Autor Tópico: O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?  (Lida 2215 vezes)

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Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #1 Online: 02 de Maio de 2015, 11:29:30 »
Eu diria que depende. É mais ou menos como perguntar "o que vale a pena ser estudado sobre o barroco?". Se você for um músico, é essencial estudar as técnicas de contraponto de Bach, por exemplo. Se for um literato, terá outros interesses. Se for um historiador, outros interesses. Se for um sociólogo, outros interesses, Se for um filósofo, outros interesses. Se for um teólogo, outros interesses.

O que eu particularmente achei interessante conhecer foi a ideia do relativismo como contraponto às filosofias que propunham a possibilidade de conhecimento do mundo "de fato", a desconstrução da necessidade de um sentido transcendente para a existência, o renascimento do multiculturalismo e suas implicações sociais, entre outros conceitos. Não que eu concorde com essas ideias, mas achei que conhecê-las ajuda a rastrear a origem e entender o funcionamento de um monte de fenômenos do dia-a-dia, como o feminismo e o ativismo LGBT, por exemplo.

Em última análise, eu diria que a importância de estudar pós-modernismo é a mesma de estudar o cristianismo. São ideias extremamente arraigadas na sociedade contemporânea e, portanto, essenciais tanto para entender quanto para criticar com propriedade seus eventuais efeitos nocivos.

Offline Barata Tenno

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #2 Online: 02 de Maio de 2015, 11:41:35 »
Lembrei daqueles malas que se recusam a fazer trabalhos sobre religiões negras por serem do demônio ou olavetes que se recusam a estudar Marx porque é lavagem cerebral.
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Sergiomgbr

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #3 Online: 02 de Maio de 2015, 11:51:46 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #4 Online: 02 de Maio de 2015, 11:59:08 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.

Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #5 Online: 02 de Maio de 2015, 12:06:27 »
Fico imaginando como seria um curso de graduação ou mesmo de nível básico se as pessoas só estudassem aquilo com que concordam previamente.

Offline Sergiomgbr

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #6 Online: 02 de Maio de 2015, 12:14:44 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.
Sim, tal qual já acontece com o Criacionismo,  mas aí fica a questão de como Foucault ou o Criacionismo são apresentados.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #7 Online: 02 de Maio de 2015, 12:27:48 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.
Sim, tal qual já acontece com o Criacionismo,  mas aí fica a questão de como Foucault ou o Criacionismo são apresentados.

A questão aqui é se vale a pena ou não estudar o pós-modernismo, e acho que entre os que apareceram aqui é consenso que sim. Óbvio que estudar de maneira proselitista não é o ideal, mas isso vale para qualquer assunto.

Offline Voltaire

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #8 Online: 02 de Maio de 2015, 13:54:41 »
 Curiosidade, ora. Foi ela quem me trouxe até aqui; foi ela quem me tornou cético, que me fez ler Sagan, Voltaire e Saramago. E se pós-modernismo tiver boas lições, como saberemos?

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #9 Online: 02 de Maio de 2015, 16:48:38 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.

Que medida temos de quanto cada uma dessas coisas influenciam, e de quanto pós-modernismo influencia?



Curiosidade, ora. Foi ela quem me trouxe até aqui; foi ela quem me tornou cético, que me fez ler Sagan, Voltaire e Saramago. E se pós-modernismo tiver boas lições, como saberemos?

Por isso pergunto, o meu parco conhecimento de pós-modernismo é que é só um monte de bobagens das mais grossas*.

O que houver de não-bobagem possivelmente nem será uma espécie de "exclusividade" do pós-modernismo, mas provavelmente apenas "bom senso", ainda que talvez as origens tenham sido de fato no pós-modernismo (o que eu acharia surpreendente), mas depois foi assimilado no pós-pós-modernismo.

Algo meio como Olavo de Carvalho.





* Esses textos devem resumir bem:

http://en.wikipedia.org/wiki/Sokal_affair

http://richarddawkins.net/articles/824-postmodernism-disrobed

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #10 Online: 02 de Maio de 2015, 17:15:44 »
Eu diria que depende. É mais ou menos como perguntar "o que vale a pena ser estudado sobre o barroco?". Se você for um músico, é essencial estudar as técnicas de contraponto de Bach, por exemplo. Se for um literato, terá outros interesses. Se for um historiador, outros interesses. Se for um sociólogo, outros interesses, Se for um filósofo, outros interesses. Se for um teólogo, outros interesses.

Sim, um dos interesses de uma pessoa pode inclusive ser de homeopatia e cura por cristais, mas um estudo não enviesado e nem muito profundo já sugeriria que tal campo de estudos é uma perda de tempo -- exceto talvez se formos considerar o pós-modernismo e a possibilidade/"fato" de que a "ciência" européia masculina heterocentrista não pode ser usada para analisar essas "outras verdades" porque blablablá e a realidade não existe.

