Autor Tópico: Aviões contra o Aedes aegypti  (Lida 3299 vezes)

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Skorpios

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Aviões contra o Aedes aegypti
« Online: 08 de Janeiro de 2016, 08:17:32 »
Achei muito interessante a proposta, pelo menos como teste. Se a técnica já foi utilizada e continua sendo com sucesso em outros lugares, porque será que o ministério responsável não responde?

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Aviões contra o Aedes aegypti

Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola defende uso de aviões agrícolas para combater a dengue no Brasil, desde 2004. Ação que poderia ter salvo milhares de vidas. Governo não dá resposta desde 2008.



Há 40 anos Brasil teve uma das mais bem-sucedidas operações de combate a mosquitos em sua história, na qual a aviação agrícola ajudou eliminar um surto de encefalite que assolava a Baixada Santista, em São Paulo. Foram 495 casos da doença, entre março e junho daquele ano, registrados principalmente em Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém. A transmissão estava ligada ao mosquito Culex, que foi combatido com uma ação enérgica da Superintendência de Controles de Endemias (SUCEN) de São Paulo.

A estratégia abrangeu ações de educação para eliminar criatórios em residências e também aplicações de larvicidas por terra. Mas foi a aplicação por aviões do mesmo inseticida hoje aplicado por terra (nos chamados fumacês) que reduziu em 90% a população de mosquitos adultos da região, segundo levantamento da própria Sucen. Um exemplo extraordinário de como vontade política e ferramentas adequadas podem resultar em benefício para a população. No caso, centenas de vidas salvas ou livres de sequelas irreparáveis.

Em 2004, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG) sugeriu ao Ministério da Saúde uma parceria para se chegar a uma fórmula que repetisse em escala nacional o êxito obtido 29 anos antes no litoral paulista. A proposta era (e ainda é) de se eleger uma área piloto em uma zona de epidemia da doença. E, ali, utilizar um avião para aplicar o mesmo inseticida atualmente aplicado apenas por terra através de bombas costais ou em caminhonetes. Porém, com uma dosagem de 400 milímetros por hectare.

Pela recomendação do SINDAG para esse teste, a entidade entraria com o avião, equipamentos embarcados, piloto e equipe de terra para fazer o preparo do produto. O Ministério da Saúde forneceria o inseticida e disporia ainda de uma equipe multidisciplinar para avaliar a toda a operação e seus resultados – químicos, biólogos, ambientalista, sanitarista etc.

Ou seja, além de colocar verdadeiramente à prova o método que deu certo em 1975 – e que hoje é utilizado nos Estados Unidos, México e diversos outros países, a intenção é chegar a um protocolo de operações que melhor adeque a técnica à atual realidade brasileira. Tudo da maneira mais transparente possível e deixando claro que se trata de uma ação para áreas de epidemia. E complementar ao combate de larvas e às ações educativas para que a própria população continue prevenindo e eliminando os focos do inseto.

O SINDAG seguiu insistindo com a ideia, vendo a dengue crescer 109% em 2005. Em 2007, quando o Brasil registrou 496,9 mil casos da doença – crescimento superior a 90% em relação ao ano anterior, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica descartando o uso da aviação, exceto em casos de epidemia. O documento apresentou dados que apontariam desvantagens no uso de aviões e foi contestado ponto a ponto pelo SINDAG, inclusive a relação custo/benefício da aviação.

Em uma audiência com o então ministro José Gomes Temporão, o sindicato apresentou seus argumentos e reforçou que a parceria seria justamente para colocar tudo à prova. Isso já em 2008, quando o país chegou a 632,6 mil casos de dengue. Em junho daquele mesmo ano, o SINDAG apresentou o plano em uma reunião do grupo técnico do Programa Nacional de Combate à Dengue, onde a resposta foi de que o grupo iria deliberar sobre o tema e informar á entidade da decisão. Resposta essa que não veio até hoje.

Enquanto vimos a dengue crescer mais 137% e o Brasil fechar 2015 com mais de 1,5 milhão de casos – a maior epidemia da doença em sua história. E o Aedes aegypti iniciou 2016 causando medo também com da febre chikungunya e, principalmente, epidemias do vírus zika. Pessoas estão morrendo e crianças estão sendo marcadas por sequelas que a acompanharão por toda a vida.

