teoria da mente".