Mas daí eu diria que essa linha de pensamento é também perda de tempo, daí pergunto. O que há aí de "útil", de "descobertas", em vez de apenas jogos mentais de faz de conta, auto-enganação?



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O que eu particularmente achei interessante conhecer foi a ideia do relativismo como contraponto às filosofias que propunham a possibilidade de conhecimento do mundo "de fato", a desconstrução da necessidade de um sentido transcendente para a existência, o renascimento do multiculturalismo e suas implicações sociais, entre outros conceitos. Não que eu concorde com essas ideias, mas achei que conhecê-las ajuda a rastrear a origem e entender o funcionamento de um monte de fenômenos do dia-a-dia, como o feminismo e o ativismo LGBT, por exemplo.

Da forma que eu percebo as coisas quase todo entendimento do "funcionamento" de algumas dessas coisas, no que concerne a "pós-modernismo", se enquadra nessas descrições que dei antes, de serem movimentos engajados em negação da realiade, auto-ilusão.

Mas, como disse, meu conhecimento de pós-modernismo é extremamente superficial e limitado. O que haveria que pudesse me dar uma compreensão mais completa e útil dessas coisas?


A mim parece uma situação análoga a de criacionismo versus evolução. Não parece ser tremendamente útil a qualquer pessoa um "conhecimento profundo" sobre criacionismo. É suficiente saber que são distorções e apreensões seletivas dos fatos, de forma a concordar com uma conclusão que é também o ponto de partida. E que a motivação ideológica/religiosa será sempre colocada acima de uma análise imparcial dos fatos. Será parecido com, por exemplo, feministas pós-modernistas que digam ser um "mito" que homens, em média, como resultado natural do desenvolvimento, tenham mais massa muscular que mulheres. O criacionista diz que a conspiração evolucionista fabrica suas evidências e nega os verdadeiros fatos, e feministas pós-modernistas dirão que a conspiração patriarcal faz o mesmo aí.

Em resumo, é como uma crença religiosa, ou mais especificamente, o mesmo padrão de pensamento/auto-engano que comumente acompanha crenças religiosas quando em negação de aspectos mais palpáveis da realidade.



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Em última análise, eu diria que a importância de estudar pós-modernismo é a mesma de estudar o cristianismo. São ideias extremamente arraigadas na sociedade contemporânea e, portanto, essenciais tanto para entender quanto para criticar com propriedade seus eventuais efeitos nocivos.

É uma perspectiva diferente da que eu esperava, quando li, acho que de você mesmo, que seriam "os dois lados da mesma moeda", a negação cientifica e o desdém ao pós-modernismo. Passava a impressão de haver mais algo que se pudesse aproveitar no último, e não como análogo ao conhecimento acerca de uma religião, sem no entanto necessariamente concordar com "nada", ou com seus fundamentos.
 

Offline Dr. Manhattan

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #11 Online: 02 de Maio de 2015, 17:33:49 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.
Sim, tal qual já acontece com o Criacionismo,  mas aí fica a questão de como Foucault ou o Criacionismo são apresentados.

A questão aqui é se vale a pena ou não estudar o pós-modernismo, e acho que entre os que apareceram aqui é consenso que sim. Óbvio que estudar de maneira proselitista não é o ideal, mas isso vale para qualquer assunto.

Concordo que vale a pena se estudar o pós-modernismo se se está interessado em aprender sobre a história da filosofia. Mas é necessário mesmo para "fazer" filosofia? Pergunto porque já li diversos textos filosóficos que ignoram completamente não só o pós-modernismo como praticamente toda a linha de pensamento "continental". E também por causa de uma analogia com a relação entre ciência e filosofia da ciência. Pela que já li e também pela minha experiência, ninguém precisa entender de filosofia da ciência para "fazer" ciência. Por outro lado, penso que um conhecimento de filosofia é bastante útil para se ensinar ciência.
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Alan Watts

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #12 Online: 02 de Maio de 2015, 17:40:30 »
Pela que já li e também pela minha experiência, ninguém precisa entender de filosofia da ciência para "fazer" ciência.

Mas isso não poderia ajudar a evitar alguns equívocos?


Citar
http://www.scientificamerican.com/article/psyching-out-evolutionary/
...

JRM: What value can philosophers add to science?

DB: I have no doubt that some readers are going to say that I've brought nothing to these issues, because philosophers should stick to what they know--namely, nothing. And there's an extent to which I agree with them. Philosophy as a field is not a body of knowledge to be known. What we philosophers do get trained for is analysis of reasoning. I think philosophers can contribute quite a bit to ongoing scientific research in this respect, becausc theory and evidence aren't tightly and obviously connected to one another. Evidence usually only speaks to theory after some tortured chain of reasoning to connect the two. And it's that tortured chain of reasoning [that] philosophers are trained to look at with a critical eye.