No último dia 23 de dezembro, o SINDAG reencaminhou sua proposta ao Ministério da Saúde, solicitando nova audiência junto ao órgão. Repetindo, como vem fazendo há 11 anos, que o Brasil tem a segunda maior força aérea agrícola do mundo, que ajudou a salvar vidas em 1975 e que está disposta a ser colocada à prova, para repetir o feito.

 Espera-se apenas vontade política.

Offline Johnny Cash

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #1 Online: 08 de Janeiro de 2016, 09:49:56 »
Achei muito interessante a proposta, pelo menos como teste. Se a técnica já foi utilizada e continua sendo com sucesso em outros lugares, porque será que o ministério responsável não responde?

O lado do governo nem se pronunciar deve ter algo relacionado a ainda não ter chance de participar lucrativamente nessa empreitada. Mas, putz, 7 anos sem nem resposta?

Como serão os efeitos disso sobre as pessoas e demais espécies não-alvo desses pesticidas? Tipo abelhas, população aquática em lagos e outros.

Será que tem algum tipo de cálculo como danos provocados pelo mosquito vs. danos provocados pelo pesticida, em que no final a gente seja capaz de escolher o que provoca menos estrago?  :hein:

Offline Fabrício

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #2 Online: 08 de Janeiro de 2016, 10:24:35 »
Achei muito interessante a proposta, pelo menos como teste. Se a técnica já foi utilizada e continua sendo com sucesso em outros lugares, porque será que o ministério responsável não responde?

O lado do governo nem se pronunciar deve ter algo relacionado a ainda não ter chance de participar lucrativamente nessa empreitada. Mas, putz, 7 anos sem nem resposta?

Como serão os efeitos disso sobre as pessoas e demais espécies não-alvo desses pesticidas? Tipo abelhas, população aquática em lagos e outros.

Será que tem algum tipo de cálculo como danos provocados pelo mosquito vs. danos provocados pelo pesticida, em que no final a gente seja capaz de escolher o que provoca menos estrago?  :hein:

Fico pensando também que o gasto de inseticida deve ser muito maior... em áreas agrícolas grandes o uso de aviões para pulverização é muito interessante, com um custo benefício bem melhor do que usar pulverizadores terrestres. Mas em uma lavoura o aproveitamento do inseticida é muito maior. Em uma área urbana a quantidade de inseticida que vai cair no asfalto, prédios, calçadas, etc, sendo desperdiçado, deve ser muito grande.

Mas também acho que valeria a pena testar.
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Offline João da Ega

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #3 Online: 12 de Fevereiro de 2016, 21:01:29 »
https://panoramalivre.wordpress.com/2016/02/11/componente-quimico-pyriproxyfen-e-apontado-como-causa-da-microcefalia/

e

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Nota técnica sobre microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti: os perigos das abordagens com larvicidas e nebulizações químicas – fumacê

(...)
2) A utilização continuada de larvicidas químicos na água de beber dessas famílias há mais de 40 anos sem, contudo, implicar na redução do número de casos de doenças provocadas por arbovírus. Em 2014 foi introduzido na água de beber das populações nos domicílios e nas vias públicas um novo larvicida o Pyriproxyfen. Conforme orientação técnica do MS[2] esse larvicida é um análogo do hormônio juvenil ou juvenóide, tendo como mecanismo de ação a inibição do desenvolvimento das características adultas do inseto (por exemplo, asas, maturação dos órgãos reprodutivos e genitália externa), mantendo-o com aspecto “imaturo” (ninfa ou larva), quer dizer age por desregulação endócrina e é teratogênico e inibe a formação do inseto adulto.

https://www.abrasco.org.br/site/2016/02/nota-tecnica-sobre-microcefalia-e-doencas-vetoriais-relacionadas-ao-aedes-aegypti-os-perigos-das-abordagens-com-larvicidas-e-nebulizacoes-quimicas-fumace/
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco

Teorias da conspiração?
"Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que entendemos menos ainda." Marquês de Sade

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #4 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 07:10:06 »
Além dessa há a de que mosquitos da dengue geneticamente modificados para combater a dengue (não me lembro de detalhes/escala dessa empreitada) teriam se tornado (acidentalmente, no grau de teoria conspiratória 1) melhores vetores do vírus da zica.


