Pela desestatização das drogasPor Marcelo Faria · 01/11/2014

A argumentação a favor da guerra às drogas se baseia em três questões básicas: moral (uso das drogas em si), econômica (aumento do poder econômico dos traficantes) e social (aumento na criminalidade). Entretanto, tais argumentos não correspondem à realidade e à teoria econômica. Explico os motivos.
Na questão moral, temos visões filosóficas de três autores diferentes: Hobbes, para o qual nascemos em estado de guerra, com o estado sendo necessário para impor a moral e a ordem; Rousseau, para o qual nascemos como “bons selvagens” e somos corrompidos pela civilização; e Locke, para o qual nascemos livres para atuarmos como desejarmos, com o estado natural não sendo bom ou ruim, apenas anárquico. No ponto de vista liberal, baseado em Bastiat e Locke, temos três direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) e qualquer violação a um destes direitos se constitui uma agressão. Em outras palavras: o estado não deve dizer o que você pode ou não inserir em seu próprio corpo e você deve livre para fazê-lo, desde que não entre em conflito com os direitos naturais de outra pessoa.
Na questão econômica, a proibição às drogas faz com que apenas produtores dispostos a enfrentar os riscos legais de venda atuem no mercado, gerando disputas de território, ausência de defesa legal – impulsionando o tráfico de armas – e corrupção de policiais. Abrir tal mercado levaria a uma óbvia competição dos atuais monopólios que o dominam com novos produtores – e até mesmo atuais usuários que resolvessem plantar suas próprias drogas – minando o poder dos atuais cartéis do tráfico ao aumentar a concorrência e reduzir os preços. Isso já tem acontecido nas regiões de plantio de drogas no México, onde o poder dos cartéis das drogas tem caído desde que estados americanos como o Colorado legalizaram o uso recreativo da maconha, principal produto destes cartéis.
Na questão social, a proibição das bebidas alcoólicas nos EUA entre 1920 e 1933 e a atual guerra às drogas mostraram um aumento no número de homicídios e roubos, tanto pelo aumento das disputas entre traficantes, policiais e usuários, quanto pela necessidade da polícia utilizar seus recursos escassos – tempo, recursos humanos financeiros – para combater as drogas ao invés de crimes mais graves. No Colorado, que legalizou o uso recreativo da maconha há pouco mais de quatro meses, houve redução no número de crimes violentos (homicídios, estupros e sequestros) de 6,9% em comparação com o mesmo período de 2013, enquanto crimes contra a propriedade (furtos em geral) caíram 11,1%.
A sociedade brasileira precisa superar o preconceito e discutir de forma pragmática os aspectos morais, sociais e econômicos desta questão. Desestatizar a maconha é salvar milhares de vidas e retirar milhões de pessoas da influência dos atuais cartéis de drogas.
Para saber mais:
http://www.msnbc.com/all/does-marijuana-lower-the-crime-ratehttps://news.vice.com/article/legal-pot-in-the-us-is-crippling-mexican-cartelsMarcelo Faria é bacharel em administração de empresas pela Universidade de São Paulo e Presidente do Instituto Liberal de São Paulo.
Fonte:
http://liberzone.com.br/pela-desestatizacao-das-drogas/