Contraste isso com investir (direta/pessoal ou comercialmente) na criação, para todos outros potencialmente lucrarem, sem terem feito o mesmo investimento, e sem lhe deverem nada, lucrando às suas custas. Quão atraente é essa situação ao investidor/criador ante ao conceito da lei de utilidade marginal?
Não tão sombria quanto soa, dado que há um longo histórico da existência de artistas antes da criação dos mecanismos de Direito Autoral. Além disso, tratar Artistas e Investidores (Gravadoras) como se fossem sujeitos aos mesmos fenômenos econômicos e tendo os mesmos interesses me soa a uma simplificação exagerada, ainda mais quando se sabe que Artistas podem sobreviver e prosperar off-grid. A questão é saber se transformar um bem público em um bem privado é algo desejável a médio/longo prazo.
Esse histórico se deu na maior parte do tempo antes da reprodução digital permitir essencialmente um suprimento infinito dessas coisas, e, mesmo antes disso, tinha, por isso, um potencial de lucro menor para os artistas do que o que foi possibilitado com as leis de direitos autorais.
"Investidores" não são apenas "gravadoras", não existe só música. A maior parte dos filmes, por exemplo, que as pessoas querem piratear, só foram filmados porque cada estúdio está legalmente amparado a negociar o direito exclusivo de reprodução.
A indústria do cinema como existe atualmente só poderia continuar existindo ainda similar sem direitos de reprodução se os produtores investissem também muito pesado em meios de criar restrições não meramente legais na exibição, a fim de tentar evitar o vazamento de um investimento milionário.
Atores e alguns outros participantes da produção atualmente recebem também por "direitos residuais", que deixariam de existir. Se isso seria compensado com pagamentos adiantados maiores, representa um investimento maior para quem banca a produção, mediante um risco imensamente maior de tudo vazar pelo ralo.
Talvez a conseqüente desvalorização das profissões envolvidas na produção reduzisse esse custo. Mas então vem a questão de se seriam profissões atrativas às pessoas da área, ou quem quer que antes pretendesse ingressar. Talvez a recente greve dos escritores seja sugestiva.
Acho que mais do que eu imaginava:
At present, the home video market is the major source of revenue for the movie studios. In April 2004 the New York Times reported the companies made $4.8 billion in home video sales versus $1.78 billion at the box office between January and March.[21]
https://en.wikipedia.org/wiki/2007%E2%80%9308_Writers_Guild_of_America_strike#DVD_residuals
Talvez muitos não vejam nada demais nisso, no fim da indústria de entretenimento com esses moldes (dentre os principais desdobramentos do fim de direitos autorais), é uma posição que a pessoa pode muito bem ter. Mas há alguma incompatibilidade nisso vir por trás de se defender a pirataria, que mostra uma valorização daquilo que foi produzido graças a esse "subsídio". Sugere que essas pessoas estão imaginando que, mesmo sem direitos autorais, vão viver num mundo onde todas as produções que admiram continuarão a ser produzidas na mesma escala, mas será tudo de graça.
A recorrente vilanização das gravadoras fortalece essa suspeita. Sempre tem a noção divulgada de serem praticamente senhoras de escravos dos artistas. Mas mesmo que suas práticas não sejam sempre as mais justas, os artistas ainda têm melhores chances de se dar melhor com os direitos que eles já tem, não com menos. Na verdade, a abolição desses direitos apenas favoreceria às gravadoras, que, em tese, passam a não lhes dever nada pelo que detém de sua obra, e são livres para explorar comercialmente, tendo ao mesmo tempo provavelmente mais recursos para isso.