Eu pensava em perguntar isso nalgum tópico para perguntas idiotas sobre algum tema geral, mas vão aqui mesmo:

  • O vírus da dengue (e o da zica) afetam também negativamente aos mosquitos vetores em algum grau?
  • Pardais por acaso seriam melhores predadores de mosquitos da dengue do que rolinhas vem sendo?

Offline Johnny Cash

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #5 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 08:06:51 »
Parece que a coisa é bastante nublada ainda.

Há agora a dúvida sobre o crescimento da presença de doenças neurológicas em adultos e aumento de infecções pelo Zika, dando margem para ainda mais teorias da conspiração.



Eu pelo menos confesso que há pouco tempo atrás nunca tinha nem ouvido falar nesse vírus.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #6 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 08:33:25 »
"Há" essa dúvida sobre infecções de Zika?

Vinda de algum órgão que trabalhe com isso?



Eu já tinha ouvido falar do Zika muito antes, e só me lembro por ter achado engraçado o nome, com a inevitável associação com "dar zica". Mas nem me lembrava exatamente do que se tratava.

Mas nunca tinha ouvido falar de chikungunya/chicungunha/catolotolo. E achei engraçado esse nome, Alphavirus. Parece nome de banda cover de Alphaville, mas indo para algo mais eletrônico/techno.

Offline Johnny Cash

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #7 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 08:41:44 »
Sim.

Não vi nada em profundidade, mas tem esses "Relatos" aqui de médicos da Fundação Oswaldo Cruz.

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In Bahia, doctors are also focusing on what happens to adults who caught Zika.

"The initial manifestations are kind of mild, like [a] rash, but if it's severe enough to cause microcephaly and brain damage, what else can be attributed to [the virus]? We have to investigate more," he says.

Indeed, there are indications that Zika in adults can have lingering neurological effects.

"The problem may be worse than we think,"
[...]

"After Zika they started with some symptoms like vertigo or dizziness and hearing loss and tinnitus [ringing in the ears],"


http://www.npr.org/sections/goatsandsoda/2016/02/02/465278281/how-much-harm-can-the-zika-virus-really-do



Dentre tópicos compilados pelo "Canadian Medical Association Journal" sobre o vírus, achado em http://www.cmaj.ca/content/early/2016/02/08/cmaj.151486:

Citar
in addition to the possible link with microcephaly in infants, Zika infections have potentially been linked with an increased risk of neurological illnesses in adults, such as Guillain-Barré syndrome, according to the report. In people with Guillain-Barré syndrome, the body's immune system attacks parts of the nervous system. The symptoms may include muscle weakness, tingling sensations and, in severe cases, even paralysis.

http://www.livescience.com/53642-5-things-to-know-about-zika-virus.html


E no Fantástico: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2016/02/cientistas-pesquisam-se-virus-da-zika-causa-doenca-neurologica-em-adultos.html



Isso tem um potencial grande pra teorias conspiracionistas, dado que imagino ter potencial maior para espalhar medo do que a situação atual, em que muita gente ainda se vê longe de ser afetada seriamente pelo mosquito/vírus.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #8 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 08:51:12 »
Bem, aí nesses trechos não vi dúvida quanto ao aumento de infecções... :hein:



...


Citar
http://super.abril.com.br/ciencia/pardal-se-alimenta-melhor-na-cidade

[...] O pardal é originário da Europa. Acredita-se que chegou ao Brasil em 1908. Ele foi trazido de Portugal na época da epidemia de febre amarela porque achava-se que o pássaro comeria os mosquitos transmissores da doença, acabando com eles. Isso não é verdade porque o pardal come grãos e sementes. [...]

Desconhecia essa coincidência sobre sua introdução no Brasil. Mas desconfio de ser assim tão ineficiente, imagino que talvez o problema seja a diferença de horário de atividade desses mosquitos* e dos pardais, onde talvez estes fossem mais úteis contra os mosquitos Aedes. Ainda que a bem da verdade, simplesmente não saiba praticamente nada desse animal, só cogitei essa correlação ecológica e resolvi perguntar aqui.


* acabo de ver que os principais mosquitos vetores da febre amarela eram também diurnos. Não sabia. Que coisa.

