Tópico: Diário é coisa de boiola?

[Donatello]

2014 foi um ano que as coisas explodiram na minha cabeça, minha separação de uma relação de 11 anos me deixou pirado nos 7 primeiros meses do ano, em depressão de algo profunda a muito profunda.

A questão foi muito menos da separação em si, de um relacionamento que já não vinha bem há uns 3 anos, e muito mais de me jogar de volta uma tonelada de questões existenciais que advém da minha profunda nerdice e das quais a minha relação com minha ex-mulher acabavam servindo como um esconderijo.

Meu sentimento de inadequação ao mundo que me cerca (sou um nerd que desde os 12... 15 anos de idade ouve coisas como Miles Davis, Cartola e Bjork; se informa pelo O Globo e pela Folha de São Paulo [e que sempre abriu primeiro as colunas de opinião pra só depois ir pros esportes]; lê Clarice Lispector; sonha (ou sonhava, beirando os 40 anos não tenho os mesmo planos de quando tinha 20 e poucos) em chegar ao doutorado... e mora num barraco tipicamente favelístico do Complexo do Chapadão. Minha dificuldade em manter e aprofundar amizades (timidez excessiva; introspecção excessiva, criticismo excessivo: daquele tipo que vai bater papo no boteco e não consegue deixar de introduzir sua "perspicaz e aguçada" visão de mundo na conversa leve sobre bundas e políticos corruptos, frequentemente hajo como se vivesse dentro de um clube cético [motivo inclusive do porquê eu estar passando bem menos por aqui, ver se destreino meu encéfalo]. Um certo sentimento de adolescência tardia ou crônica [possivelmente pelo fato de que minha adolescência mesmo foi a parte mais economicamente miserável e socialmente isolada da minha vida]).

Pra fechar o balão recebi um pré-diagnóstico de uma doença relativamente grave (artrite reumatóide) pouco antes da separação e os sintomas cada vez me deixam com menos esperança de que não seja (os primeiros resultados laboratoriais foram negativos, o que é normal no começo da doença, mas as dores não passaram, retorno ao reumato pra retomar as investigações na terça já como resolução de 2015 já que tinha abandonado o acompanhamento).

Em 2014 acho que tentei quase todas as técnicas infalíveis para superar a depressão e a separação que encontrei na internet: me matriculei na academia (e quase não tenho ido mais), me inscrevi em mil projetos internos da UFRJ (que me deixaram estafado mas deixaram sementes acadêmicas/profissionais que podem brotar em 2015), me envolvi em novos namoros (que acabaram sendo muito breves, e sem "sustância")... Cheguei a tentar marcar psicólogo, mas como dependo de plano de saúde e não tenho a menor condição de pagar análise do bolso, deixei pra lá...

Bom, mas este tópico não é para fazer o meu diário particular aqui e os parágrafos acima foram só pra contextualizar a questão.

Acontece que como uma das minhas resoluções mágicas e "infalíveis" de 2015 (resolvi acreditar em mágica da virada pelo menos uma vez na vida) decidi fazer um diário (na verdade um arquivo no Word) pra colocar o andamento das minhas resoluções e tentar não desfocar delas, pra conversar comigo mesmo, me dar esporro pelo que fiz de errado no dia que termina e relembrar o que tenho de mais importante a fazer no dia seguinte... acho que talvez tenha passado um pouco por isso em 2014, a falta de alguém pra me dizer o tempo todo "foca", "muda esse curso"... e estou "preocupadíssimo" aqui: será que isso é um sintoma muito grande de boiolagem ou algo que possa realmente servir ao meu particular caso?   

[Dream]

O uníco sintoma de "boiolagem" é sentir atração sexual por pessoas do mesmo sexo - e o Diário é algo particular seu, as pessoas não tem razão nem para saberem, muito menos para julgarem por ele.

Outra, se você achar que está entrando num quadro de Depressão clínica, recomendo buscar ajuda profissional, depressão é uma doença séria, não é estar MUITO DEPRIMIDO, depressão é quadro clínico e precisa de tratamento assim como uma pneumonia.