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Offline Dr. Manhattan

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #13 Online: 02 de Maio de 2015, 17:52:34 »
Pela que já li e também pela minha experiência, ninguém precisa entender de filosofia da ciência para "fazer" ciência.

Mas isso não poderia ajudar a evitar alguns equívocos?


Citar
http://www.scientificamerican.com/article/psyching-out-evolutionary/
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JRM: What value can philosophers add to science?

DB: I have no doubt that some readers are going to say that I've brought nothing to these issues, because philosophers should stick to what they know--namely, nothing. And there's an extent to which I agree with them. Philosophy as a field is not a body of knowledge to be known. What we philosophers do get trained for is analysis of reasoning. I think philosophers can contribute quite a bit to ongoing scientific research in this respect, becausc theory and evidence aren't tightly and obviously connected to one another. Evidence usually only speaks to theory after some tortured chain of reasoning to connect the two. And it's that tortured chain of reasoning [that] philosophers are trained to look at with a critical eye.

...

Dificilmente. Talvez seja útil para alguém que esteja interessado em pesquisar assuntos que estão à margem da chamada ciência "séria" (PES, experiências de quase-morte, supostas curas espirituais, etc.) Mas no dia-a-dia da ciência feijão-com-arroz, não, não há necessidade de filosofia da ciência. Repito: acredito que ela pode ser muito útil para o ensino da ciência.*



*Exemplo: quando vou falar de Cosmologia na sala de aula, procuro comentar com os alunos sobre a diferença entre Necessidade e Contingência. A maioria dos Físicos acredita que, por exemplo, as massas das partículas do Modelo Padrão surgem necessariamente de uma teoria mais abrangente. Mas é possível que seja algo contingente. Ninguém sabe ao certo.
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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #14 Online: 02 de Maio de 2015, 17:58:32 »
Engraçado que os filósofos pós-modernoso são brancos e europeus. Essa gente...

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #15 Online: 02 de Maio de 2015, 19:31:26 »
Pela que já li e também pela minha experiência, ninguém precisa entender de filosofia da ciência para "fazer" ciência.

Mas isso não poderia ajudar a evitar alguns equívocos?


Citar
http://www.scientificamerican.com/article/psyching-out-evolutionary/
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JRM: What value can philosophers add to science?

DB: I have no doubt that some readers are going to say that I've brought nothing to these issues, because philosophers should stick to what they know--namely, nothing. And there's an extent to which I agree with them. Philosophy as a field is not a body of knowledge to be known. What we philosophers do get trained for is analysis of reasoning. I think philosophers can contribute quite a bit to ongoing scientific research in this respect, becausc theory and evidence aren't tightly and obviously connected to one another. Evidence usually only speaks to theory after some tortured chain of reasoning to connect the two. And it's that tortured chain of reasoning [that] philosophers are trained to look at with a critical eye.

...

Dificilmente. Talvez seja útil para alguém que esteja interessado em pesquisar assuntos que estão à margem da chamada ciência "séria" (PES, experiências de quase-morte, supostas curas espirituais, etc.) Mas no dia-a-dia da ciência feijão-com-arroz, não, não há necessidade de filosofia da ciência. Repito: acredito que ela pode ser muito útil para o ensino da ciência.*



*Exemplo: quando vou falar de Cosmologia na sala de aula, procuro comentar com os alunos sobre a diferença entre Necessidade e Contingência. A maioria dos Físicos acredita que, por exemplo, as massas das partículas do Modelo Padrão surgem necessariamente de uma teoria mais abrangente. Mas é possível que seja algo contingente. Ninguém sabe ao certo.

Talvez, imagino, haja uma diferença significativa entre o que é o feijão com arroz de cada área, e o quanto isso envolve de desenvolver hipóteses (e aí qui viria a filosofia para procurar buracos no raciocínio, se o que aparenta ser evidência da hipótese necessariamente é, ou se o que parece ser evidência contrária necessariamente é), versus só fazer medidas, coletar dados, numa situação que não envolve nem mesmo se pensar muito sobre o desenho do experimento ou questionar assunções sobre medidas, etc.

Acho que conforme as coisas vão se afastando de física e química, devem ir se complicando mais, com maior dificuldade em se reproduzir os resultados. Um medicamento testado em cobaias de um laboratório pode funcionar nessas, não em outras, da mesma espécie, em outro laboratório. O medicamento não precisa ser nada "exótico", florais de Bach ou água agitada por outros meios, pode ser química de verdade, talvez vinda da mesma fábrica exata, mesmo lote, mas as condições dos ratos e alguns detalhes em como se administra o medicamento podem fazer diferença.



Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #16 Online: 02 de Maio de 2015, 22:18:52 »
Pois é, seria domicianamente importante também estudar astrologia, numerologia, nossolarismo, licantropia, balão-de-gásgrafia, sambalelêgrafia, universoemdesencantismo... Né? Nunhé? Nénão??? Pois é.