Offline Johnny Cash

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #9 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 08:54:27 »
Bem, aí nesses trechos não vi dúvida quanto ao aumento de infecções... :hein:



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Crescimento dos casos de doenças neurológicas sérias poderia estar ligado ao vírus, suspeito de causar microcefalia em recém-nascidos.

No último link que postei.


Não sei se estamos falando da mesma coisa, portanto.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #10 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 10:34:11 »
Eu tinha entendido que você falava que talvez pudesse NÃO estar havendo aumento de infecções de Zika, mas esse e todos outros trechos parecem ser mais na direção de que sim, isso é de longe o mais provável, fumaça e fogo.



Conspiração: os nomes de espécies geralmente tem o gênero abreviado: C. familiaris, F. catus, H. sapiens, et caetera.

Então com Zika virus o que temos é..... Z. virus




:shock:

Offline Lorentz

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #11 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 10:45:22 »
Eu tinha entendido que você falava que talvez pudesse NÃO estar havendo aumento de infecções de Zika, mas esse e todos outros trechos parecem ser mais na direção de que sim, isso é de longe o mais provável, fumaça e fogo.



Conspiração: os nomes de espécies geralmente tem o gênero abreviado: C. familiaris, F. catus, H. sapiens, et caetera.

Então com Zika virus o que temos é..... Z. virus




:shock:

Ficaria aterrorizado. Mas virus não é espécie. Não é nem ser vivo. :hihi:
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Offline Johnny Cash

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #12 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 10:53:11 »
Eu tinha entendido que você falava que talvez pudesse NÃO estar havendo aumento de infecções de Zika, mas esse e todos outros trechos parecem ser mais na direção de que sim, isso é de longe o mais provável, fumaça e fogo.


Putz, foi mal.

Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #13 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 15:09:18 »
Achei muito interessante a proposta, pelo menos como teste. Se a técnica já foi utilizada e continua sendo com sucesso em outros lugares, porque será que o ministério responsável não responde?

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Aviões contra o Aedes aegypti

Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola defende uso de aviões agrícolas para combater a dengue no Brasil, desde 2004. Ação que poderia ter salvo milhares de vidas. Governo não dá resposta desde 2008.



Há 40 anos Brasil teve uma das mais bem-sucedidas operações de combate a mosquitos em sua história, na qual a aviação agrícola ajudou eliminar um surto de encefalite que assolava a Baixada Santista, em São Paulo. Foram 495 casos da doença, entre março e junho daquele ano, registrados principalmente em Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém. A transmissão estava ligada ao mosquito Culex, que foi combatido com uma ação enérgica da Superintendência de Controles de Endemias (SUCEN) de São Paulo.

A estratégia abrangeu ações de educação para eliminar criatórios em residências e também aplicações de larvicidas por terra. Mas foi a aplicação por aviões do mesmo inseticida hoje aplicado por terra (nos chamados fumacês) que reduziu em 90% a população de mosquitos adultos da região, segundo levantamento da própria Sucen. Um exemplo extraordinário de como vontade política e ferramentas adequadas podem resultar em benefício para a população. No caso, centenas de vidas salvas ou livres de sequelas irreparáveis.

Em 2004, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG) sugeriu ao Ministério da Saúde uma parceria para se chegar a uma fórmula que repetisse em escala nacional o êxito obtido 29 anos antes no litoral paulista. A proposta era (e ainda é) de se eleger uma área piloto em uma zona de epidemia da doença. E, ali, utilizar um avião para aplicar o mesmo inseticida atualmente aplicado apenas por terra através de bombas costais ou em caminhonetes. Porém, com uma dosagem de 400 milímetros por hectare.

Pela recomendação do SINDAG para esse teste, a entidade entraria com o avião, equipamentos embarcados, piloto e equipe de terra para fazer o preparo do produto. O Ministério da Saúde forneceria o inseticida e disporia ainda de uma equipe multidisciplinar para avaliar a toda a operação e seus resultados – químicos, biólogos, ambientalista, sanitarista etc.

Ou seja, além de colocar verdadeiramente à prova o método que deu certo em 1975 – e que hoje é utilizado nos Estados Unidos, México e diversos outros países, a intenção é chegar a um protocolo de operações que melhor adeque a técnica à atual realidade brasileira. Tudo da maneira mais transparente possível e deixando claro que se trata de uma ação para áreas de epidemia. E complementar ao combate de larvas e às ações educativas para que a própria população continue prevenindo e eliminando os focos do inseto.