[Donatello]

Foi só um título chamariz embora eu saiba que diário é algo mais do universo feminino tenho culhões o suficiente para usar camisa rosa de vez em quando, gostar de ABBA de vez em sempre e continuar sendo macho heterossexual pra caralho

A coisa era mais para discutir se este negócio de anotar a vida dia-a-dia num papel pode mesmo ter efeitos sobre o controle da própria vida e próprios projetos, se alguém usa ou já usou esta ferramenta num momento especial, por aí...

Não, não estou entrando em depressão, considero que já passei por ela, pelo menos por enquanto

Mas obrigado

[Sergiomgbr]

Bem, em primeiro lugar, torço para que não seja nada de grave contigo, que sua saúde esteja boa. Quanto a escrever coisas, como eu mesmo não me vejo escrevendo algo como um diário ou coisa correlata como crônicas das coisas ao meu redor, eu teria que assumir um simulacro de alguém que faria o que você pretende fazer e só a partir daí, ver do que se trata essa realidade, se é que me entende. Mas quer saber? Eu acho a priori apenas um ato sofisticado. que não nescessariamente vejo, e não imagino por que alguém veria isso com alguma conotação "frecuresca".

[Skeptikós]

Não sei se já ouviu falar de Giacomo Casanova,* mas este também chegou a sofrer de depressão, e como tratamento, seu médico receitou a ele justamente o hábito de escrever as suas experiências diárias em um diário, hábito este que ele levou até os fins de sua vida, culminando após sua morte na sua mais famosa obra, Histórias de minha vida. Não é nem preciso dizer que pelo menos para ele, o hábito de escrever suas experiências em um diário lhe foi saudável.
Considerados por muitos como o maior sedutor da história.

[Donatello]

Opa, desta eu não sabia Skeptikós (sabia por alto quem era o Casanova, mas não sabia de detalhes da sua existência, nem que fora uma personagem real ou fictícia, muito menos deste método terapêutico usado por ele ). Anotado

[Skeptikós]

 

[Luiz F.]

Durante uma época na adolescência, quando eu estava provavelmente no auge da minha antissociabilidade e depressão, eu resolvi colocar em um gráfico como eu estava me sentindo naquele dia. Se eu me lembro bem, eram cinco escalas: muito mal, mal, neutro, bem e muito bem. Acho que eu coloquei o meu estado emocional no papel durante uns seis meses.

Sabe, foi uma experiência interessantíssima pois pelos gráficos eu percebi que eu não passava todos os dias mal como eu acreditava, mas era mais uma flutuação constante entre o muito mal e o neutro, com picos de muito bem e bem. Isso serviu pra eu perceber que eu não estava o tempo todo mal e triste como era a minha crença, e que eu acabava usando essa percepção falha para me lamuriar ainda mais e me fazer de vítima pra mim mesmo. No final das contas acabou me ajudando.

As vezes, como no meu caso, a gente precisa só de um pouco de realidade pra acordar pra vida.

P.S.: Depressão é uma merda desgraçada. Pode arrebentar com a vida da gente e ter reflexos negativos durante anos. Espero que, como você mesmo diz, já esteja superada e que não cause reflexos muito graves na sua vida.

[Rocky Joe]

Um diário pode lhe ajudar a se entender melhor, mas, caso você ache já que se entende, eu não vejo muita utilidade. Você provavelmente precisa de bem menos 'mudança' do que acha, e um diário lhe fará você se focar muito em você mesmo; diário não é boiola, mas pode ser egocêntrico, uma característica da boiolagem! Às vezes a gente tem que se perdoar um pouco também. Há muita aleatoriedade e sorte na coisa toda para esquentar muito a cabeça.

Mas isso é um comentário de alguém que não tem experiência com depressão, a não ser por luto, o que acredito é outra coisa.

Eu imagino como tenha sido difícil a separação. Gente introspectiva como nós normalmente investimos muito em uma relação... Terminar porra um casamento é perder pouco do nosso lugar no mundo, nosso sentido social. Como quem passou boa parte da sua vida solteiro eu não tenho esses problemas, no entanto. 

Foi só um título chamariz embora eu saiba que diário é algo mais do universo feminino tenho culhões o suficiente para usar camisa rosa de vez em quando, gostar de ABBA de vez em sempre e continuar sendo macho heterossexual pra caralho

Você é um cara que que sabe das coisas.