Se essas coisas começarem a influenciar tanto a sociedade quanto o pós-modernismo influencia, eu acho que passarão a ser dignas de atenção sim.

Que medida temos de quanto cada uma dessas coisas influenciam, e de quanto pós-modernismo influencia?

Nenhuma medida objetiva e inquestionável, mas não vejo como se pode exigir isso para esse tipo de coisa. Ninguém nega que o Iluminismo influenciou a Revolução Francesa, por exemplo, mesmo não tendo uma máquina do tempo para verificar se a Revolução Francesa teria ocorrido ou não sem o Iluminismo. Não faz sentido encarar ciências humanas como encaramos a física ou a química.

O que existe é uma análise subjetiva dos efeitos que uma ideia provoca na sociedade. O pós-modernismo exportou conceitos para movimentos sociais, para a política, para as artes plásticas, para a música, para a literatura. Será que a numerologia exerce impacto semelhante atualmente? Será que a licantropia exerce impacto semelhante atualmente?

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Sim, um dos interesses de uma pessoa pode inclusive ser de homeopatia e cura por cristais, mas um estudo não enviesado e nem muito profundo já sugeriria que tal campo de estudos é uma perda de tempo -- exceto talvez se formos considerar o pós-modernismo e a possibilidade/"fato" de que a "ciência" européia masculina heterocentrista não pode ser usada para analisar essas "outras verdades" porque blablablá e a realidade não existe.

Mas daí eu diria que essa linha de pensamento é também perda de tempo, daí pergunto. O que há aí de "útil", de "descobertas", em vez de apenas jogos mentais de faz de conta, auto-enganação?

Sim, o interesse pessoal de alguém pode levá-la a estudar essas coisas. O fato de a pessoa não concordar e/ou concluir, mesmo baseada em evidências, que algo é falso, implica necessariamente que é perda de tempo estudar aquilo? É perda de tempo estudarmos mitologia egípcia, então? É perda de tempo estudarmos literatura de ficção? Eu diria que é totalmente legítimo que uma pessoa tenha interesse por estudar esses temas. Quando a pessoa se matricula em um curso de filosofia, ainda por cima, é esperado que ela tenha interesse em conhecer coisas que hoje são consideradas absurdas pelo senso comum e pela ciência, como o platonismo, e nem por isso achamos que Platão seja desnecessário a um curso de filosofia. O pós-modernismo se enquadra no mesmo caso.

Não sei o que você chamaria de "útil" ou de "descoberta" em um contexto filosófico e que fosse tão universal a ponto de ser extensível a outras pessoas.

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Da forma que eu percebo as coisas quase todo entendimento do "funcionamento" de algumas dessas coisas, no que concerne a "pós-modernismo", se enquadra nessas descrições que dei antes, de serem movimentos engajados em negação da realidade, auto-ilusão.

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Mas, como disse, meu conhecimento de pós-modernismo é extremamente superficial e limitado. O que haveria que pudesse me dar uma compreensão mais completa e útil dessas coisas?

Eu achei útil -para mim- conhecer as justificativas filosóficas para essa "negação da realidade", principalmente em Nietzsche, que foi o grande precursor do pós-modernismo e introduziu todas as principais ideias dos pós-modernos. Mas não tenho como julgar o que seria importante para você. Talvez estudar pós-modernismo lhe seja mesmo uma perda de tempo, mas também há essa possibilidade em relação à filosofia grega, à filosofia moderna, etc.

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A mim parece uma situação análoga a de criacionismo versus evolução. Não parece ser tremendamente útil a qualquer pessoa um "conhecimento profundo" sobre criacionismo. É suficiente saber que são distorções e apreensões seletivas dos fatos, de forma a concordar com uma conclusão que é também o ponto de partida. E que a motivação ideológica/religiosa será sempre colocada acima de uma análise imparcial dos fatos. Será parecido com, por exemplo, feministas pós-modernistas que digam ser um "mito" que homens, em média, como resultado natural do desenvolvimento, tenham mais massa muscular que mulheres. O criacionista diz que a conspiração evolucionista fabrica suas evidências e nega os verdadeiros fatos, e feministas pós-modernistas dirão que a conspiração patriarcal faz o mesmo aí.

Em resumo, é como uma crença religiosa, ou mais especificamente, o mesmo padrão de pensamento/auto-engano que comumente acompanha crenças religiosas quando em negação de aspectos mais palpáveis da realidade.

E se o foco da pessoa for justamente estudar mitos de criação das civilizações do Crescente Fértil? Aí passa a ser essencial estudar o criacionismo judaico-cristão.