O SINDAG seguiu insistindo com a ideia, vendo a dengue crescer 109% em 2005. Em 2007, quando o Brasil registrou 496,9 mil casos da doença – crescimento superior a 90% em relação ao ano anterior, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica descartando o uso da aviação, exceto em casos de epidemia. O documento apresentou dados que apontariam desvantagens no uso de aviões e foi contestado ponto a ponto pelo SINDAG, inclusive a relação custo/benefício da aviação.

Em uma audiência com o então ministro José Gomes Temporão, o sindicato apresentou seus argumentos e reforçou que a parceria seria justamente para colocar tudo à prova. Isso já em 2008, quando o país chegou a 632,6 mil casos de dengue. Em junho daquele mesmo ano, o SINDAG apresentou o plano em uma reunião do grupo técnico do Programa Nacional de Combate à Dengue, onde a resposta foi de que o grupo iria deliberar sobre o tema e informar á entidade da decisão. Resposta essa que não veio até hoje.

Enquanto vimos a dengue crescer mais 137% e o Brasil fechar 2015 com mais de 1,5 milhão de casos – a maior epidemia da doença em sua história. E o Aedes aegypti iniciou 2016 causando medo também com da febre chikungunya e, principalmente, epidemias do vírus zika. Pessoas estão morrendo e crianças estão sendo marcadas por sequelas que a acompanharão por toda a vida.

No último dia 23 de dezembro, o SINDAG reencaminhou sua proposta ao Ministério da Saúde, solicitando nova audiência junto ao órgão. Repetindo, como vem fazendo há 11 anos, que o Brasil tem a segunda maior força aérea agrícola do mundo, que ajudou a salvar vidas em 1975 e que está disposta a ser colocada à prova, para repetir o feito.

 Espera-se apenas vontade política.

Não é por falta de vontade política. É porque é uma ideia idiota. Primeiro por uma questão de segurança de voo. O uso desses aviões em grandes centros urbanos, em voos rasantes, em meio a prédios e tráfego de helicópteros, além das rotas dos aviões comerciais representaria um grande risco à segurança. Lembre-se que a última vez utilizada essa técnica foi há 40 anos, quando o Brasil era menos urbano do que é hoje e, provavelmente, não foi utilizada em grandes centros. E isso para uma efetividade quase nula.

Há 40 anos atrás, o inseticida mais utilizado era ainda o DDT, apesar de ser o início do seu banimento. O DDT é altamente tóxico e poluente. Até hoje você encontra traços do DDT nos EUA, anos depois de ter sido proibido. Para além dos riscos à saúde humana, ele atuava sobre uma enzima nos pássaros, responsável pela formação da casca do ovo. Isso fez com que espécies fossem quase extintas. (Detalhes sobre isso tem em um vídeo do Canal do Pirula). Se teve uma efetividade sobre os mosquitos do hemisfério norte, nas regiões tropicais não funcionou, por causa da população de mosquitos que era muito maior. O que gerou foi uma seleção dos indivíduos resistentes ao DDT.

O Aedes aegypt é um mosquito essencialmente urbano. Ele está presente dentro das casas, prédios, construções... ele é um mosquito doméstico. A pulverização simplesmente não atingiria o local onde o mosquito se encontra. A pulverização terrestre não consegue, a pulverização pelo ar conseguiria muito menos. Além disso, como aconteceu com o DDT, o mosquito já está resistente ao inseticida atualmente em uso. Esses inseticidas também atuam sobre as formas adultas do mosquito. Não possuem ação sobre os ovos e as formas larvais. Por fim, seria uma dispersão sobre uma grande área, envolvendo não somente mosquitos, mas também uma grande quantidade de seres humanos e outros animais, além de poluir o meio ambiente.

O fumacê possui uma ação muito limitada. O que REALMENTE combate o mosquito é a eliminação dos criadouros e, provavelmente, foi o que foi mais efetivo também há 40 anos.

Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #14 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 15:42:12 »
https://panoramalivre.wordpress.com/2016/02/11/componente-quimico-pyriproxyfen-e-apontado-como-causa-da-microcefalia/

Esse é um estudo argentino que a OMS já se manifestou a respeito. Se fosse o responsável pela microcefalia, estaria restrito à áreas de uso da substância nas águas de abastecimento. Porém, Natal, por exemplo, não usa Pyriproxyfen nas águas de abastecimento e é um dos lugares onde está ocorrendo o surto de microcefalia. Além disso, observa-se que corresponde à sazonalidade dos surtos de dengue.

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e

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Nota técnica sobre microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti: os perigos das abordagens com larvicidas e nebulizações químicas – fumacê

(...)
2) A utilização continuada de larvicidas químicos na água de beber dessas famílias há mais de 40 anos sem, contudo, implicar na redução do número de casos de doenças provocadas por arbovírus. Em 2014 foi introduzido na água de beber das populações nos domicílios e nas vias públicas um novo larvicida o Pyriproxyfen. Conforme orientação técnica do MS[2] esse larvicida é um análogo do hormônio juvenil ou juvenóide, tendo como mecanismo de ação a inibição do desenvolvimento das características adultas do inseto (por exemplo, asas, maturação dos órgãos reprodutivos e genitália externa), mantendo-o com aspecto “imaturo” (ninfa ou larva), quer dizer age por desregulação endócrina e é teratogênico e inibe a formação do inseto adulto.

https://www.abrasco.org.br/site/2016/02/nota-tecnica-sobre-microcefalia-e-doencas-vetoriais-relacionadas-ao-aedes-aegypti-os-perigos-das-abordagens-com-larvicidas-e-nebulizacoes-quimicas-fumace/
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco

Teorias da conspiração?

A ABRASCO não associa Pyriproxyfen com a microcefalia, o que ele faz criticar o uso desse controle químico em detrimento da estratégia de destruição dos criadouros.

Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #15 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 15:45:22 »
Além dessa há a de que mosquitos da dengue geneticamente modificados para combater a dengue (não me lembro de detalhes/escala dessa empreitada) teriam se tornado (acidentalmente, no grau de teoria conspiratória 1) melhores vetores do vírus da zica.


Eu pensava em perguntar isso nalgum tópico para perguntas idiotas sobre algum tema geral, mas vão aqui mesmo:

  • O vírus da dengue (e o da zica) afetam também negativamente aos mosquitos vetores em algum grau?
Não

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Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #16 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 15:52:49 »
"Há" essa dúvida sobre infecções de Zika?

Vinda de algum órgão que trabalhe com isso?

Sim, mas a associação é forte. Existe um aumento dos casos de Guillian Barré, mas é uma doença autoimune que pode ser disparado por uma série de infecções virais, não só a Zyka. Existe também um aumento de manifestações neurológicas, mas também ainda não foi definido um nexo causal, apesar da associação parecer muito forte.

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Eu já tinha ouvido falar do Zika muito antes, e só me lembro por ter achado engraçado o nome, com a inevitável associação com "dar zica". Mas nem me lembrava exatamente do que se tratava.

Mas nunca tinha ouvido falar de chikungunya/chicungunha/catolotolo. E achei engraçado esse nome, Alphavirus. Parece nome de banda cover de Alphaville, mas indo para algo mais eletrônico/techno.

Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #17 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 15:59:49 »
Eu tinha entendido que você falava que talvez pudesse NÃO estar havendo aumento de infecções de Zika, mas esse e todos outros trechos parecem ser mais na direção de que sim, isso é de longe o mais provável, fumaça e fogo.



Conspiração: os nomes de espécies geralmente tem o gênero abreviado: C. familiaris, F. catus, H. sapiens, et caetera.

Então com Zika virus o que temos é..... Z. virus




:shock:

Ficaria aterrorizado. Mas virus não é espécie. Não é nem ser vivo. :hihi:

É um ser vivo. Durante muito tempo ficou-se com essa dúvida se seria mesmo vivo ou não, mas estudos recentes verificaram que são sim vivos e compartilham material genético com células. Além disso, eles possuem uma classificação por espécie e podem ser classificados em um cladograma (claro, não há necessidade de ser vivo ou ser da área biológica para usar um cladograma), mesmo em um que envolva as células.

http://super.abril.com.br/ciencia/estudo-aponta-que-virus-sao-seres-vivos-sim-senhor
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mimiv%C3%ADrus

Offline Lorentz

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #18 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 18:44:58 »
Mas não acho que classificar virus como ser vivo ou não dependa de estudos. É uma questão conceitual.
"Amy, technology isn't intrinsically good or bad. It's all in how you use it, like the death ray." - Professor Hubert J. Farnsworth

Offline Derfel

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #19 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 19:26:53 »
E um dos conceitos mais difíceis de se definir. O que é um ser vivo?

