Eu recomendo você ler um pouco mais sobre assuntos militares, caro Pedro Reis.
Com exceção dos mísseis do tipo MARV e dos mísseis de cruzeiro mais modernos, TODOS (sem exceção) os demais mísseis (com ogivas nucleares ou com carga explosiva convencional) apresentam voo balístico ou voo de cruzeiro com rota pre-determinada.
Então, mesmo a "baixa" eficiência das versões noventistas dos mísseis Patriot seria o suficiente, se usados em grande escala, para interceptar qualquer tipo de míssil, com exceção dos tipos mencionados no parágrafo anterior.
Nesse caso não acho que seja preciso ler tanto assim sobre assuntos militares porque o problema é relativamente simples.
O que você chama de "número suficiente" de mísseis? 100 bilhões deles? 5 trilhões?
A questão era saber se a eficácia possível do sistema, nas estimativas mais otimistas, justificaria seu custo e construção. As objeções que se faziam eram simples e óbvias, razão pela qual o projeto, para o bem do país, não foi adiante.
Antes, temos que explicar, não para você que sabe como é, mas para quem não sabe, o que é míssil balístico.
É chamado de balístico porque atinge o alvo através de um simples cálculo de balística.
O míssil balístico, diferentemente de um tomahawk por exemplo, não voa até seu alvo desviando de obstáculos e montanhas, podendo ir a baixa altitude, enganando sistemas de defesa e sendo difícil de detectar por radares, e nem é capaz de tomar medidas evasivas contra detecção e destruição. O míssil é apenas apontado na direção certa no lançamento e desliga sua propulsão no momento certo para atingir o alvo.
Por isso uma vez detectado e rastreada sua trajetória, em tese computadores podem calcular um ponto onde intercepta-lo. Mas desde que exista uma base de lançamentos localizada em algum ponto onde seja possível lançar a tempo um míssil para atingir este ponto da trajetória do míssil alvo antes que este já tenha passado por ali. Este já é um grande problema e que se torna cada vez maior quanto maior for a área que se deva proteger. Mesmo na área limitada do conflito da guerra do golfo a eficiência do Patriot foi baixa.
O outro problema, claro, tecnologicamente difícil, é que isso é como acertar uma mosca com um tiro de espingarda. Na imensidão das dimensões envolvidas o míssil é um alvo muito pequeno. Então, na verdade, se os números reais da eficiência do Patriot na detenção dos Scuds for considerado, levando também em consideração a dimensão da área onde o conflito foi travado, estes dados dariam definitivamente razão aos críticos do programa Guerra nas Estrelas.
Basta observar que a URSS tinha mais de 4 mil ogivas nucleares (parece que são 4650), a maioria destas bombas de hidrogênio muito mais poderosas que a bomba que detonou sobre Hiroshima, e que poderiam ser lançadas sobre o vasto território americano de uma variedade incrível de plataformas, não apenas por meio de ICBMs ( mísseis balísticos intercontinentais ). Indo desde aviões bombardeios, mísseis em aviões bombardeios, navios de guerra, submarinos nucleares próximos ou distantes da costa americana, e claro, também de ICBMs. Isto sobre uma imensa região que o guarda-chuva do sistema teria que proteger.
É também óbvio que se apenas uma ínfima parcela de todo esse arsenal, ( ínfima mesmo ), atingisse o alvo já significaria algo que pode ser considerado uma destruição total. É claro que diante desse cenário o que o míssil Patriot demonstrou, apesar de toda a propaganda da imprensa, não foi nada auspicioso.
No entanto, as objeções óbvias não se limitavam apenas a estas. Argumentava-se, e com toda razão, que contra-medidas para neutralizar o sistema anti-mísseis seriam infinitamente mais simples e mais baratas de serem desenvolvidas do que o próprio sistema anti-mísseis. E isto vem exatamente ao encontro do seu comentário: a maioria dos mísseis são balísticos, e pela razão dos mísseis balísticos serem efetivos. Se deixarem de ser você mesmo citou tecnologias de mísseis - que já existem há décadas - que tornam inefetivos sistemas como estes contra mísseis balísticos.
Além destas poderiam se acrescentar outras, inclusive algumas que já existem, como a tecnolgia stealth, que tornaria indetectável o míssil pelo sistema anti-míssil. Logo, parecia
uma enorme estupidez gastar trilhões em um sistema que para o que foi projetado já era incerto, e ainda por cima o inimigo poderia em cinco anos, com mínimo custo e esforço, reprojetar seu arsenal para "bypassar" o sistema.
Só não parece estúpido para quem vai receber toda esta grana.
Sobre a refutação eu li na época em que esta notícia saiu nos jornais. Sempre em pequenas notinhas, discretas. Nada comparado ao destaque espetacular que se deu ao falso desempenho do míssil patriot na guerra.
Porém, na fonte em que eu citei está:
Na guerra do Golfo, muitas informações sobre o sucesso do Patriot frente aos Scuds foram publicados, porém, tempos após o termino daquele conflito os dados que, inicialmente, eram bastante positivos, eu diria até otimistas, foram sendo desmentidos, sendo que os resultados mais próximos da realidade ficaram entre 25 e 33 % de precisão.
Veja bem, a teoria do erro de arredondamento só explicaria a falha contra o último míssil Scud que foi lançado na guerra. Porque está relacionada com o longo tempo em que pequenos erros numéricos foram se acumulando. Além de ser um pouco forçado imaginar uma falha de projeto tão grosseira em um sistema tão sofisticado, embora não impossível , ( até porque você teria que imaginar que o sistema nunca ficou ligado por 2 meses antes, nem na fase de testes, para que este problema fosse desconhedido ) se fosse verdadeira, se estivesse correta, a precisão estaria em torno de 90 e 99%, e não 25 a 33%, como se verificou.