O que eu quero dizer é: se você considera como premissa que as únicas coisas relevantes a se estudar são coisas que possuem embasamento científico e aplicação prática imediata, então realmente você pode jogar não apenas o pós-modernismo, mas toda a estante de filosofia no lixo, junto com a sociologia, a história, a antropologia, etc. Se você considerar que o que há de relevante é apenas a "hard science" e o que for consistente com ela, então a maior parte do conhecimento humano realmente será perda de tempo para você. Mas é um critério individual seu, assim como estudar filosofias contradizendo isso é um critério individual meu.

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É uma perspectiva diferente da que eu esperava, quando li, acho que de você mesmo, que seriam "os dois lados da mesma moeda", a negação cientifica e o desdém ao pós-modernismo. Passava a impressão de haver mais algo que se pudesse aproveitar no último, e não como análogo ao conhecimento acerca de uma religião, sem no entanto necessariamente concordar com "nada", ou com seus fundamentos.

O que eu disse que são dois lados da mesma moeda não inclui o desdém pelo pós-modernismo quanto ao seu mérito filosófico, e sim a afirmação categórica de que ele não merece ser estudado (por ninguém) e que a ausência de conteúdo pós-moderno em um curso de filosofia seria por si enriquecedora.

Meu ponto, tentando me expressar mais claramente, é: pouco importa se o pós-modernismo é consistente, é "verdadeiro", é correto. O fato é que ele exerce impacto significativo na sociedade e isso por si só já justifica o seu estudo pelo menos por pessoas que se interessam particularmente pela área de filosofia. Além disso, também pode ser enriquecedor a quem tem curiosidade de entender a base filosófica de alguns fenômenos da sociedade que acabam nos afetando, assim como também pode ser mera perda de tempo para outros que não têm interesse particular em entender essas coisas.

Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #17 Online: 02 de Maio de 2015, 22:27:58 »
Engraçado que os filósofos pós-modernoso são brancos e europeus. Essa gente...

Não entendi seu ponto.

Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #18 Online: 02 de Maio de 2015, 22:31:23 »
Pela que já li e também pela minha experiência, ninguém precisa entender de filosofia da ciência para "fazer" ciência.

Mas isso não poderia ajudar a evitar alguns equívocos?


Citar
http://www.scientificamerican.com/article/psyching-out-evolutionary/
...

JRM: What value can philosophers add to science?

DB: I have no doubt that some readers are going to say that I've brought nothing to these issues, because philosophers should stick to what they know--namely, nothing. And there's an extent to which I agree with them. Philosophy as a field is not a body of knowledge to be known. What we philosophers do get trained for is analysis of reasoning. I think philosophers can contribute quite a bit to ongoing scientific research in this respect, becausc theory and evidence aren't tightly and obviously connected to one another. Evidence usually only speaks to theory after some tortured chain of reasoning to connect the two. And it's that tortured chain of reasoning [that] philosophers are trained to look at with a critical eye.

...

Dificilmente. Talvez seja útil para alguém que esteja interessado em pesquisar assuntos que estão à margem da chamada ciência "séria" (PES, experiências de quase-morte, supostas curas espirituais, etc.) Mas no dia-a-dia da ciência feijão-com-arroz, não, não há necessidade de filosofia da ciência. Repito: acredito que ela pode ser muito útil para o ensino da ciência.*



*Exemplo: quando vou falar de Cosmologia na sala de aula, procuro comentar com os alunos sobre a diferença entre Necessidade e Contingência. A maioria dos Físicos acredita que, por exemplo, as massas das partículas do Modelo Padrão surgem necessariamente de uma teoria mais abrangente. Mas é possível que seja algo contingente. Ninguém sabe ao certo.

Mas a pesquisa científica em si não é um uso implícito da filosofia da ciência? Posso estar equivocado, mas eu vejo isso como dizer que um encanador não usa mecânica dos fluidos, simplesmente pelo fato de ele não o fazer de forma refletida e formal.

Offline Voltaire

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #19 Online: 03 de Maio de 2015, 12:30:58 »
Engraçado que os filósofos pós-modernoso são brancos e europeus. Essa gente...

Não entendi seu ponto.

 Fui infeliz nessa ironia. Quis dizer que da mesma forma que eles relativizam a ciência por ser uma ciência de brancos, poderíamos relativizar a filosofia deles por ser uma filosofia de gente branca. A professora mais engajada aqui é ruiva de belos olhos claros. Enquanto no curso de Física, há muitos negros.  :D

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #20 Online: 03 de Maio de 2015, 13:55:35 »

Citar
Sim, um dos interesses de uma pessoa pode inclusive ser de homeopatia e cura por cristais, mas um estudo não enviesado e nem muito profundo já sugeriria que tal campo de estudos é uma perda de tempo -- exceto talvez se formos considerar o pós-modernismo e a possibilidade/"fato" de que a "ciência" européia masculina heterocentrista não pode ser usada para analisar essas "outras verdades" porque blablablá e a realidade não existe.