Offline Lorentz

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #20 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 19:37:42 »
E um dos conceitos mais difíceis de se definir. O que é um ser vivo?

O que tem alma.
"Amy, technology isn't intrinsically good or bad. It's all in how you use it, like the death ray." - Professor Hubert J. Farnsworth

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #21 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 19:59:05 »
Acho que a melhor definição de "ser vivo" tem célula como "unidade fundamental", e portanto exclui vírus como "seres vivos" nesse sentido, mas não da taxonomia de linhagens de genomas.

Eles só estariam "vivos" quando ativos em células, de seres vivos propriamente ditos (mesmo que os seres em questão estejam mortos...). Ou, tão "vivos" quanto se possa dizer que o ADN de um organismo "está vivo", que não é uma forma típica de frasear sua atividade, acho.

A questão é algo como se perguntar se "rodas", incluindo estepes, são "veículos".



"Há" essa dúvida sobre infecções de Zika?

Vinda de algum órgão que trabalhe com isso?

Sim, mas a associação é forte. Existe um aumento dos casos de Guillian Barré, mas é uma doença autoimune que pode ser disparado por uma série de infecções virais, não só a Zyka. Existe também um aumento de manifestações neurológicas, mas também ainda não foi definido um nexo causal, apesar da associação parecer muito forte.

Eu tinha entendido que já haviam sido identificadas infecções diretamtente associadas a alguns casos de microcefalia, e que o padrão regional da coisa faria a coisa poder ser dada como certa, ainda que possa posteriormente ser averiguado um padrão epidemiológico tecnicamente definido como Puta Coincidência.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #22 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 20:06:00 »
Além dessa há a de que mosquitos da dengue geneticamente modificados para combater a dengue (não me lembro de detalhes/escala dessa empreitada) teriam se tornado (acidentalmente, no grau de teoria conspiratória 1) melhores vetores do vírus da zica.


Eu pensava em perguntar isso nalgum tópico para perguntas idiotas sobre algum tema geral, mas vão aqui mesmo:

  • O vírus da dengue (e o da zica) afetam também negativamente aos mosquitos vetores em algum grau?
Não

Isso já foi estudado? Porque a malária ao menos é prejudicial aos mosquitos, embora não seja um parasitismo "apenas" viral.

Offline Lorentz

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #23 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 20:07:43 »
Acho que a melhor definição de "ser vivo" tem célula como "unidade fundamental", e portanto exclui vírus como "seres vivos" nesse sentido, mas não da taxonomia de linhagens de genomas.

Eles só estariam "vivos" quando ativos em células, de seres vivos propriamente ditos (mesmo que os seres em questão estejam mortos...). Ou, tão "vivos" quanto se possa dizer que o ADN de um organismo "está vivo", que não é uma forma típica de frasear sua atividade, acho.

A questão é algo como se perguntar se "rodas", incluindo estepes, são "veículos".

Eu ia usar a analogia de cortar o braço e dizer que aquele braço é um ser vivo, pois compartilha as mesmas informações genéticas que o "dono" dele. Por isso os virus na minha opinião não entrariam na categoria.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Aviões contra o Aedes aegypti
« Resposta #24 Online: 22 de Fevereiro de 2016, 20:17:29 »
Diferentemente de vírus, os braços não vão ser transplantados a outras pessoas e reproduzir sua linhagem. Ao menos ainda não.

Alguns cânceres podem fazer isso, serem contagiosos, e então são até seres vivos, "mais" até do que vírus.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tumor_facial_do_diabo-da-tasm%C3%A2nia

Agora quero ver os evolucionistas questionarem o design inteligente do câncer, sendo que eles mesmos admitem que eles combatem aos diabos. Ha!


Tem um pesquisador meio fringe que acha que talvez possa haver ainda infecções de câncer neandertal por aí.

 

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