Aproveitando o gancho, FredLC, acho que suas galerias de arte estão com o link quebrado...
Fiquei curioso.
Apesar de eu postar pouco no fórum, minha inscrição é antiga... e também a minha assinatura.
O link está, sim, quebrado. Mas eis o link para minha galeria "online" mais completa:
http://fredlc.deviantart.com/Tem tempo que eu não atualizo (alguns anos, em verdade), mas tem algumas coisas legais lá...
Fred LC, uma correção é que você disse que doutrina implica em dogmatismo, isso é falso, dogmatismo implica em afirmar possuir a verdade, enquanto dotrina implica em um conjunto de pensamentos e posturas sobre determinado(s) assunto(s).
Um exemplo disso é que o ceticismo filosófico é doutrina, mas por não proclamar verdades, não é dogmático. É doturina, mas não é dogmático.
Deixa eu responder esta parte primeiro, que me parece mais fundamental.
Reputo que você extraiu que eu equiparo doutrina e dogmática deste excerto do meu texto:
"(...) mas, como eu disse, não há qualquer conteúdo dogmático na ideia de não acreditar em deus, e por isso, não merece ser classificado de doutrina."
E a crítica é meritória, mas isso é mais por uma imprecisão de redação. Doutrina e dogmática
não são coisas idênticas; e, realmente, a grande diferença entre elas é que uma dogmática é insensível à crítica e ao confronto, enquanto uma doutrina pode
perfeitamente modificar-se à luz de críticas externas ou controles internos. Algumas doutrinas, como o método científico, são inteiramente baseadas na
completa rejeição a dogmáticas.
Dito isto, doutrina e dogmática têm algo em comum, que é o fato de que ambas são proposituras positivas,
trazem um conteúdo a ser adotado ou ao menos apreciado pelo interlocutor.
Crítica aceita, eu deveria ter dito, sobre ateísmo, não que " não há qualquer conteúdo dogmático", mas sim, que " não há qualquer conteúdo constitutivo". Mas esse é um acerto de redação, não um reajuste da ideia postulada.
Ok Fred LC, tomamos então a máxima do ateísmo "Deus não existe" como uma conclusão, e não mais como uma premissa.
Conclusão esta que foi possível graças a alguns critérios que o ateu usou para validar ou negar a proposição de que "Deus existe", basicamente evidências empíricas foram os critérios, e já que os relatos e teorias dos religiosos não apresentam nenhuma evidência empírica, logo, Deus não existe.
Quais foram as premissas:
É preciso uma evidência empírica.
A proposição de que Deus existe apresentada pelos religiosos não possue evidências que a corrobore.
A falta de evidências neste caso, resulta na negação ou recusa de que a ideia de que Deus existe seja verdadeira.
Logo a ideia de que Deus existe é falsa.
Temos ai um conjunto ordenado de pensamentos que nos fizeram chegar a conclusão de que Deus não existe.
Acho que minha mensagem original até já cobria o principal conteúdo desta resposta, mas vamos lá outra vez:
Ateísmo
não é um consequente que necessita empiricismo como premissa, e eu não aceito a sua premissa de que o seja.
Digamos, por exemplo, que alguém opte por ser ateu
não por que acha insuficiente a evidência, mas por razões de pura retórica; por exemplo, se alguém se baseia na incongruência intrínseca da existência de poderes infinitos - uma proposta que tem bases puramente matemáticas, como o famoso "paradoxo do hotel de Hilbert" ou, em uma alegoria mais conhecida do público, a proposta de que infinitos macacos em infinitas máquinas de escrever iriam necessariamente produzir as obras completas de Shakespeare.
Perceba que esse argumento jamais pode ser empírico, pois ninguém nunca teve contato com hotéis infinitos ou máquinas de escrever infinitas para poder extrair dessa experiência qualquer conclusão. Entretanto, se eles convencem o leitor da incongruência dos infinitos, é o bastante para justificar a conclusão de que o deus monoteísta - supostamente dotado de poder infinito - não existe, sem que empiricismo jamais tenha sido parte do argumento.
Claro, sempre podemos definir um deus de poderes
finitos, mas essa resposta não afeta o argumento, pois ele se baseia no fato de que um argumento não empírico tem o
potencial de levar uma pessoa ao ateísmo... e o argumento acima o tem, porque nossa sociedade define deus como todo-poderoso.
Outra proposta lógica para a rejeição de deus é o argumento da parcimônia, ou seja, a ideia de que é logicamente desnecessário acrescentar elementos supérfluos que majorem a complexidade. Ora, a proposta "universo existe" carrega, necessariamente, menos elementos que a proposta "universo existe e deus existe", pois um novo elemento não evidente foi acrescido ao complexo a ser explicado - e, embora essa seja uma descrição lógica nada popular para a população geral, ela é bastante sensata, e para um logicista, convincente, ainda que a população em geral não pense como pensam os logicistas.
Em nota: não pense que outros argumentos puramente lógicos não poderiam ser feitos contra deuses "finitos", porque poderiam; só não vou entrar em debate detalhado sobre isso porque primeiro precisaríamos das características desses deuses.
Mas não é só a retórica que poderia ser suficiente. Argumentos emocionais
também tem esse potencial. O "problema do mal", seja ele personalíssimo (se deus existisse meu avozinho não teria sido atropelado) ou universal (se deus existisse não haveria fome ou doenças no mundo) - é reconhecido pelos próprios apologistas como uma dificuldade seríssima sem uma resposta apropriada e a compreensão dele é, frequentemente, o motor inicial da dúvida (embora não tenha nenhuma base empírica, e possa ser mais tarde substituído ou complementado por outras ideias epistemologicamente mais fortes).
Em resumo -
eu, em particular, concordo que o empiricismo é a melhor, a mais sólida, e possivelmente a mais difundida, base para o ateísmo.
Mas ele não é, de forma alguma, uma premissa da ideia. Acabei de apresentar
pelo menos quatro variantes tão diferentes entre si que, mesmo com a conclusão em comum, dificilmente podem ser descritos como sendo a mesma ideia - e como o ateísmo, enquanto conceito,
não prefere qualquer uma delas em relação às outras, como a adoção de qualquer dessas perspectivas diametralmente opostas
permite o uso da denominação, é simples concluir que não existe um conteúdo positivo/constitutivo que autorize a classificação de ateísmo como "doutrina". Um ateu empiricista não é mais ou menos ateu que um logicista ou um emotivo.
Em resumo,
não há nada a ser seguido, dogmaticamente ou não, que defina a forma correta de ser ateu. Não há conjunto de idéias organizado a ser seguido. Há apenas e tão somente uma opinião comum entre pessoas completamente diferentes.
T+

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