[Moro]

Acho que perguntar se diário é coisa de boiola é coisa de boiola

[DDV]

Sim

[Moro]

Donatelo, já falei que sou seu fã não? Vendo seu post ví que algumas coisas temos em comum, o que não é de se estranhar porque estamos basicamente em um clube de nerds. Por exemplo, quando contei a meus amigos que em um debate sobre o SUS eu tive que acabar lendo 150 páginas do relatório do Banco Mundial eles me olharam como se eu fosse um doente mental. Tenho que me policiar para não falar sobre política, religião, história, filosofia em um bar.. e realmente o treino para aprender a falar merda é muitas vezes além da nossa capacidade. Mas o mundo não pertence a sujeito como nós.

Então, todos nós nesse clube compartilhamos uma coisa única, em maior ou menor grau.

Outra coisa que nos une é que conheci o black dog (como Churchill chamava a depressão) mas não por motivos amorosos e sim profissionais. Não importa o que digam, só se sabe o que é quando se têm. Antes de ter eu sequer conseguia entender e minha postura era mais ou menos aquele chavão que vai do "desocupado" à "fraco emocionalmente". Basicamente a depressão em pessoas não contumazmente depressivas é uma tempestade perfeita que te acerta no momento certo, no lugar certo, te tira de você a coisa certa e provavelmente ainda se beneficia de alguma debilidade física / hormonal (difícil saber porque sequer o diagnóstico da depressão sequer é consensual)

Vou entender então a pergunta como "escrever faz bem para espantar o cachorro negro?". Qualquer coisa que te absorva a ponto de não deixar você pensar 80.000 vezes por dia em uma mesma coisa te ajuda.

Existem remédios que te fazem não pensar 80.000 vezes por dia em uma coisa mas eles te inibem de pensar no que deve ser pensado também. Quando a coisa é muito grave, um desses por um tempo limitado pode fazer a poeira baixar.

Enfim, pessoas só conseguem julgar as outras no limite da sua própria capacidade. Você está além do limite de 99% das pessoas, ao menos fique feliz com isso.. mas aprenda a falar merda.

[Fabrício]

Donatelo, torço para que você fique bem, você é um cara que admiro pra caramba, pela forma clara e objetiva do que escreve.

Diário é coisa de boiola sim  , mas faça um de qualquer maneira, pode sim te fazer bem... nem todo mundo pode ser machão como eu, que só gosto de coisas másculas como gatinhos peludos e peixinhos coloridos. 

[Geotecton]

Não.

E mesmo que fosse, seria apenas de sua "conta".

[Lorentz]

só gosto de coisas másculas como gatinhos peludos

Por falar em machismo, ainda bem que você gosta de gatinhos peludos. Não entendo o fascínio que as pessoas tem pelo Sphynx, aquele gato sem pelos. Eles são HOR-RO-RO-SOS !!!!

[Fabrício]

só gosto de coisas másculas como gatinhos peludos

Por falar em machismo, ainda bem que você gosta de gatinhos peludos. Não entendo o fascínio que as pessoas tem pelo Sphynx, aquele gato sem pelos. Eles são HOR-RO-RO-SOS !!!!

Cruzes, aquilo é um HORROR, fico todo arrepiadinho só de ver!!!!

[Brienne of Tarth]

 

[Brienne of Tarth]

Mas, Dodo, falando sério agora: eu não sou depressiva, pelo contrário, sou até bastante resiliente, mas de vez em quando acontecem episódios isolados, onde eu na verdade não me entrego, mas não luto, pois acho que uma certa apatia súbita, se seguida de ação, pode servir para "give you a break", deixar a chapa esfriar um pouco...

Quanto à um diário, se você é uma pessoa metódica, organizada e constante, ótimo, não vai ter problemas.

Mas se você é como eu, errático e com TDAH, obrigar-se a manter uma frequência de anotações será pior do que não escrever.

Eu escrevo às vezes, na maioria delas para expor um problema, vê-lo sob um novo prisma, dissecá-lo em todas as suas partes, e isso ajuda, se não a superá-lo, pelo menos entendê-lo melhor.

Vai fundo, e saiba que a melhor parte é reler tudo depois, hehehe...

