Olá todos!
Realmente já faz um bom tempo que não entro aqui.
Tantas coisas já se passaram na minha vida e a concentração diária nas minhas tarefas não só me fizeram afastar desse grupo, como também da net de uma forma em geral. Todavia, com o falecimento do meu pai a 7 dias atrás, lembrei-me de que faço parte de tal grupo e assim resolvi dar uma passada aqui para deixar meu registro.
Bem, como a maior parte dos brasileiros, a minha primeira religião foi a católica. Depois disso me tornei Testemunha de Jeová, passando pelo espiritismo, religiões evangélicas e por ultimo gnóstico. Agora, já a bastante tempo mesmo, sou agnóstico centro esquerda, isto é, um pouco mais para ateu, rsss.
Bem... Meu pai faleceu em uma UTI depois de sofrer horrivelmente; coisa que acompanhei por esses longos oito dias. No horário de visitas, ele murmurava , choramingando, para que eu o abraçasse e pegasse em sua mão... Apenas por meia hora a cada 24 horas. Meu pai, em grande agonia, dia com os braços amarrados para não arrancar as sondas e tantos outros aparelhos que nem sei o nome, e outros dias com as mãos todas enfaixadas para, igualmente, não arrancar os aparelhos em toda a sua agonia e sofrimento. Na hora de sua partida, foi pego com uma taquicardia onde os médicos fizeram de tudo para salvá-lo. Ele, sem nenhuma anestesia sofreu cortes no peito e nos braços para que por tais buracos fossem inseridos algum tipo de mangueira que eu nem tinha idéia para que serviam. Em meio a tanto sofrimento, desistiu de viver. Para o próprio bem dele, creio...
Agora, não é porque é meu pai, mas...
O velho nunca teve nenhum tipo de rixa com ninguém na vida. Ele nunca discutiu com nenhuma pessoa, desde um membro da família até pessoas desconhecidas. Era extremamente religioso e sempre pregava o perdão para as pessoas. Chegava a ser ridículo quando ele pedia perdão para pessoas que estavam erradas com ele. Nunca deu prejuízo a ninguém. Antes, preferia levar o prejuízo e “perdoar” a quem mal lhe fazia. Sempre fazia cestas básicas para dar aos pobres. Era religioso e sempre frequentava a igreja. Aos 93 anos, se gabava de nunca ter traído minha mãe, que aliás, era a única mulher da vida dele. Nunca ouvi ele dizer nenhum palavrão. Sim, o velho realmente era um “santo”.
Agora, aos acontecimentos. Porque Deus permitiria uma pessoa de grande exemplo “espiritual” sofrer daquela forma para morrer?
Foram nessas horas que me senti bastante confortável em ser “ateu”.
Como não creio na existência de um ser supremo e justo, naturalmente não me revoltei; me sentindo indignado com a situação. Se eu fosse um cristão, teria todos os motivos do mundo para “não aceitar” a idéia de Deus em escolher tal destino para meu pai, ao invés de lhe dar uma morte serena. Quanto aos argumentos do tipo “Ninguem conhece os mistérios de Deus” e similares, naturalmente não caberiam em lugar algum. Sendo cristão, tenho certeza de que eu iria sofrer muito mais ao ver meu pai naquela situação e os “porquês” daquilo iriam me perseguir pelo resto de meus dias.
Se eu fosse de uma religião espiritualista, talvez até me conformasse mais, uma vez que existe aquela teoria ridícula em que os santos devem sofrer bastante para o espírito evoluir mas hoje sei que nada chegaria aos pés do conforto que tenho por ser ateu.
Assim penso que meu pai passou pelo ciclo normal da vida (vivendo até demais – 93 anos) e morreu de uma forma tão natural como um dia nasceu. Deu azar de sofrer muito para morrer, mas fazer o que? Sorte e azar são apenas coincidências favoráveis ou desfavoráveis. Nada mais que isso.
E... sim!!!
Sinto-me incrivelmente confortável em pensar assim. Não tenho nenhuma dúvida ou angustia para saber se meu pai está no céu, no inferno, no limbo ou no purgatório, pois sei que tais coisas não existem. Ele simplesmente deixou de existir como um dia todos deixaremos de existir. Assim como foi de milhões de anos antes de nascermos, igualmente será de milhões de anos depois de morrermos.
Natural... Nenhum “porque”; nenhum “se” para questionar, sofrer ou revoltar. Existe apenas a saudade que com o tempo se vai.
Concluindo: Feliz por ser agnóstico-ateu. Mesmo nas situações mais difíceis de minha vida, onde consegui tirar de letra.