Mas daí eu diria que essa linha de pensamento é também perda de tempo, daí pergunto. O que há aí de "útil", de "descobertas", em vez de apenas jogos mentais de faz de conta, auto-enganação?

Sim, o interesse pessoal de alguém pode levá-la a estudar essas coisas. O fato de a pessoa não concordar e/ou concluir, mesmo baseada em evidências, que algo é falso, implica necessariamente que é perda de tempo estudar aquilo? É perda de tempo estudarmos mitologia egípcia, então? É perda de tempo estudarmos literatura de ficção? Eu diria que é totalmente legítimo que uma pessoa tenha interesse por estudar esses temas. Quando a pessoa se matricula em um curso de filosofia, ainda por cima, é esperado que ela tenha interesse em conhecer coisas que hoje são consideradas absurdas pelo senso comum e pela ciência, como o platonismo, e nem por isso achamos que Platão seja desnecessário a um curso de filosofia. O pós-modernismo se enquadra no mesmo caso.

Não sei o que você chamaria de "útil" ou de "descoberta" em um contexto filosófico e que fosse tão universal a ponto de ser extensível a outras pessoas.

Não sei se "utilidade" é bem o melhor termo.

Quando alguém diz ser "interessante estudar mitologia egípcia", me parece geralmente fundamentalmente diferente de dizer que é "importante se estudar pós-modernismo".

"Mitologia" já traz implícito que nem se "acredite" nos mitos. Já quando se fala em "estudar pós-modernismo" me parece inevitável a sugestão de haver uma validade mais significativa no que me parece só um jogo de auto-engano. Soa mais como "estudar matemática" do que "estudar distúrbios mentais", ou "estudar falácias", "estudar história da ciência", que seriam os análogos a "estudar mitologia egípcia" e não "reviver"/acreditar nas religiões deles.



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Da forma que eu percebo as coisas quase todo entendimento do "funcionamento" de algumas dessas coisas, no que concerne a "pós-modernismo", se enquadra nessas descrições que dei antes, de serem movimentos engajados em negação da realidade, auto-ilusão.

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Mas, como disse, meu conhecimento de pós-modernismo é extremamente superficial e limitado. O que haveria que pudesse me dar uma compreensão mais completa e útil dessas coisas?

Eu achei útil -para mim- conhecer as justificativas filosóficas para essa "negação da realidade", principalmente em Nietzsche, que foi o grande precursor do pós-modernismo e introduziu todas as principais ideias dos pós-modernos. Mas não tenho como julgar o que seria importante para você. Talvez estudar pós-modernismo lhe seja mesmo uma perda de tempo, mas também há essa possibilidade em relação à filosofia grega, à filosofia moderna, etc.

"Importante" para mim não é nem mesmo essa discussão, é só curioso.

O que eu acharia de "curioso" no pós-modernismo, seria se houvesse/houver algo que possibilitasse dizer "graças ao pós-modernismo que hoje consideramos moralmente aceitável o divórcio", "graças ao pós-modernismo que muitas empresas trabalham num ambiente mais descontraído, que acaba sendo mais produtivo e saudável", etc.

Em vez de apenas algo como "graças ao pós-modernismo hoje entendemos que é tão correto afirmar que a Terra é redonda quanto que é chata, ou que está apoiada sobre o casco de uma tartaruga gigante".



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A mim parece uma situação análoga a de criacionismo versus evolução. Não parece ser tremendamente útil a qualquer pessoa um "conhecimento profundo" sobre criacionismo. É suficiente saber que são distorções e apreensões seletivas dos fatos, de forma a concordar com uma conclusão que é também o ponto de partida. E que a motivação ideológica/religiosa será sempre colocada acima de uma análise imparcial dos fatos. Será parecido com, por exemplo, feministas pós-modernistas que digam ser um "mito" que homens, em média, como resultado natural do desenvolvimento, tenham mais massa muscular que mulheres. O criacionista diz que a conspiração evolucionista fabrica suas evidências e nega os verdadeiros fatos, e feministas pós-modernistas dirão que a conspiração patriarcal faz o mesmo aí.

Em resumo, é como uma crença religiosa, ou mais especificamente, o mesmo padrão de pensamento/auto-engano que comumente acompanha crenças religiosas quando em negação de aspectos mais palpáveis da realidade.

E se o foco da pessoa for justamente estudar mitos de criação das civilizações do Crescente Fértil? Aí passa a ser essencial estudar o criacionismo judaico-cristão.

O que eu quero dizer é: se você considera como premissa que as únicas coisas relevantes a se estudar são coisas que possuem embasamento científico e aplicação prática imediata, então realmente você pode jogar não apenas o pós-modernismo, mas toda a estante de filosofia no lixo, junto com a sociologia, a história, a antropologia, etc. Se você considerar que o que há de relevante é apenas a "hard science" e o que for consistente com ela, então a maior parte do conhecimento humano realmente será perda de tempo para você. Mas é um critério individual seu, assim como estudar filosofias contradizendo isso é um critério individual meu.