[Rocky Joe]

Eu costumava escrever há muito tempo (sobre nerdice), e para mim a parte mais divertida é que normalmente eu iniciava um texto com uma conclusão em mente e escrevendo eu chegava em outra, naturalmente. Mas parei, porque consome muito tempo.

Sempre tive muita vergonha de reler e ainda bem que deletei tudo.

 

Donatelo, torço para que você fique bem, você é um cara que admiro pra caramba, pela forma clara e objetiva do que escreve.

Diário é coisa de boiola sim  , mas faça um de qualquer maneira, pode sim te fazer bem... nem todo mundo pode ser machão como eu, que só gosto de coisas másculas como gatinhos peludos e peixinhos coloridos. 

[Donatello]

Sei não, pelo teor dos posts eu tô achando que tirando a Brienne, neste tópico só tem fresco (e que o DDV tá  incubando)

Obrigado pelas dicas/colocações, camaradas

[Moro]

você preferiu a parte das colocações, é claro 

[EuSouOqueSou]

Donatelo, talvez essa seja a causa de seus problemas psicologicos, vc nao quer se assumir homosexual. Assuma o seu lado gay de uma vez, saia do armario, cante "I will survive" a plenos pulmoes, vc sera uma nova pessoa.

[Brienne of Tarth]

Donatelo, talvez essa seja a causa de seus problemas psicologicos, vc nao quer se assumir homosexual. Assuma o seu lado gay de uma vez, saia do armario, cante "I will survive" a plenos pulmoes, vc sera uma nova pessoa.

Já pedindo perdão pelo Ad homossexualem:

Quando eu digo que isso de homossexualidade é coisa que enfiam na sua bunda cabeça, não me levam a sério...

[Georg Hagedorn]

Durante uma época na adolescência, quando eu estava provavelmente no auge da minha antissociabilidade e depressão, eu resolvi colocar em um gráfico como eu estava me sentindo naquele dia. Se eu me lembro bem, eram cinco escalas: muito mal, mal, neutro, bem e muito bem. Acho que eu coloquei o meu estado emocional no papel durante uns seis meses.

Sabe, foi uma experiência interessantíssima pois pelos gráficos eu percebi que eu não passava todos os dias mal como eu acreditava, mas era mais uma flutuação constante entre o muito mal e o neutro, com picos de muito bem e bem. Isso serviu pra eu perceber que eu não estava o tempo todo mal e triste como era a minha crença, e que eu acabava usando essa percepção falha para me lamuriar ainda mais e me fazer de vítima pra mim mesmo. No final das contas acabou me ajudando.

As vezes, como no meu caso, a gente precisa só de um pouco de realidade pra acordar pra vida.

P.S.: Depressão é uma merda desgraçada. Pode arrebentar com a vida da gente e ter reflexos negativos durante anos. Espero que, como você mesmo diz, já esteja superada e que não cause reflexos muito graves na sua vida.

O seu nível de nerdice é mais de oito mil  :hihi:ww

[Gigaview]

Durante uma época na adolescência, quando eu estava provavelmente no auge da minha antissociabilidade e depressão, eu resolvi colocar em um gráfico como eu estava me sentindo naquele dia. Se eu me lembro bem, eram cinco escalas: muito mal, mal, neutro, bem e muito bem. Acho que eu coloquei o meu estado emocional no papel durante uns seis meses.

Sabe, foi uma experiência interessantíssima pois pelos gráficos eu percebi que eu não passava todos os dias mal como eu acreditava, mas era mais uma flutuação constante entre o muito mal e o neutro, com picos de muito bem e bem. Isso serviu pra eu perceber que eu não estava o tempo todo mal e triste como era a minha crença, e que eu acabava usando essa percepção falha para me lamuriar ainda mais e me fazer de vítima pra mim mesmo. No final das contas acabou me ajudando.

As vezes, como no meu caso, a gente precisa só de um pouco de realidade pra acordar pra vida.

P.S.: Depressão é uma merda desgraçada. Pode arrebentar com a vida da gente e ter reflexos negativos durante anos. Espero que, como você mesmo diz, já esteja superada e que não cause reflexos muito graves na sua vida.

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