Alguns deles:
Conhecimentp
Existem pelo menos dois argumentos do conhecimento da consciência que se tornaram muito famosos. Um deles pede que imaginemos "Mary", uma neurocientista do futuro brilhante que tem conhecimento completo dos detalhes da estrutura e do funcionamento do sistema nervoso. Mas ela é também um caso curioso: Mary sempre viveu num laboratório inteiramente em preto e branco, e inclusive estudava objetos do mundo externo através de um monitor em preto e branco. Podemos também imaginar que Mary sempre vestiu roupas em preto e branco que cobriam o seu corpo inteiro ou coisa do tipo.
Mary domina completamente a ciência do cérebro, e em particular é uma especialista na física e fisiologia da percepção de cores; ela nunca viu a cor vermelha, mas sabe tudo o que há para se saber sobre o que ocorre nos olhos, cérebro e sistema nervoso em geral de uma pessoa que enxerga o vermelho, assim como também sabe tudo o que há para se saber sobre a luz e o que ocorre na superfície do objeto observado. Em outras palavras, Mary conhece todos os fatos físicos da percepção de cores. Mas um belo dia Mary sai do seu laboratório em preto e branco e se depara, pela primeira vez, com uma maçã vermelha -- dessas que ela já havia inclusive estudado pelo monitor preto e branco de seu laboratório.
Mary aprende um fato novo? Óbvio que sim, ela aprende como é ver o vermelho, como é o vermelho, a vermelhidão em si -- a quale do vermelho. Mas se Mary já conhecia todos os fatos físicos, esse novo fato que ela aprende não é físico. Qualia, portanto, não são físicas.
Eu gosto inclusive de fazer algumas alterações no thought experiment para deixá-lo ainda mais claro. Imaginem, por exemplo, que Mary era *cega*. A cegueira não impede a pessoa de acumular todo o conhecimento que se pode acumular sobre a física e a fisiologia da percepção de cores e superfície de objetos. Todos os conceitos envolvidos podem ser estudados por uma pessoa cega; um cego pode ter o conhecimento completo de uma neurociência completa do futuro. E então saberá todos os fatos físicos, e saberá tudo o que ocorre com um observador e com a superfície do objeto vermelho observado -- mas obviamente será cego e não saberá "como é" o vermelho! Não saberá um fato sobre qualia. E se se curasse da cegueira milagrosamente (suponhamos), continuaria tendo todo o conhecimento dos fatos físicos, mas aprenderia novos fatos -- fatos relativos às qualia. Mas então qualia não são físicas.
O thought experiment ilustra um fato bem importante da consciência, já aludido até aqui: conhecimento da constituição física das coisas não nos dá conhecimento de qualia. Em particular, não nos dá sequer a idéia de que haveria qualia em primeiro lugar.
Outra versão famosa de argumento do tipo é a de Thomas Nagel, talvez ainda mais clara, que nos pede para imaginar "como é ser um morcego". A questão é óbvia: nós podemos estudar tudo o que há para se estudar sobre um morcego, todos os fatos físicos e materiais, podemos inclusive estudar em mínima precisão e detalhes o cérebro do morcego e todo o seu corpo, cada átomo seu até (suponhamos). E nada disso nos dará qualquer conhecimento sobre como é ser um morcego (que deve ser uma sensação bem estranha, inimaginável para nós). Ou seja, todos os fatos materiais e físicos não exaurem todos os fatos que podem ser conhecidos, mas então os fatos adicionais obviamente não são físicos. (Podemos rodar esse thought experiment com qualquer animal; aliás, será que lesmas são conscientes? Supomos que sim, talvez; como é ser uma lesma? Podemos ter conhecimento completo de todos os fatos físicos sobre uma lesma sem sabermos como é ser uma lesma, ou mesmo se há qualquer coisa que é ser uma lesma, se há qualia nesse processo).
Os fatos sobre qualia não estão incluídos nos fatos físicos, e portanto qualia não são físicas, e com isso busca-se mostrar que o materialismo é falso.