Esse "estudar o criacionismo judaico cristão" não é referente ao que eu me referia por criacionismo. Esse outro significado seria equivalente ao "estudo de mitologia egípcia antiga", algo que eu não questiono.

Me referia a "aceitar as crenças" desses grupos ou outros, num malabarismo de seletividade e relativismo, ou mesmo apenas "pesquisar a fundo". Você pode fazer isso, mas percebe que não tem valor ir muito longe (a não ser por pura curiosidade), pois será sempre esse mesmo padrão, de peças fundamentais omitidas estrategicamente, distorções, etc. É evidente que, se o criacionista leu aquilo e acreditou, ele acredita nisso, não é muito "esclarecedor" se aprofundar mais.

Nesse caso eu acho perfeitamente normal "estudar" pós-modernismo, mas ainda me parece só algo análogo a "estudar" pseudociências e teorias conspiratórias, e não a "estudar matemática".

O que eu achava que pudesse haver seria algo mais parecido com "estudar matemática", ainda que só de longe se aproximando disso, conforme os exemplos que eu dei anteriormente ("como o pós-modernismo mostra que é moralmente aceitável o divórcio", etc)


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É uma perspectiva diferente da que eu esperava, quando li, acho que de você mesmo, que seriam "os dois lados da mesma moeda", a negação cientifica e o desdém ao pós-modernismo. Passava a impressão de haver mais algo que se pudesse aproveitar no último, e não como análogo ao conhecimento acerca de uma religião, sem no entanto necessariamente concordar com "nada", ou com seus fundamentos.

O que eu disse que são dois lados da mesma moeda não inclui o desdém pelo pós-modernismo quanto ao seu mérito filosófico, e sim a afirmação categórica de que ele não merece ser estudado (por ninguém) e que a ausência de conteúdo pós-moderno em um curso de filosofia seria por si enriquecedora.

Aqui voltamos ao ponto de "estudo" podendo significar "aceitação", versus "entender o que eles pensam".

Acho que ninguém (nem o DDV) seria totalmente contra o "estudo do pós modernismo" sob essa segunda ótica, mas o que geralmente deve estar acontecendo quando as pessoas "estudam o pós modernismo" é uma espécie de conversão religiosa, não "estudo da mitologia da religião".

E nesse caso, acho difícil não considerar como um empobrecimento, é praticamente como "estudar/aceitar o fascismo", com seu anti-intelectualismo, versus "estudar o fascismo" como em "estudar história".



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Meu ponto, tentando me expressar mais claramente, é: pouco importa se o pós-modernismo é consistente, é "verdadeiro", é correto. O fato é que ele exerce impacto significativo na sociedade e isso por si só já justifica o seu estudo pelo menos por pessoas que se interessam particularmente pela área de filosofia. Além disso, também pode ser enriquecedor a quem tem curiosidade de entender a base filosófica de alguns fenômenos da sociedade que acabam nos afetando, assim como também pode ser mera perda de tempo para outros que não têm interesse particular em entender essas coisas.

Sim. Acho que já foi esclarecido esse mau entendido, então. Como "estudar o fascismo" é enriquecedor, sem necessariamente haver o mínimo de simpatia pela coisa.




Nesse caso, fico ainda curioso com coisas que as pessoas tenham achado enriquecedoras nesse sentido, como "entendimento da base filosófica de alguns fenômenos da sociedade".


Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #21 Online: 03 de Maio de 2015, 21:35:58 »
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"Importante" para mim não é nem mesmo essa discussão, é só curioso.

O que eu acharia de "curioso" no pós-modernismo, seria se houvesse/houver algo que possibilitasse dizer "graças ao pós-modernismo que hoje consideramos moralmente aceitável o divórcio", "graças ao pós-modernismo que muitas empresas trabalham num ambiente mais descontraído, que acaba sendo mais produtivo e saudável", etc.

Em vez de apenas algo como "graças ao pós-modernismo hoje entendemos que é tão correto afirmar que a Terra é redonda quanto que é chata, ou que está apoiada sobre o casco de uma tartaruga gigante".

Acho que nessa sua concepção daria pra citar por exemplo a aceitabilidade do fato de as pessoas poderem definir individualmente um sentido para a própria vida, ao invés de terem que adotar uma concepção "padrão" como o aristotelismo ou algum sistema religioso. Não que o pós-modernismo tenha inventado isso, mas pelo que eu vejo, foi a partir dele que essa autonomia individual nas definições de "vida boa", "felicidade", etc. passaram a ser mais toleradas. O pós-modernismo também contribuiu em grande parte para para combater o racismo, o machismo, o etnocentrismo, na medida que defendeu a ideia de que as noções de superioridade que as pessoas alimentavam até então eram falhas. Eu até acho que alguém pode contestar a importância do pós-modernismo nessas coisas, até porque estabelecer um nexo causal em algo tão abrangente é quase impossível, mas creio ser bem aceita a influência do pós-modernismo pelo menos em relação a isso.

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O que eu achava que pudesse haver seria algo mais parecido com "estudar matemática", ainda que só de longe se aproximando disso, conforme os exemplos que eu dei anteriormente ("como o pós-modernismo mostra que é moralmente aceitável o divórcio", etc)

Essa definição de importância como utilidade descartaria a maior parte da filosofia. Tirando talvez a parte de lógica (que nem é monopólio da filosofia), acho que nada mais alcança esse grau de importância prática. É característico da filosofia que os resultados e conclusões obtidos só durem até a geração seguinte de filósofos, que por sua vez propõe outros resultados e outras conclusões ad infinitum. Muitos livros literalmente começam com alguma variação de "o que disseram antes de mim é bobagem, neste livro explicarei como as coisas realmente funcionam".

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Aqui voltamos ao ponto de "estudo" podendo significar "aceitação", versus "entender o que eles pensam".

Acho que ninguém (nem o DDV) seria totalmente contra o "estudo do pós modernismo" sob essa segunda ótica, mas o que geralmente deve estar acontecendo quando as pessoas "estudam o pós modernismo" é uma espécie de conversão religiosa, não "estudo da mitologia da religião".

E nesse caso, acho difícil não considerar como um empobrecimento, é praticamente como "estudar/aceitar o fascismo", com seu anti-intelectualismo, versus "estudar o fascismo" como em "estudar história".

O assunto em questão era sobre a criação de uma cátedra de Foucault e foi dito que sua ausência seria um enriquecimento, ou seja, que não estudá-lo é melhor do que estudá-lo. Não me pareceu essa preocupação quanto a possível proselitismo por parte dos professores. Se realmente acontece esse tipo de "conversão religiosa", é um problema distinto, como o daquele professor brasileiro que fazia apologia ao nazismo nas aulas de história. A solução para isso seria impedir o professor de ensinar dessa forma (ou demiti-lo se não funcionar), e não simplesmente deixar de estudar o assunto nas aulas ou deixar de ter catedráticos no assunto dentro de um departamento que se dedica justamente ao estudo de filosofia.

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Sim. Acho que já foi esclarecido esse mau entendido, então. Como "estudar o fascismo" é enriquecedor, sem necessariamente haver o mínimo de simpatia pela coisa.

É justamente nesse sentido que eu entendo a importância do pós-modernismo em departamentos de filosofia. No sentido de que é algo relevante, concordando ou não com o conteúdo em si.

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Nesse caso, fico ainda curioso com coisas que as pessoas tenham achado enriquecedoras nesse sentido, como "entendimento da base filosófica de alguns fenômenos da sociedade".

Enriquecedor no sentido de curiosidade mesmo, não necessariamente no sentido de que um dia eu estarei em uma situação prática da vida onde entender pós-modernismo irá me ajudar a solucionar um grande problema. A não ser que uma gangue de pós-modernos me sequestre e imponha como condição que só me permitirão viver se eu souber dar uma explicação convincente sobre a modernidade líquida de Bauman.

Offline Voltaire

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #22 Online: 06 de Maio de 2015, 19:18:42 »
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Enriquecedor no sentido de curiosidade mesmo, não necessariamente no sentido de que um dia eu estarei em uma situação prática da vida onde entender pós-modernismo irá me ajudar a solucionar um grande problema. A não ser que uma gangue de pós-modernos me sequestre e imponha como condição que só me permitirão viver se eu souber dar uma explicação convincente sobre a modernidade líquida de Bauman.

 :histeria: Ou para fazer boas críticas, construtivas e embasadas. Já pensou ouvir uma crítica à Carl Sagan de um sujeito que leu tudo dele? Você até muda a postura de desconforto frente às críticas para uma grande curiosidade.


Offline Lakatos

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Re:O que vale a pena ser estudado em "pós-modernismo"?
« Resposta #24 Online: 07 de Maio de 2015, 01:11:40 »
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Enriquecedor no sentido de curiosidade mesmo, não necessariamente no sentido de que um dia eu estarei em uma situação prática da vida onde entender pós-modernismo irá me ajudar a solucionar um grande problema. A não ser que uma gangue de pós-modernos me sequestre e imponha como condição que só me permitirão viver se eu souber dar uma explicação convincente sobre a modernidade líquida de Bauman.

 :histeria: Ou para fazer boas críticas, construtivas e embasadas. Já pensou ouvir uma crítica à Carl Sagan de um sujeito que leu tudo dele? Você até muda a postura de desconforto frente às críticas para uma grande curiosidade.

Pode ser também, mas aí é algo que dependerá de cada um, não algo que seja "culturalmente indispensável".

 

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